CapÃtulo 10 - Minha única exceção
POV Ravely
Tinha meus lábios completamente colados aos de Alexandra. Afinal, o que aconteceu ontem não tinha sido um sonho ou um devaneio causado pela bebedeira. Eu precisava saber e tinha a completa certeza de que ela não iria me dizer. Agora seus lábios estavam salgados com a água do mar. O coração queria saltar para fora do peito. Por quê? Como ela me causa tantas sensações estranhas? Eu não posso me deixar levar... Augusto! Gritou meu inconsciente.
Nos interrompemos, o sorriso alegre e satisfeito no rosto de Alexandra me fazia ter vontade de voltar a beijá-la, mas não podia, não era certo. De repente sinto-me emotiva, meu rosto devia demonstrar minha frustração. Porque não nos conhecemos um ou dois meses antes? Seria tudo tão mais fácil. Estou completamente desolada e ela pôde notar. Sua feição mudou e isso me dá um nó na garganta. Eu não queria que me visse assim, não queria que se afastasse de mim. Forço um sorriso e me desloco milimetricamente.
-Alex... É-Eu... Desculpe.
O sorriso aberto e contente se desfez em um amarelo e sem graça. Odiei isso.
-Não... Tudo bem. Eu não devia...
Ela tentava se explicar e só então eu me dei conta de quão gelada a água estava, acho que a quebra de sintonia me trouxe de volta a superfície cálida.
-Vem, vamos sair, aqui está muito frio, você pode ficar doente de novo. – A peguei pela mão e fomos até a areia. Alex não disse mais nada, apenas caminhou pensativa até o carro, recolhendo nossas roupas espalhadas pela areia da praia.
Assim que entramos, ela se sentou no lado do motorista, deu partida e ligou o ar quente. Olhou-me de cima a baixo, o que me causou um arrepio na espinha. Esse beijo pode ter significado algo, e isso me atormentava, teríamos de passar muito tempo juntas entre quatro paredes. Mais uma vez sou dispersa de meus pensamentos pelo toque do celular. E de novo nas horas indevidas. Argh! Observo a tela sem que ela veja e recuso a chamada. Era Augusto, eu sabia que cedo ou tarde teria que encara-lo, mas não queria, muito menos agora.
Escondo-me atrás dos ombros retraídos e ancorados no banco frio de couro. Cadê a aparência de mulher que sabe lidar com as situações adversas da vida? Eu me repreendo. Elevo o queixo, eu tenho que olhar para ela de uma vez por todas.
-Alex... Precisamos conversar sobre... – Era tão perturbador lembrar que eu mal conseguia dizer.
Ela ergue uma sobrancelha, como se esperasse pelo que eu tinha a dizer.
-Tudo bem... Você vai dizer que foi uma curiosidade, que você não tem interesse em mulheres. Eu entendo.
Disse sem direcionar o olhar para mim, essa deve ser uma das poucas vezes que seus olhos pareciam confusos, certamente por isso ela me evita.
-Não é isso... Digo, eu gostei. Mas...
-Gostou... – Ouço-a sussurrar, quase imperceptível, então não tenho certeza. - Mas o que Rav? Pode dizer, eu não mordo. – Sua expressão mudou, voltou a ter o sorriso sarcástico nos lábios.
-Eu tenho namorado. – Murmurei. Por pouco as palavras não me escapam.
-Ah! Entendi... Pois não há com o que se preocupar. Eu não vou contar a ninguém, se esse é o seu medo. E também não temos amigos em comum, sabemos quase nada uma da outra. Posso te garantir que não represento ameaças. - Seus olhos transpareciam frieza camuflada por sinceridade.
Claro que suas palavras sempre me atingiam em cheio. Eu não queria ver essa indiferença diante do que aconteceu, não queria que fôssemos duas estranhas e muito menos tive o medo de que alguém descobrisse. Quer dizer, eu sabia que corria riscos quando estava com ela, mas apenas risco de gostar muito, tanto ao ponto de não conseguir mais parar.
