Pentimentos por Cidajack
Capítulo 22
VINTE E DOIS
disclaimer no capítulo UM
Becky encontrou Luck e Clara no jardim.
- Bom dia, amor! - deu um beijo afetuoso na médica e um aceno de cabeça para a secretária - Bom dia, Clara!
A copeira veio ver o que Becky queria para o desjejum e, junto com ela, veio um rapaz da guarita entregar uma sacola. Clara o recebeu, já que o coitado tremia ao ver a doutora.
- Não foi trabalhar amor?
- Já fui e estou voltando de novo. Você tem noção que horas são? - a médica disse em tom divertido.
A loirinha olhou para o relógio no pulso da médica e arregalou os olhos.
- Caramba!!! Por que você me deixou dormir tanto. Quase 2 horas da tarde!
- Sabia que você estava cansada. E, você não dormiu muito: apenas dormiu muito tarde!
- É, doutora, você me deixou acabada! Santo Deus! Estava possuída.
- Só eu!?!!? Aquela música era para duas pessoas e você dançou muiiiiito animadamente! - disse, beijando a boca que a deixava enlouquecida.
Clara, fazendo todo o tipo de barulho que sabia, aproximou-se tentando não ser indiscreta. Não teve sucesso, por isso, com um baque surdo, deixou a sacola cair sobre a mesa.
- O que é isto, Clara?
- O cartão diz que é da empresa que alugou a limusine. Algum brinde para vocês.
- Eu adoro brindes.... - Becky correu abrir o pacote e..parou...enrubescendo para um vermelho quase roxo...
- O que foi? - a médica percebeu e, sem qualquer cerimônia, despejou o conteúdo do pacote na mesa.
Ali, diante de todas, um par de sandálias, uma calcinha, meias, sutiã, um collant, um colar de brilhantes e algo que parecia um trinco de porta jaziam sobre a mesa.
Clara pegou o trinco e ficou examinando.
- Imagino a força para arrancar este treco!!! - disse, deixando Rebecca mais vermelha, se é que isto poderia ser possível, sem que a loirinha desfalecesse por falta de sangue no resto do corpo.
- Uma curva mal feita pelo motorista! - a médica disse, debochadamente - mas, Clara, e os seus detetives incompetentes? - Luck disse sem alterar sua expressão.
- Nada. Mas, fique tranqüila doutora, estou providenciando outros meios. - a secretária repunha os itens na sacola, fixando o olhar no colar e assobiando - Ao menos, a empresa da limusine é honesta... isto vale uma fortuna! - Becky emudeceu de vez.
- Clara, EU estou tranqüila. Insatisfeita, mas tranqüila. - a médica disse, tomando o último gole do café.
- Rebecca, você tem que ir provar o cardápio para a festa de amanhã. - a secretária informou, segundos após processar o recado das palavras calculadamente ditas pela doutora.
- Verdade. Mas, tenho tempo. É às 17 h. Meu carro ficou no apartamento.
- Clara, avise o motorista que Rebecca precisa usar o carro. - a médica ordenou.
- Depois vou para o apartamento. - a loirinha informou.
- Encontro você lá. Estou saindo. Clara, Régia sabe da reunião agora à tarde com os médicos? - a doutora perguntou, antes de beijar Becky.
- Sim, sabe. Falei com ela de manhã. Ela disse que ficaria o dia todo no hospital. Tem recebido treinamento para cuidar da Anna e está se dedicando.
- O.K. Devo dar uma passada na reunião. - a médica informou. - Você estará presente Clara?
- Sim, já que cuido da Anna quando Régia não está.
- Também gostaria de ir. Também cuido dela. - Becky falou.
- Não precisa Becky, você não terá tempo e Clara já é o suficiente. - a médica disse, em um tom que não permitia réplica, para espanto de todas.
**
Desde que chegara, no início da semana, Régia tinha passado boa parte do tempo no hospital.
Com a orientação da enfermeira responsável, a líder aprendeu a fazer a higiene pessoal de Anna, alimenta-la e realizar alguns exercícios.
Em constante observação, a menina vez ou outra dava sinais involuntários, reações que os médicos diziam serem normais, mas não pistas de melhoras. Clara e Becky chegaram a presenciar algumas reações, embora nenhuma resposta contínua. Mesmo que repetissem o que motivou a reação, o resultado não era o mesmo.
Régia nunca lera tanto na vida: todos os tópicos relacionados com Síndrome de Reye, comatosos, como tratar, o que esperar no caso de uma recuperação; enfim, sabia bem a situação que sua filha se encontrava e, por conseguinte, a sua própria também.
Em troca de cuidar da fazenda e fazer com que as coisas andassem nos eixos, Luciana franqueou tudo que a líder necessitasse quando em São Paulo. Entretanto, se fosse virada de cabeça para baixo, nada cairia de seus bolsos. Tinha alojamento, roupas, transporte, alimentação; enfim, tudo e até muito luxo, mas não tinha nenhum provento e nem renda estabelecida. Até mesmo táxi eram boletos por conta da empresa.
