***

- Quero casar com você... Carolina Hellen Portman!

- Isso é um pedido, Manuela Fernandes?

- Não, é uma intimação!

As risadas invadiram aquele ambiente, era explicita a felicidade que ambas tinham na face. Manu adorava incomodar Carol, sempre que podia ela exercitava esse lado do coração. O lugar que elas estavam era aconchegante e familiar, apesar de não se lembrar de onde o conhecia, mas estava em casa, disso a moça tinha certeza.

- Então qual é sua resposta? – Olhou-a séria, com a sobrancelha levantada.

- Minha resposta é: Já estamos noivas... Então não há muito o que discutir! – Respondeu com um sorriso provocativo.

- É assim?! Então tá! – Manuela estava levantando da cama, mas foi interrompida por uma mão firme, que a puxou pelo pulso, fazendo com que caísse na cama.

- É assim, sim... E digo mais! Você é uma pessoa muito difícil, Senhorita Fernandes...

- Se sou tão difícil assim... O que ainda faz comigo? – Manuela provocava o máximo que podia.

- O que eu faço? – Carolina devolveu a pergunta, com a boca colada no ouvido de Manuela – É simples... – Deitou seu corpo sobre o de Manu. – Eu faço amor com você...

Manuela viu aqueles pelos olhos castanhos se transformarem. Sentiu como se o tempo parasse e somente elas eram detentoras deste poder. Era uma sensação estranha, como se seu corpo respondesse automaticamente a cada toque... A cada palavra... A cada olhar... Quando sentiu os lábios de Carolina descendo pelo seu corpo, sabia onde iriam parar e fechou os olhos. 

***

Manuela despertou com o corpo em chamas. Demorou um pouco até que a moça se situasse e quando o fez percebeu que estava sozinha no quarto. Sentou na cama e passou a mão pelo seu corpo, que além de quente estava muito excitado.

- Era só o que me faltava! Começar a ter sonhos eróticos com ela... – Foi em direção ao banheiro e olhou-se no espelho – Dá pra esconder essa alegria pelo menos! – Falava para seu reflexo, que parecia se divertir com ela. – Não precisa ficar com essa cara de boba alegre! Foi só um sonho... – Olhou-se intensamente – Não... Dessa fez não foi um sonho, foi uma lembrança...

Manuela tomou um longo banho, para refletir melhor sobre suas recordações, que aos poucos voltavam. E, ao sair do banheiro, percebeu que Carolina ainda não havia voltado. Olhou pelo quarto e visualizou um pequeno pedaço de papel.

- “Assim que a bela adormecida estiver pronta... Estarei a esperando na área da piscina para almoçarmos, venha de biquíni” – Manu leu em voz alta e percebeu que havia uma pequena frase no canto – “PS: Você ainda fala enquanto dorme... rsrsr”.

Manuela abriu e fechou a boca algumas vezes, pois não sabia o que falar! Perguntava-se o que Carolina teria escutado, para rir no final? Era uma resposta que deixava Manuela sem reação e um tanto quanto vermelha.

Carolina estava sentada em um dos quiosques, esperando a bela adormecida acordar, mas para sua decepção não foi ela que sentou-se ao seu lado. No entanto era uma bela mulher, que não passava despercebida e parecia conhecer a Carolina.

- Está aproveitando o descanso antes da abertura do congresso? – Disse com um enorme sorriso direcionada a Carolina.

- É sempre bom descansar, principalmente depois de uma viagem tão longa.

- Imagino... Vir da Califórnia até aqui não é fácil!

- Ah sim? E como sabe de onde vim? – Essa mulher quer alguma coisa... Pensou Carolina.

- Ora... E quem na região da Califórnia, não conhece a "Arqui'Corporation" e a mulher que a comanda?! – Disse convicta. – Ou vai me dizer que não é Carolina Portman? – Sorriu.

- Não sabia que era tão conhecida... Mas prazer – estendeu a mão – Senhorita?

- Gabrielly... Pode me chamar apenas de Gabrielly!

- Claro, mas deve ter um sobrenome, ou não?

- Vejo que é curiosa... Quem sabe na próxima eu lhe diga! – Colocou a mão na perna de Carolina, que acompanhou o gesto com os olhos. No entanto os olhos de Carol não foram os únicos a acompanhar aquela cena... Ao longe uma certa moça estava apreensiva.

- Como pode ter tanta certeza que haverá uma próxima? – Perguntou séria, sem tirar os olhos do dela, sentido uma mão que subia aos poucos.

- Simples... Porque eu quero que haja! – Levantou-se e piscou para ela. Saindo em seguida.

Manuela que observava a tudo atenta, viu a mulher vindo em sua direção, passando ao seu lado. Não era alguém que conhecesse Manuela, pois passou por ela sem ao menos nota-la. Respirou fundo e seguiu seu caminho, mas esta não era sua vontade. Queria era ir atrás daquela mulher e tirar satisfação! Quem ela pensava que era para ficar colocando a mão assim nos outros... Nos outros não, na Carol!