Seguimos o caminho de volta em silêncio, as duas concentradas apenas em seus pensamentos, às vezes aconteciam troca de olhares que pareciam ser discretos. Só pareciam, porque volta e meia eu sentia os olhos azuis de Alex a me fitar. Como ela consegue esconder tão bem o que sentia. Seu olhar era surpreendentemente manipulador e isso me deixava louca. Como farei para continuar resistindo?
Havia pouco tráfego e por isso não demoramos a chegar. Depois dessa conversa não tocamos mais no assunto “beijo”. Embora isso fosse o que eu queria, meu corpo se negava esquecer o que ocorrera naquela praia e todas as vezes que nós nos esbarrávamos eu sentia que tudo não podia ficar só por isso...
***
Dois dias se passaram desde então, e minha adorável estadia estava chegando ao fim. Logo agora que eu começara a me sentir mais relaxada, desde que bati meus olhos em Alexandra Muller isso não acontecia. Infelizmente, em menos de 24 horas eu já estaria embarcando de volta a minha medíocre calmaria cujo nome chama-se rotina.
Dentre esses dois dias tudo ocorrera tranquilamente. Alexandra comportara-se como uma ótima amiga, irresistivelmente encantadora. Eu não conhecia muito dela, mas reparei que esteve mais leve do que quando a conheci. Visitamos castelos, algumas cidades próximas a Lisboa e vários outros pontos turísticos com ótimos restaurantes. A maior parte do tempo nos divertíamos com conversas simples e descontraídas. Mesmo com tanta tranquilidade eu me mantinha a uma distância confortável, não queria correr o risco de cair em tentação novamente.
Durante todo esse tempo evitei falar ao telefone com Augusto. Eu ainda me sentia perturbada e confusa, não queria que ele notasse minha mudança, pois então um inquérito se iniciaria. Trocamos apenas alguns e-mails e ainda assim ele percebera que algo de estranho acontecia. Disse a Alex que iria dar uma volta pelo hotel, na verdade eu queria aproveitar para fazer a tal ligação longe dela, sem correr o risco de gaguejar enquanto estava no telefone, simplesmente por vê-la em minha frente. Acho que seria até capaz de trocar os nomes. Isso poderia ser cômico se não fosse trágico.
Cansei de tanto andar, todo o meu plano foi por água abaixo. Tentei ligar várias vezes e só caía na caixa de mensagens. Voltei cabisbaixa para o quarto, tinha esquecido o cartão magnético que servia de chave. Bati na porta a espera de que Alex não estivesse no banho ou saído e me deixado trancada para fora. Logo a porta se abre, ela estava enrolada em uma toalha. Que ótimo! Quanto mais eu tento fugir, mais os pensamentos pecaminosos me perseguem, pensei. Ela falava ao telefone. Aquele seu cheiro de pós-banho maravilhoso perturbou-me mais do que o esperado. Aspirei ao máximo que pude, fechei a porta entre suspiros e sem querer ouvi sua conversa.
-Não, maninho... Não é assim que as coisas funcionam dessa vez. – Ela sorria, indo de um lado para o outro e eu fingia não dar atenção.
-Sim... Amizade.
-Claro, eu não sirvo para isso, não dá certo.
-Cala boca, Guto. Quem sabe algum dia eu te apresente, mas só se você se comportar e não me fizer passar vergonha.
-Claro que não vou desistir. Seu idiota.
-Tá bom. Domingo nos vemos. Beijo.
Será que ela falava de mim? Claro que não! Não seja tola, Ravely. Meu pensamento gritou. É óbvio que Alexandra deve ser muito disputada e cheia de pretendentes. Afinal, até eu gostaria de fazer parte da concorrência, quem dirá as moças livres, desimpedidas e assumidamente lésbicas. Balanço a cabeça tentando afastar esses pensamentos que tanto lutei para evitar.
Me afundei no sofá macio. Fechei os olhos para poder fugir para um lugar de emoções neutras. Acho que depois de conhecer Alexandra, isso já não seria mais tão possível.
