Capítulo 11 - Quando só resta esquecer e sonhar
Saí sem chão do aeroporto, acompanhada apenas de uma triste e solitária melancolia que dilacerava meu coração. Sinto uma incontrolável vontade de chorar, mas não o faço. Queria muito estar naquele avião. Passo a Avenida Berlim a toda velocidade sem me importar com as possíveis multas que eu estaria levando, minha raiva era tanta que eu amaldiçoava até ao vento. Será que estou fazendo tudo outra vez, cometendo o mesmo erro? Soco o volante do carro, percebo que há poucos momentos estava no topo e agora me sentia beijando o chão.
Paro em frente ao hotel, freio bruscamente, queimando os pneus. O chofer se aproxima para que lhe entregue a chave. Afundo-a em suas mãos, e ele me olha com espanto. Não lhe dou as horas, sigo meu caminho a passos fundos e sem olhar para trás. Que merd*, olha em que eu me tornei, pensava enfurecida, enquanto seguia para o elevador.
-Senhora Muller – O recepcionista me chama a atenção – Tem alguém a sua espera – Ele aponta para os sofás disposto ao lado direito.
Aproximo-me dela.
-Mari? – Ela estava sentada, quando ouviu minha voz se voltou para mim.
-Demorastes uma década, onde estavas? E a musa grega, Ravely? - Veio em minha direção de braços abertos, sua recepção sempre calorosa e eu não conseguia me acostumar.
-O que faz aqui? – Pergunto confusa.
-Vim vê-la antes que voltasse para o Brasil e me deixasse aqui abandonada.
-Mas você não ia trabalhar por esses dias... ? Foi o que me disse quando saí.
-Eu ia... Eu estava na verdade. Mas fui demitida. – Ela diz revirando os olhos.
-Aí Mariana, não acredito! Sem duvidas, tu és uma comédia. Vamos subir e eu quero saber o que aconteceu.
Fomos de braços atados até o andar do apartamento onde eu estava. Abro a porta e sinto o perfume que me lembra de Ravely. Que ódio, que ódio! Meus olhos enchem d’água. Mas eu seguro, mais uma vez. Eu não vou chorar!
-O que houve? – Mariana questiona por eu estar paralisada na porta.
-Nada, esta tudo bem. – Chacoalho a cabeça dispersando a tristeza.
-Ravely já voltou para o Brasil, não é?
Assenti, sem dizer nada.
-Entendi... – Ela saca uma garrafa de Jack Daniels da bolsa. – Por isso eu já vim preparada. – Balançou a garrafa alegre.
-És a melhor, sabia?
-Claro que sim. – Responde cheia de si.
Conto tudo o que aconteceu para Mariana, ela fica chocada.
-Tu não és a Alex que eu conheço, definitivamente não é!
-Ela é diferente, é doce, uma menina... Eu não posso ser como sempre.
-Nossa... Mas e esse gajo, o namorado? Vais entrar na competição?
-Se eu vou entrar? Eu posso estar diferente, mas não é para tanto, Mariana. É claro que vou entrar, ele não perde por esperar. – Sorri maquiavélica.
-E lá está ela... A Alexandra de sempre. – Mari bate palmas e nós rimos juntas.
-E tu? Pensa em fazer o que da vida?
-Não sei... Estou à deriva. – Virou o copo com uísque. Permaneci em silêncio por um tempo, apenas degustando minha bebida.
-Tive uma ideia! – Mariana olha para mim com uma grande interrogação estampada em seu rosto.
-Fala!
-Vamos para o Brasil, pode trabalhar comigo, estava pensando em contratar mais uma pessoa.
Ela ficou pensativa por um tempo, analisando a possibilidade de essa ideia ser coerente. Mas eu tinha completa certeza que aceitaria. Mariana adorava uma aventura, principalmente aquelas que parecessem infundadas aos olhos de qualquer pessoa que possui domínio pleno de suas faculdades mentais. Ou seja, era uma louca varrida.
