- Fernanda nós não precisamos de um DJ – disse Jasmine ainda dentro do banheiro – E também não há necessidade desse bife caro e muito menos de que você faça essa promoção do evento em todas as revistas do pais. Lion vai cuidar da música ambiente, ele já preparou uma playlist 10 h que agrada a todos nós. E o serviço de bife que eu e Adrian visitamos ontem será perfeito. Quanto a divulgação você não tem que se preocupar porque nós já cuidamos disso do nosso jeito e convidamos alguns nomes importantes que são conhecidos e velhos amigos. Vamos ter uma boa repercussão.

- Eu só estou querendo ajudar Jas – falou Fernanda do quarto num tom cansado – Com a revista divulgando vocês teriam muito mais atenção. E quanto a esses outros detalhes, nem falo mais nada. Não entendo porque não podem deixar essas coisas com profissionais bem pagos, não é tão caro assim.

A fotógrafa saiu do banheiro da suíte vendo a editora terminar sua frase. Fernanda estava sentada na cama, suas pernas esticadas sobre o edredom fino estavam a mostra devido a inexistência de qualquer short. Os olhos estavam concentrados num caderno de anotações, os cabelos presos num coque frouxo, uma caneta entre os dedos e, cobrindo o tronco, uma blusa branca que Jasmine costumava usar e que na morena ficava bem maior. A fotógrafa pegou sua câmera que estava em cima da cadeira onde Fernanda sentava para se maquiar e logo a lente capturava a imagem de uma despreocupada e confortável Fernanda protagonizava.

O som do flash fez a editora-chefe erguer o olhar e ter outra fotografia sua capturada. Com um sorriso Jasmine soltou novamente a câmera e se aproximou da cama enquanto Fernanda negava com a cabeça e esboçava um pequeno sorriso, seu caderno e caneta foram colocados no criado-mudo ao seu lado. Jasmine se inclinou sobre a morena apoiando suas mãos no colchão e encostou seus lábios nos dela. O selinho se tornou beijo e a fotógrafa foi puxada para cima dos lençóis caindo sobre a lateral de seu corpo enquanto que Fernanda se inclinava sobre ela mantendo o beijo.

- Você sabe que eu apenas tentei ajudar não é? – questionou a editora-chefe afastando as bocas alguns centímetros.

- Sim eu sei – respondeu Jasmine se arrumando na cama e puxando a morena para se deitar sobre ela – E eu agradeço muito por isso. Mas algumas coisas você tem que deixar que eu faça sozinha.

- Certo, você tem razão – concordou Fernanda se sentando sobre a cintura da fotógrafa – Mas eu continuo preferindo as coisas que só podemos fazer juntas – ela sussurrou antes de morder o lóbulo da orelha de Jasmine – Ainda mais as que temos que fazer muito, muito mesmo, juntas.

Jasmine riu e agarrou a cintura da namorada com firmeza antes de girar o corpo trocando as posições e beijar Fernanda outra vez.

------xxx------

O galpão alugado para o evento, que se encontrava numa área mais afastada do centro, estava iluminado por fora com luzes em tons de azul, cinza e branco; uma das poucas ideias de Fernanda que o grupo de 4 fotógrafos aprovou. Além de Jasmine que fazia sua primeira exposição, também estavam juntos Lion com suas fotos sobre realidade urbana, Adrian com fotos de temática mais ambiental e Luana que se juntou ao grupo por uma coleção de imagens sobre a realidade da noite das pessoas.

Lion era um fotógrafo já conhecido no Brasil e em toda a América do Sul, possuía uma galeria própria e só não a ofereceu porque seria um espaço pequeno para todas as fotos que eles pretendiam expor. Tinha pele morena e olhos castanhos escuros, a barba bem aparada cobria-lhe todo o rosto e, se não fosse pelo seu constante sorriso, poderia ser considerado intimidador com seus 180cm de altura e ombros largos.

Adrian era uma fotógrafa mexicana, amiga de Jasmine desde a época da primeira viajem da brasileira. Pele bronzeada e morena, cabelos pretos ondulados e olhos de cor caramelo compunham a imagem da bela mulher de 169cm de altura. Ela se dedicava exclusivamente a fotografar a natureza e esteve os últimos 5 meses conhecendo os cantos mais intocados do Brasil o que lhe rendeu imagens lindíssimas sobre a flora e fauna que agora eram expostas nos mais variados tamanhos.