- Demorei? – Disse sentando-se ao lado de Carolina, que ficou calada ao visualizá-la de biquíni, apenas com uma saída de banho em crochê. – Se continuar me olhando desse jeito a processo por assédio sexu*l*! – Manu disse séria, mas o olhar de Carolina lhe provocou um arrepio no estômago.

- Ok! Sem processos... Me desculpe, mas você está incrivelmente deslumbrante, Manuela.

- Sei... Você diz isso para todas?! – Perguntou irônica, lembrando-se da mulher.

- Só se todas forem você... – Carol respondeu não muito feliz com aquele comentário e Manuela percebeu. – Mas parece que não faz diferença, né. – Sorriu achando graça em suas tentativas falhas, se conformando com a situação. – Tudo bem então... O que acha de comermos um sushi? – Perguntou divertida.

§

Alguns longos quilômetros dali, no Hospital Central de Coronado. Uma linda loira conversava com outra loira, não menos linda que ela.

- E então Ana, já sabe se ficará aqui, ou planeja viajar mais algumas temporadas com os médicos sem fronteira?

- Sei lá Dani... Você sabe que amo meu trabalho, mas não gosto de me sentir enjaulada! E depois nossos pais são donos de tudo isso aqui. – Estendeu os braços – E você sabe como odeio toda essa bajulação. Um belo exemplo é você, que está ainda estagiando, e é tratada como se fosse a melhor ortopedista deste hospital!

- Calma Ana! Não precisa se exaltar... Eu concordo com tudo que você falou, mas tem que entender que existem pessoas que precisam de seus cuidados aqui também...

- É, e quem seria? – Disse desanimada.

- Eu, Aninha... Sou sua irmã e quero você comigo! Sinto sua falta. Nossos pais vivem viajando, e deixaram o hospital nas mãos dos outros. Esse hospital é nosso, minha irmã! E merece ser cuidado por nós... Olha desde que voltei, não faço outra coisa a não ser me inteirar do que se passa aqui. E parece que não há uma boa administração e o setor financeiro está um caos. Mas como você mesma disse, sou apenas uma estagiaria ao contrário de você, que já é formada a um bom tempo e tem toda essa experiência adquirida...

- Dani... – Foi interrompida.

- Olha Ana... Eu compreendo seus motivos, para não querer ficar, mas este hospital precisa de você... E eu também, minha irmã!

Daniela nem viu quando Ana a abraço, mas sentiu todo o amor que sua irmã tinha por ela. Sabia como Ana era sentimental, mesmo não demonstrando, e já estava na hora dela firmar os pés em algum lugar, ou melhor, no único lugar que era seu por direito, naquele hospital. Seus pais resolveram que estava na hora de largar tudo e conhecer o mundo, isso já fazia mais de três anos. Assim que Dani voltou de uma longa temporada estudando no exterior, observou como aquele hospital estava largado a deriva, pois mesmo tendo ótimos profissionais, faltava liderança. Liderança esta, que sabia, Ana teria de sobra.

Aninha já havia decidido, ficaria e tomaria conta daquele lugar, que por um bom tempo foi seu refugio. Se lhe perguntarem o porquê escolheu medicina, sua resposta não seria por causa de seus pais... Mas por uma certa jovem que teve a perna engessada enquanto ainda era criança. E se lhe perguntassem o porquê se juntou aos médicos sem fronteira, seria quase a mesma resposta, com a diferença de que a criança havia crescido e se tornado uma bela jovem.

Assim que Ana entrou na antiga sala, pegou a fotografia, que ainda estava em sua mesa. Na foto ela estava nas costas de Carol, sendo carregada por ela, afinal havia ganhado a aposta e a amiga teria que pagar. Sorriu ao lembrar daquele momento tão divertido para ela, e tão irritante para a amiga... Carol era mais que uma amiga, sempre foi e sempre será, o amor delas era puro, sem malicias, sem maldades... Era verdadeiro, era de coração... Elas eram irmãs de almas e disso Aninha tinha certeza.

- Existem vários tipos de almas gêmeas... E você é uma das minhas almas, Carol... E sempre será! No entanto você é muito lenta... Agarra logo a Manuela e trás ela para junto de nós, como sempre foi! – Disse com os olhinhos brilhando, enquanto olhava Carolina na foto. Foi despertada por batidas na porta.

- Desculpe interrompe-la, Doutora Johnson, mas isso chegou para a Senhorita. Estava na recepção desde as sete horas da manhã. Mas como não tínhamos certeza se a Doutora viria, não trouxemos para sua sala.  

 - Obrigada!

- Disponha Doutora. – A moça deixou o objeto em cima da mesa e se retirou. Ana olhou para aquilo com a sobrancelha erguida, retirando em seguida o cartão.

- “Tenha um excelente dia, mas como não teria depois de ver-me pelado? Espero que tenha resistido à tentação... Com carinho do ‘Senhor engomadinho’, para a ‘Miss bumbum’!”. – Aninha olhou novamente o objeto, pegando-o em suas mãos. – Ele só pode estar de brincadeira... – Colocou o objeto ao lado da foto de Carolina. – Até que você se superou Félix... Não são todas as mulheres que ganham um cacto, não é mesmo?! – Riu divertida. – É, parece que terei um retorno interessante.

