Capítulo 9 - Meu doce pecado
POV Alexandra
Seguimos Emily e Márcia até o bar. Resisti ao meu velho e bom uísque já que estava dirigindo e Ravely estava comigo. Com certeza quem me conhecia ao menos um pouco não acreditaria que eu estou sóbria em uma boate. Já Ravely, depois da terceira ou quarta taça de vinho estava bastante alegre. Decidi ficar bem de olho nela. Pedi um Long Sland sem álcool, praticamente um chá puro. Ninguém precisava saber. Quando me dou conta ela me aparece com uma taça de margarita em mãos. Não precisei lhe dizer nada, o meu olhar desaprovador disse tudo por si só.
-O que foi? Quer um pouco?
Ela me respondeu com ousadia, olhando para a taça.
-Não, obrigada! – Levantei o copo em minhas mãos.
-Você está muito séria, cadê aquele seu olhar enigmático? – Olha-me com expressão cálida e apreciativa.
-Você fica sempre tão animada assim quando bebe?
-Eu não sei, não costumo beber. E pare de me responder com outra pergunta.
Eu não aguentei e me deixei rir.
-Está rindo de mim, senhorita Muller? – Fiquei séria – É, eu me lembro do seu sobrenome.
-Eu? Jamais. E o que tem para me dizer sobre estarmos a quase um mês juntas?
Nada me disse além de um sorriso terrivelmente tentador. Sou mais forte do que pensei. Ela virou garganta abaixo todo o restante da taça e a colocou na mesa, com mais um pouco de força a teria quebrado em vários pedaços, a essa altura sua noção de profundidade estava afetada. Bomba relógio. Pensei enquanto balançava a cabeça negativamente.
-Vou dançar com as meninas.
Ela disse em um tom severo e desinteressado. Eu me mantive impassível, exatamente onde estava, queria ver até onde ela iria, queria descobrir precisamente o que ela queria. No fundo eu sabia que qualquer atitude tomada nessas condições poderia ser mal interpretada no dia seguinte, ela poderia acordar e simplesmente dizer que se arrependeu. E eu não queria isso, não queria ouvi-la dizer isso.
Enquanto estava sentada tentando enxergar Ravely no meio da multidão, sinto uma mão fria tocar meu braço, elevo meu olhar que se impacta com uma morena de olhos negros impetuosos. Não pude conter o riso introverso que cresceu em meus lábios.
-Posso fazer-te companhia?
Ela diz educadamente.
-Tudo bem... – Respondo da mesma forma.
-Aceitas uma bebida? – Antes que eu pudesse responder ela me interrompe – Desculpe, sou Débora.
-Alexandra. – Mostro-lhe o copo quase cheio em minhas mãos – Obrigada, mas já tenho algo.
Meus olhos aflitos continuavam a buscar por Ravely. Eu tinha medo do que ela poderia fazer, mas eu já não conseguia vê-la entre tantas pessoas. As luzes constantes que piscavam em verde, azul e vermelho infernal dificultavam minha visão, como também a pista giratória no centro. Ela provavelmente já estaria do outro lado.
-É... Débora, certo?- Ela confirmou com a cabeça e um sorriso malicioso – Hmm... Sinto muito, mas preciso ir.
- Hey! Espere mais um pouco. – Ela tenta segurar-me pelo braço.
-Olha, és muito bonita e em outro momento nós não estaríamos aqui conversando, só que hoje eu estou acompanhada, então... Desculpe.
Ela me solta e eu saio em busca da louca de nome incomum: Ravely. Que agora deveria estar pior que antes. Álcool, luzes psicodélicas e pista giratória. Isso pode ser mais entorpecente que qualquer outro tipo de droga. Minha preocupação aumenta ainda mais quando percebo que começaram a distribuir vodka em pistolas d’água diretamente na boca das pessoas. Que porr* de lugar é esse? Dou mais alguns passos, peço desculpas às pessoas que acabaram levando alguns pisões e a encontro. Dançava entre duas outras mulheres. Talvez eu realmente consiga transformar boas meninas em garotas más.
Uma música extremamente sexual começou a tocar e eu não soube dizer se isso teve culpa na leve taquicardia que senti. Aquela não era a Ravely ingênua e tímida que eu conheci há poucos dias. Observo seus traços com todo o cuidado, ela agora é toda curva e sedução. Guiava a dança com as outras duas que eu não saberia descrever. Neste instante eu só queria estar no lugar delas, almejava estar onde aquelas mãos deslizavam. Agora eu já não sei distinguir o sentimento que me inunda, ora ciúmes e inveja, ora tentação e desejo. Eu não devia tê-la deixado sozinha porque... Droga! Você está ainda mais linda do que a primeira vez que te encontrei.