-És demais! Como não pensei isso antes? Carnaval, calor, brasileiros e brasileiras por todos os lados. Isso será maravilhoso.
-Pare antes que eu me arrependa. – Olhei-a com olhos semicerrados.
-Mas tenho muito para preparar. Não posso ir contigo no domingo.
-Vais depois, fico a tua espera. Dona Clara vai amar.
-Amar vou eu! Adoro tua família, lembras-te do verão que passei lá?
Agora ela não iria mais parar de falar com o entusiasmo de sobra. Onde foi que eu errei? Queria que houvesse um botão para desligar Mariana.
A noite durou o mesmo que o uísque dentro da garrafa. Apagamos sobre o tapete da sala.
***
POV Ravely
Cheguei ao aeroporto no final da tarde, como previsto o voo estava cheio, só não mais que minha cabeça. O que foi aquela despedida? Como eu iria enfrentar tudo daqui para frente sem que essas memórias me atormentassem. Eu tenho pretensões de esquecer tudo, mas será que isso será possível?
Minha mala demorou uma década para chegar pela esteira. Normalmente eu sou uma pessoa pacifica e muito calma, mas só de saber o que esperava do lado de fora dessa sala, meu estomago começava a gruir. Assim que as portas de vidro correram, dando a visão para as pessoas do outro lado, avistei Augusto com seus cabelos negros e lisos bagunçados, a barba estava por fazer e o sorriso que já era radiante tornou-se ainda mais alegre ao me encontrar. Forcei meus lábios, se eu nunca tive a oportunidade de ser atriz a hora era agora. Assim que me aproximei fui recebida com um abraço apertado.
-Como senti sua falta! – Ele disse ainda me apertando.
-Também senti a sua. – Assim que termino de proferir as palavras, sinto seus lábios colados nos meus. Engoli seco e correspondi.
-Como você está? – Ele sussurra. Tinha os braços sob meus ombros, mantendo-me próxima ao seu corpo, procura por meus olhos, tentando descobrir através das minhas reações se a resposta seria condizente. Eu esquivo, mas eventualmente eu não vou poder fugir.
-Estou muito bem sim. – Finjo um sorriso carismático.
Saímos em direção ao estacionamento de mãos dadas. As lembranças dos últimos dias fatiavam meu coração.
-Achei que o Fred viria me buscar.
-Sim, mas eu consegui sair do hospital antes e insisti para que ele deixasse o trabalho árduo para mim. – Ele sorri afetuosamente para mim. - Parece tão cansada. – Beija-me a testa.
-Pois é... Muitas horas de viagem.
-E como foi tudo? Gostou? Tenho certeza que acrescentará muito na sua profissão.
-Amei! – Ele jamais poderia imaginar o quanto.
-Quero ver fotos. – Sorri, voltando toda a atenção para mim.
– Depois te mostro todas que pretendo mandar para o concurso de fotografia. – Exceto a da Alexandra, que poderia entregar tudo o que aconteceu. Penso.
-Que maravilha! Tenho certeza que você vai ganhar – Disse acariciando minha mão.
Assim que chegamos em frente ao meu prédio vi Fred a minha espera pela janela do quarto andar. Subi as escadas depressa enquanto Augusto trazia a mala. Fred estava na porta, pulei em seus braços como se ele tivesse as respostas para todos os meus problemas. Normalmente era assim, mas desta vez não seria. Eu não poderia contar sobre a minha aventura. Faz parte do primeiro passo para esquecermos algo: Fingir que nunca aconteceu.
-O que é isso garota? Quer me matar? – Disse Fred rindo.
-O seu abraço foi mais caloroso que o meu, Fred. Sinta-se feliz. – Disse Augusto e eu respondi mostrando-lhe a língua.
-Quero saber tudo, senhorita Ravely! E espero que tenha bastante presente nesta mala, viu? – Dizia enquanto eu tirava meu tênis e arrastava a mala para o meu quarto.
