Cássia

Aquele momento só se podia comparar com aquele infeliz acontecimento do ano passado. A casa estava cheia. Amanda havia chegado há vinte minutos e tentava dá atenção a Flávia e a pobre da Isa e Rebecca ao mesmo tempo. Marcela não pode sai do trabalho sem pegar o maior transito e não sabia a que horas iria chegar. O policial nos pediu que ficássemos longe da televisão e rádio. Henrique ligou e avisou que os gêmeos estavam bem e que tentava deixar Carolina o mais calma possível para aquela situação.

Pelo pouco que vi no jornal local, três homens que estavam sendo perseguidos pela policia por roubar um automóvel, pararam na padaria do senhor Antônio e fizeram os clientes reféns. A mídia abutre estava em cima e a policia tentava negociar com os vagabundos.

- Calma meu amor... – apertei Paloma em meu peito.

Infelizmente essa é a nossa realidade em todo Brasil. Pessoas de bem são obrigadas a passar por momentos traumáticos por conta de pessoas que viam na criminalidade a sua fuga por dinheiro rápido e fácil.

- Onde está a minha irmã? – Juliane entrou afoita com a Micaela.

- Ela foi para o hospital Juliane. – Renato respondeu.

- Ela tá bem? Os meus sobrinhos estão bem? Que pergunta idiota... Claro que não estão bem. – passava as mãos pelos cabelos em puro nervosismo.

- Gente... Vamos tentar manter a calma! Por mais difícil que seja. – Pedro falou em uma falsa tranquilidade.

- Como ficou sabendo tia? – Flávia perguntou com a voz embargada.

- Eu... – elas nos olhou. – Eu vi pela televisão... Tá sendo passado ao vivo.

- Eu preciso ver... – Paloma tentou levantar.

- Paloma... Calma! – Amanda se opôs. – Isso só irá piorar as coisas.

- Eu não aguento ficar aqui... – a voz dela sumiu.

- Amor... Pelo amor de Deus... – meu peito estava tão apertado. – Calma...

- Meninas... – Camila, Marcela e a Samantha chegaram.

- Que bom que estão aqui. – Flávia falou.

- Viemos assim que soubemos. – Samantha sentou ao lado de Amanda.

- Foi um pouco difícil pegar um ônibus. – Marcela se justificou e sentou ao lado de Jaque, que segurava a mão da Isa.

- Emily... Emily... – Rebecca balbuciava nos braços da mãe. – Minha Emi mãe...

- Eu sei filha...

Os minutos passavam e a angustia aumentava. Os tios da Flávia repassavam o pouco que os policias diziam. Havia duas horas que estávamos nessa agonia e eu me sentia inútil por não poder fazer nada por minha namorada e minhas amigas que estavam sofrendo. Eu estava tão preocupada com minhas amigas que a todo momento fechava os meus olhos para não deixar as lágrimas caírem. Precisava ser forte por ela, que estava tão frágil em meus braços.

9:00 da manhã.

- Senhoritas? – dirigimos nossa atenção para o polícia. O alivio foi instantâneo.

- Emily!

- Nick!

 - Graças à Deus!

As meninas foram aos montes para cima das duas que não reclamaram. Becca enchia a namorada de beijo enquanto Isa abraçava e chorava junto com a Nick. Depois de quase vinte minutos de abraços e muito choro, as meninas sentaram. Fui até a cozinha e trouxe dois copos de água com açúcar e entreguei a elas. Nicole estava com abraçada a Isa, Flávia que acabou de quase esmagar a Emi, grudada em seu outro braço e Paloma em seu colo com o rosto escondido na curva de seu pescoço. Emi estava abraçada a mãe e a namorada que ainda chorava baixinho.

- Onde está o pai e a mãe?  - Nick perguntou.

- Carolina passou mal e o Henrique a levou para o hospital. Calma! – Renato pediu. – Ela tá bem e os garotos também. Acabei de avisar ao seu pai...

- Se algo acontecesse aos meus irmãos eu...