Eu estava lá, inerente a ela, vislumbrando a vista até que me notou. Posso jurar que vi um mínimo sorriso sacana crescer em seus lábios rosados. De repente uma das moças a cercou por detrás. Corpo colado. Pensei que Ravely fosse encerrar o contato, podia apostar que ela iria. Enganei-me. Ela só fez insinuar ainda mais, chamando atenção de quem estivesse ao redor. Minha mandíbula travou, tinha os punhos fechados. Eu gostaria que acabassem com isso imediatamente. Talvez o ciúme e a inveja tenham vencido.
Puta que pariu! Aonde ela pensa que vai com isso?
Num sobressalto voltei em si. Não iria ficar assim. Fui até o bar, torcendo que a tal Débora ainda estivesse por lá.
-Dois shots, por favor. – Pedi ao rapaz do bar.
Assim que ele me passou virei os dois com os olhos trincados.
Avistei Débora conversando com um homem bastante musculoso e sem camisa que não me intimidava.
-Quer dançar comigo? – Suspirei próxima a sua orelha.
-Olha só quem voltou...
-Mudei de ideia. – Respondi com um sorriso quente e toquei de leve em sua mão.
Ela diz algo para o pseudo The Rock e me segue. Fui o mais próximo de Ravely que fosse possível. Começamos a dançar e constatei que não poderia ter feito escolha melhor que a tal Débora, ela provavelmente sabia dançar kizomba, nunca vi alguém rebol*r tanto assim em mim.
Eu dançava com outra e fitava Ravely com suas “amiguinhas”. Débora começou a resvalar os lábios em meu pescoço e minha pele reagia ao seu estímulo. Retribui o ato sem subtrair meu olhar de Rav, aquele sorriso mordaz que ela tinha no rosto, desapareceu. Débora alcança meus lábios e sinto sua língua pedir entrada em minha boca. Ravely assiste a tudo surpresa, seu olhar é firme, intenso e depois que vê Débora se apossar de mim, ela fica catatônica, poderia dizer que aquele foi o fim da festa. Ela deixou a pista a passos largos e duros. Desvencilhei-me de Débora, ela já tinha cumprido com o planejado.
Voltei ao bar, embora tivesse conseguido o que queria, eu não me sentia bem. O arrependimento bateu, eu não queria fazer mal a ela e foi justamente o que fiz. Eu fiz merd* de novo.
Pov Ravely
Eu cambaleio para fora da multidão, sem me despedir de quem quer que fossem aquelas duas. Na verdade eu queria saber quem era aquela mulher engolindo a cabeça de Alexandra. Tudo bem que ter o sangue diluído em álcool altera completamente todos os meus sentidos, mas eu sei que pelo menos meus olhos não estava mentindo. Em um momento ela estava me olhando e no outro aparece com uma desconhecida.
Talvez tenha sido retaliação. Com certeza foi. Era claro que se isso fosse um jogo, eu estava caindo direitinho. Tudo o que eu queria fazer parecia completamente errado, algo despertou em mim uma necessidade de aventura e inconsequência.
Pego o celular e minha cabeça gira ainda mais. Quantas margaritas eu tomei? Abri o Google maps para saber o quão longe do hotel eu estava, mas só serviu para deixar-me ainda mais irritada, a internet não funcionava dentro do estabelecimento. Estava prestes a pegar um táxi qualquer e terminar com isso.
Agarrei-me ao balcão ao lado, minha cabeça girava e estava mais instável que o de costume. Eu devia imaginar que não era uma boa ideia misturar vinho e tequila. As horas passaram sem que eu percebesse, assim como minhas atitudes. Eu queria Alex, mesmo que não a pudesse ter. Por que tenho que me sentir tão algemada a ela? Pedir para que minha vidinha medíocre voltasse a ser o que sempre foi era muito?
-Perdida?
Senti uma voz aveludada perturbadora sussurrar ao pé do meu ouvido.
-Não... Eu acho. E você? – Respondi no tom mais seco que eu poderia.
-Já encontrei o que procurava.
Sem responder continuei olhando para a tela do celular.
-O que acha de irmos embora?
Eu não podia olha-la nos olhos quando falava nesse tom, não me era seguro.