Ah! Meu quarto... Como era bom estar novamente em casa, senti falta do meu cubículo.
-Amor, preciso ir agora, volto amanhã para almoçarmos. – Beija-me novamente e me sinto desconfortável. – Descanse – Disse em tom de advertência.
-Tudo bem, espero você amanhã. – Senti o alivio voltar a reinar em mim, só por saber que não teria que receber beijos surpresas por enquanto.
Assim que a porta se fecha com Augusto do lado de fora, Fred me lança o olhar inquisidor.
-Conta tudo!
-Não há muito que contar, viagem a trabalho, sabe como é... – Você pode fazer melhor que isso, Ravely. Meu inconsciente delata.
- Vou desfazer a mala e já te conto, ok? – Saio pela tangente, mas ele me segue de volta ao quarto.
-Dá para ser menos maníaca por arrumação? Acabou de chegar e já vai desfazer mala.
-Nunca deixe para depois o que se pode fazer agora, Fred. – Disse rindo e ele rolou os olhos com desprezo.
-Se eu fosse você não sentaria nessa cama.
Pensei por uns instantes, tentando entender o que ele queria dizer com isso.
-Você não faria... – O fuzilo com meus olhos.
-Tem certeza? Era um moreno de olhos verdes, lindo!
-Aí Fred! Que nojo.
-Estou brincando. Precisava ver sua cara.
Começo a retirar algumas roupas da mala enquanto Fred se diverte as minhas custas. Encontrei uma camiseta de Alexandra. Paralisei. O perfume impregnado era inconfundível. Acho que estava marcado em mim. A ideia de não voltar a vê-la parecia insuportável. Como ela se tornou importante, assim, tão fácil? Me assustava só de começar a pensar.
-Ravely?Ravely?
-ãhn?
-Terra chamando Ravely.
-Pode falar, sou toda ouvidos.
-Onde você estava. De quem é essa camiseta e porque você estava com o rosto socado nela? – Ele tinha o cenho franzido e curioso me encarando.
-É minha, Fred, de quem mais seria? – Eu coaxo tentando limpar a garganta da mentira enunciada. Ele movimenta a cabeça, eu ainda estava no limbo onde Alexandra existia. – Cada pergunta, hein?
-Eu te conheço... Tem algo estranho. – Me encarava com os olhos semicerrados.
Aparentemente eu não o convenci. Ainda bem que não sou atriz, definitivamente sou péssima nisso.
- Você é louco. Pronto.
Ele continuava a me olhar avaliativo. Retiro uma caixa com embrulho vermelho e lhe entrego. Melhor forma de dissipar sua curiosidade, colocando-a em outro objeto.
-Que linda! Amei. – Abraça-me em agradecimento. – Adoro pulseiras, mas essa aqui será especial, vou esfregá-la na cara das meninas do escritório.
-Sabia que iria gostar.
-Vou fazer um lanche para nós enquanto você termina o quer que seja que está fazendo. – Seu sorriso irônico mostra que ele percebeu a minha tentativa falha de mudar o assunto.
Assim que Fred deixa o quarto me volto para a camiseta, a lembrança concreta de que não foi um sonho. As imagens me acertam com força total. Coloco a cabeça entre os joelhos e sinto uma pequena gota fugir dos meus olhos. Por que eu não peguei seu e-mail? O endereço de onde trabalha... Qualquer informação possibilitaria que a encontrasse. Mas agora eu não tenho nada, além de expectativas despedaçadas. Para onde foi o plano de esquecer tudo?
Penso por mais alguns segundos e percebo que não adianta chorar pelo que não se pode ter. Levante a cabeça, Ravely. Me repreendo, respiro fundo, levanto e continuo com o que preciso fazer.