Sabia que cedo ou tarde teria que remover Anna do hospital. Comatosa ou não, teria que leva-la para algum lugar. E, com certeza, pelo teor da conversa e por tudo que lera, a fazenda estava fora de cogitação.
- A questão é, Sra. Régia: Anna está em excelentes condições físicas, apesar de tudo. Temos controle de suas funções e elas estão sendo mantidas normalmente, sem qualquer esforço excedente uma vez que os órgãos relacionados ao problema estão estáveis, sem sinais de aumento. Mas, existe uma anomalia e é isto que achamos está induzindo o coma. Entretanto, isto já foi discorrido e a senhora concordou com a cirurgia. - o médico que falava era o pediatra de Anna que a própria doutora Luciana recomendou para o caso.
- Sim. Já aprovei tudo.
- Acreditamos que tivemos sucesso em neutralizar maiores danos, uma vez que a Dra. Luciana suspeitou rapidamente de tal síndrome que, por sua pouquíssima incidência, é insuspeita e nunca colocada como primeira hipótese em um diagnóstico. - o médico continuou.
- De fato, a Síndrome de Reye apresenta variados sintomas que são comuns a outros tipos de causas; apenas a ocorrências de vários ao mesmo tempo e, no caso de Anna foi a quantidade de aspirina tomada que alertou-me para esta peculiaridade que relaciona tal medicamento à doença. Isto aliado à desnutrição e convalescença de uma doença viral deixou boas pistas de como ela deveria ser tratada. - Luciana completou.
- A doutora acredita que as outras crianças...
- Não, Clara. Conversei com o atendente da sua enfermaria no assentamento, Régia, e os casos foram diferentes. Aquelas outras padeceram mais pela desnutrição do que pela catapora.
- Entendo. - a líder deixou transparecer seu pesar.
- Estou aqui, Régia, porque temos uma boa notícia para dar a você. - o Prof.Arthur se adiantou.
A líder olhou para ele e dele para Luciana. Depois, para Clara, que fez um gesto de desconhecimento do assunto.
- Bem, vocês sabem que estamos em contato com vários hospitais da América. Recentemente, a Dra. Luciana e a Srta. Marcella estiveram no Chile e, devido à raridade do caso de Anna, alguns especialistas desse país mantiveram-se em contato conosco e, recentemente, fomos informados que colegas mexicanos estão com um tratamento, em pesquisa, justamente sobre o que eles chamam de RS Survivor - Sobrevivente da Síndrome de Reye. - o Prof. Explanou.
- Na verdade, gostariam que Anna fosse levada até eles para participar da pesquisa, mas eu me opus, mesmo sem seu consentimento, Régia, porque gostaria de patrocinar a pesquisa aqui no Brasil, envolvendo nossos especialistas também e, estes sim, farão as viagens de intercâmbio. - a doutora prosseguiu - Nossa UTI e setor pediátrico é o mais moderno do país e um dos melhores da América Latina. Estamos abrindo um moderno centro de pesquisa em um dos nossos antigos prédios. Local com a mais moderna tecnologia e infra-estrutura para pesquisas e intercâmbio, com salas de vídeo-conferência, que possibilitarão o acompanhamento em processos inovadores de cirurgias e tratamentos.
- No México a síndrome é mais conhecida, bem como na Inglaterra. Em tais países, o temor por propiciarem um alto índice de mortalidade infantil, devido ao tratamento incorreto da síndrome, motivou muitas pesquisas para a detecção dos casos e diminuição dos erros de diagnósticos. - o pediatra de Anna concluiu.
- Em termos de chances? - Clara perguntou.
- Assim como é difícil detectar vítimas da síndrome, foi difícil o início efetivo dos testes com o tratamento, que insisto em dizer que ainda é uma experiência, em pacientes. - a médica discorreu - Foram tratadas ao certo, dentro de uma variação mínima de sintomas, nove crianças: 4 saíram do coma e estão se recuperando de acordo com todos os cuidados pertinentes; destas, uma delas não demonstra ter ficado com qualquer seqüela; mas sabemos que isto não é devido ao tratamento experimental, mas uma possibilidade pertinente ao caso.
- E as outras? - Régia indagou.
- Bem, três delas permanecem em coma; e duas acordaram, demonstraram reconhecer os pais, mostraram-se extremamente agitadas por horas e vieram a falecer. - Luciana completou.
- Foi reconhecido que o medicamento experimentado causa tal agitação, então é uma possível ocorrência do tratamento. - o pediatra informou.
- Ou seja, Anna será uma cobaia para os experimentos. Servirá como objeto de pesquisa e estudos. Diante do que foi dito, o êxito de tal tratamento é cerca de 40 %. - Clara ponderou, meio desgostosa com o andar da conversa.