-Não acho que sua amiga irá gostar – Apontei para a multidão, onde elas estavam se agarrando. Será que ela conseguia ver o que eu escondia? É claro, eu não poderia julgar a moça, eu também teria beijado Alexandra.
Ela sorriu e desviou-se de mim só para tornar a penetrar-me aquele olhar que me tirava o ar.
-Aquilo não foi nada... E, eu já me despedi dela.
Seus olhos sorriam divertidos.
-Nossa! Se aquilo não foi nada, imagina o que seria TUDO. – Falei de uma vez e só depois me dei conta do que dizia. Ainda bem que bêbada eu não sinto tanta vergonha. Isso acontecerá amanhã.
-Se a conhecesse melhor poderia dizer que está com ciúmes, Rav. – Continuou com seu tom provocativo.
-Vamos embora, Alex. Eu não me sinto bem. – Seu olhar mudou do sedutor natural, para estranhamente preocupado. Pegou-me pela mão, sem dizer nada e seguiu em direção à saída. O ar frio da noite inundou meus pulmões e a sensação aliviou o mal estar. Alex continuava me olhar preocupada.
-O que você está sentindo?
-Embriaguez? Eu acho.
Ela gargalhou.
– O que é tão engraçado?
-Isso é o que acontece quando se bebe tudo o que tem pela frente. Por que você bebeu tanto assim? Parecia querer fugir da realidade.
Você não sabe o quanto eu queria fugir.
-Não sei, eu nunca fiquei bêbada.
-Vamos embora, eu vou cuidar de você.
Era difícil continuar zangada quando ela se comportava assim, com tanto carinho. Afinal, tinha o direito de beijar quem quisesse, não temos nada e nem poderemos ter. Lembrar disso fazia meu coração torcer.
Ao entrar no carro, Alex percebeu meu desequilíbrio aproximou-se para ajudar. Colocou o cinto de segurança no fecho. Seu rosto estava tão próximo do meu, se mantinha concentrada e até mesmo levemente preocupada com meu bem estar. Se ela inclinasse um pouco mais poderia tocar meu rosto. Ainda assim pude sentir seus cabelos escuros tocarem minha pele. O mais singelo toque vindo de Alexandra era o suficiente para me fazer vibrar. Minhas forças para mentê-la longe não existiam mais, pelo contrário, agora eu tinha que lutar contra a vontade insana de mantê-la por perto. Elevou seu olhar para mim e sorriu, parecia saber exatamente o que sondava meus pensamentos. Seus olhos azuis me instigavam cada vez mais ao erro. Estávamos perigosamente próximas. Tranquei a respiração, não queria mais sentir aquele perfume, ele me deixava louca.
-Rav?
-Sim...
-Pode voltar a respirar. –Disse com ternura, colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha. Eu me contorci naquele banco de couro preto.
Deu a volta pela frente do carro e se acomodou no banco do motorista. Durante alguns minutos atravessamos as ruas escuras e pouco movimentadas.
-O que você viu nela?
-Em quem? - Respondeu-me sem desviar os olhos da pista.
-Ninguém... Deixa para lá. - Bufei
Estávamos em frente ao hotel, Alexandra entrega a chave para o rapaz bem vestido. Agora já deveria ser outro, mas eu estava bêbada demais para reparar. Esperamos o elevador descer e entramos.
-Eu não vi nada nela, não fui eu quem a beijou, eu fui beijada. – Disse-me educadamente.
-Mas você gostou, não gostou?
A lembrança do beijo parecia me incomodar mais do que eu gostaria. Ela demorou em responder, esfregou a testa como se estivesse formulando bem a resposta em sua mente. Talvez ela tenha gostado... Esse pensamento me entristeceu, minha decepção era palpável. Ela me olhava com um misto de culpa e desejo. Todo o meu corpo tremeu, tentei respirar fundo, lembrando onde estava e que isso não era o certo a fazer. Alexandra aproximou-se de mim, tinha os olhos brilhando. Droga, como eu amo esses olhos.
-Alex... – Minha voz quase não poderia ser ouvida.
-Hmm? – Ela sussurrou.
Estávamos tão próximas que eu conseguia sentir seu calor. À medida que ela se aproximava eu dava um passo atrás, até que me choquei com a parede fria e metálica do elevador. Ela detinha o poder de me bagunçar tanto por dentro quanto por fora. Percebendo que eu estava encurralada o sorriso maléfico estampou em sua face. Suas mãos apanharam meu rosto e seus lábios tocaram os meus com urgência. Eu me entreguei. Eram os lábios mais macios que já tinha beijado. Sua mão prendia meu cabelo, senti seu corpo pressionar o meu contra a parede. Uau! Ela conseguia ser ainda mais incrível. Eu não sabia que iria me sentir assim, não sabia que a sensação de ter seus lábios nos meus seria tão maravilhosa. Tento acalmar meu coração que pulava desenfreado. Só nos separamos quando o ar faltou. Chegamos ao décimo segundo andar e a porta de correr se abriu.