- Não termina essa frase, Nicole... – Flávia pediu seria. – Pelo amor de Deus... Tá tudo bem... – completou chorosa.

- Oh, mana... – Nick beijou a testa dela.

- Paloma... Você vai sufocar a Nick desse jeito... – Falei e nos permitimos sorrir depois daquilo tudo.

- Deixa ela... –Nick falou carinhosa.

- Não saiu daqui... – ela resmungou e rimos.

- Emily... Seu braço tá todo arranhado. – Becca olhava centímetro por centímetro da namorada.

- E esse lábio ferido... – a mãe dela segurava o seu rosto.

- Amor... Mãe. – Emi riu. – Eu tô bem... Isso foi na hora da correria.

- Vou cuidar de você amor... – Becca escondeu o rosto em seu pescoço.

- Vocês podem explicar o que aconteceu? – Pedro perguntou.

- Lá fora tá cheio de curiosos... – Camila falou. – A vovó já ligou umas cinquenta vezes...

- Povo fofoqueiro... – Samantha falou.

- Foi horrível... – Emily comentou e eu senti um aperto no peito. O silencio foi total.

- Havíamos chegado na padaria fazia menos de cinco minutos, não é Emi? – Nicole olhou para a morena.

- Sim... Foi tudo muito rápido. Ouvimos as sirenes e logo o lugar foi invadido pelos três. – Emily fechou os olhos.

- As pessoas começaram a correr desesperadas e acabaram derrubando a Emi. Ajudei a levantar e ficamos encolhidas em um canto qualquer. Haviam algumas crianças com o uniforme escolar. Elas choravam bastante... – Nicole respirou fundo.

- Eles apontavam a arma para nós e nos mandavam ficar quietos. A policia tentava negociar lá fora... Parecia tudo muito irreal... – Emily nos olhou. – Parece que você está presa em um filme de terror, mas o fato de ser real é ainda mais assustador.

- Eles pediram um monte de absurdo, até se renderem. – Nick tinha lágrimas nos olhos. – Eu preciso ver a minha mãe.

- Vão tomar um banho quente e trocar de roupa minha filha. – Juliana falou. – Depois vocês vão ao hospital.

O telefone da Flávia tocou.

- Pai? Cadê a mamãe? – perguntou e pos no viva voz.

- Ela tá bem minha filha... Já estamos voltando. Cadê a minha menina. – perguntou choroso.

- Eu tô aqui pai... – Nick falou emocionada.

- Oh, minha menina... – ele já chorava. – Assim você mata seu velho pai. Estamos indo pra casa e pelo amor de Deus, não saia daí...

- Tudo bem pai...

- Eu te amo minha filha... Deus...

- Eu também te amo pai.

Ninguém saiu da casa. Emily e Nicole subiram junto de Isa e Becca para fazer o que a mãe da Emily pediu. As meninas estavam bem mais aliviadas. Flávia não largava da loira que estava toda carinhosa. Acho que esqueceram do ocorrido de ontem a tarde. Jaque conversava com Marcela, enquanto Paloma estava com a cabeça apoiada sobre as minhas coxas. A algazarra que havia se instalado lá fora foi dispersada. A policia havia se retirando, depois de muito conversarem com os tios das meninas.

- Como foi a noite? – Camila perguntou para Juliane. Micaela apenas franziu o cenho.

- Do que tá falando? – perguntou erguendo a sobrancelha.

- Hora tia... Não se faz de desentendida. – rimos. Precisávamos daquilo.

 - Flávia... – Juliane a olhou.

- Que foi? Me usou e depois me expulsou. Me vinguei. – deu de ombros.

- Ora sua... – Juliane a fulminou e Micaela estava vermelha.

- Nem vem... Se por na ponta do lápis todas as vezes que você já me deixou em saia justa, estaremos longe de ficarmos quites. – rimos em concordância.

- Vai ou não dizer como foi a noite? – Camila insistiu.

- Não é da conta de vocês!