Logo a noite chega, passei o tempo todo conversando com Fred sobre os acontecimentos no trabalho e sobre os lugares lindos que conheci. Então, apenas quando vou para a cama que deixo os pensamentos perturbadores me consumirem. Volto algumas vezes seguidas para aquela praia de água fria, quando vi sua pele clara, sempre com alguns fios de cabelo em seus olhos cativos que me cortavam a respiração. Viro para o outro lado, quero interromper os argumentos que me trazem a razão.
Facebook. É isso! Posso encontra-la no facebook. Sento-me depressa sob a cama procurando pelo celular que deveria estar na mesa de cabeceira. Busco por Alexandra Muller. Nada. Aparecem algumas pessoas, mas nenhuma é ela. Volto a me deitar, sentindo-me golpeada pela frustração. Talvez dormindo eu sonhe com seus olhos azuis.
***
POV Alexandra
Eu acordei essa manhã com um rancor indescritível, me sentia completamente para baixo. Tudo estava em silêncio à cortina fechada impedia que a luz do sol entrasse. Levantei lentamente, como se a cada passo eu pudesse sentir o sino da Igreja da Sé badalar em minha cabeça. “Acho que vai explodir”. Estava com os nervos a flor da pele. Já tinham se passado cinco dias desde a última vez que vi Ravely. Eu ainda conseguia lembrar o olhar em seu rosto quando a beijei. O jeito de acomodar o cabelo atrás da orelha. Suspiro. Pressiono meus olhos como se fosse tornar a imagem mais forte. Pelo contrário, ela escapa como cinzas ao vento. Ainda não entendo o que eu pretendia. Queria que fosse algo que não me fizesse tanta falta, mas eu não consigo esquecer como foi estarmos juntas naquele hotel. Acho que poderia ter gostado muito dela, deve ser por isso que não consigo tirá-la de minha cabeça. E ainda assim hesitava em procura-la, na verdade eu não queria fazer-lhe mal, as chances de isso acontecer eram gigantescas.
Ouço o telefone tocar descontroladamente, eram 7h10min, quem iria me importunar logo tão cedo? Atendi com a voz sonolenta e era meu pai, segundo ele uma das éguas estava com dificuldade em parir e eu precisava correr para lá. Pedi que deixassem tudo pronto, tomei um banho correndo e fui pra o rancho. Cheguei com urgência, passei correndo pelo caminho entre os coqueiros, deixando uma nuvem de poeira como rastro. Certamente alguém já teria avisado que um carro vermelho estava chegando. A equipe estava preparada a minha espera e começamos o procedimento o mais rápido possível. Foi preciso realizar uma cesárea, coisa que eu já estava acostumada. Sempre que era necessário algum procedimento de urgência na região os proprietários me procuravam. Além de meu pai fazer parte da associação de criadores, o que nos fazia populares, eu adorava os casos mais arriscados, os que eram rejeitados, e assim meu nome logo ficou conhecido. Passei a ter a agenda cheia, precisando às vezes até recusar trabalho. O dinheiro também era sempre bom, afinal, esses procedimentos eram recusados por serem arriscados e ninguém queria ser responsável pela morte de um animal de cem mil reais. Por isso o pagamento deveria ser a altura. Mas acho que não era isso o que me atraia, e sim o risco. Só que desta vez a cirurgia não apresentava ser arriscada, pelo contrário, era bem simples, algo que eu já tinha feito várias e várias vezes. Porém, hoje eu estava exageradamente distraída.
-Alexandra?
Ouvia meu pai chamar, assim que percebi parei o que estava fazendo.
-Sim?
-Está tudo bem? Parece distraída.
-Não, está tudo bem. Por que pergunta? – Ele me olhava confuso.
Só então percebi que estava prestes fazer incisão com uma pinça. Chacoalhei a cabeça, tentava dispersar o que me distraia, mas nem o bip do monitor me impedia de ouvir meus pensamentos. Eu não era o tipo de pessoa com quem estas coisas aconteciam. Pelo menos pensava que não era.
-Porque você parece distraída.