Assim que entramos, deixei-me cair sobre o sofá. O que foi isso? Meu corpo está em choque, não consigo processar pensamento algum. Agora parece que o prédio inteiro girava. Meu estomago se manifesta e eu corro para o banheiro. Alex que ainda estava na porta, só teve tempo de me ver correr. Dobro meu corpo e apoio as mãos sobre a cerâmica do vaso. Ela entra logo atrás de mim, apanha todo o meu cabelo mantendo-o distante do rosto. Tentei afasta-la, mas logo o vômito vem de novo. Parecia que todos os meus órgãos quisessem saltar para fora. Que horror! Meu abdômen parecia contrair involuntariamente. Eu me sentia horrível. Tento colocar-me de pé, mal me aguento. Todo esse esforço me deixou esgotada. Alex me ajuda a chegar até a pia, abre a torneira com água fria, molha-me o rosto algumas vezes. Morrendo de vergonha e nojo de mim mesma, eu mal conseguia olhar para ela. Ao menos agora a cabeça finalmente para de girar.
-Você precisa de um banho, acho que pode ajudar.
Ela começa a encher a banheira ao lado. Apanha um elástico num dos estojos que estavam sobre o armário e prende meu cabelo todo para o alto. Eu a encaro e não consigo dizer nada. Seus olhos estavam compenetrados em mim.
-Você é sempre assim tão atenciosa com suas fotógrafas?
-Sim. Mas só se forem muito bonitas. – Aquele tom sarcástico e sedutor aparece de novo. Eu não aguento isso!
-Desculpe... – Eu murmuro.
-Pelo que?
-Pelo transtorno e pelo trabalho.
-Não me importo. Se quiser conversar sobre isso outra hora, estarei aqui. – Ela afasta-se de mim e testa a temperatura da água.
-Você não deveria ser tão boa comigo. Eu poderia me apaixonar e te pedir em casamento. – Brinco com alguns tons ocultos de verdade.
Alexandra gargalha.
-Nestas condições eu não poderia aceitar. Provavelmente você não recordará de nada pela manhã.
-Eu juro. Nunca mais vou beber.
-Todos os bêbados dizem isso. Eu mesma já o fiz. – Disse divertida.
-Mas você não bebeu hoje.
-Alguém tinha que cuidar de você, não é? Imagine! Nós duas agora, bêbadas? – Houve uma pausa e eu notei o tom de duplo sentido em suas palavras - Não chegaríamos neste hotel.
-Tenho certeza que seria muito mais divertido. – Parece que meu sistema límbico não tem mais barreiras.
-A é? Por que acha isso? – Voltou os olhos para mim, estavam bem azuis e vermelhos, acho que pelo cansaço.
-Porque talvez você seja do tipo que conta tudo quando bebe. - Acho que soei mais interessada do que deveria.
-Eu creio que esse seja o seu caso, não é mesmo?
Ela parecia estar se divertindo ainda mais do que eu.
-Talvez...
Pelo amor de Deus, cale a boca, Ravely.
Escovei os dentes varias e varias vezes seguidas. Lutei para tirar a jaqueta que vestia, comecei a desabotoar a camisa sem me importar com a presença de Alex. Quando fui arrancar a calça ela se manifestou.
-Vou esperar por você na sala. Qualquer coisa é só gritar.
Assenti com a cabeça e ela saiu. Entrei na banheira que tinha uma água quente deliciosa. Devo ter ficado imersa por trinta minutos, tentando me certificar dos fatos. Eu precisava ser parada enquanto ainda havia tempo. Nada disso parecia real.
Sentia-me um pouco melhor, pelo menos agora estava limpa e o nível de álcool circulante parecia ter baixado. Alex me esperava com duas garrafas de água e barra de chocolate. Sua beleza é desconcertante. Será que nunca vou me acostumar a olhar para ela sem suspirar? Só eu sei o quanto estou ferrada.
-Não é muito tarde para você comer doce? – Disse.
-São para você e não quero ouvir “não”. – Diz autoritária, apontando-me o pacote com o doce.
