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Capítulo 14

QUATORZE

disclaimer no capítulo UM

 

-- Por quê você pergunta?

Becky, ainda sonolenta, respondeu sem pensar, formulando a primeira frase que veio à sua cabeça.

-- Não estou perguntando. Estou afirmando: Clara está com Marcella!

Com muita má vontade, Becky virou-se na cama, ficando mais próxima ao corpo da doutora.

-- É, você tem razão. Só não entendo o porquê de tanto mistério. - disse bocejando.

-- Eu entendo. - foi a resposta simples, seguida de um afetuoso beijo.

-- Que bom, assim eu posso dormir mais um pouco! - respondeu a loirinha, bocejando novamente e se aninhando no seio da morena.

Luciana riu e contou, mentalmente, até...

-- Como você entende?!?!?!?!?!? - foi a pergunta de uma Becky totalmente desperta.

--....vinte segundos: sua curiosidade já foi mais ágil, meu amor. - a médica constatou divertidamente.

-- Tonta! Fala: como você entende tanto mistério?

-- Simples: Marcella e eu fomos amantes!

-- Ah!

Becky estava estática: os olhos vidrados em Luck, sem expressão; mas, com certeza, a tempestade iria começar.

A médica observou a loirinha caminhar, nua e descabelada, para o precário banheiro improvisado. Novamente, mentalizou uma contagem e, para seu espanto, falhou.

Uns 15 minutos depois, Becky retornou.

 

-- Estou com fome!

-- Você está bem?

-- Eu estou com fome, isso é natural para mim....

-- Digo, você num vai fazer nenhuma enxurrada de perguntas?

Becky olhou a médica nos olhos. Pensou no amor que sentia por ela e o quanto aquele olhar era hipnótico.

-- Luck, eu prometi a mim mesma que não iria mais encher você de perguntas. Que deixarei você tomar a iniciativa de contar o que quiser.

Olhos azuis arregalaram-se em sinal de espanto.

-- Nem me olhe assim. Eu sei que posso e consigo controlar minha curiosidade.

A médica olhou mais intensamente.

-- Luck...não venha minar minha força de vont...o que você ta fazen...

A médica estava ao lado dela, com a palma das mãos em sua testa.

-- Temperatura normal....

Becky tentava afastar a mão com pequenos tapinhas, até que resolveu deixar.

--...a pulsação está um pouco acelerada...-- disse, ao colocar sua mão entre os seios de Becky, segurando o pulso com a outra - a respiração parece ofegante...

-- Tudo isso para acreditar que posso controlar minha curiosidade? - a loirinha falou com exasperação, revirando os olhos, mas começando a sentir a excitação tomar conta, ao perceber que a médica encostava o ouvido em seu peito.

-- Você há de concordar...-- passou a língua em um dos seios -- ...que não é uma reação...-- ...atravessou para o outro mamilo -...muito normal...-- mordiscou um dos mamilos, já eretos -- ...e as batidas do seu coração estão aceleradas.

--...qual o diagnóstico?

-- Síndrome do desejo adquirido.

--..é..é.grave? - Becky ofegava, entregue ao jogo.

-- Se tratado corretamente.....-- a médica intensificara a sucção - por um bom médico...

-- ...confio mais em médicas....

--...assim seja...preciso fazer os exames para saber o tratamento...-- as mãos de Luck começaram a passear pela pele já arrepiada e quente.

Enquanto falava, a médica levava Becky para a cama, fazendo-a colar ao seu corpo, enquanto a prendia pela bunda firme, seus dedos buscando penetra-la.

-- Vou colocá-la na cama .....-- as duas se beijavam com desejo...-- e fazer exames de toques....-- continuavam a se esfregar -- ..então, saberei o tratamento...-- a médica estava ofegante -- ...mas, sei que sera intenso.

Estavam na cama, os dedos da médica mais hábeis do que nunca.

 

 

 

 

Depois da visita a Anna, Régia saiu com Clara para comprarem roupas. Apesar de toda a emoção, a líder parecia refeita. Era durona mesmo.

Após vasculhar o semblante dela, em busca de qualquer evidência de cansaço, começou a pensar em seu próprio dilema. Na verdade, a secretária não fazia muita idéia para onde poderia levá-la.

Era óbvio que roupas esportes e casuais eram as mais adequadas para ela. Porém, a doutora havia deixado claro que queria que a líder também escolhesse roupas mais formais, para ocasiões nas quais precisasse acompanhá-la.

Clara não entendeu muito bem o que se passava pela cabeça da médica, mas não cabia a ela discutir.

Enquanto dirigia, a secretária lançava olhares de soslaio para Régia, imaginando como abordar o assunto "tipo de roupa" que teriam que escolher.

-- Prometo que não farei da sua vida um inferno!-- a líder exclamou.

-- O quê? - a secretária emergiu de seus pensamentos, sem entender o que foi dito.

-- Como retribuição às muitas dores-de-cabeça que já causei, prometo ser uma santa.

-- Santa?!?!? Como assim?!?! - Clara tentou olhar pra o lado, mas teve que retornar a atenção ao trânsito, já que freara meio bruscamente e tentara proteger a líder passando o braço sobre o peito dela, fato que fez a secretária estremecer, como se tivesse levado um choque.

-- Você pode escolher minhas roupas, eu vou me comportar. Juro!

Ainda com os olhos no inferno daquela marginal, Clara ficou admirada com o fato da líder saber o que a incomodava.

-- Você jura?!?! Vai ficar comportada? Nós vamos "es-co-lher roupas E sapatos".

Régia arregalou os olhos e bateu na testa. Um breve suspiro.

-- Desde que você não me venha com vestidos, saltos e muitos acessórios, tem minha palavra. - e a líder esticou a mão para a secretária.

Sem tirar os olhos da pista, Clara retribuiu o gesto, mas antes que pudesse apertar a mão, Régia cuspiu nela para selar o trato, o que fez a secretária quase sair da pista.

-- Você não tem idéia do quanto isso é nojento! - Clara exclamou quase histérica, recebendo um sorrisinho de satisfação em troca.

 

**********************

 

Becky não agüentava mais ver a médica agitando-se dentro da pequena cabana.

Estava tensa. Não queria deixar a loirinha sair mais do alcance de seus olhos.

