Capítulo 90
Isabela
16 de fevereiro.
Sai da faculdade por volta das onze da manhã. Esse será meu último ano e eu não poderia estar mais feliz por isso. Começaria o estagio no hospital Cardoso após a minha formação e isso era tão realizador.
Nem posso acreditar no ano que tive. As vezes me pergunto como seria se nada daquilo houvesse ocorrido. E somente imaginar a minha vida sem as meninas, sem a Nicole, faz um vazio estranho surgir. Quando dizem que depois da tempestade vem a calmaria, talvez não seja uma mentira completa. Apesar das experiências horríveis de quase ter sido estuprada e ter tido um namorado que tirou a própria vida e quase levou a Flávia, acredito que amadureci e puder conhecer pessoas maravilhosas. Essa é o meu principal consolo para tudo que vivi e com certeza não haveria recompensa melhor.
Dentro do ônibus, olhava a cidade e sabia exatamente para onde iria agora. Desci em frente a famosa torre da RBA, atravessei a avenida movimentada. Comprei uma entrada e sorri ao ver duas figuras que tanto amava.
- Olhos bonitos... – Flávia me abraçou apertado e me beijou estalando no rosto, me fazendo ri.
- Isa... – Cássia fez o mesmo.
- Vim conhecer as novas biólogas do bosque. – falei sorrindo.
- Oh, claro. Seja bem-vinda senhorita boca tentação. – Flávia imitou uma voz grossa. Cássia a cutucou.
- Espero até hoje a explicação desse apelido. – falei arqueando uma sobrancelha. Cássia arregalou os olhos.
- Pergunta pra amarela... – Flávia riu e Cássia baixou a cabeça.
- Será que podem me poupar do momento constrangedor? – ela pediu.
- Por enquanto... – fingi seriedade.
- Culpa sua! – ela acusou a Flávia.
- Minha? Por que minha? – Flávia fingiu indignidade. – Quem disse isso foi você... Culpe a si mesma...
- Idiota... – elas riram. Eram duas crianças grandes mesmo.
- Vamos conhecer o bosque? – Flávia me chamou. – Tá quase no fim do nosso expediente.
- Vamos... Quero ter a honra. – pisquei para elas.
- É por aqui Milady! – Cássia se enroscou em meu braço e Flávia fez o mesmo.
Passamos alguns minutos conhecendo os lugares que elas eram requisitadas. Passar nem que seja um minuto ao lado daquelas duas era risada na certa. Uma garotinha colocou Cássia em apuros, quando tentou ver umas tartarugas de mais perto. Elas me ofereceram carona e eu aceitei. Voltaria com a Flávia, que apenas fazia rir da amiga.
- Primeiro dia agitado... – ela disse quando estávamos em frente ao bosque.
- Grande ajuda você me deu... – Cássia estava emburrada. – Até mais tarde. Tchau Isa...
- Tchau Cássia. – a mesma saiu pisando duro.
Flávia e eu entramos em seu carro. Ela me convidou para almoçar em sua casa e eu aceitei. Durante o caminho, falamos sobre o meu estagio no hospital. Ela disse que os seus pais fizeram uma ótima escolha.
- É serio, olhos bonitos. Você com todo esse jeitinho de princesa irá conquistar os pacientes. – ela me olhou por breves segundos.
- Tá me deixando sem jeito... – e estava mesmo.
- Deveria tá acostumada a elogios... – ela riu.
- Mas, não estou... – ela gargalhou.
- Coisa fofa você senhorita Pantoja. – buscou a minha mão. – Fica assim não...
- Tudo bem senhorita Freire... – devolvi e ela sorriu.
Chegamos a casa de Flávia e sorri ao ver o carro da Nicole em frente. Chegamos na cozinha, ela me olhou e veio até a mim. Ganhei um abraço demorado e um beijo no canto da boca, pois estavam todos ali.
- Oi amor... – me beija no rosto.
- Oi amor. – fico boba.
- Vamos almoçar... – dona Carolina chama.
- Como foi o primeiro dia? – seu Henrique pergunta a Flávia. Sentou ao lado de Nick.
- Foi bem legal... – ela sorri. – Uma menina tentou pular os cercados para ‘morar’ com as tartarugas. – dou uma risada acompanhada por Flávia.
- Que história é essa? – Jaque pergunta sorrindo.