- Bem, acredito que esperar que algo ocorra na atual situação, nos dá menos que 20 % de chances, uma vez que já se passou o tempo razoável para aceitar as possibilidades naturais. - o pediatra lembrou.
Régia permanecia calada, ouvindo o diálogo. Sabia que Anna estava lá, sem consciência. Recentemente, esboçou uma mínima reação à dor, quando trocaram a forma de alimentação, mas depois não teve mais reação alguma. O tratamento sugerido, sob outra análise, representava 100 % a mais de chances diante do que estava hoje. Mas, incomodava-lhe pensar no termo "cobaia"; em como seriam esses experimentos e o quanto custariam em termos de desconforto para sua filha, mesmo ela estando em estado de completa ausência.
- Ela vai sofrer com o tratamento. Digo: sei que ela demonstra não sentir, mas quero saber se haverá muita violação do seu corpinho e seu direito ao descanso. - Régia finalmente perguntou.
- Tecnicamente, nada mudará. A medicação será aplicada da mesma forma que as que ela vem recebendo. Lógico, a intervenção cirúrgica ainda será feita, mas também usaremos um outro método, menos traumático. Vamos, com a cirurgia, tentar remover o pequeno inchaço do cérebro e com a medicação experimental forçar uma partida nele; à grosso modo, vamos fazer com que ela pegue no embalo e ir sustentando isto. - Luciana explicou.
- É novo, é uma tentativa de reunir vários tipos de medicamentos em uma espécie de coquetel, que posteriormente servirá para outros casos de coma, em uma explicação leiga. - o Prof.Arthur adicionou.
- Existe algum tempo de resposta ao tratamento?-
- O tempo de resposta ainda não foi definido, Régia. Nos casos relatados, a média foi de 35 dias após o início do tratamento; com relato de cirurgia prévia. A criança que faleceu, foi uma das que sofreram intervenção cirúrgica. E, entre os dois falecimentos, também tivemos tempos diferentes, possibilitando uma avaliação das possíveis causas. - Luciana respondeu.
De repente, todos os olhos estavam sobre Régia. De todas as coisas que tivera que decidir na vida, até que esta era fácil.
- Vocês podem começar o quanto antes. Se não servir para Anna, ao menos iniciamos esperança para outras crianças. - a líder disse, com seu habitual estoicismo.
**
A festa para os empregados era mais sossegada.
Como o traje era informal, Luciana estava estonteante mesmo dentro de um jeans, botas e a camiseta que foi o convite da festa. Aliás, ambas estavam praticamente iguais, já que Becky também optou pelo velho e bom jeans.
Régia não quis ir, pois disse não pertencer ao staff das empresas e queria retornar cedo para a fazenda. Clara também não foi, pois estava ainda muito irritada com os pais de Marcella e não queria deparar-se com eles. No caso da festa com os empresários, ela mantinha contato com muitas das pessoas presentes; mas, não era funcionária das empresas.
Desobrigadas de pompas e circunstâncias, Luck e Becky aproveitaram a festa de fato: dançaram muito, para espanto dos empregados que mais tinham proximidade com a doutora; circularam pelas mesas, conversando com todas as pessoas, por insistência de Becky, claro.
O tio de Becky e o companheiro chegaram. Após as apresentações, os dois casais envolveram-se com a dança e música, até que a doutora e Rebecca resolveram passear pelo jardim.
- Há muito que não me divertia assim!!! - a médica espantou-se.
- Desde nossa viagem à Nova Zelândia, não nos divertíamos doutora.
Olhos azuis culposos olharam para os verdes meigos. Continuaram andando de mãos dadas.
- Tenho trabalhado muito, não?
- Sim. Além de toda essa trapalhada em minha vida. - Becky disse, em um tom de quase lamento.
- Becky, quando quis achar seus pais, queria fazer-lhe um presente. Não ach....
- Sschh...eu entendo e adoro sua intenção. Adoro quando me cerca com essas preocupações. Sei o quanto significa para você poder externar sua preocupação comigo, com meus sentimentos.
- É, mas meu habitual autoritarismo nem sempre me permite pensar se é o que você realmente quer; se é seu momento. Parece que você ficou mais triste do que antes. Mais desanimada. - o olhar da médica era de pura preocupação.
- Ontem fiquei assistindo a fita e vendo meus pais. Você não sabe o quanto aprecio sua movimentação ao buscar acha-los para mim. Eu estou sentindo toda a antecipação do encontro, que sei vai ocorrer logo. - Becky não mentia quanto a isto.
- Mas...
- Sim.. tem o "mas.."- a loirinha sorriu - Essa coisa da fazenda me desgasta; o encontro com meu tio deixa-me confusa e temerosa sobre a reação de papai ao nosso relacionamento. - esta sim, a maior verdade de todas no pensamento da loirinha.