Entre tantas coisas acontecendo, a noção de tempo era algo que escapava ao controle. Dessa forma, ao conversar com Clara, Becky descobriu que uma data muito importante se

aproximava: o aniversário da doutora.

Já havia perdido o anterior, porque não conseguira descobrir a tempo e a médica fez questão de estar fora do Brasil na data. Tal ocorrência rendeu para a doutora alguns dias de greve sexual.

Agora, entretanto, elas não estariam longe dali antes que a data transcorresse.

Luck, como sempre, não fazia questão da data e por isso mesmo nem estava preocupada se estariam ali ou não dentro de dois dias. A cabeça dela só estava em saber as tramóias do jagunço.

Felizmente, Becky tinha um verdadeiro exército de pessoas desejando agradá-la. Fizera amizade com todas as mulheres do acampamento. Algumas, no início, chegaram a ficar abaladas com o fato dela ser amante da doutora. Discussões acirradas foram travadas. O que chegou aos ouvidos de Becky é que "mesmo que fossem o diabo em pessoa, a situação não poderia ser melhor graças a elas; se fosse tentação e pecado, era bem melhor do que a miséria, doença e desesperança".

Assim, mesmo com alguns olhares enviesados, a loirinha era querida e suas vontades sempre atendidas. Mirtes, a mulher de confiança de Régia, servia pessoalmente Becky e a doutora.

Quando avisada do aniversário, Becky tratou de mobilizar todo seu "exército". Até mesmo Daniel fora incluído e teve tarefas a desempenhar.

-- Vixi! Cê tá dizeno que a dotôra vai fazê ano?

-- É, Daniel, e você tem que fazer um favor para mim. Tem algum ferreiro entre nós?

-- O Nonato. Aquele que troce a outra loira, a babá dos cês aqui.

-- Daniel, Clara não é nossa babá. Ela é secretária da doutora e minha amiga. Entendeu?

Ele meneou a cabeça afirmativamente.

-- Toma. Leva esse desenho para ele, depois que pegar aquilo que pedi. Você sabe o que é, não?

-- Cumé que eu ia isquecê ?

 

**********************

 

A secretária passou a tarde com Régia.

Como havia prometido, a líder se portou muito bem. Apesar de ter carta branca para comprar o que quisesse, não comprou nada além do necessário.

Clara levou-a em uma das casas mais famosas para escolher algumas peças mais formais. Sua libido descobriu, sem querer, um joguinho totalmente particular: observar Régia experimentar roupas. Cada nova peça, era um verdadeiro deleite.

-- Não acha que já experimentei roupas demais? - ela dizia, com um mal disfarçado biquinho, que a deixava tão lindinha, aos olhos da secretária.

-- Você prometeu, lembra?

-- Bem, mas você vai querer ver as lingeries também? - os olhos azuis deixaram transparecer malícia.

-- Claro que não! - Clara corou, embora daria tudo para ver...

-- Por que essa reação, não vejo nada de mal !

-- Lingerie é muito íntimo. Diria, privado.

A líder deu de ombros. Foram para uma das lojas mais sofisticadas de lingerie, em um dos mais tradicionais shoppings de São Paulo.

Régia, que agora invertera o joguinho, mostrava todas as peças que iria experimentar para a secretária. Invariavelmente, eram tipo boxer e tops; mas a secretária conseguiu inserir algumas mais tradicionais, sutilmente sensuais, no final da compra.

Vez ou outra, a líder queria ver coisas para Anna e a secretária dizia que a hora da menina viria; o momento era dela, Régia.

Dessa tarde de compras, a líder descobriu a compulsão de Clara por sapatos e bolsas. Por sua vez, a secretária descobriu que Régia sabia ler partituras e adorava música clássica, além de conhecer estilos diferentes de músicas.

 

 

***************

 

Foram tomar sorvete. Clara, como Becky, tinha um apetite muito bom.

-- Para uma mulher da cidade, cheia de preocupações com estética, você come feito peão de comitiva!

-- Olha quem fala. -- Clara retrucou indignada.

-- Bem, tenho que descontar, depois de tanta fome que passei.-- e sorriu.

A secretária quase cuspiu o sorvete. Régia nem sequer a olhou, mas ela sentiu ficar escarlate. Santa falta de sensibilidade !

-- Ela não gosta de mim.

Clara mal teve tempo de se recompor do fora, por isso não entendeu.

-- Quem?

-- A diretora lá do hospital.

De repente, o sorvete perdera a graça para Clara. Régia continuava atacando o seu com muito gosto.

-- Vocês estão juntas, né?

 

Mais uma vez, perguntou sem olhar para a secretária, que pensou estar sendo deliberadamente poupada de expor seu inegável desconforto.

-- Ela tem ciúmes de mim. - e olhou bem nos olhos de Clara, ch*pando demoradamente a colher.

A mancha de sorvete na blusa ia ser difícil de tirar.

Acho que te devo uma blusa, muié da cidade! - e sorriu debochadamente.

Clara preferiu não comentar. Sabia que era um terreno perigoso.

Rodaram mais algum tempo, até que a secretária percebeu que estava esticando demais a corda com a pobre líder. Definitivamente, a impaciência já estava se anunciando.

Assim que chegaram à mansão, Clara foi cuidar de sua agenda e Régia dirigiu-se ao chalé.

A secretária ligou para Marcella. Percebeu que o humor da diretora tinha melhorado bastante, mais ainda quando propôs um jantar romântico.

Você leva o vinho, Clara. Acho que chegarei antes em casa e preparo algo bem gostoso.

Vou pegar o vinho aqui na adega pois se parar em algum lugar, irei demorar mais. Nos vemos em casa.

Amo você, sabia?

Eu também, Marcella. Dirija com cuidado.

Antes de ir embora, resolveu se despedir de Régia, mas encontrou a linha do chalé ocupada. Estranhou o fato, afinal para quem a líder estaria ligando. "Talvez para o hospital", pensou consigo mesma e deu de ombros. Resolveu ir pessoalmente dar boa noite.

A porta estava entreaberta. Algumas sacolas sobre a mesa. Clara foi seguindo, fazendo certo barulho e chamando por Régia, que não pareceu ouvir. Quando estava quase alcançando a porta do quarto, a líder saiu nua, mostrando toda sua glória e esplendor, com o corpo ainda cheio de gotas do banho recém-tomado.