-Vais passar a noite inteira aí? Hoje é seu último dia, se eu não me engano... – Ela murmurou bem próximo ao meu ouvido, sua voz era sugestiva. Todos os pelos do meu corpo se arrepiaram, ao sentir seus cabelos molhados sobre minha pele. Abro os olhos e vejo a imensidão azul dos seus se afastar com um sorriso enigmático que eu adorava, estampado no rosto. Não, você não deve beija-la de novo. Eu dizia a mim mesma, tentando crer que seria possível. Ela parecia não estar mais mantendo a postura amigável, sua mudança era clara. Como ela podia mudar tão rápido? Eu jamais seria capaz de acompanhar.
-Alex, que roupa devo vestir? Aonde vamos esta noite?
-O que quiser. O que lhe deixar confortável. – Disse amavelmente.
Levantei num pulo, e fui até a mala buscar por uma roupa.Não saberia dizer o motivo, mas eu estava especialmente inspirada em me arrumar. Coloquei um sobretudo bege que havia comprado no dia anterior, meia calça preta, botas de cano alto e salto. Desta vez os cabelos estavam ondulados abaixo do ombro e soltos, mais uma maquiagem leve e estava pronta para sair. Alex me esperava na pequena sacada que tinha na sala. Coloquei a cabeça pela brecha da porta de correr que se encontrava entreaberta. Ela estava de costas observando o movimento na rua e não se deu conta da minha presença. Pigarreei para chamar-lhe a atenção.
-Uau! – Notei sua pupila dilatar quando seus olhos se chocaram em mim.
-O que? Algo errado comigo? – Pergunto-lhe já me autoavaliando em busca do defeito. Etiqueta! Será que eu tinha esquecido a etiqueta na blusa?
-Não! – Ela sorriu como se dissesse “não é nada disso, sua boba” – Você está linda!– Completa. Eu corei instantaneamente. - E consegue ficar ainda mais quando ruboriza. – Continua. Pisca para mim de forma sexy com o olho direito.
Ela se aproxima pega em minha mão indo em direção à saída. Fomos de mãos atadas até o carro. Isso era novo para mim. Ela só me solta assim que abre a porta e eu me sento. Seu perfume amadeirado inebriava o carro, me torturando aos poucos.
-Então, aonde vamos? – Resolvi quebrar o silêncio.
- Logo, logo você vera. – Sorriu misteriosa.
Estávamos estacionando o carro em um cais, mais adiante havia um iate ancorado.
-Ainda não entendi. – Disse.
Alex aprontou para o Iate, e eu continuei confusa.
-Vamos dar uma voltinha de Iate. – Sorriu como uma criança divertida que acaba de ganhar um presente.
Caminhamos pela marina até alcançar a pequena escada que dava acesso ao Iate. Um homem de meia idade, vestido com um desses uniformes brancos de marinheiro nos esperava. Apresentou-se como João, parecia muito simpático e atencioso, nos disse que seria o capitão e que não iria sair da direção, que apreciássemos ao máximo o passeio e qualquer coisa poderíamos chama-lo.
Subimos, o iate era completamente luxuoso e estava muito bem decorado, de uma forma bem romântica eu diria. Nunca estive em um desses, mas poderia afirmar que era dos caros. Enorme, com quartos, cozinha e sala, muito maior e mais confortável que meu pequeno apartamento. Ela realmente era cheia de surpresas e a cada passo dado eu sentia minhas convicções irem embora, deixando uma Ravely completamente desprotegida, sem nenhuma barreira a prova de Alexandra Muller.
Minhas mãos estavam escondidas no bolso do casaco, observava atentamente a cada detalhe do lugar, afinal, não eram todos os dias que isso me ocorria. Quem leva uma pessoa qualquer para jantar num iate luxuoso no sudoeste europeu? Parecia-me um conto de fadas bem criativo.
Alex me chamou para a parte externa do barco. Esperava-me com uma garrafa de vinho tinto em mãos sob a luz da lua que era imensa. As coisas conseguiam se superar cada vez mais. Como ela faz isso? Até a lua essa garota é capaz de manipular? O cenário inteiro era de tirar o fôlego. Alguém me diga, por favor, como eu vou suportar a esse jantar?
-Sente frio? Prefere que fiquemos no interior do barco? – Ela disse fazendo menção ao fato de eu estar com as mãos nos bolsos.
-Não, imagine. Está ótimo aqui, não está tão frio assim... – Sorrio ainda encantada com tudo.