§

O almoço de Carolina e Manuela seguiu calmo, sem muito agito, até porque Manu estava se senti mal, depois de ter soltado aquela indireta, nada sutil. O sushi estava delicioso a contraponto da companhia, que até então mantinha-se sem brincadeiras. Manu olhou fundo nos olhos de Carol, e foi como se pudesse ler seus pensamentos.

- Tudo bem! Me desculpa...

- Por? – Carol estava se divertindo com a cara de Manuela.

- Por ter sido estupida sem necessidade.

- E?

- E por me importar com sua vida privada! Satisfeita? – Disse fechando a cara.

- Sim muito! Amo sushi! – Carol gargalhou e Manuela sorriu de canto, pois ambas sabiam que não era em relação ao sushi que Manu havia perguntado.

- Está tudo bem então?

- Claro Manu... Não foi tão ruim assim, né?

- Você se acha demais!

- Não... Você é que é uma pessoa muito difícil, Senhorita Fernandes! – Ao Carolina falar isso, Manuela lembrou-se da cena que havia visto mais sedo.

- Se sou tão difícil assim... Porque você se importa? – Carol que estava tomando seu drink parou o braço no meio do caminho, como se houvesse visto algo. Manuela viu Carolina ficar branca e preocupou-se. – Carol?

- Desculpe-me, mas vou dar uma volta, acho que esse calor não me fez bem...

Carolina não esperou nada, nem ao menos Manuela se pronunciar levantou-se e saiu dali o mais rápido possível. Não entendia o que acontecia com Manuela, e aquilo... Por que ela tinha que falar justamente aquilo. Aquelas palavras jamais saíram da mente de Carol, afinal foi à última noite que tiveram antes do acidente. Foram às últimas palavras, os últimos carinhos, as últimas promessas de amor...

Carolina não viu o tempo passar, apenas andou, pra onde o vento a levava. Escutou um barulhinho peculiar e pode ver ao longe uma cachoeira, não muito grande, singela na verdade, rodeadas por pedras e arbustos com magnificas orquídeas raras, só encontradas naquela região. O pequeno lago que a cachoeira banhava estava convidativo demais. E por que não? Carolina tirou seu short e a leva camiseta branca que cobriam o seu corpo, escalando sem problemas as pedras.

Manuela estava procurando sua chefe desde que ela havia saído daquela maneira. Sabia que o motivo da Carol sair quase correndo, foi sua frase, mas ela não esperava que tivesse tanto impacto na vida de Carolina. Andou entre as trilhas até observar um belo corpo ao lado de uma cachoeira, com certeza ela cuidava dele. Só não estava babando mais por que ficou preocupada com o que ela iria fazer, tentou correr para impedi-la, mas foi em vão. Quando chegou perto o suficiente, Carolina já havia submergido. Esperou um pouco na borda para xinga-la, mas para seu desespero ela não voltava. Começou a chamar por seu nome, mas não via a água esboçar nenhuma reação.

- Mas que droga, Carolina! – Começou a tirar a sua saída de banho. – Se você morrer eu juro que te mato! – Estava prestes a pular na água quando uma voz, quase a fez cair.

- Então é melhor eu voltar para a água... Se você está tão empenhada assim em me salvar! – Carol a segurou pela cintura com o braço direito, era isso ou Manu cairia na água, o que não seria uma visão tão ruim assim.

- Como você?

- Dei a volta. Estava indo pular de novo, mas ai vi uma certa pessoa, querendo dar uma de “Aquaman”, e não perderia essa cena por nada! – Disse sorridente. Mas o corpo gelado de Carolina em contraponto ao de Manuela, que estava ficando cada vez mais quente, dispersou a atenção da moça.

- Não... – Sussurrou sem querer.

- Não o que Manu? – Carol encarou os olhos verdes da moça, que pareciam estar quase implorando.

- Não perca essa chance... E me beija! – Manuela pousou as duas mãos sobre o peito de Carolina e olhou fundo em seus olhos. – Mesmo que seja somente hoje...

Manuela não precisou falar mais nada. Carolina deu um passo para trás, puxando o corpo dela junto ao seu. Enquanto seu braço direito ainda estava em volta da cintura de Manuela, sua mão esquerda foi em direção ao seu pescoço. Quando a superfície gelada tocou a quente, Manu automaticamente fechou os olhos, mas logo em seguidas os abriu lentamente. Sentiu o coração de Carol batendo em sua mão, e quando percebeu uma falha, sabia que ela a beijaria. O beijo começou calmo, com gosto de redescoberta, para ambas, mas aos poucos foi se intensificando, com um misto de emoções... Saudades, angustias, surpresas, medos... Manuela sentia seu corpo reagir, como em sua lembrança, sentia seu corpo queimar de desejo... Sentia que o corpo de Carolina passou a queimar junto ao dela. Mas foi quando se separaram e por um segundo os olhos se encontraram... Que Manuela puxou Carolina para um beijo apaixonado... Cheio de amor.   

Fim do capítulo