 

Marcela

- Vocês não tem jeito... – Amanda comentou.

- Engraçado foi a Flávia chegando de homem aqui... – Jaque riu.

- Homem? – perguntamos juntas.

- Tia Juliane me fez vestir um terno... – ela suspirou. - Foi por uma boa causa... Por falar em boa causa. Eu joguei minha comida na imbecil da Fernanda porque ela me provocou. Me chamou de ladra de mulher e ainda insinuou que iria pegar a minha loira e a Isa.

- Que historia é essa? – Nicole que vinha descendo, perguntou.

- Isso que você escutou... – Isabela arregalou os olhos.

- Me conta isso direito, Flávia... – Nicole pediu seria.

- Ontem ela veio me provocar como sempre e disse que eu era ladra de mulher... Que tinha roubado a Amanda e quase morri por tentar fazer o mesmo com a Isabela. – Amanda ficou seria. – Falou que a Isa era bonita e me perguntou se tinha chance com ela... Que dava conta das duas...

- Que vagabunda... – Nicole falou.

- Aquela filha do capeta tá precisando de uma boa surra... – Flávia recebeu um olhar reprovador de Alice e Juliana.

- Precisando de ajuda... – Juliane se prontificou.

- Vou ter uma conversa com essa mulherzinha... – Nick falou com raiva.

- Amor... – Isa a olhou feio. – Deixa isso pra lá...

- Eu não vou agredi-la, Isa... Mas, ela vai me ouvir sim.

- Isso ai mana... Cuida do que é teu... – Paloma incentivou.

Carolina chegou com o Henrique um tempo depois. Os dois encheram Nicole e Emily de paparicos e choraram juntos. Passamos mais algum tempo ali, mas logo precisamos ir embora. Graças à Deus tudo acabou bem. Passei na escolhinha para buscar o meu filho e fomos para o apartamento da Emi. Durante o almoço, Juliana e Becca enchiam a Emi de atenção.

Coloquei o meu pequeno, exausto, para dormi. Cheguei a sala e Juliana e Rebecca conversavam. Sentei ao lado de Becca que estava com os olhos marejados.

- Espero nunca mais passar por uma coisa dessas... – Juliana falou. Ela segurava as mãos da nora.

- Foi um susto, mas graças à Deus terminou tudo bem. – falei.

- Nem posso imaginar se... – suspirou pesado. - Ela tá dormindo. Parece um anjo... – Becca sorriu.

- Minha menina é corajosa e vai esquecer isso rápido... – sorrimos.

Ficamos algum tempo conversando. Liguei para a minha namorada para saber como estavam as coisas. Ela disse que a Nick estava sendo paparicada e que as irmãs não desgrudavam um segundo.

- Paloma não solta o pescoço da Nick. A Isa já riu bastante. – ela dizia e eu sabia que estava sorrido.

- Cadê a Carolina? – sentei na cama.

- Ela foi descansar... As meninas a convenceram, pois ela não queria de forma alguma. – rimos.

- É totalmente compreensível depois dessa manhã movimentada. – falei.

- Essa família não merece passar por essas coisas. Eles são bons demais amor. – Jaque falava de uma forma carinhosa.

- Eles te ganharam, não é amor? – sorri.

- Totalmente amor. Carolina e Henrique me tratam como se eu fosse filha deles. – a voz dela ficou meiga. – As meninas como se eu fosse uma irmã. Eu me sinto muito bem ao lado deles.

- Eu te entendo totalmente meu amor. – peguei uma blusa que ela havia me emprestado alguns dias.

- Cadê o Nando? – ela quis saber.

- Dormindo. Ele estava exausto. – rimos. – A professora me disse que ele estava todo bobo com uma garotinha da turma ao lado.

- Meu pequeno é um romântico? Precisamos conversar sobre isso... – ela falou rindo.

- Precisamos mesmo. Meu filho tá muito novo para arrumar namoradinha. – franzi o cenho.

- Dona Marcela com ciúmes? – ela gargalhou.