-Espera um momento. Já volto.
Ela correu para dentro do iate e logo pude ouvir um som de guitarra soar. Parecia ser uma música do John Mayer, mais precisamente “Slow Dancing in a burning room”. Muito oportuno, eu pensei e sorri.
"Parece que não consigo abraçá-la como quero
Para senti-la nos meus braços
Ninguém vai vir salvar você
Já demos alarmes falsos demais"
-Aceita dançar comigo?
A intensidade de seus olhos faz meu estomago revirar.
-Eu não sei dançar, Alex... – Tento fugir.
-Eu te ensino.
Não há como dizer não a esse rosto lindo.
Não respondi, apenas coloquei minha mão sobre a dela que estava estendida. Fuck! Ela está pegando pesado.
Nossos corpos colados mais uma vez, dançando, lentamente enquanto meu corpo entrava em combustão instantânea. Não era o que você queria? Meu inconsciente caçoa de mim.
-Para quem não sabia dançar você dança muito bem. – Ela diz baixinho e minhas pernas amolecem. Sorte que eu estava em seus braços, não poderia cair.
-O que nós estamos fazendo? – Pergunto-lhe.
-Dançando...
Ela responde como se não soubesse a que eu me referia. Mas eu sei que ela sabia muito bem.
-Não, além disso. – Alex me faz girar em um movimento tão rápido que eu não sou capaz de evitar. Agora estou de costas para ela que tem o queixo encostado em meu ombro. Oh Deus!
-Você não acha que pensa demais?
-Sim, eu acho. Mas só porque não quero que ninguém saia machucado disso. – Digo-lhe em tom paciente.
-Já disse que não corre risco comigo.
-Por que você faz isso? Por que eu? – Insisto em descobrir o máximo de respostas que eu puder, desta vez ela não vai fugir.
-Eu não sei... Há algo em você que não me deixa ficar longe.
Quando me dou por mim já estamos frente a frente novamente. Alex me solta, mas eu continuo presa a ela, às vezes parece que sempre estarei. Empurra-me até a borda de segurança, que estava logo atrás. Segurou minha cintura, cheirou meu pescoço.
-Você não deveria morder tanto esse lábio, se já é difícil resistir quando mantenho distância, imagina aqui, quando estamos sozinhas em alto mar.
Meu cérebro congela, fico totalmente atordoada com essa confissão. Alexandra toca meus lábios levemente, só então me dei conta de como sentira falta de sua boca adocicada. Antes que eu perdesse completamente o juízo e a agarrasse ela se afasta e volta a me olhar nos olhos. Eu engulo ainda nervosa.
-Eu não vou forçar nada, apenas quero ter a oportunidade de nos conhecermos melhor. E tudo bem se amanhã você se for e não quiser me ver novamente. Eu vou entender. Mas peço que hoje seja o nosso segredo, apenas isso.
Assenti concordando e Alex sorriu me puxando para dentro do iate enquanto eu pedia aos céus para que minha escolha estivesse sendo certas para o momento.
***
Durante o jantar descobri entre nossas conversas que Alex era apaixonada por hipismo e inclusive já havia ganhado várias medalhas. Isso só mostrava o quão misteriosa ela era, pois eu jamais imaginaria. Contei sobre minha família, minha vida com Fred e meu trabalho. Aos poucos íamos nos conhecendo e eu estava adorando cada vez mais. Esse jeito intrigante e sua capacidade de se revelar apenas quando queria me fascinava. Durante a volta ela me explicou um pouco da história local e então entendi o porquê de conhecer tanto sobre o país. Ela viveu toda a graduação aqui.
Ainda assim, enquanto a ouvia contar tudo entusiasmada, minha mente voava sobre a confusão em que eu estava. Uma luta constante entre desejo e incerteza.
Quando ancoramos de volta, somente a luz do iate iluminava o local. O silêncio era acolhedor e pacifico. Alex entrelaçou nossas mãos, parecíamos um casal em aniversário de namoro, até mesmo durante o caminho de volta para o hotel ela não deixava de me tocar e eu estava adorando toda essa atenção mesmo que tivesse que lidar com o nervosismo de estar tão ligada a ela.