Por um momento, Clara ficou estática sem saber o que fazer. Régia nem se abalou, permanecendo parada diante da secretária.

Sem saber como agir e ciente de que estava enrubescida, Clara começou a ralhar com a líder.

Como você fica desfilando assim com a porta aberta?

Não sabia que você estava aqui.

Eu chamei você ...-- tentava desviar o olhar.

Eu não ouvi. Estava com algodão no ouvido. Você quer alguma coisa? - Régia disse com certo divertimento.

Você vai ficar aí, assim....como veio ao mundo? Bem, eu só vim...

Enquanto falava, a secretária se afastava rumo a saída. Por sua vez, Régia foi vestir algo.

Como dizia, só vim dar boa noite e ver se você precisava de alguma coisa. Já estou indo! Tchau. Fecha a porta.

Quando Régia voltou, a secretária já tinha ido.

-- Bem, eu ia pedir aquele livro de botâni....-- disse para a sala vazia.

 

 

**********************

 

Não vai?!?!?

Os olhos azuis estavam escurecidos de raiva, mas a médica ainda estava controlada. Aliás, só estava se controlando, porque era Becky quem a desafiava. A loirinha percebia pelo abrir e fechar de mãos da doutora.

Não. Ou vamos as duas, ou eu não vou! - a loirinha dizia isto, numa calma irritante - Pode falar para Clara nem voltar, se for só para vir me buscar.

Luciana cobria o pequeno cômodo com três passadas largas, andando de um lado para o outro, flexionando as mãos, tamanha a necessidade de extravasar sua irritação.

-- Se minhas suspeitas estiverem certas, você corre risco ficando aqui. E eu quero fazer uma investigação antes de irmos embora. Seja razoável e vá embora com Clara, eu fico com Régia. Ficarei bem.

A médica estava ajoelhada diante da loirinha, que olhava distraidamente para as unhas. Ao erguer os olhos e fitar os de Luck, quase turquesas pela raiva, sabia que estava em terreno minado e que sua única salvação era a confiança no amor da médica. Resolveu forçar mais um pouco.

Não vou. Se eu corro perigo, acha que vou me sentir melhor largando você aqui? Não terei um minuto de sossego. Depois, se estivermos certas, deixe Régia cuidar de tudo. Vamos embora as duas ou eu não arredo o pé daqui!

Luck queria berrar, ordenar, demitir - teve que rir desse pensamento. Estava com raiva de não conseguir convencer a loirinha.

...Becky, eu quero você longe desse acampamento, longe desse João de Deus, longe da remota possibilidade de uma ameaça. Entendeu?

Doutora, eu entendi tudo; mas, tanto quanto você, eu também temo por deixá-la aqui. Ou vamos as duas, ou não vou!

Becky podia ver a paciência da médica saindo por suas narinas dilatadas. Via os olhos azuis escuros de raiva.

Sabia que, apesar de ser verdade seu temor, esse o era por motivos distintos: os dela, Becky, envolvia a preservação de uma omissão que evitaria algumas situações, indefinidas ainda, mas tão latentes quanto a vontade de trucidar Rebecca que a médica tentava controlar.

Bem recuperada dos ferimentos, como que necessitando de mais espaço, em um único impulso, a médica levantou-se e saiu da cabana, em direção ao abrigo dos poucos cavalos, descontando sua raiva em Daniel que estava prestes a se anunciar. O rapaz, em um rodopio, foi salvo de se esborrachar no chão pelos braços de Becky.

Ouo! Que cê fez com a dotôra? Cê enfezou ela. A muié ta chispando!

Becky não conteve um sorriso pelo comentário, mas deixou o menino parado, sem resposta.

Sabia que sua preocupação em deixar a médica sozinha no acampamento ia além de cuidados com a segurança física dela, embora implicitamente relacionado.

Na verdade, menos nobre e mais oportuno, o temor de Becky era que suas omissões viessem à tona quando Luck começasse a investigar mais de perto.

A conversa com João de Deus, no dia anterior, serviu para criar um obstáculo, mas não garantiu paz total.

Fôra uma conversa difícil. Becky usou de franqueza com o jagunço sobre o fato de Luciana não saber de nada sobre a aposta e ela, Becky, querer que isso permanecesse assim; mas estar tendo que lidar com a desconfiança da médica de que algo ocorrerá errado com seu pai.

Becky sentiu que se precipitara quando o jagunço João de Deus, ao término da conversa (na verdade um monólogo), apenas olhou para ela com desdém, de sobre o cavalo, lugar no qual permaneceu o tempo todo, numa atitude de intimidação.

Quem procura acha, dona! Não tenho porquê me meter com ocês.Sou minoria aqui. Nem todo mundo acha que ocês duas são santas. - cuspiu e colocou o chapéu - Eu não farei nada. Segura sua muié, se for macho suficiente pra isso. - deu as costas para Becky.

Ok. Eu pedi; também sei ameaçar! - a loirinha disse em tom cortante, fazendo o caboclo parar a montaria.

Ele virou e a encarou.

Vai blefar igual o perdedor do seu pai?

Não. Vocês estão em minhas terras. Você me agrediu e atentou contra minha vida. Temos muita gente que nos consideram santas por aqui, seria fácil ter testemunhas. Somos influentes, ricas. Faça as ligações e veja quantos anos você perderia dentro de uma cela.

João de Deus era tudo, menos incauto. Ele avaliou Becky. Ela estava calma, mas a postura do queixo denotava resolução e firmeza.

Tudo isso para preservar seu pai da vergonha e humilhação diante dela; aquela mulher tem fibra e ia pulverizar um porqueira como aquele. Não gosto dela, mas ela é valente.

A vergonha de Becky se multiplicava: por ela, pelo pai, pela situação.

Óia, não me interesso por ocês. Como disse, segura sua muié.

E foi embora, largando Becky sem saber se sua ameaça surtira efeito.

Quanto mais lembrava do fato, sabia que não era ele quem tinha o poder de acertar a situação, mas ela mesma.

A cabeça de Rebecca fervilhava. Sentia-se cada vez mais angustiada com a infinidade de coisas que andara omitindo de Luck nos últimos tempos.

Tentando priorizar as coisas, buscava ordenar o que deveria contar primeiro e, por mais que pensasse, não queria contar nada.