- Eu só não quero meu filho pulando etapas... – me justifiquei.

- Sei... – ela continuava rindo. – Vou fingir que acreditei amor...

- Amor... Para poxa...

- Aposto que tá fazendo bico... – pior que eu estava mesmo.

- Não tô... – tentei mentir.

- Sei que tá e deve estar adorável. Ainda vai trabalhar hoje?

- Não... Vou ficar em casa... – deitei.

- Vamos ao centro cultural? Prometi ao Nando. – ela perguntou manhosa.

- Vamos sim amor.

- Passo para buscar vocês as quatro. Tudo bem?

- Perfeito!

Continuamos a conversar e depois nos despedimos. Decidi dormir um pouco antes de ir.

Quatro da tarde e eu já estava arrumada com Nando ao meu lado. Jaque passou para nos buscar, conversou um pouco com Becca e Emi. Nando tagarelava no banco detrás, enquanto íamos para o centro. Ao chegarmos, ele saiu correndo para a sala de música. Paloma e Flávia não haviam ido aquela tarde, mas uma outra pessoa substituiu as duas. Meu filho sentou bem perto do rapaz que dava a aula.

- Ele tem muito talento. – Jaque que me abraçava de lado, falou.

-Algo me diz que esse rapazinho irá me dá muito trabalho. Na verdade, vocês dois... – ela riu.

- Vamos a minha sala... Quero muito te encher de beijos senhorita responsável. – mordi o lábio.

Entremos na sala da Jaque e ela me prensou contra a porta. Buscou a minha boca com fome e eu retribui a altura, pois estava com saudade dos beijos da minha namorada. Me pendurei em seu pescoço, enquanto ela me abraçava pela cintura. O friozinho que eu sempre sentia quando estava em seus braços, brincava em meu estomago. Viajei longe em seu beijo e só paramos quando o ar nos faltou.

- Amo sua boca... – ela falou ofegante.

- E ela ama a sua... – eu estava igual.

- Tenho uma coisa para contar... – ela me encarava e seus olhos estavam em um verde escuro que eu bem conhecia.

- Ruim? – ela balançou a cabeça em negativo. – Então...

- Comprei uma casa que estava a venda de frente para a casa da Carolina... Não quero ficar longe deles e antes de tudo isso acontecer, ela me pediu que não ir para longe deles. – ela me analisou. – Queria que você e o nosso pequeno fossem morar comigo.

Ela me olhava, esperando uma reação, mas eu não conseguia dizer nada. Jaqueline se afastou, seus olhos se encheram de insegurança. Ordenei meus pensamentos para falar alguma coisa.

- Estou sendo precipitada? Me desculpe. Acho que errei em...

- Ei? Calma... – a interrompi e sorri.

- Desculpe... – ela mordeu o lábio e foi impossível não beija-la depois desse gesto.

- É claro que eu aceito. – sorri.

- Oh, Deus... – ela me abraçou. – Você me assustou...

- Acha que eu iria desperdiçar a chance de acordar do seu lado todos os dias?! – ela me apertou.

- Eu prometo que vou cuidar do Nando, vou cuidar de você amor... Eu...

A interrompi  com outro beijo. Esse ainda mais longo que o anterior, fazendo Jaque ficar molinha em meus braços. Não poderia explicar a felicidade que senti. Sabia que erámos muito novas, que aquele passo era algo muito serio, importante, mas eu tinha certeza que queria aquilo. Amo a Jaque com todas as minhas forças e se depender de mim, irei ficar com ela até estar bem velhinha.

- Eu tô muito feliz... – falei com lágrimas nos olhos.

- Ai, amor... Eu to toda boba... – rimos, enquanto nos dávamos vários selinhos. – Podemos mudar esse fim de semana. O que acha?

- Acho perfeito... Podemos chamar a turma da bagunça para ajudar... – rimos.

- Sabe que eu estava pensando o mesmo?

 

Rimos em cumplicidade.

 

 

Fim do capítulo