- Também penso muito sobre isto. E sou sincera em dizer que terei que me agarrar somente ao meu amor por você para tentar ser compreensiva com qualquer expressão contrária a nós que seus pais esboçarem. - o tom de voz foi suave, mas muito determinado.
- Bem, mas o que eu ia dizer é que não namoramos mais. - a loirinha tratou de mudar de assunto.
- Não!?!
- Doutora, fazemos amor prazerosamente; mas, não namoramos.
- É uma queixa?
- Quanto ao "fazer amor prazerosamente", não. - a loirinha sorriu maliciosamente - Mas, namorar... sabe, ir ao cinema, andar de bicicleta, tomar sorvete; enfim, partilharmos coisas simples e bobinhas, nunca mais.
Estavam sentadas em um dos bancos espalhados pelos jardins. Luciana puxou a loirinha para junto de seu peito e apoiou o queixo em seus cabelos. Sentiu o cheiro delicioso que tanto amava e caracterizava Becky. Olhou para o céu e viu a lua iluminando as duas.
- Você tem razão. Eu namorei muito pouco. - riu sem graça - Não tenho muita prática.
- Eu, ao contrário, apesar de viver nas ruas, namorei bastante... rs - a loirinha aninhou-se melhor no corpo da médica.
- Hey... me ensina a namorar, então.
- Promete fazer tudo do meu jeito?
- Prometo! Que os deuses me ajudem!
Ficaram em silêncio um tempo, assimilando a música que vinha de algum lugar. Uma música suave.
- Lição número um: poderia me dar o prazer desta contradança?
Prontamente, estavam dançando de rostos colados, sob o luar, admirando como seus corpos se encaixavam perfeitamente. Peças perfeitas de um quebra-cabeça complexo.
- Essa coisa de namorar é mais fácil do que pensei. - a médica sussurrou ao ouvido da loirinha.
- É só o começo, doutora!!! - Becky evitou uma réplica, beijando os lábios perfeitos.
**
Régia retornou à fazenda na manhã do sábado.
Assim que chegou, começou as mudanças necessárias para receber os pais de Rebecca.
Resolvera mudar suas coisas para uma parte mais afastada das terras. Achara uma casa abandonada próxima a uma pequena cachoeira. Adorara o lugar: calmo, longe do povo e afastado da movimentação que agitara a fazenda com a chegada dos técnicos, que ainda permaneciam por lá.
Pediu para Mirtês providenciar os mantimentos e utensílios básicos. Deu ordem para João de Deus cuidar de tudo e apenas chama-la se algo de diferente acontecesse. Estava levando o rádio, caso São Paulo chamasse.
O local que escolhera era acessível por dois caminhos: um era sinuoso e demorado, mas possível ser feito de jipe; e o outro mais curto, porém uma trilha arduamente feita à cavalo.
Precisava de solidão. Precisava pensar.
Antes de partir, ainda no quarto de Anna, conversara com Clara sobre os preparativos para a possível chegada dos pais de Rebecca.
- A doutora deu-me ordem para levá-los para lá, logo após o encontro com Rebecca aqui em São Paulo.
- A casa principal está apresentável e com os confortos necessários. Os engenheiros já voltaram, mas deixaram outros técnicos por lá, porém são pessoas acostumadas a recursos mais rústicos. Geralmente, ficam acampados pela propriedade. De qualquer maneira, você quer que eu os aloje em outro local? Ainda tem a construção que era a enfermaria; é mais afastada, porém é o outro lugar com eletricidade. Podemos rearranjar as coisas por lá. Penso que temos ainda material remanescente da obra na casa principal. E, não sei se você sabe, mas improvisamos uma olaria e estamos preparando tijolos para quando Becky liberar as terras para as famílias.
- O.K. Veja o que você consegue, pois a casa principal vai ficar para os familiares da Becky, Não sei se o tio vai querer aparecer por lá também. - ficou calada e emendou - Você acha que o pai da Becky vai aceitar dividir as terras?
- Para o bem de nossas relações, se é que vale alguma coisa, espero que sim. Não podemos esquecer que temos muitos torcendo por alguma oposição; esperando para um levante. E admito que tomarei partido deles. Não vou trair a minha palavra. Espero que Rebecca saiba que, se quiser, tem o pai nas mãos. Ainda que tenha a irmã e mãe na jogada também.
- É uma situação difícil para você, não é?
- Clara, eu devo a vida da minha filha para a Rebecca. Sei que o hospital e tudo o mais são da doutora, mas depois da internação, tudo que tem acontecido é por intermédio da Rebecca.
- Não creio nisto. Não atualmente. Tenho visto a doutora muito empenhada. Ainda que mantenha aquele distanciamento todo.