Ainda queria muito saber mais sobre Paula; queria saber quem era a pessoa que o Prof. Victor achava interessante que ela conhecesse; queria saber e perguntar direto para Luck, mas encontrava resistência ao imaginar a doutora enfurecida com o fato dela, Becky, bisbilhotar sua vida.

Lógico que uma voz interna, muito sábia, dizia que se ela fosse direto para a médica e contasse, ia surgir um certo clima desconfortável, mas ainda seria melhor do que deixar que, de alguma forma, algo chegasse aos ouvidos da médica. Entretanto, outra voz um tanto quanto mais ardilosa, dizia que, diante da verdade, caso a médica quisesse, a porta que estava semi-aberta, se lacraria para sempre.

Apesar das coisas ocorridas no último período, a médica ainda era o poço de enigmas e contradições. Prova disso era a repentina revelação do caso que tivera com Marcella, motivo pelo qual a loirinha entendera que a secretária e a diretora mantivessem o romance em sigilo.

Quantas revelações mais teriam?

E, agora, impondo sua vontade à da médica, para forçar o retorno de ambas, sem que Luck pudesse realmente investigar o que a incomodava com relação ao jagunço João de Deus, estaria mais uma vez encobrindo os fatos reais.

De repente, se deu conta de que Daniel estava ali. O menino a observava. O nariz ficara engraçado.

Onde está seu pai ?

Tá novamente lá nas cercas.

Becky não gostava disso. Algo acontecia naquelas cercas

Da última vez o encontrou junto das cercas, com sujeitos que não sabia dizer se eram ou não do acampamento.

Que cê ta matutando aí? -- Daniel quis saber.

Olhos verdes o fitaram.

Você quer ser o quê?

Como!?!?!?

Estavam há um bom tempo conversando, quando a médica retornou. Com seu olhar, Daniel saiu todo apressado, espantado pela carranca da doutora. Era engraçado ver o medo que ele tinha dela.

-- OK. Vamos embora! Tão logo eu converse com Régia, iremos. - foi a informação passada secamente pela médica.

 

**********************

 

 

De acordo com as orientações da doutora, Clara deveria levar Régia todos os dias ao hospital. Dessa forma, foi com surpresa que a secretária ao chegar na mansão, não encontrou a líder.

Foi com certa apreensão, que Clara constatou que realmente Régia não estava no chalé.

Não querendo perguntar aos seguranças, resolveu ir verificar na garagem se todos os carros estavam por lá. Constatou que sim, estavam por lá.

Falou com os empregados e nenhum havia visto Régia.

Sem muita alternativa, foi até a guarita e pediu para verificar o relatório de entrada e saída, sob um pretexto tolo. Verificou que Régia saíra por volta das 6:30 da manhã....de moto.

-- Vocês deixaram ela sair com a moto?

Todos os seguranças se entreolharam.

-- Sim. De acordo com seu email, ela tem livre acesso e pode utilizar qualquer veículo...

-... mas, não motos da coleção da doutora! - respondeu Clara, num misto de irritação e certo desespero.

-- O seu email...

-- Ta...já sei...o meu email ..esquece...-- Clara respondeu, enquanto olhava a tela, pensativamente

-- ....e ela não foi com moto da coleção, não. - falou o outro segurança.

Os olhos de Clara correram pelo papel. Realmente, a placa anotada não era de nenhuma moto da coleção, já que todas começavam com LL . Régia saíra com uma das motos dos seguranças, utilizada nas rondas.

-- ...e levou uma jaqueta e um capacete nosso. - disse o outro, com um sorriso meio de viés.

Com essas informações, Clara resolveu cuidar de seus afazeres, esperando que Régia retornasse inteira de seja lá onde tivesse ido.

Em dois dias, estariam rumando para a fazenda. Clara acertava os detalhes do jatinho, quando ouviu o ronco da moto. Eram 9:30 h.

Quando alcançou a entrada da casa, pode ver Régia descendo da moto. Ficou sem respiração: calça jeans, camiseta branca, jaqueta de couro aberta e, para maior delírio de seu imaginário, a secretária chegou justo na hora em que a líder tirava o capacete e, jogando os cabelos, olhava para ela, sorrindo. As pernas de Clara bambearam. Ela ficou paralisada.

Régia sorria, totalmente relaxada, andando com passos firmes e subindo os degraus de 3 em 3,com o olhar fixo na secretária, até parar a menos de meio metro dela.

-- O povo da guarita disse que cê tava me procurando?

"Pela vida toda..." - a secretária pensou.

-- A..a..acho que sim.....quero dizer, sim.

-- Aqui estou. - respondeu, olhando fixamente os olhos verdes que a olhavam como que em transe.

Clara pensou que as botas deixavam Régia muito alta, mais do que a doutora.

Régia, num gesto divertido, estalou os dedos como que acordando Clara.

A secretária corou e, numa atitude de disfarce, começou a repreender a líder.

-- Ok. Eu só pensei que fosse livre para ir e vir.

-- E é! Claro que é. - a secretária se irritou - Mas, você disse que não conhecia nada por aqui e eu nem tinha idéia que você sabia pilotar moto. Ao menos você tem habilitação?

-- Não. - Régia respondeu, se divertindo com a irritação de Clara.

-- É isso que eu falo. E se você fosse parada pela polícia, poderia ser presa..sei lá...

-- Eu me cuido, pode deixar. E eu conheço um pouco de placas de trânsito..-- a líder sorria -- ..também sei ler e perguntar...-- e ria mais, enquanto a secretária ficava cada vez mais vermelha...-- e, mesmo na cidade, eu ainda sou uma excelente rastreadora.

Clara ficou muda. Com um suspiro de exasperação, entrou, deixando a líder parada na escada. Régia a seguiu, reprimindo uma risada satisfeita.

No escritório, os computadores - desk e o note -- estavam ligados, pois a secretária atualizava alguns arquivos de um para o outro. Régia pode ver a anotação sobre o jato e também algo sobre os pais de Becky.

-- Se a doutora vai fica mandando vocês para a fazenda, ela deveria comprar um jatinho. Ia ser bem mais barato.

-- É, você tem razão. E ela também usa bastante para fazer suas viagens de negócios. Ela detesta vôos regulares, mesmo viajando de primeira classe.