Luana, ou Luna como era calorosamente chamada pelos amigos e conhecidos era a mais louca do grupo pois gostava de fazer suas fotos se utilizando da iluminação natural da lua e estrelas, principalmente durante as noites das cidades. Suas fotos escolhidas transmitiam um pouco das pessoas que ‘existiam’ nas noites de diversos lugares, passando desde trabalhadores cujos expedientes se iniciavam ao pôr do sol até a boêmios que passavam as madrugadas pelas ruas. Tinha 175cm de altura, olhos azuis e cabelos platinados coloridos de tons vermelhos e roxos.

Jasmine se integrava nessa exposição como um certo grau de oposição às fotos de Luna pois suas imagens costumavam retratar o nascer e o pôr do sol. Sempre envolvendo a iluminação natural das horas do dia e trazendo às vistas detalhes dos dias cotidianos que passavam despercebidos pela quase totalidade das pessoas. E, apesar de participar da sua primeira exposição, era ela o nome que mais atraiu pessoas e interessados para aquele galpão naquela noite fresca São Paulo.

Quando Jasmine Meirelles chegou, no banco do carona do carro de Fernanda, todas as câmeras se voltaram para ela na entrada do galpão. A editora se apressou em sair do carro e entregar a chave a um dos três rapazes contratados para estacionar os carros dos convidados no estacionamento na lateral do galpão e logo estava parando ao lado da fotógrafa que a esperava de costas para os flashes dos fotógrafos que estavam cobrindo o evento.

A editora usava um vestido longo azul turquesa que chegava até seus tornozelos com detalhes em prata que tinha uma fenda na lateral esquerda e deixava suas costas a mostra assim como seus ombros. O tecido se moldava ao corpo da morena, o salto era preto e a maquiagem realçava seus olhos e a boca. A fotógrafa trajava um vestido branco com detalhes em preto em volta da gola e da barra que chegava até a metade de suas canelas. O tecido era fino e leve, não se aderia ao corpo e possuía apenas um cinto demarcando a linha da cintura, mas a cada movimentação ele se moldava as curvas da fotógrafa. Sua maquiagem era leve e destacava apenas os olhos.

Elas sorriram uma para a outra e, quando suas mãos se encontraram e seus dedos se entrelaçaram, os flashes se tornaram ainda mais intensos. As duas apenas se viraram para a entrada e seguiram pelo caminho delimitado com seus ombros se tocando. Fernanda já imaginava o alvoroço que as revistas de fofocas seriam no mês seguinte, mas pouco se importava com o que poderia dizer a respeito dela ou de seu relacionamento com Jasmine. Afinal, ela e a fotógrafa já haviam conversado a respeito da repercussão que a noticia do relacionamento delas teria.

Fernanda era uma mulher influente e a Actuallites era uma revista muito importante. O fato dela nunca ter aparecido com outra pessoa além de Pietro, que era conhecidamente seu melhor amigo desde a infância, com toda certeza causaria boatos. Ela aparecer de mãos dadas com uma mulher seria, com certeza, um prato cheio para a criação de teorias. Os anéis, nada discretos, que as duas usavam provavelmente foram imediatamente notados e as especulações a respeito do romance delas estaria nas primeiras páginas de todas as revistas que traziam notícias de famosos.

Por saber disso Fernanda garantiu que seu namoro com Jasmine não se tornasse público até o dia da inauguração da exposição. Ela não queria que o foco fosse desviado para elas antes da hora, queriam que o evento atraísse interessados nas fotos. Obviamente não esconderiam seu relacionamento, mas optaram por deixar a mídia ter conhecimento dele apenas quando tudo já estivesse se iniciado e o evento já houvesse se tornado importante por si mesmo. Por isso mesmo toda a atenção se virou para as duas quando entraram no galpão.

Assim que passaram pelos fotógrafos as duas foram recebidas por alguns convidados. No fundo do galpão Jasmine viu sua melhor amiga com o braço da advogada em volta de sua cintura enquanto as duas conversavam com alguns conhecidos ao longe. Fernanda trocou um olhar animado com Pietro que estava passando e ergueu a taça de vinho que tinha na mão ao mesmo tempo em que dava um sorriso para a amiga. As duas circularam por cerca de meia hora juntas conversando com os outros fotógrafos que estavam expondo suas fotos.

Por volta das 10h da noite Jasmine foi atrás de Ana Júlia enquanto Fernanda continuava ao lado de Pietro e alguns outros conhecidos. Ela estava calmamente passando por um corredor com poucas pessoas quando se distraiu com uma das fotos de Luna. Por dois segundos ela parou, sorriu e se virou para sair, mas nesse instante uma voz a fez girar sobre os saltos até o início do corredor vazio. Quem ela viu era alguém que não gostaria de rever nunca. 

Fim do capítulo