- Mas eu não quero chocolate agora.
Ela não proferiu sequer uma palavra, apenas me olhou pelo canto dos olhos e isso foi o suficiente para que eu abrisse o pacote.
-Amanhã você vai me agradecer por diminuir sua ressaca.
-Você é muito chata - Mostrei-lhe a língua. – Senhorita Müller.
-Você gostou do meu nome, não é mesmo?
Mal sabia ela que se fosse apenas do seu nome a minha vida seria muito mais fácil...
***
POV Alexandra
A luz que inundava a sala tirou-me do sono profundo. Parecia que eu acabara de fechar os olhos, sentia-me exausta e mal consegui me esticar. Dormir no sofá não é nada fácil. Olhei pela janela e embora fosse época de dias chuvosos, o sol raiava como uma manhã alegre de primavera. Ao caminhar em direção ao banheiro, vejo que a porta do quarto está aberta. Ravely dormia tranquilamente encantadora. Fiquei alguns instantes assistindo-a. Acho que era um daqueles momentos que eu poderia observa-la sem que pudesse ver através dos meus olhos e enxergar como eu realmente me sentia. Minha única vontade era ir até lá, entrar debaixo daqueles cobertores e deitar junto a ela. Será que se lembrará do nosso beijo? Toco meus lábios tentando recordar, mas logo estalo a língua em desaprovação a minha atitude. Ela esteve muito mal ontem, quase não consegui pô-la na cama.
Tomo banho, evito usar o secador para que os ruídos não a despertem, mas foi tudo em vão. Meu celular toca desesperadamente e claro, era alguém da minha família. Luiza, para ser mais exata. Sorte que não tenho mais irmãos, do contrário passaria o tempo todo no telefone. Não atendi a chamada, deixei para retornar depois. Viro-me e vejo Ravely escorada a parede, com as mãos pressionando a cabeça.
-Bom dia! Dormiu bem?
Ela ficava ainda mais linda vestindo minha camiseta.
Pergunto-me se havia algo a mais por debaixo. Creio que seja apenas isso e me desconcentrava muito. Queria ser uma camiseta agora. Acho que esse dia será longo e tortuoso.
-Bom dia... Eu entrei em coma alcoólico? – Tinha a voz chorosa.
-Não, mas deve ter beirado. – Respondi achando graça de sua cara de ressaca.
-De quem é essa roupa?
Olhou para si estendendo a camiseta.
-Minha. Não sabia que roupa pegar para você, então escolhi uma minha.
E lá estava a Ravely de sempre, ruborizando pelos motivos mais simples.
-Óh céus. O que eu fiz ontem? - Ela suspira preocupada.
-Muito do que não devia... – Seus olhos quase saltaram.
-Ai minha nossa! Minha cabeça está latejando. – Seus olhos estavam semicerrados por causa da claridade.
-Fique pronta, pois saímos em alguns minutos.
Apanhei um analgésico e lhe entreguei.
-Nossa! Meu cabelo deve estar péssimo. Provavelmente semelhante a um leão, estou sendo medicada por você.
-Há Há Há ! Muito engraçado. Anda logo ou ficará para trás.
-Você é minha guia, esqueceu-se? Não tem sentido que saia sem mim. – Diz e me da às costas. Seria pedir muito, desejar que essa camiseta suba um pouquinho mais?
Sigo com o que estava fazendo tentando esconder meu sorriso por tê-la por perto todo esse tempo. Não quero mais voltar para casa, quero ficar neste quarto de hotel o resto da vida, tendo Ravely como minha prisioneira. Ela consegue ficar ainda mais linda quando está atrapalhada. Não posso evitar me encantar. Principalmente quando ela insiste em morder o lábio.
Já era tarde quando deixamos o hotel. Ainda sim consegui encontrar um restaurante para almoçarmos. Ravely estava tagarela, mesmo com a ressaca. Em nenhum momento mencionou o beijo.
-Alex... Você está muito calada, eu fiz algo ontem à noite?
-Depende... Refere-se ao pedido de casamento? Ou ao strip-tease sobre a mesa?
Ela ficou boquiaberta gaguejando, não dizia coisa com coisa.
-Estou brincando, Rav. Você não fez nada que não devia. Acho que estou cansada, apenas isso.
-Me desculpe. Eu realmente não consigo lembrar muitas coisas de ontem. Não devia ter exagerado. Que vergonha!
-Deixe isso para lá. Venha, vou te levar a um lugar muito especial, aproveitar que hoje não faz muito frio.