Distraída com seus afazeres, Clara nem se deu conta de que Régia estava operando o computador. Quando percebeu, perguntou surpresa o que a líder fazia.

-- Nada, tava vendo como funciona. Vendo se ainda lembrava como a gente mexe nessas coisas.

-- É, "essas coisas" estão muito evoluídas. Você já se conectou à Internet?

A líder negou. Clara foi até a máquina e mostrou como era.

-- Sabe, tem um site que você pode até fazer rastreamento por satélite, além de achar o que ou quem você quiser, em segundos.

Os olhos azuis tornaram-se muito vívidos e interessados. Clara percebia que a mente de Régia estava a mil, pois a líder começou a teclar e fazer pesquisas sobre plantas e rir das respostas tão rápidas.

-- Ai, meus tempos de faculdade! - sorriu, como lembrando de algo prazeroso.

Perguntou sobre e-mails, sites, contas e tudo o mais. Ficaram quase hora e meia falando de informática e Internet.

Antes de irem ao hospital, Clara pediu para colocar um notebook no chalé.

 

**********************

 

João de Deus estava começando a achar que perdera seu sossego. Nem bem fora ameaçado por Becky, encontrava-se sob a mira da doutora.

Alguns de seus seguidores, homens que achavam que mereciam ficar com as terras mesmo sem saber o que fazer com elas, contaram a ele que a mulher de olhos azuis glaciais estava fazendo perguntas.

Conforme deixara claro para a loirinha, nada teria para falar desde que a médica também ficasse longe. A proximidade dela era coisa que ele, às duras penas, estava evitando.

Suas idas aos limites da fazenda, perto das cercas, não estavam ajudando a tirar a mulher de seu encalço. Ao contrário, segundo suas fontes, isto era mais um motivo de perguntas.

Luciana, que para aquietar Becky, dissera que não procuraria o jagunço, agora o encarava com muita frieza.

Não gosto de você, mas Régia o tem como seu braço direto e esse é o seu aval para que eu não tome sérias providências a seu respeito. - a médica disse, sem rodeios.

Bem, então nóis semos dois: num gosto de ocê também, mas tenho que dá o braço a torcer que ocê é durona. Como ocê disse? Aval...seja lá o que for, retribuo o favô.

A médica não era tola. Acostumada a lidar com toda sorte de pressão e politicagens, não iria se intimidar por um caboclo.

Quero saber quem você atocaiou para garantir essas terras?

Ele a olhou. Sorriu seu sorriso desdentado, cuspindo entre as falhas, enquanto prendia o cigarro em outra.

Não precisei fazer o silviço. Entonces, num atocaiei ninguém.

Luciana sabia que não poderia perder a paciência. Não estava a fim de brigas e situações que ocasionassem nova permanência naquela fazenda.

Entendo. Você, se tivesse feito o "serviço", estaria servindo a quem? - tentou reformular a questão.

Meu antigo patrão era dono das terras vizinhas, na outra banda, nas cercas depois do pasto.

A médica ia fazer mais pergunta, quando o jagunço informou que o homem morrera, atocaiado por algum de seus muitos inimigos.

O fio dele é um bundão. Deixô nóis saí. As terras tão lá. Quem cuida, num sei. A dona quê mais arguma coisa?

Por que você obedece Régia?

A fisionomia mudou. Não havia ironia, deboche, nada. Mesmo Luciana, acostumada aos blefes de seus adversários e a ler fisionomias, não conseguia decifrar o que lia naquele rosto curtido de sol.

Cês andam de conversê. Pergunte para ela. - e deixou a médica parada, sem reação.

Luciana tinha que admitir sua frustração com a conversa. O caboclo era mais ardiloso e escorregadio do que ela pensava. Não saía da conversa da forma como entrou, sem nada saber, pois o caboclo confirmara que teria que atocaiar alguém, muito provavelmente o pai de Becky. E, com a informação sobre a fazenda e o filho do falecido mandante e dono não tivesse ficado tão na estaca zero, mas não sabia ainda se queria mexer com isso.

Era certo que entre ele e Régia a coisa era bem mais séria. Certamente, nada que envolvesse valores materiais. Se toda sua experiência não lhe faltasse agora, diria que havia certo envolvimento passional. Será?

De qualquer forma, notou que a movimentação nessas bandas das cercanias da fazenda estava muito intensa. Era uma parte afastada e divisa com outro Estado fronteiriço.

Enquanto voltava para o acampamento, pensava em como Rebecca conseguiria administrar toda aquela extensão de terra.

 

**********************

-- Mas, Marcella, você sabe que eu amo essa cantora de paixão. E é o primeiro convite, desde que firmamos essa parceria com essa casa de espetáculos, que me atrai a atenção.

-- Amor, com a doutora brincando de Jim das Selvas, eu tenho que responder por todas as coisas relacionadas à gestão desses hospitais. Hoje estou indo à Brasília e depois para um congresso fora do país. Sabia que fomos convidados para ministrar um seminário sobre Qualidade Total em Hospitais e áreas de saúde?

Clara esboçou uma expressão de surpresa.

-- É. Não poderia saber mesmo, agora que vive atrás dessa Mowgli que a doutora trouxe para cá. - a diretora comentou.

-- Alguém está cheia de apelidos hoje! - Clara falou, enquanto ia para junto de Marcella, beijando-a nos lábios, como forma de parabenização. - Por que não me contou sobre o convite ontem? Uau! Vocês merecem! O trabalho que vocês têm realizado nesses últimos 2 anos está maravilhoso.

-- Sua sorte, "ex-senhora sabe tudo", é que o convite veio direto ao hospital e eu falei com Luciana hoje de manhã. Por isso só soube agora que terei que ir no lugar dela.

Clara não gostou muito do comentário, mas como as coisas relacionadas com os hospitais há muito tempo foram direcionadas para Marcella, pela própria doutora, não fez tanto caso sobre seu desconhecimento a respeito do compromisso recém-informado. Mesmo porque, sua preocupação no momento era outra.

-- Mas, não dá para você ir comigo? Depois de amanhã, eu vou viajar também....vou resgatar o Jim das Selvas. E devolver Mowgli.

Ambas riram e se beijaram com mais ardor. Marcella gem*u, enquanto Clara acariciava seus seios por sobre a blusa e deixava a língua bailar por sua nuca.