-Rav... – Olhei-a atentamente– Eu adorei essa noite, obrigada por tudo. – Disse-me enquanto abríamos a porta do apartamento.
-Eu também adorei, foi especial... – Eu lutava tentando tirar o casaco e ela me ajudou, mas acho que este era apenas mais um pretexto para se aproximar de mim novamente. Confirmo minhas suspeitas assim que sinto suas mãos percorrerem a extensão de meus braços.
- Alex... Não faz isso.
-Eu... Eu não consigo evitar Rav, você exerce um efeito tão devastador em mim.
-Mas... Mas e se nós nos magoarmos?
-Não vamos.
Antes que eu fosse capaz de argumentar, nossos rostos se encontraram novamente, seus lábios aveludados tocaram minha boca, e eu não resisti. Abracei-a como se fosse a primeira e última vez. Meu coração latej*v* depressa. Eu poderia não encontra-la nunca mais, mas jamais iria esquecer. Nossas bocas se entreabriram cuidadosamente e as línguas roçavam em sincronia. Eu ouvia seus suspiros abafados pelos meus lábios, acho que era tão intenso para ela como era para mim. Meu corpo estava em chamas, deixando transparecer todo esse sentimento que ainda me era desconhecido. Desta vez eu tomei a iniciativa, pressionei seu corpo ainda mais ao meu. Caminhamos até o sofá, eu cai sobre Alex. Ela sorriu aquele sorriso lancinantemente sexy. Eu mordi o lábio em tentação a vontade de beijá-la mais uma vez. Mergulhei naquela imensidão anil de novo e de novo, eu não pretendia parar, estava fora de controle e talvez nesse exato momento eu tivesse perdido a cabeça. Até que o celular vibrando em meu bolso quebrou todo o meu encanto.
-Não... Não atende não... – Ela suplicou.
-Pode ser importante. Será rápido, eu já volto. – Sorri.
-Promete? – Ela suplicou.
-Prometo.
Alex relutou para soltar meus braços e eu saio contente. Estava nas nuvens na verdade. É claro que minha alegria tinha que durar pouco. A ligação era de Augusto. Meu sorriso ruiu como um prédio que desaba.
-Oi.
-Oi? Eu esperava mais, afinal você está há dias sem atender as minhas ligações. O que há de errado, Ravely?
-Não há nada de errado Augusto, apenas estive sem tempo.
-Você está mentindo para mim. Está muito estranha.
-Eu estou mentindo? Olha aqui, eu tenho direito de atender ao telefone quando eu quiser e bem entender. – Me exaltei mais do que deveria e não sabia se era pelo seu comentário desnecessário ou apenas por ter interrompido meu momento.
-Calma, não precisa ficar tão nervosa, afinal não sou eu quem está te ignorando. – Ele diz com voz queixosa.
-Augusto! Eu não estou te ignorando, apenas não tive tempo, logo estarei aí. Não há necessidade para uma crise de ciúmes.
-Ciúmes? – Pude ouvi-lo bufar do outro lado.
-Nos vemos logo, ok? – Digo-lhe em tom conciliador, mas a verdade é que eu não estava disposta a ter essa discussão.
-Ta bem... Não esqueça que te amo.
-Tudo bem, eu também. – Dizer isso me cortou o peito, eu já não tinha tanta certeza de como me sentia em relação a ele.
Voltei para o quarto me sentindo péssima. Alex me esperava com os olhos radiantes, e não consegui conter as lágrimas que inundaram meus olhos assim que ela se aproximou. Toda a minha frustração e receio veio à tona. Agarrei-me em seu corpo, ela me abraçou tentando me consolar. Beijava-me a testa e ficamos assim por um tempo.
-O que houve? – Estava preocupada.
-Nada demais.
-Então porque choras? – Sua testa estava franzida, queria entender o que ocorria em minha cabeça confusa.
-Está tudo bem, eu juro. – Sorri com os olhos ainda inchados do choro.
-Tudo bem... Você precisa descansar, amanhã vai passar horas dentro de um avião. – Disse-me com a voz doce e melancólica, secando meu rosto. Concordei, mesmo sabendo que seria difícil dormir essa noite.