Assim que terminamos já estava passando do horário de almoço. Mamãe esta preparando algo na cozinha quando eu chego cabisbaixa, me sento à mesa, de frente para ela. Continuava incomodada, mas não sabia o que fazer.
-Que ansiedade é essa? – Disse olhando para minha perna que mexia incessantemente.
-Ansiedade nenhuma, está tudo perfeitamente bem. – Eu evito seus olhos penetrantes.
-Você dormiu bem? – Ela franziu a testa.
-Sim.
-Não sei... Desde que chegou está agindo estranho, quero dizer, mais estranha que o de costume, meio aérea.
Levantei-me em direção a geladeira, abri apenas para continuar a pensar, pois não sentia fome. Apanhei a garrafa d’água e voltei para a mesa.
-Você conheceu alguém?
E lá vamos nós...
-Não mãe, já disse que estou bem. – Bebo um gole d’água.
Logo Gabriel, filho do caseiro e amigo da família, entra na cozinha. “Salva pelo gongo.” Pensei.
-Chefinha! Que bom te ver por aqui.
Ergueu a mão para que eu tocasse de volta.
-Ah moleque, era contigo mesmo que eu queria conversar. Vamos ao escritório.
Deixamos a cozinha e minha mãe ficou observando. Aposto que ela daria uma boiada para descobrir sobre o que falávamos. Entrei no escritório e fechei bem a porta e as cortinas.
-Senta aí – Apontei para a cadeira em frente à grande escrivaninha de madeira. – Preciso de um favor.
-Pode dizer.
-Quero que encontre uma pessoa neste endereço. – Passei um papel pra ele.
-Não é onde a dona Luiza trabalha?
-E você acha que eu faça ideia de onde Luiza trabalha? - Pressiono os lábios frente a sua falta de foco.
Ele deu de ombros.
-E quem é Ravely?
-Não faça perguntas!
-Ok-ok. Mas o que eu ganho em troca? Isso me cheira a rolo e não quero problemas com a senhora Clara. Da última vez sobrou até para mim.
-Cala boca! – Pensei por uns instantes. – Eu deixo você ir com minha moto.
-Sério? – Ele arregala os olhos, surpreso. – Nesse caso as coisas mudam.
-Com quem você aprendeu a ser assim?
-Com a melhor professora de todas.
-Hmmm... Precisamos passar menos tempo juntos.
Gargalhamos.
-Mas se minha moto voltar com qualquer coisa diferente de quando saiu... Você sabe o que eu vou te fazer, não sabe?
-Vai fazer comigo o mesmo que faz com os cavalos que não são reprodutores?
-Exatamente! Que é...?
-Castração. – Disse em tom de voz amedrontado.
-Bom garoto! Vá o mais rápido possível e não conte a ninguém. Combinado?
-Sim, senhora.
***
POV RAVELY
O dia de hoje tinha tudo para ser dos piores. A noite anterior tinha sido difícil para dormir, um calor infernal. Minha cabeça zumbia logo pela manhã. Saímos atrasados para o trabalho, o carro velho de Fred estragou no meio do caminho, tivemos que ir de táxi, mas escolhemos logo o que cheirava mal. Chegamos à redação com mais de uma hora de atraso. Eu faço meu caminho para minha pequena e bagunçada mesa, repleta de papéis. Carlinha, a estagiária que se senta em minha frente, sorria sempre que olhava para mim, eu sorria de volta, mas nunca entendi o porquê disso. Talvez hoje fosse por causa da minha calça jeans nova, acho que ela realmente ficava bem em mim. Do outro lado estava Fred, parecia que tinha acabado de levantar da cama.