- Bem, acredito que tenha desenvolvido interesses científicos. De qualquer modo, devo às duas. Tenho uma dívida que nada neste mundo pagará. Mas, não posso perder meu foco. Eu afiancei para aquele povo que terão uma chance de sobreviver mais decentemente. Eu os conduzi até ali com promessas vãs; depois, os tranqüilizei com as concretas mudanças; não posso, agora, abandona-los.
- Mas, as terras não são deles, Régia. O que você vai fazer? Tomar à força? Matar os donos?
Em uma atitude que espantou a secretária, a líder chutou a cadeira no meio do quarto, voltando-se subitamente para Anna, esquecendo-se que a criança estava completamente alheia ao que acontecia.
- Merda!!! Merda!! Como eu queria que vocês não tivessem aparecido!!!! - disse, com a voz embargada, flexionando as mãos, denotando sua raiva - Provavelmente Anna estaria morta e eu não me sentiria tão culpada por isto, já que sabia que não tínhamos recursos. Aquelas famílias estariam morrendo na miséria, mas também estariam conformadas sem ver esperanças surgindo. E..eu....eu...não teria me aberto para...o amor. - levantou a cadeira, tornando a socá-la com força no chão, dessa vez sem se importar com Anna.
Clara queria se aproximar, mas a raiva era palpável, com Régia dando socos no acento da cadeira.
- E eu não ficaria aqui, com essa angústia me corroendo. Cacete!!! O que vou fazer? Se Anna voltar, o que faço com ela? Se os pais de Rebecca não quiserem, o que faço com aquela gente? Como vou encarar tantas pessoas que confiam em mim, precisam de mim, são respeitosas para comigo? Clara, eu sou um nada e mereço ser, mas aquelas pessoas acreditam em mim. - olhou para a menina - Ela, coitada, nem sei em que acredita; viu tão pouco, é justo se não vier a ver mais. O que terá para ver?
Clara não conseguiu resistir e se aproximou.
- Você realmente acredita nisto tudo que disse?
Seu toque foi brutalmente rechaçado.
-Não. Não venha com palavras doces. Não venha com promessas em sua voz compreensiva. Você não entende. Não sabe o que é estar sempre à beira de um precipício. Sempre estar no triz de alguma coisa e perder. Sempre ser forçada a aceitar coisas, porque toda a minha raiva, segurança e racionalidade acabam desviadas e perco meu foco, me desconcentro pela fraqueza de me importar demais com alguém. Quando vejo, deixei algum inocente cruzar meu caminho e não sei o que fazer dele.
Mesmo sendo rejeitada, Clara voltou a se aproximar, mas não tocou na mulher a sua frente, que fazia um tremendo esforço para não desabar. Régia tremia como se uma onda elétrica tivesse se apossado dela.
- Não me toque agora. Não posso sentir seu toque sabendo que vamos continuar com esse jogo de gato e rato. Não quero mais você. Não posso querer. Nada posso querer, porque não sou dona de mais nada. Sozinha, eu era dona de mim. Cercada de gente, não sou nada. Sou promessas, sou suposições, sou uma farsa, uma piada.
De repente, começou a rir.
- Matei tanta gente, decidi pela vida de tantos quando era cega aos apelos, quando era cruel; quando penso que posso liderar de uma forma mais humana, parece que faço mais mal do que bem. Não me importava em matar, porque era a escória que eliminava. Mas, agora, são pessoas com melhores propósitos do que eu.
-Régia, pára! - Clara ouviu-se dizer rispidamente - Pára com esse discurso! Pára com esse martírio. Por favor, chega!!! - disse, sacudindo a mulher a sua frente.
Régia se desvencilhou, mas ficou quieta, olhando para Anna.
- Você sabe que não está sozinha. Sabe que estamos com você. A doutora, Rebecca e eu estamos aqui. Na hora certa, as coisas terão a melhor solução possível. Não carregue tudo sobre seus ombros. Sua parte está feita. As promessas não foram suas.
Régia permanecia olhando para Anna.
- Não diga que a morte seria o melhor para ela, porque você não sabe. Não sabe nada. Não tem direito à morte dela, assim como nunca teve direito sobre a morte de outros. Responda: você quer realmente que ela morra?
A líder estava quieta. Clara, num impulso, empurrou-a, fazendo com que ela se sobressaltasse e seus olhos se encontrassem.
- Olha para mim quando falo com você, Régia. Quer a morte dela?
- Seria melhor. - respondeu, tentando parecer desafiadora.
- Não é resposta, é suposição. Responda e faça valer a consideração e respeito que tenho por você, qualquer que seja sua resposta.
Em meio ao tumulto de pensamento, a líder sentiu crescer sua admiração pela mulher que a desafiava.
- Não. Não quero que ela morra. Assim como quis que ela nascesse. Quero-a para mim. Quero o amor inocente que ela me dá. - disse, deixando as lágrimas escorrerem, ainda que sustentando o olhar de Clara.