***
POV Alexandra
Ainda de olhos fechados sinto meu braço esquerdo formigar de uma forma estranha, como se eu não tivesse mais controle. Abro os olhos e me dou conta de que dormi com Ravely, sorrio pensando “de novo”. Ela já tinha batido os recordes de dormir na mesma cama que eu e acordar com roupas. Algo não está certo, isso não acontecia há muito tempo. Vejo que ainda dormia como um anjo sereno. Minha mente translada para a noite de ontem, de repente todas as angustias desapareciam só por recordar aquele beijo... Pergunto-me porque ela chorava, ou melhor: quem a fez chorar?
Tento sair sem fazer movimentos bruscos. O relógio marcava oito e meia da manhã. Corro para o banheiro sem poder tirar o sorriso de orelha a orelha. Sou uma pessoa extremamente racional e sabia onde estava me met*ndo. Em qualquer outra situação eu iria anular essa possibilidade a partir do momento que soube. Porém, com ela eu não conseguia. Estava obstinada a descobrir a fundo sobre essas sensações que Ravely me provocava.
Decido tomar café no hotel enquanto ela dormia, não queria acorda-la e estava morrendo de fome. Antes de retornar para o quarto faço uma bandeja e eu mesmo levo café da manhã para ela. Assim que entro não a vejo na sala, acredito que esteja ao telefone em seu quarto. Temo que o assunto tenha o mesmo teor da noite passada. Não queria ver aqueles lindos olhos castanhos entristecidos. Caminho até a pequena mesa para colocar a bandeja. Lembro que logo tenho que leva-la para o aeroporto e então de repente meus sentimentos mudam da água para o vinho. Sinto-me estranhamente angustiada. Não quero que parta. Pela primeira vez depois de muito tempo eu desejo ter uma relação. Deve ser praga da Mariana, ela disse que isso poderia acontecer que eu poderia me apaixonar por uma hétero comprometida. Apaixonar? Até parece.
Ravely mostra-se na porta, estava contente. Julgo que desta vez a conversa tenha sido melhor.
-Já está de pé, Bela adormecida?
-Não sei o que há de errado comigo, eu nunca consigo acordar cedo aqui.
-Dias agitados... – Sorri para ela que retribuiu me deixando com vontade de agarrá-la logo cedo. – Trouxe café para você.
-Obrigada! Você é muito gentil. – Ela parece surpresa com o gesto, coloca o cabelo delicadamente atrás da orelha e eu me seguro.
-Sente-se melhor? – Pergunto-lhe olhando para o celular em sua mão.
-Sim... Foi meu amigo Fred que ligou para saber que horas chego.
-Hm... Gostaria de conhecer esse tal Fred.
-Quem sabe um dia? Vocês até são parecidos em algumas coisas. Ele é sempre muito direto.
Sorri com sua constatação.
-Quando você retorna? – Pergunta-me enquanto beberica um pouco do café que lhe trouxe.
-Domingo. – Respondo séria, pois lembro que talvez não a veja mais. – Sua mala já está pronta? – Digo, tentando retirar o foco de mim.
-Está sim, deixei apenas para fora a roupa que vou por.
-Hmmm – Balanço a cabeça concordando, mas por dentro suspiro contrariada.
Respiro fundo, tentando não met*r os pés pelas mãos ou “alexandrizar” as coisas, como Guto dizia quando eu fazia algo errado. Retiro-me da mesa. Ficar perto de uma pessoa que não se pode ter é torturante demais.
Abro a porta de correr da sacada e deixo o ar puro inundar meus pulmões. É libertador. Sento-me na cadeira com o notebook sobre as penas. Passo um tempo respondendo e-mails de alguns compradores numa tentativa muito falha de manter minha mente distante daquele lugar. Será que ela não via? Eu poderia fazer muito melhor do que esse cara com quem ela namora. Mesmo sem conhecê-lo, tenho plena certeza de que deve se tratar de um babaca.
O tempo parecia andar mais rápido do que eu gostaria. Mas fazer o que não é mesmo? Vamos acabar com esse transtorno o mais rápido possível, como tirar um curativo, talvez arrancá-lo de uma vez por todas seja o melhor caminho para evitar a dor eminente.