HUmm...Ainda estão sensíveis, depois de ontem. - a diretora disse, com certo ar de satisfação.

Clara lembrou de como fizeram amor com muita voracidade. Sabia o motivo de tanto desejo e volúpia. Mas, Marcella também tinha sua cota de participação; a diretora era uma amante insaciável e audaciosa. Clara também estava sensível em lugares inimagináveis. Isso a fez intensificar as carícias que fazia na diretora.

Nossa! Va...vamos parar....- estava se deixando levar pelo desejo -- ...antes que eu esqueça onde estamos....

...nós já esquecemos várias vezes...-- a secretária continuava a torturar a diretora.

OK. Mas....-- a diretora se desvencilhou com certo esforço -- Não dá, amor. Enquanto o Jim não volta, eu tenho que fazer as honras e acertar as datas das palestras. Aliás, é bom que ela volte logo mesmo, pois a atração principal é a própria. - disse, enquanto colocava a secretária comportadamente sentada na cadeira.

Ficaram em silêncio. Clara estava contrariada. Era sua cantora favorita que vinha fazer uma única apresentação. Nem que não fosse pelo fato, mas a secretária tinha convites para camarote, cedidos pela casa de espetáculos, já que tinham convênio com o estabelecimento. Tudo caia como uma luva, mas não queria ir sozinha e ficar em um camarote.

-- Leva a Mowgli. - a diretora disse em tom de zombaria - Um pouco de bom gosto vai fazer bem para ela. Só não deixem tocar tambores; vai que ela pensa que é um chamado dos colegas! - e deu uma risadinha da própria piada.

Clara que evitara tocar no nome de Régia o dia inteiro, mostrou a língua para a diretoria e fez uma cara de quem não engoliu a infâmia, mas introjetou a idéia, sem maiores comentários.

Caminhando até a porta, falou:

-- O que você acha de eu propor a doutora que compre um jatinho? - foi a desculpa para mudança de conversa

**********************

Régia, após retornar para a mansão, trazida pelo motorista; passou o resto do dia na Internet, fazendo pesquisas.

Ainda que nem de longe fosse a total ignorante que demonstrou para Clara, os últimos 5 anos perdidos nas fazendas, deixaram-na muitíssimo defasada.

A vida rural deveria ter sido um refúgio; uma pausa estratégica, mas acabou por ser um período difícil, cheio de turbulências. Acabara no centro de um conflito por terras, envolvendo-se em assuntos muito fora de suas pretensões; mas, coisas para as quais, por gratidão, não poderia virar as costas. E não era só por sua sobrevivência, também tinha Anna.

As poucas horas que rodara de moto, serviram para que Régia se situasse melhor novamente. Para que percebesse que não era uma líder de fato, pois não queria seguidores. Não precisava. Era apenas uma pessoa cheia de habilidades, que as desenvolvera por segurança e necessidade de vingança.

Régia, a mulher, era uma pessoa simples; que gostava de plantas, de ciência, de música, de prazeres encontrados em coisas que nem sempre eram apreciadas por todos.

Régia, a personagem forjada, dera o que tinha que dar. Não iria negar que também gostava de sentir a adrenalina correndo solta em suas aventuras. Foram tempos de agitação, de improvisos, de demonstração de esperteza, força e percepção. Conseguira ser a melhor; por recompensa, conseguira sair viva.

Agora, era hora de rever algumas pessoas; cobrar alguns favores e refazer sua vida.

Naquela noite, com um sorriso de incredulidade e satisfação, Régia beijou a borda do notebook, como quem agradece um precioso favor.

 

**********************

 

Clara ficou com Marcella até tarde, uma vez que a levara ao aeroporto. O vôo atrasou.

Como a mansão era mais próxima ao aeroporto, resolveu ir dormir lá.Também tinha algumas coisas em mente que o fato de estar na mansão, facilitaria.

Assim que chegou, da janela de seu quarto, viu que havia um ponto de luz no chalé. Era fraco, luz azulada, parecia uma televisão. Concluiu que Régia estivesse acordada. Resolveu ir até lá.

Para variar, a porta estava entreaberta. A sala estava vazia e o veio de luz vinha do quarto. Aliás, excetuando-se a fraca luz, tudo estava na escuridão. Clara foi entrando, deduzindo que a líder dormira com a tv ligada.

De fato, Régia estava adormecida, porém a luz era a da tela de descanso do note.

Clara riu com o fato da líder ter se apegado tanto ao aparelho, como uma criança que ganha um brinquedo e não larga mais.

A secretária se aproximou da cama e pode perceber que Régia estava nua, com a coberta emaranhada em seu corpo, mas deixando generosas porções à mostra. As costas eram largas; as pernas eram bem torneadas e musculosas; o quadril um pouco largo e bem melhor delineados agora, sem as roupas. Clara ficou parada, olhando; permitindo-se roubar aqueles momentos, abusar da vulnerabilidade da líder. De repente, ela se moveu, mas não acordou, virando-se de forma a deixar os seios visíveis. Clara engolia em seco ao ver os mamilos levemente eretos; também podia ver o abdômen que, apesar de não ser tão perfeito quanto o de Becky (ou o dela mesma), fazia uma excelente composição com o todo. A secretária percebeu várias cicatrizes pelo corpo da líder, algumas mais desbotadas, outras mais marcadas; porém, achou tudo muito excitante, sem prejudicar a beleza do corpo.

-- O que será que você passou, minha querida? - Clara pensou, sem omitir de si mesma seu carinho por aquela mulher.

Lógico que a tentação tomou conta da secretária e ela quis tocar naquele corpo. Sob velado disfarce, mais para justificar seus atos, ela foi por cima do corpo da líder, desligar o note e pegar a máquina.

Quando, com todo o silêncio e cuidado, ela passava por sobre Régia, quase morrendo de tanto prender a respiração; a líder agarrou-a pelo braço, dando-lhe um golpe e, arremessando-a ao chão, caiu por cima dela. Foi tudo muito rápido e Clara só teve tempo de amortecer a queda, já sendo amparada por Régia.

Ambas ficaram no chão, ofegantes. Seus rostos a milímetros de distância. A secretária totalmente consciente da nudez do corpo sobre ela, uma vez que, ao cair da cama, o lençol ficou e Régia caiu montada sobre o abdômen de Clara, que teve a blusa afastada com o arremesso fora da cama. Dessa forma, a secretária sentia na pele todo o calor do outro corpo.