Eu estava com tanto trabalho acumulado que sabia que não daria tempo de sair para o almoço. Um mês fora... É claro que teria um milhão de coisas acumuladas. Levanto para tomar um café na cozinha, queria enganar o estomago que já me incomodava. Perdi noção do tempo ao encontrar Fred por lá, fizemos uma pausa de alguns minutos discutindo sobre como iríamos para casa e qual seria a programação para o final de semana, até que alguém abriu a porta de uma só vez, Fred estava encostado nela e seu café veio diretamente para minha calça. Pois é... Minha calça nova. Ninguém disse que seria fácil terminar esse dia. Vou para o banheiro numa tentativa de me limpar, mas acho que só piorou, porque agora tenho uma mancha ainda maior. Conto até dez e sento de volta na minha cadeira, de frente para a pilha de papéis que eu precisava revisar.
-Ravely...
Levanto meu olhar em sua direção, ela esta de frente para mim, ajeitando os óculos.
-Desculpe, uma pessoa acabou de vir aqui atrás de você, pensei que tivesse saído para almoçar. Disse-lhe que não estava.
No mesmo instante somente uma pessoa me veio à cabeça. Quem eu havia tentado esquecer durante todos esses dias. Mas será que teria sido ela? Como me encontrou aqui? Não fazia sentido. Eu me mexo desconfortavelmente na cadeira, é claro que a essa altura meu coração já estava em saltos.
-Quem era?
-Um rapaz... Perguntou se tinha alguma Ravely aqui.
Ao mesmo tempo que me senti aliviada, também senti angústia. No fundo havia esperança de que fosse Alexandra...
-Disse o nome ou o que queria?
-Não... Só perguntou se tinha e eu disse que você estava no almoço, então ele saiu sem dizer nada.
-Que estranho... Não deixou número para contato?
-Não, nada.
-Bom, se fosse importante teria esperado.
Volto para o meu trabalho e resolvo deixar isso para lá, afinal não tinha sido quem eu queria, portanto não tinha importância. O dia passa rápido, acabo comendo apenas um sanduíche.
Augusto saiu do hospital no mesmo horário que Fred e eu saíamos do trabalho, por sorte pegamos carona com ele. À noite fiz o jantar para três, Augusto me ajudou a limpar a cozinha e depois fomos ver a um filme na sala, foi aí que comecei a me preocupar, tudo dava a entender que ele tinha sérias pretensões de passar a noite comigo. Fred estava sentado em uma poltrona, enrolado a uma manta, enquanto nós dividíamos o pequeno sofá de dois lugares.
-Aí gente... Estou com tanto sono, o dia hoje não foi fácil. Acho que vou para os meus aposentos.
Minha vontade foi gritar “NÃO”. Mas acho que seria muito óbvio. Tentei fazer sinais com os olhos, mas foi em vão, ele não percebeu nada.
-Boa noite, Fred. – Augusto diz, com certo entusiasmo.
Continuei sentada, sem dizer nada, apenas assistindo ao filme, torcendo que ele durasse mais algumas horas e Augusto dormisse antes do fim. Volta e meia me esquivava disfarçadamente de suas investidas.
Meia hora mais tarde o filme acaba e ele continuava bem acordado. Me levanto bocejando e vou em direção ao banheiro, antes que ele decida tomar alguma iniciativa. Encosto a porta e começo a escovar meus dentes, acho que isso indicaria que está na hora de dormir. Augusto entra, abraça-me por trás e beija meu pescoço. Encosta o queixo em meu ombro e nos olha pelo espelho. Eu evito seus olhos escuros, fingindo estar concentrada apenas na minha higiene.
-Não tem plantão hoje?
-Finalmente uma noite tranquila. Essa semana foi complicada. Não conseguia sair daquele hospital, nem pude passar tempo com você. – Beija meu pescoço mais uma vez e eu sinto o seu calor em minha pele, fico tão tensa que mal consigo mexer os pés do lugar.
Termino de enxaguar a boca.
-Verdade... Eu também tenho andado muito ocupada, muito trabalho acumulado.
-Por isso hoje você vai descansar. – Sorri com segundas intenções.
-É... Você trouxe roupa, algum pijama?
-Tenho uma mala, está no carro, vou buscar.