Volto para o interior do apartamento e Ravely estava ligando para um táxi. Tomo o telefone de suas mãos e ela me lança um olhar assustado e atônito.
-O que foi? - Olha para mim concisa.
-Eu mesma vou leva-la ao aeroporto. – Digo autoritária.
-Sim, senhora! – Ela faz continência tentando me provocar e consegue.
-Muito engraçadinha, senhorita. – Cerro a testa em afronta.
Ela ria engraçada, seu riso era contagiante.
-Aí Alex... Estou feliz de tê-la conhecido.
De novo a angustia retorna com força total.
-Eu também... – Saio de perto tentando manter o controle sobre minhas emoções.
Um cigarro seria bom agora.
O caminho até o aeroporto foi em silêncio. Esperamos até ouvir o voo ser chamado e meu coração parecia estar preso em uma caixa que diminuía o tamanho a cada segundo passado.
Eu não sou emotiva, eu não sou emotiva, eu não sou emotiva. Repetia mentalmente.
Ravely olha para mim, já não podíamos mais evitar, ela deveria partir.
-Alex... Obrigada por tudo... Eu realmente adorei esse tempo que passamos juntas. – Ela para e a angustia em sua voz merece minha atenção, balança a cabeça lentamente e vejo o rubor crescer em seu rosto.
Meu coração está disparado, ela mordia os lábios de novo, mas dessa vez parecia apreensiva. Sinto uma tensão tomar conta de mim, essa energia maravilhosa que senti quando vi aquela garota frágil e distante sentada na poltrona de número doze. Abraço-a, com toda a força, tentando manter o controle, como se ela não pudesse me escapar. Era a única coisa que eu poderia fazer, ela não era minha para impedir que se fosse.
Finalmente a liberto, é hora de me mover, mas estou paralisada. Ela se afasta de mim escondendo o rosto e eu não entendo o motivo. Continuo parada, implorando que Ravely olhe uma vez sequer para trás. A cada passo ela esta me matando. Por que eu ainda estou aqui? Minha vontade era correr até não aguentar mais, até que todas essas memórias desaparecessem.
Cedo aos meus desejos. Vou até Ravely sem pensar, sem deixar que minha razão tome controle novamente. Seguro em seus braços e ela se volta para mim com os olhos brilhantes e encharcados.
-Alex...
-Não diga nada. – Coloco a mão em seus lábios impedindo-a de emitir qualquer som.
Em seguida tomo sua boca em desespero no meio do aeroporto, entre tantas pessoas que iam e vinham. Talvez esse fosse o último beijo e eu não perderia a oportunidade. Alexandra Muller não perde oportunidades.
-Alex... Eu não posso, você sabe que eu...
-Não tem problema, eu não tenho ciúmes – Digo provocativa entre seus lábios.
Finalmente a solto. Seus lábios estavam vermelhos da pressão exercida pelos meus. Ela toca a boca como se tentasse se certificar de que estavam intactos.
-Eu vou te encontrar, Ravey... – Tomo o ticket da passagem de suas mãos para olhar seu nome completo – Ravely...Mancini – Sorri... - Uma Ragazza.
Ela sorriu em resposta, me deu mais um beijo no rosto e se foi. Desta vez não a impedi porque eu sabia que a primeira coisa que faria quando pisasse em solo brasileiro seria ir em busca dela. Pobre namorado...Essa já era uma causa perdida para ele.
***
Fim do capítulo
Boa tarde!!
Mais um capítulo, espero que gostem!
Beijinhos ;***
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daysetas
Em: 09/11/2016
Quando você não sabe se lê o novo capítulo e fica sofrendo esperando o próoximo ou se deixa pra ler depois, mas sofre de ansiedade pra ler logo, e no caso, eu sempre escolho sofrer de abstinência hahaha. Ai Rav, não faz isso comigo, aproveita essa mulher miga.. Será que Alex vai continuar tão disposta a lutar por ela mesmo quando souber que o rival é seu irmmão? Cenas para os próximos capítulos que já estou no aguardo hehe. Bjs moça :)
Resposta do autor:
Se eu fosse a Rav teria aproveitado essa mulher ao máximo também hein... Difícil resistir hahaha.