- Deixa que eu explico...
Fui contando como aconteceu e todos se divertiam com a saia justa. Paloma lamentou pela namorada, mas isso não a impediu de rir da situação. Depois do almoço, Paloma e Jaque foram para o centro cultural, minha namorada e o pai para o trabalho. Flávia se comprometeu de me levar em casa, pois iria para faculdade.
“Pensando em você”.
Sorri ao ler a mensagem. Sentei sobre a minha cama e respondi.
“Saudade! Vem aqui depois do trabalho?”.
Tirei a roupa e joguei dentro do cesto. Decidi tomar um banho rápido.
“Consegue visualizar o meu sorriso com esse pedido? Eu vou com certeza”. Mordi meu lábio.
Nick e eu conversamos durante quase uma hora. Depois a deixei trabalhar, mesmo querendo ficar grudada com ela ao telefone. Fazia alguns dias que sentia a necessidade quase sufocante de estar ao seu lado. Não sei explicar ao certo, mas um aperto estranho estava me incomodando.
Liguei para o Rafa e ficamos algum tempo conversando. Queria tentar distrair um pouco a mente de pensamentos nada bons. Ele estava animado, pois iria completar dois anos com a Eliza e estava todo empolgado fazendo uma surpresa para ela.
Já se passavam das quatro da tarde, quando minha mãe chegou. A ouvi-la me chamar, sai do quarto e fui a sua procura. Estranho ela estar tão cedo em casa. A encontrei tirando algumas coisas das inúmeras sacolas sobre a mesa.
- Oi mãe... – beijei seu rosto. – Cedo em casa... – passei a ajuda-la.
- Estava com muita dor de cabeça... – a olhei. – Calma, passei em uma farmácia e comprei o remédio.
- Acho bom... – ela sorriu. – Te ajudo com o jantar.
- Obrigada meu amor...
- Mãe? – chamei enquanto colocava os ovos na geladeira.
- Diga filha.
- Você sentiu um aperto no peito durante dias? – me virei para olha-la.
- Como assim? – ela ergueu a sobrancelha.
- Faz alguns dias que estou com um pressentimento ruim. Não sei explicar. – mordi o lábio.
- Pode ser algo, mas também pode não ser nada. – ela segurou o meu rosto depois de se aproximar. – Não se martiriza com isso minha filha...
- Vou tentar mamãe... – ela beijou a minha testa.
- O que vai querer pro jantar? – ela sorriu.
- Empadão? – ela gargalhou.
- Como a minha princesa desejar...
Passamos a fazer o jantar. Tentei ao máximo não dá asas aquelas sensações chatas que tentavam me deixar para baixo. Liguei o pequeno aparelho de som que tinha na cozinha e coloquei um pen driver. Logo a voz de John Legend invadiu o ambiente.
Pulling me further, further than I've been before
Making me stronger, shaking me right to the core
Oh, I don't know what's in the stars
Never heard it from above, the world isn't ours
But I know what's in my heart
If you ain't mine I'll be torn apart
I don't know who's gonna kiss you when I'm gone
So I'm gonna love you now, like it's all I have
I know it'll kill me when it's over
I don't wanna think about it
I want you to love me now
I don't know who's gonna kiss you when I'm gone
So I'm gonna love you now, like it's all I have
I know it'll kill me when it's over
I don't wanna think about it
I want you to love me now
Love me now, love me now
Oh, oh, love me now, oh, oh, oh, yeah
Love me now, love me now
Oh, I want you to love me now
Something inside us know's there's nothing guaranteed
Yeah, girl I don't need you to tell me
That you'll never leave, no
When we've done all that
We could to turn darkness into light
Turn evil to good
Even when we try so hard for that perfect kind of love
It could all fall apart
(...)
Flávia
- Olha quem tá aqui... – só posso ter atirado pedra na cruz ou ter roubado o pão da santa ceia. Nem me dei ao trabalho de virar, mas a pessoa inconveniente sentou a minha frente. – Flávia Freire...
- Fernanda, não enche o saco... – revirei meus olhos. – O que devo o desprazer? De novo...
- Só queria te cumprimentar, minha querida. – ela falou ironicamente.
- Se o já fez... Tchau... – ela gargalhou. “Essa mulher não tem vergonha na cara?”.