Eu estava inquieta ao ponto de ela perceber que havia algo errado. Como não estar? Como você não se recorda de ontem? Era por este único motivo que eu não queria fazer nada precipitado. Mas foi inevitável, ela estava tão perto me fazendo tantas perguntas. Eu não pude me conter. Sempre que pensava em sua boca, no seu cheiro, em como estava tão frágil a mim... Minha pele fervia.
Não consigo explicar como isso foi acontecer. Quando pedi Júlia em casamento, pensei que somente ela pudesse despertar tais sentimentos em mim. No momento em que me deixou, eu me fechei. Num mundo tão cheio de pessoas, eu não repetia uma noite com a mesma mulher, não me apegava a ninguém. Eram todas colecionáveis apenas nomes para completar minha agenda. Acho que nunca a esqueci de fato. Ninguém chegou a significar o que ela foi para mim. E depois que me deixou ninguém jamais se tornou bom o suficiente para merecer minha confiança. Como Ravely conseguiu? O que ela tem? Mesmo assim, eu sabia que não era a pessoa certa para ela. Eu só a machucaria, assim como aconteceu com outras que se permitiram gostar de mim. Então, talvez fosse bom ela não conseguir se lembrar, ainda que a única coisa em que eu consiga pensar fossem essas memórias que pareciam nunca mais ir embora, o sabor de seus lábios ainda estava presente em minha boca.
Nós corríamos de carro através das curvas da longa e assustadora estrada de Sintra, o bosque de pinheiros que circundava o caminho parecia um borrão verde. A adrenalina sempre me ajudou a afastar os pensamentos perturbadores mesmo quando tinha tanta coisa acontecendo em minha cabeça. Ravely parecia um anjo sentada ao meu lado, mas a essa altura ela era como um demônio que afastava a sensatez. Olha-me tentando decifrar meus pensamentos. Eu conseguia notar a frustração em seus olhos ao perceber que não iria descobrir nada assim.
-Alex, eu não sei o que aconteceu ontem, mas não quero que as coisas mudem entre nós.
-Nada aconteceu, Ravely... Está tudo bem – Sorri forçado tentando convencê-la.
-Eu não consigo acreditar em você. Se preferir eu posso ir para outro quarto, falta pouco para voltar ao Brasil.
Embora eu soubesse que o certo fosse me afastar dela antes que tudo viesse a ruir, não pude me calar. A ideia de não tê-la por perto era frustrante, talvez eu não fosse forte o suficiente para isso.
-Não! Está tudo bem, acredite em mim. – Peguei em sua mão e ela corou.
-Não sei se devo. Você esconde algo, eu posso notar.
Como vou resolver isso? Eu respirei fundo. Ravely não iria desistir até saber. Ela conseguia ver em meu rosto que tinha algo errado. Droga! Com você eu não consigo ser uma boa mentirosa.
-Como pode ter tanta certeza?
Ergueu a cabeça e parecia que ia mover os lábios a falar, mas não respondeu; a certa altura acho que mudou de ideia. Ficamos em silêncio, era melhor assim porque eu já sabia o rumo em que essa história iria se findar.
Chegamos a tal praia paradisíaca, de água azul cristalina onde o céu encontrava o mar. Eu conhecia o local e imaginei que continuasse pouco movimentado. Eu precisava estar aqui e acho que ela também. Percebi sua admiração a paisagem de rochas no horizonte, contrastando com a fúria do mar chocando-se violentamente nas pedras.
-Lindo, não acha? – Perguntei.
-Muito... – Ela sussurrou.
Retirou os tênis, dobrou a calça e eu a adorei enquanto corria da areia ao mar para molhar os pés. Chutava a água divertindo-se como uma criança que vai a praia pela primeira vez.
-Você não vem?- Gritou de onde estava.
-Não! A água esta fria, não está?
-Sim, bastante e eu vou mergulhar.
-Ta louca? É perigoso. Volte!
Quando fecho a boca ela já esta tirando algumas roupas mais pesadas do corpo.
-Ravely!!! Não ouse. – Gritei, correndo em sua direção.
-Me impeça se puder. – Ela responde com um sorriso zombador. Pois é, ela também tinha um desses.
Tirei a jaqueta, tênis e meias que ficaram espalhados pela areia. A água trincava os ossos de tão fria. Gritei seu nome, mas Ravely não aparecia e já tinha se passado quase um minuto desde que ela imergiu. Eu já estava preocupada. “Onde essa garota se meteu?” Mergulhei uma vez e não a vi. O desespero me tomou quando de repente ela salta em minhas costas, colocando os braços ao redor.