Clara estava sentindo uma sobrecarga de emoções ao ver Régia render-se. Sabia que tinha a líder em suas mãos. Sabia que queria vê-la sempre no esplendor de sua força, fúria, energia, determinação; no entanto, sentia que Régia se desconstruía para ela sem pudores.
- Sinto se pareço promessas para você. - Clara se desculpou. - Não sei o que dizer, só não vejo possibilidades.
- Não tenho lugar para você em minha vida. Assim como não me vejo na sua. - Régia admitiu, mais recomposta. - Agradeço por Anna. Sua dedicação a ela é o único laço possível entre nós e eu sou muito grata. Devo dar-me por satisfeita.
A líder retirou-se para o toalete.
Clara sentiu que era a hora de se retirar. O que poderia dizer? Diante de tudo que ouvira, sabia que não poderia pensar em Régia como um futuro. Uma parceira para uma vida em comum. Suas expressões de violência e lembranças recheadas de crueldade provocavam reações confusas na secretária.
Nunca fora passional. Régia era e isto a colocava nas situações limítrofes nas quais se equilibrava. Sozinha era fácil viver assim, mas com laços e agregações tornou-se impossível para a líder.
Clara era racional. Trabalhou para construir uma vida sem sobressaltos. Não viveu na inércia total, mas não excedeu nenhum parâmetro. Suas relações, mesmo que não resultantes em parcerias duradouras, nunca foram inconseqüentes.
Marcella, apesar de tudo, era a maior e melhor oportunidade que já tivera. Tinham afinidade, existia o amor da diretora; o carinho e respeito que a secretária nutria verdadeiramente por ela. Eram pessoas com vidas definidas, traçados sólidos, motivações que não as colocavam em valas comuns.
Clara sabia que Régia era forte e recuperar-se-ia da paixão entre ambas. Sonhar era um luxo que a líder perdera há muito tempo na vida e tinha consciência disso.
Era tentador ter o amor de uma força visceral como a de Régia; mais ainda, imaginar dominar isso. Entretanto, Clara preferia a segurança de forças mais brandas. Poderia ter um futuro com Marcella.
**
- Becky, há anos que não sei o que é pegar um coletivo.
- Relaxa. Deixa comigo.
- Podemos ir de carro e deixar em algum estacionam....
- Você prometeu que será ao meu modo.
- OK.
Na Rua da Consolação, pegaram o coletivo rumo a uma feirinha de antiguidades no bairro de Pinheiros. Alguma pessoa mais bem informada sobre moda, notaria o jeans e acessórios de marca; entretanto, de resto nada denunciaria que dentro daquele ônibus estava a toda poderosa empresária Luciana Lowestein.
Antes que pudesse arranjar um acento dentro do ônibus, uma freada brusca quase desequilibra a médica, que ficou possessa com o motorista.
- Você não sabe dirigir? Isto é jeito de conduzir um ônibus?
- Só porque você é gostosa, não vou aturar mau humor de perua. Senta logo...
- Perua... Becky ,ele me chamou de "perua". Foi isso?
- Luck... senta..por favor...estamos chamando a atenção.
- Ele me chamou.... - a médica olhava inconformada para suas roupas -..perua..Becky, eu estou parecendo perua?
- Você quer saber? Eu estou é mais com vontade de quebrar a cara dele por chamar você de "gostosa".
- Ciúmes? Que lindinha! Vou mexer mais com ele.
- Luck, não! Quer sair nos jornais amanhã: "empresária perua, à bancarrota, arma barraco com motorista dento do ônibus" - e começou a rir.
Diante de tal imagem, a médica se calou, mas anotou o número do ônibus, linha e horário.
- Fica calma. A gente volta de Metrô. - a loirinha tentou apaziguar.
- Não sei porque, mas não me sinto melhor. - a médica falou, gaguejando pelos solavancos do coletivo.
Luciana conhecia a feirinha. Já estivera antes por ali. Não gostava do excesso de gente, mas apreciava algumas das coisas expostas.
- O que você gosta aqui, Becky?
- Bem, geralmente, eu ficava olhando as revistas e discos antigos. Também gostava de ver os brinquedos.
- Já comprei algumas coisas aqui. Coisa espalhadas pelas casas de campo e praia.
- Sempre quis sentar nessas mesinhas na calçada e tomar uma cervejinha também.
- Seu desejo é uma ordem. - Luck falou.
- Hummm.. bem..eu acho que não é bem assim...isto aqui está sempre lotado de gente esperando.
- Como não. Confia em mim: nunca deixei de almoçar no restaurante mineiro e está sempre cheio. Vem, conheço o dono.
- Não. Eu gosto do meio ali. Onde tem o chorinho e as barracas.
Luciana franziu o cenho. Era uma muvuca só!
- Vamos lá então. - disse, forçando um sorriso.
- Ah, mas antes, vamos circular.