-- Você está louca?!?!?!

-- Desculpa! - a líder ria, sem sair do lugar - Pensei que fosse um ladrão que ia roubar o aparelho.

-- E você reage assim?!?!? Caindo nua em cima dele?!?! - Clara falou, meio indignada

-- Bem, eu não ia pedir licença ao ladrão para colocar uma roupa. - a líder esboçava um sorriso debochado, enquanto deixava o corpo pesar mais sobre a secretária.

-- OK....Agora você sabe que sou eu, pode ficar relaxada ...e..levantar.

Sem cerimônia, Régia ficou em pé e estendeu a mão para Clara. Ainda bem que estava meio escuro, pois a secretária sentia-se arder e sabia que estava ruborizada.

-- Juro que achei que você estava dormindo profundamente.

-- E estava, mas anos de tocaia me ensinaram a estar atenta a qualquer movimento. E, seu corpo é muito quente, foi fácil sentir a mudança de temperatura sobre mim.

E, antes de terminar essa frase, Régia acendeu a luz, pegando Clara no flagra, ao ficar escarlate com o comentário.

-- Aqui é muito quente...e você num liga o ar...você fica com a porta aberta..assim..toda nua - a secretária falava e fingia ajeitar as coisas, sem olhar para a líder, totalmente nua. -- ..tinha que ser tão violenta?

-- Você poderia ter dado a volta na cama. Teria evitado tudo isso!

Agora, Clara ficara lívida. Régia estava se divertindo. Foi ao banheiro e voltou vestindo um roupão.

-- Você quer ir ...-- as duas falaram ao mesmo tempo.

Riram. Clara já estava mais recomposta.

-- Você primeiro, Régia.

-- Estava perguntando se você quer ir a um lugar comigo amanhã, mas tem que ser cedo. E é surpresa, nem pergunte.

Clara, que estava a meio caminho de perguntar onde, fechou a boca rapidamente. Ameaçou protestar, mas a líder fez sinal de quieta com os dedos. A secretária ameaçou novamente, mas ficou olhando a líder.

-- OK. Pois bem, o mesmo se aplica a você: eu aceito ir com você, mas também quero convidá-la para sair comigo à noite, nas mesmas condições: sem perguntas, surpresa!

Régia estendeu a mão e quando Clara fez o mesmo, ela cuspiu na palma da mão de novo, pegando a secretária desprevenida novamente.

-- Você não sabe quanto isto é nojento...-- a secretária ficou irritada -- ..de extremo mal gosto. Você gosta de me provocar, não?

E saiu do quarto, largando a líder às gargalhadas.

-- Você nem sabe quanto. Nem sabe quanto!!!!

**********************

Tinha aquele galo chato. Como ele conseguia cantar tão fora de hora, a médica não sabia. Aliás, se pudesse, atiraria nele bem na hora que ele fosse abrir o bico. Oh bicho sem noção! Por vezes, cantava às 3 h da manhã, ou às 22 h ou qualquer hora que desse vontade.

Ao olhar para o relógio, percebeu que já passavam das 5 horas da manhã. Não era de acordar tarde, mas ali não tinha o que fazer e Becky nunca gostou de madrugar.

"Dessa vez, até que ele cantou no horário." -- pensou, rindo do próprio comentário. - "Estou ficando muito rural ou isso é um tédio mesmo. Começo a entender o galo!"

Becky estava agarrada a ela e dormia profundamente.

Lembrou que era seu aniversário. Estava completando 40 anos. Conhecera a loirinha na virada de 37 para 38 anos, quando imaginava largar tudo. Estavam juntas há quase dois anos. Como as coisas mudaram!

Sabia que as coisas do passado estavam lá para sempre atormentá-la. Algumas delas não estavam tão longe ou enterradas.

Sentia ainda a angústia e a saudade do filho, do marido, da medicina. Isto ainda a fazia descrente das pessoas; a tornava indiferente aos viventes ao seu redor. Sempre fora exigente, sagaz, objetiva. Fez tudo como planejou e conseguiu o que queria. Mas, nunca planejara Becky. Nem sabia se algum dia pensara em querer alguém como ela. Sendo sincera consigo, sabia que o "tipo de gente da loirinha" estaria a milhas e milhas distante dela, caso sua vida com Thomas e Douglas tivesse seguido o curso.

Precisou perder as rédeas de sua vida para poder encontrar seu amor verdadeiro. Sabia como era amar, já tivera um amor e não soubera preservá-lo. Substituiu por outro que era seguro, amigo, calmo, um acordo excelente. Depois, achou que ganharia o amor de mãe. Nunca pensara ou se preparara para ter um novo amor. Um que ela não sabia dar uma definição: amor amigo, amante, fraterno, materno....não sabia.

Amava pertencer àquela menina. Saber que seu sono era tranqüilo se fosse ao lado dela; que as pessoas pareciam mais toleráveis se vistas pelos olhos dela; que a vida tinha um brilho e esse era ela, Becky.

"Será que Becky lembrou do meu aniversário?" -pensou, para em seguida ponderar que Clara, sempre eficiente, não a deixaria esquecer. Olhou para Becky e tentou imaginar o que aquela criatura tão serena dormindo, aprontaria com ela durante o dia. Dessa vez, não seria punida com outra greve, pois não tinha culpa da situação. Por isso mesmo sabia que estava completamente vulnerável. De certa forma, era excitante esperar o que viria. Nos últimos anos, não sabia mais o que era comemorar o aniversário, muito menos esperar surpresas e ficar ansiosa. Somente Becky para promover tais emoções.

"Feliz Aniversário, Dra. Luciana!" - pensou, jocosamente.

Olhando para a loirinha dormindo, teve ímpeto de começar a beijá-la provocativamente. Sabia que a resposta seria imediata, mas também sabia que nesse horário, o sono era mais sagrado que o sex* para Becky.

Sentindo o calor de sua amada e vendo que ainda estava escuro, apertou mais seu corpo ao de Becky e dormiu novamente.

 

**********************

 

O despertador, mesmo após tê-lo feito voar longe, ainda insistia em soar.

-- Desde quando eu desperto as 4:30 h da manhã? - Clara mal pensou, continuando a dormir.