-Bú! – Sorriu amavelmente, preenchendo-me de um grande e confortável alívio.
-Ravely! Eu achei que algo tinha te acontecido. Quer matar-me do coração? – Falo por entre os dentes que batiam. Eu estava apavorada. – Você acha isso engraçado? – Agora tenho a face franzida e contrariada.
-Sabia que você fica ainda mais linda assim... – Sussurrou e eu tremi por dentro, não conseguia ser indiferente a ela. Eu não esperava por essa resposta. Ela estava muito perto, ao ponto que eu sentia seu hálito quente em meu pescoço. Pus-me de frente, seus braços continuavam ao meu redor. A água era glacial, mas seu corpo quente tão próximo mantinha-me aquecida. Seus olhos encaravam os meus então eu soube que ela não pretendia me soltar. Nesta distância eu perdia o controle, meu coração acelera descompassado. Eu poderia beijá-la todos os dias se ela permitisse e não seria minha culpa, porque ela me deixa totalmente fora de órbita.
-Seus olhos estão mais azuis que o mar; E... E-eu os acho tão lindo.
Não digo nada, ela conseguiu me deixar sem palavras. Toca meu rosto, deslizando seus dedos gentilmente pela minha bochecha até meus lábios. Eu suspiro. Costumava achar que conseguia me manter de pé, mas depois disso, enquanto ela se aproxima eu sei que posso desabar. Ela me tinha em suas mãos, subestimei seus efeitos. Acho que estou perdendo minha cabeça agora.
Dane-se!
Aproximei ainda mais sua cintura a mim, fechei os olhos, continuava a sentir sua respiração cada vez mais próxima. Não me impedi, nos beijamos. Primeira vez para ela e segunda vez para mim. Talvez Ravely tivesse algo diferente, algo que me prendesse a ela, porque agora eu me sinto como um viciado que não suporta abstinência. Eu não conhecia o que era vontade até prova-la. Ela faz coisas com meu corpo que eu não sabia que poderia sentir. Cruzei a linha que jamais deve ser ultrapassada. Talvez eu possa mudar a estratégia daqui para frente, eu preciso... Porque Ravely era meu mais novo, doce pecado e eu sequer sabia. Agora não há mais volta.
Fim do capítulo
Finalmente o tão esperado momento...
Depois me digam o que acharam.
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tata22
Em: 08/11/2016
Que praia é essa em sintra? Fica pro lado do castelo ou do condominio todo xpto? (pessoa mora a nove anos no lugar e n sabe de nada -_-´ )
To amando a historia :D me deixa ir ali continuar.
Resposta do autor:
Eu conheço por Serra de Sintra, não sei se há outro nome. Se minha memória não falha fica para o lado do castelo. Há muitos lugares lindos kkkk
Vive em Lisboa?
Palas F
Em: 05/11/2016
Ansiosaaaaaaa... que fantástica sua escrita!!! Pra primeira história você sabe perfeitamente como envolver.
Resposta do autor:
Ola Palas!
Como vai?
Obrigadaaa! Estou tentando me empenhar rsrs, ainda me sinto insegura por ser a primeira vez, mas que bom que gostaste, fico imensamente feliz!
Beijoos ;*
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daysetas
Em: 04/11/2016
Oi.. Leitora nova aqui! Eu li todos os capítulos de sua estória ontem a noite, para sua pessoa ter uma ideia do quanto me prendeu rs. Fiz até uma conta para registrar isso, e claro, dar aquele feedback que eu sei que é importante. Vamos lá:
1º: Me encontro apaixonada por Alex Müller.
2º: Faço das palavras do primeiro tópico as desse haha brincadeira, mas sério, eu gostei muito da personagem, de sua intensidade, e estou curiosa para saber mais detalhes sobre o que aconteceu exatamente entre ela e Júlia.
3º: Como gosto de sofrer por antecipação, já estou sofrendo imaginando quando elas souberem que Guto é o irmão/namorado da outra.
4º: Espero que Rav apesar de todo contexto que elas venham a estar não magoe Alex.
5º: Quero amigos como Fred e Mariana na minha vida hahaha.
-ok, não vou fazer uma nova versão com: 10 coisas que eu senti ao ler sua estória hahaha-.
Enfim, gostei mesmo da sua escrita, dos personagens, e espero que continue esse desenrolar gostoso da estória. Sempre que puder estarei por aqui, beijos!