Divertiram-se muito. Luciana comprou alguns discos antigos. Percebeu que apesar de todo o tempo juntas, nunca perguntou a Becky seu tipo de música preferida. Ficou impressionada com a sabedoria musical da loirinha.
Becky experimentou máscaras, batas e óculos estranhíssimos. Como haviam levado máquina, tiraram fotos de coisas pitorescas. Becky permitiu-se fotografar com uma figura lendária, um tipo que ninguém sabia ao certo quem era ou o que fazia, mas ali era quase um patrimônio da feirinha, com sua constante alegria e movimentação, que incluía exercícios de flexões e muita bebida.
Rebecca concordava que as crianças, vendedoras ambulantes da feirinha, eram incomodas; mas, para Luciana pareciam um martírio.
- Gente, alguém tem que inventar um repelente contra elas. - a médica exclamou.
- Com sua cara, nem precisa. Embora aquele molequinho não se intimide fácil. - disse, apontando um menininho de mais ou menos uns 5 anos. - Tenho observado ele nas mesas. Mas, vamos comer algo.
Luciana encoberta por seus óculos, ficou a observar os movimentos do menininho, que corria de mesa em mesa, recebendo atenção quase que forçosamente. Rebecca percebeu, mas ficou quieta.
O cercado que continha as barracas estava lotado.
- Becky, não tem lugar!
- Espera. Eu conheço a dona de uma das barracas. Fica aqui, eu já volto.
Devido sua altura privilegiada, de onde estava, Luciana observava a interação da loirinha com a senhora que tomava conta da barraca, quando um homem, que estava em uma mesa espremido junto com a família, ofereceu um banquinho para ela sentar. Polidamente, ela recusou, já que parecia que Becky estava voltando com bancos.
- Luck, não tem espaço para mesa, ela nos arrumou uns bancos e disse que tem um povo ali que pediu a conta.
Ouvindo a conversa, o homem pronunciou-se novamente.
- Pode sentar e ocupar nossa mesa, meninas.
Becky, que estava mais descontraída e cansada, sentou; Luciana permaneceu em pé. O homem estava com mulher e filhas, embora tivesse uns modos meio afetados; logo entabulou conversa com a loirinha, enquanto a médica fazia um esforço supremo para parecer indiferente ao desconforto. Até tinha se concentrado no grupo de chorinho que tocava no ambiente.
- Senta logo, sua cachorra, para que ficar em pé? Já não cresceu o suficiente? - o homem falou, embargado por seu estado etílico.
A médica demorou a entender que "cachorra" era ela. Tempo suficiente, para Becky levantar e querer ir ao banheiro, puxando a médica em seu encalço.
- Becky, ele me chamou de "cachorra"?
- Fooi.... não..sim..é o jeito dele...acho - a loirinha não sabia se ria da cara da médica ou se corria.
- Becky... eu mal conheço aquele homem e ele me chama de "cachorra"! Quem é ele? - estava bufando.
- Calma. Quando a gente voltar, ele terá ido embora.... só não sei se teremos onde sentar.
- Becky... nunca me metamorfoseei tanto em um dia. Perua, cachorra..... se alguém me chamar de mais algum animal, eu juro que vou fazer valer meus conhecimentos marciais.- Luciana não estava brincando
- Mesmo eu, minha tigresa feroz?
- Hummmm.... acho que adjetivos felinos eu aceito. Se me chamarem de gata... hummm.
- Se alguém chamar você de gata, eu mostro minhas artes marciais. - a loirinha retrucou, aplicando um beijo possessivo nos lábios da doutora.
Não querendo estragar o namoro, Becky aceitou usar as influências da doutora e foram sentar em uma das mesas na calçada em frente ao restaurante mineiro. Comeram muitíssimo bem, regadas pela cerveja precisamente "mofada" servida no estabelecimento. Conversaram muitas amenidades, comentando a fauna local. Trocaram muitos beijinhos e agrados. Depois do incidente canino, tudo transcorreu pacificamente. Claro, algumas harpias tentaram avanços sobre ambas, mas foram repelidas nem sempre sutilmente.
Em meio ao namoro, Luciana sentiu a manga da sua camisa puxada e quando olhou, deparou-se com o menininho. Becky teve a nítida impressão que a médica se encolheu contra a parede, evitando o contato com o garoto.
- Querido, o que você quer? - a loirinha tentou trazer a atenção do garoto para ela.
- Quero olhar para os olhos dela. Nunca vi mais lindos!!! Minha mãe falou que o mar é azul. - as mãozinhas atrevidas tocaram no queixo da doutora, tentando fazer com que ela o olhasse.
- Falei que ele era atrevido, Luck.
Num tour-du-force, a médica teimava em ignorá-lo; por sua vez, ele permanecia ao lado dela.
- Meu bem, vem aqui, eu compro um chiclete seu. - Becky tentava salvar a médica.
- Você compra, mas eu quero ver os olhos dela. - ele teimava.