De repente, percebera que não era o despertador e sim o telefone. Ficou mais alerta, era pouco provável, mas poderia ser a doutora. Bocejando, atendeu.

-- Acordando e levantando!!! Temos um compromisso, esqueceu? - uma voz irritante de chefe de excursão disse animadamente.

Não era a doutora, por isso podia mandar a merd* quem estava ligando àquela hora.

-- Não quero. Estou dormindo. Nenhum compromisso às 4:30 h da manhã. - desligou o telefone.

Clara virou para o outro lado e arrumou-se melhor, mas o telefone insistia.

-- Você combinou sim.

-- Combinei cedo, não de madrugada.Cedo igual 8 h. Madrugada igual 4:30. - desligou de novo.

Não sabe como, mas os lençóis foram jogados ao chão e o colchão saía debaixo de seu corpo. Quando percebeu, estava sendo carregada por Régia.

-- Hey!! Como ousa?! - disse, ainda bocejando.

-- Sempre achei que você tivesse palavra, não me decepcione.

Clara queria espernear, mas estava adorando sentir o cheiro e o calor da líder; além de estar se divertindo com a situação, agora que fingia sua sonolência.

-- Deixa eu descer. Ou vai me jogar de pijama no chuveiro?

Sentiu que Régia ponderou sobre a possibilidade, mas resolveu colocá-la no chão.

-- Você tem exatos 20 min para ficar pronta ou perderemos a hora. Espero você na porta da frente.

-- Não sabia que tínhamos hora marcada. E como iremos? De moto? E, o que devo vestir?

-- Quanta pergunta, muié da cidade!!! Não temos hora marcada, iremos com seu carro e vista algo esporte e sapato confortável. Agora você tem 18 min.

E saiu, da mesma forma que entrou, sem maiores considerações.

**********************

-- Por que você não dirige? - Clara protestava, ainda com sono e comendo uma maçã, seu café da manhã.

-- Ainda lembro de uma comida de rabo que levei por dirigir sem habilitação. - a líder sorriu marotamente.

-- Tem certeza que estou vestida de acordo?

-- Está sim, fica tranqüila. Aliás, você está muito bonita. Elegante como sempre.

Clara estava vestida com uma calça esportiva, simplesmente amarrada na cintura, e uma camiseta tipo regata, com uma outra de manga comprida sobre os ombros. Calçava um ked´s e meias soquetes. Fôra o melhor que conseguira em 10 tirânicos minutos.

Régia, por sua vez, usava uma calça de agasalho preta, camiseta regata branca e tênis. Levava uma mochila.

-- Espero que você tenha trazido água nessa mochila, porque eu não tive tempo de pegar nada. Nem meu protetor solar!

-- Eu trouxe protetor, água, barrinhas de cereais que você adora e um par de toalhas também.

-- Toalhas?!?!

Enquanto Régia apontava o caminho, Clara percebia que estavam se distanciando de Sampa, entrando em outro município.

-- Onde estamos indo?

-- Perguntas, perguntas, perguntas.

-- Mistério, mistérios e mistérios! Você percebeu que eu sou a mulher que desvenda os mistérios, por isso tenho que fazer perguntas.

Sem comentar, Régia apenas apontou a placa que indicava a entrada do local para onde iam.

-- Aqui!?!? - Clara não acreditava.

-- Vamos chegar em cima da hora para os exercícios da manhã.

**********************

Nunca poderia imaginar que Régia fizesse tai chi chuan. Cada vez mais, a líder a surpreendia.

Sabia que ela não era uma pessoa desprovida de conhecimentos, tinha curso superior e tal. Entretanto, os últimos dois dias juntos dela mostraram nuances que contradiziam demais a imagem rústica que a mulher queria aparentar.

Clara, praticante de yôga, sentiu-se muito bem entre as pessoas reunidas ali, mas pouco conseguiu se concentrar, tamanho seu espanto ao ver Régia usando as vestes adequadas para os exercícios: a calça e kimono negros; pés descalços. Estava linda!

A expressão concentrada e os movimentos ritmados começaram a mexer com uma parte de Clara que meditação nenhuma faria acalmar. Régia era uma verdadeira caixa de surpresas. Até agora, todas agradáveis. Mas, certamente, a forma como se encontraram atestam que muita coisa nebulosa existia na vida daquela pessoa que agora exercitava-se como se tivesse estado nesse templo a vida inteira.

Chegaram em cima da hora, assim apenas se posicionaram e começaram os exercícios. Ao término de 60 minutos, a monja que conduzira as práticas, as encerrou. Uma a uma, em silêncio, as pessoas foram se retirando. Régia manteve-as por último, enquanto entregava uma toalha para a secretária retirar um pouco do suor.

-- Não sabia que você praticava tai chi.

-- Enquanto você dorme, o mundo gira! - foi a resposta divertida para qual Clara não teve tempo de articular uma réplica, pois a monja se aproximava.

-- Monja Naomi, está é Clara.

Com um sorriso suave, a monja reverenciou a secretária. Era uma senhora já, mas sem definição de idade em seu rosto. Os traços orientais não propiciavam arriscar nada. A fala era mansa, com sotaque ainda carregado.

-- Régia, bom estar você entre nós hoje! Melhor ainda trazer amiga. Percebi que você tem o corpo bem flexível. Pratica meditação também? - a monja se dirigiu a Clara.

-- Sim. Yôga. Fiquei impressionada com o movimento de vocês duas. Pareciam que executavam uma dança ensaiada por anos. Confesso que não pude me concentrar como deveria. - a secretária falou com um sorriso meio amarelo de vergonha.

As duas mulheres trocaram olhares e algo foi sinalizado. A secretária percebeu. Havia reverencia nos olhos da líder e muita complacência e ternura no olhar da monja.

-- Régia sempre foi minha melhor aprendiz.

Antes que Clara pudesse perguntar algo, Régia pediu licença para usarem o chuveiro e foram conduzidas para uma espécie de vestiário.

-- Vai adiantar muito tomar banho, se não tenho ao menos outra camiseta para vestir.

-- Eu trouxe camiseta e roupas íntimas para você.

Os olhos da secretária se arregalaram. E ela se dirigiu ao chuveiro.

-- A água é...

Foi um grito com certeza.

-- ...gelada!

**********************

 

 

 

 

Fim do capítulo


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