Resposta do autor:
Oiiii tudo bem?
Primeira coisa a dizer: adorei o comentário. Muito linda você!
Fico imensamente feliz que esteja gostando e espero que esse entusiasmo continue. Peço perdão pela demora. É apenas porque estou em final de semestre na faculdade e aí dificulta para escrever rsrsrs.
Vou aguardar mais comentários seus, esses feedback são ótimos para quem escreve.
1)Alex é apaixonante ne? Kkkkk adoro ela.
2) também sofro por antecedência, e elas vao se enrolar muito kkk
3) A Rav vai tentar n magoar... mas n sei se conseguirá kkk 4) Julia... vamos ver quando ela aparecerá kkkk 5)Fred e Mariana são ótimos e fundamentais. Espelhados em dois amigos meus que amo mt kkkkkk
Muito obrigd mais uma vez.
Beijãoooo
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Rachel
Em: 01/11/2016
Hahaha eu ri muito quando ela se comparou a um leão por causa do cabelo e sendo medicada pela Alex Hahaha
Imaginei a hora do porre de Rav, lembrou o meu primeiro porre hahahaha essa Rav.. Rav Rav... Rs
E o beijo no mar então... Foi tão lindo ... Vou já procurar alguém pra imitar essa cena Hahahah
Tô ansiosa pra ver tretas quando descobrirei que o irmão de Alex é o atual de Rav... Aí deuzu..... Tô até nervosa por elas... Aí aí aí.
Beijos Tammy !! Até o próx episódio :)
Resposta do autor:
Kkkkk Rav é uma figura.
O beijo... da vontade de pegar as malas e ir pro litoral fazer igual kkkkk. Mas sou suspeita a dizer, adoro um romance.
Esse encontro dos 3 vai judiar kkkkk
Beijoos, ate o próximo. ;)
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Palas F
Em: 31/10/2016
Gennnnnte... pelamo, próximo!!!! Não conseguia dormir. Sempre indo na base do "só mais um..". Tô fufu ora acordar!! Kkk sensacional.
Resposta do autor:
kkkkkkkkkkk Logo eu posto o outro. Só tentando arrumar um tempinho e fugir da correria para terminar. ;)
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rhina
Em: 29/10/2016
Olá.
Quantas emoções. Tudo fora de controle. Forças caem.
O inevitável acontece. E bummmm.
Muito bom autora.
Parabéns.
Beijos.
Rhina.
Resposta do autor:
Tudo culminou para esse inevitável e esperado momento né.
Fico feliz que tenha gostado...
Beijão!
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lia-andrade
Em: 29/10/2016
Finalmente o tão esperado beijo. Já não me aguentava mais de ansiedade. Rsrs amei tudo.
Beijos, até o próximo.
Resposta do autor:
hahaha finalmente né! Eu também estava louca para chegar nesta parte.
Beijão Lia ;)
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Mille
Em: 29/10/2016
Ola Tammy
Amei o capítulo, fiquei até com medo de você parar em algumas partes, como a do beijo delas no elevador, mais ainda bem que teve o outro momento e muito romântico e a cumplicidade entre elas.
Rav saiu e perguntou ao amigo "o que pode acontecer em um mês?"
Ela tem essa resposta, e a Alex mudou muito a vida dela em trinta dias.
Depois é que começa a confusão, Rav, Alex e Augusto e como a Rav vai tomar a decisão dela entre os irmãos.
Curiosa sobre a Júlia!!!
Bjus e um ótimo final de semana
Resposta do autor:
Olá Mille!
Que bom que gostou. Fico feliz. ;)
Sobre parar a história na parte do elevador... Eu ia ficar louca se estivesse lendo e parasse lá kkkkkkkk sacanagem né?
É que na verdade o beijo do elevador é um reflexo das atitudes preciptadas de Alex. No momento elas estão presas para não afastar Ravely, e aí as vezes ela não consegue evitar.
A Alex tem muito para mudar na vida da Ravely ainda, vai virar o mundo dela de ponta cabeça. E a Rav tem muito de Alex para conhecer... Vejamos o que segue nas próximas cenas hahahah.
A confusão vai ser grande hein... Por enquanto está fácil. Elas estão sozinhas, restritas a companhia uma da outra, sem interferência externa. Imagina duas pessoas tão intensas e complicadas unidas a uma situação super complexa.
A Júlia... Hmm.. Essa é outro problemão. Mas vamos para deixar para debater este assunto mais para frente kkkkkk.
Ótimo final de semana para ti também!
Beijoo.
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