- Então, seja bonzinho e peça com gentileza. Acredito que ela não ira negar um pedido tão doce e encantador. - e lançou um olhar meigo, mas firme, para a médica, que tinha olhado para ela incredulamente.
- Deixa ver o mar em seus olhos, moça? - o menininho pediu meio estabanadamente.
Luck ainda segurou olhar de Rebecca. Novamente, o garotinho repetiu o gesto de tentar virar o rosto da médica. E foi recompensado.
A médica viu seu reflexo nos olhinhos negros, feito jabuticabas. Era um menino de olhar esperto, mãozinha áspera, tocando seu rosto. Ele sorriu, A médica esboçou um meio sorriso. Era nítido o desconforto, mas não pelo o que o garoto era.
Sem uma palavra, apenas sorrindo, ele foi para o lado de Rebecca e pegou o dinheiro do chiclete. Ainda olhou novamente para a médica e saiu correndo.
- Viu. Eles não mordem. - Becky comentou, tentando aliviar a tensão.
- Você não entende, não é?
- Luck, você é pediatra. Não pode temer tanto as crianças. Algo está errado. Quer me contar?
- Não hoje. Vamos, lembra que temos uma sessão de cinema nos esperando. Já escolheu a condução? Um solavanco depois de tanta comida é perigoso.
Becky não questionou. Entrou na brincadeira e disse que ainda tinham que comer doce na barraca do tio que ela conhecia.
Nunca passaram um dia tão agradável e surpreendente. Conversaram sobre coisas que em nada lembravam o dia-a-dia e toda a gama de pendências que as envolviam.
Após o cinema, tomaram um café delicioso e passearam pela Av. Paulista, ficando um bom tempo observando a lua, sentadas nas muretas do vão do MASP, junto com outros casais.
- Conhecia todos estes pontos, mas nunca parei para observá-los. Ao menos, nestes últimos anos. - a médica comentou, ao ouvido de Becky, que estava alojada confortavelmente com as costas apoiadas no peito da doutora e um dos braços estendido sobre a perna longa, brincando com o tecido do jeans, enquanto o outro prendia a mão que a abraçava seguramente.
- Vaguei muito pelas ruas dessa cidade. Ela é perigosa, mas é muito cheia de vida. Pulsa constantemente, a qualquer hora. Adoro viver nela. E agradeço por ela ter me dado você.
Sentiu o forte abraço e estreitou-se ainda mais junto ao corpo quente.
- Sabe, minha vida não foi tão tumultuada quanto a sua. Acredito que não tive perdas, já que o que ocorreu com meus pais foi um desencontro. Havia chances de tê-los de volta. - Becky pode sentir Luciana se arrepiar a menção de perdas - Mas, eu fiquei em uma situação que não desejo para alguém. Era humilhante, era perigoso, era incerto. Minhas chances estavam reduzidas à prostituição ou delitos iguais aos que Pedro cometia.
- Não gosto de pensar em você sob tais circunstâncias. Fico com muita raiva do seu pai. - pode sentir a loirinha tremer.
- Mas, assim como você disse, eu também passaria por tudo novamente para poder encontrá-la.
- Não valho tanto!
Becky virou-se e fez a doutora olha-la diretamente nos olhos.
- Luciana, não enverede por esse caminho, porque você estará me deixando magoada. Você vale cada momento de incerteza e inseguranças que passei nas ruas desta cidade. Vale minha ousadia em me colocar na frente de uma médica de olhos azuis gélidos e imponentes. Não sei como tive forças para tanto. Aquele seu olhar deveria ter me aniquilado. Entretanto, eu quis mais. Quis ver a mulher que é você e, quando dei por mim, entendi que você era a razão de passar por tudo que vinha passando. Quando a vi, descobri meu caminho.
O olhar da doutora era de um cãozinho de estimação sendo acariciado por sua dona carinhosa.
- E, agora que posso enxergar essa expressão terna e ter certeza que nos pertencemos, mais do que nunca, não posso negar que repetiria tudo. Eu te amo, Luciana. E é muito gostoso poder dizer isto. Eu te amo Luciana!!!
- Eu te amo, Rebecca.
Era inevitável que após tantos afagos e beijinhos, a urgência de sempre tomasse conta.
- Luck... vamos namorar em casa?
Sem perguntar, a médica parou um táxi.
A noite terminou no aconchego de seus corpos nus, ao som de música suave, vinho e deliciosas carícias.
- Hummm... acho que posso me acostumar com esse negócio de namorar...desde que não me chamem de... - um beijinho no pescoço -...vaca...ou
- ..Galinha....ou - a loirinha gemia
-... sapa...- a médica descia lambendo as costas da loirinha.
- Você é.... - Becky segurou a cabeça da médica entre suas pernas.
- Croach.. croach!! - foi a última coisa dita pela médica, antes de ter a boca ocupada.
Fim do capítulo
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