E aí hein, manter a lealdade ao querido irmão ou ficar com a Rav? Acho que ela ficará dividida rsrsrs.
kkkk Leia de novo, leia sempre! Eu também fico louca quando não tem outro capítulo kkkkkk
Juro que tento postar o mais rápido que posso! Estou perdoada?
Beijos moça, espero que continue gostando e comentando.
;***
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tata22
Em: 08/11/2016
ar puro em lisboa?.... moça, moça hahahaha bom, se for em Cascais concordo.
to mo curiosa pra saber o resto, urgh vai demorar muito ou mais ou menos? Porque foi esta esperando do mesmo jeito :D
Resposta do autor:
A praia grande do rodizío se adequa a descrição do texto. Lembrando que nem todos os locais são necessáriamente reais.
Quanto ao ar puro... kkk Das vezes que estive na cidade não achei tão ruim, melhor que em Setúbal.
Logo posto o próximo...
att
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Palas F
Em: 07/11/2016
Tô caindo pra trás aqui !! Não sei se morro de rir ou se deixo a ansiedade me tomar. Quero só ver quando elas descobrirem sobre o Guto. Coração até aperta. Tomare que ele dê uma chance ao Fred. hahahah
Resposta do autor:
kkkkkkkkk Calma, calma! Não criemos pânico. kkkk
Logo, logo sai o 11.
Let the treta begins é só o que digo sobre os próximos capítulos.
Adorando sempre seus comentários hahaha
Beijos!
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Rachel
Em: 07/11/2016
Me encontro sentada na beira da cama repetindo pra mim mesma junto com Alex: eu não sou emotiva, eu não sou emotiva, eu não sou emotiva Hahahaha
Sofri muito com elas tentando manter a distância. No lugar de Muller faria o mesmo, iria decidida atrás dessa ragazza 0/ Hahahaha
Vai ser tenso quando descobrir que o Guto é o namorado babaca de Rav ..Seeeeem ooor ! Estou com um mixto de ansiedade e medo por o que pode acontecer.... Hahaha
Vamos lá Tammy / espero que esteja feliz me fazendo chorar aqui do outro lado da tela Hahaha
Beijo ! Até o prox :)
Resposta do autor:
Olá Rachel!
kkkkk
Cara, você me fez rir aqui.
Em outras circunstâncias eu não estaria feliz em fazer alguém chorar, de maneira alguma. kkkk
Mas se é por esse motivo eu tenho que dizer que sim, fico muito feliz, contente e alegre.kkkkkkkkk Sorry.
Aí, é horrível manter distância de quem a gente quer perto né? Acho que dói mais que estar próximo e não poder fazer nada. Sei lá...
Eu também iria atrás da ragazza, sem pensar. O duro é quando a ragazza é namorada do irmão hein... Aí complica :s
Como proceder? kkkkkk
Beijão, até o próximo!
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lia-andrade
Em: 07/11/2016
Ai senhor, Guto que se cuide.. Pelo que vejo ele irá perder para nossa Deusa Alex..kkkk ansiosa por demais para o próximo.
Beijos
Resposta do autor:
kkkkkkkkkkkkkkk
A batata do Guto esta assando .
#TeamAlex
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Duda_Gomez1999
Em: 06/11/2016
Ain meu pai eu tô ansiosa demais. Quero o próximo pelo amor de Cristo n me diga q vai sair só no outro domingo :( :(
Ps : amando a história, as personagens, tudinho.
Resposta do autor:
Olá Duda!!!
kkkkkkkkk Eu juro que vou tentar me dobar em duas e postar antes de domingo, só por causa desse pedido.
Beijãooo
;***
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Mille
Em: 06/11/2016
Olá Tammy, amei o capitulo.
Estou achando que em terras brasileiras teremos mais confusão de sentimentos entres os três personagens, quando a Alex descobrir que a Rav é namorada do irmão, vixi vai ser bombastico para os três.
Bjus e até o próximo
Resposta do autor:
Olá Mille, como vai?
Cara... Vai ser como eu costumo dizer: " o bicho vai pegar" quando elas chegaram em terras brasileiras hahahah. Adoro um drama.
Beijos!
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