Droga! Eu ainda esperava que ele dissesse: “Não, não vou dormir aqui hoje”.
-Ta bem, eu vou terminar de revisar algumas matérias e logo vou para cama.
Embora eu quisesse muito dormir continuei no computador revisando textos e mais textos, vi Augusto ir, voltar, se arrumar, andar de um lado para o outro. Ele estava bastante inquieto. Assim que noto sua ausência vou à ponta dos pés até o quarto para ver se ele já dormia. Encontrei-o no chão, dormia no colchão de solteiro reserva. E essa foi a primeira vez que agradeci por nunca ter comprado uma cama de casal. Deitei em minha cama tomando muito cuidado para que ele não acordasse. Embora eu estivesse com muito sono, minha noite não foi tranquila, depois de muito tempo voltei a ter aquele sonho túrbido com destaque para olhos azuis penetrantes.
Fim do capítulo
Boa noite queridas leitoras!!
Devo imensas desculpas pelo atraso gigantesco. Estava em semana de provas, aliás, ainda estou. Estão quase acabando e creio que logo as postagens tornem a ser muito mais frequêntes, pois é quando entro de férias.
O capítulo 12 deve sair este final de semana, está sob revisão.
Espero que continuem gostando.
Ah! antes que eu me esqueça, segue este link com uma playlist que criei sobre a história. Para quem quiser tá aí: https://open.spotify.com/user/gaspar.ttamiris/playlist/61vJ9OL7XNrcD5n3ny4gAU
Sugestões e críticas sempre bem vindas!
Beijo e até o próximo.
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daysetas
Em: 24/11/2016
Está perdoada, entendo bem como é fim de período. Mas já quero elas se reencontrando hehe capítulo um pouco sad, mas necessário né, só não seja daquelas escritoras que se animam no drama tá? hahaha bjs!
Resposta do autor:
Olá!
Final de período é complicado hein... Mas vamos lá que está acabando, já posso sentir o doce sabor das férias kkkkkk.
Capítulos Sad's as vezes são necessários, mas prometo não permanecer neles kkkk. Inclusive o próximo será bem diferente. Logo, logo deve sair.
Beijão!
Palas F
Em: 23/11/2016
Desculpas aceitas, autora, só por entender seu lado por estar no mesmo barco. Mas em nome de todas as fãs, não deixe de postar nesse fds, porque parei tudo no trabalho só pra ler essa atualização tão esperada hahahah
Garanto que tô mais ansiosa pelas suas férias do que você, só pra que aumente a frequência da história kk
Excelente semana, adorei o cap ?
Resposta do autor:
Também está em semana de terror... Digo, de provas? Terrível né?
Até o FDS sai hein, eu PROMETO e dessa vez é sério kkkkkkkkkkk.
Assim que estiver com o tempo mais livre as postagens serão mais frequêntes, guenta aí que está quase lá.
xD
Excelente semana para nós, espero que continue gostando.
Beijão!
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rhina
Em: 19/11/2016
Olá.
Bom dia.
Se encontraram.....se despediram.......
ainda que o pensamento de uma não se afaste da outra.
Será que elas estão preparadas para o que está por vir.....
Beijos.
Rhina
Resposta do autor:
As vezes não estamos preparados para o que está por vir, mas mesmo assim, devemos aprender com os acontecimentos. Talvez isso ocorra com ambas.
Beijão e até o próximo!
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Mille
Em: 19/11/2016
Olá Tammy
A Alex já sabe onde encontrar a Ray, mais acho que o encontro delas será inesperado com a apresentação dela como namorada de Augusto a família.
Fred tem um imã para desconfiar que a Ray está escondendo algo.
Bjus e até o próximo
Resposta do autor:
Olá! Como vai?
Descobrir que Rav é sua cunhada será catastrófico para Alex. kkkk
Fred tem um ótimo imã para desconfiar da Rav, amizade antiga tem dessas né? kkkk
beijão!
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