- Por que a pressa? Gosto da sua companhia. – ela escorou o queixo sobre o punho.
- Sei que sou irresistível, mas já sou comprometida. Desculpe! – dei de ombros.
- Como foi pra você? - essa mulher não toma simancol?
- O que? Você não tem o que fazer? Saco... – mordi meu sanduiche.
- Roubar a mulher de outra pessoa. – trinquei meu maxilar. Pedi a mim mesma paciência para não socar a cara daquela mulher.
- Qual é o seu problema? Me diz... – deixei meu lanche sobre o prato. – Falta de foda? Por que não procura um serviço fácil? Quem sabe isso não melhore essa cara de babaca. – falei firme, sem me exaltar um tom sequer.
- Sua insolente... – ela falou entre dentes. – Vagabundinha que rouba mulher dos outros... Quase morreu por ter tentando roubar a namorada daquele rapaz... Qual o nome dela? – fingiu pensar. – Ah, sim... Isabela. – sorriu. Aquela mulher estava possuída, só podia. – Até eu iria querer tê-la. Linda demais...
- Ela tem coisa melhor. – respirei fundo. – Bem melhor que um idiota psicopata.
- Será que tenho chances? – senti meu sangue borbulhar. – Posso dividir o meu tempo entre Amanda e ela... Sabe.
Não suportei mais aquele sorriso sarcástico e a voz irritante. Peguei o resto do sanduiche, que estava cheio de ketch*p e maionese, atirei na cara da vagabunda e logo joguei o refrigerante em sua roupa.
- Vagabunda... – vi os olhares caírem sobre mim.
- Flávia... – olhei e Amanda e Cássia se aproximaram.
- Sua fedelha. Olha o que fez! – ela berrou.
- O que tá acontecendo? – Amanda perguntou me olhando.
- Essa... Garota. Eu vim tentar me aproximar, mas ela se exaltou e fez isso... – se fez de vitima e eu quase pulei no pescoço dela.
- Vão acreditar nela? – olhei de Cássia para Amanda.
- Eu não acredito nessa ai não. – Cássia fuzilou a outra com o olhar.
- Vamos... – Amanda me puxou pela mão.
- Isso não pode ficar assim... – escutei a lunática dizer, e os burburinhos dos alunos.
Amanda e Cássia me levaram até o estacionamento. Sabia que não deveria ter caído na provocação, mas aquela mulher era insuportável. A vontade de voltar e quebrar ela todinha era muito grande.
- O que houve? – Amanda estava irritada.
- Por que tá irritada comigo? – falei ficando do mesmo jeito.
- Me diz o que aconteceu! – ela me fitava firme.
- Vai dizer que acredita naquela vagabunda psicopata? – alterei a minha voz.
- Flávia... Diz o que aconteceu... – Cássia pediu.
- Ei? – antes de abri a boca, minha tia apareceu. O que ela estaria fazendo ali?
- O que faz aqui? – Cássia se adiantou. Amanda estava de cara fechada.
- Vim pedir um favor enorme para a sobrinha mais linda do mundo... – ela me olhou
- Tia, talvez não... –
- É importante... Por favor... – respirei fundo.
- Tudo bem. O que é?
- Cadê as chaves do seu carro? – tirei do bolso.
- Pra que... – antes de terminar a frase, ela pegou as chaves e jogo para Cássia.
- Vem comigo... – ela segurou a minha mão.
- Mas... – me calei. Não iria resolver dizer algo.
Amanda e Cássia ficaram paradas no estacionamento. Olhavam surpresas para a louca que me arrastava. Entrei no carro da tia Juliane e logo ela deu partida. Passamos em casa, ela me mandou pegar o violão. Depois seguimos para o seu apartamento. Verifiquei as horas e eram quase sete da noite.
- Pode me explicar o que vim fazer aqui? – eu queria ter terminado a minha conversa com a Amanda. Estava chateada só de supor que ela acreditou na jararaca da Fernanda.
- Estou terminando de preparar uma surpresa para a Micaela... – somente ai percebi o ambiente todo arrumado. A mesa com toalha branca, as duas cadeiras, os pratos. Algumas pétalas de rosas brancas e vermelhas pelo chão.
- O que exatamente eu tenho de fazer? – arqueei minha sobrancelha. – Vai fazer amor com a sua namorada? – ela sorriu.
- Tá querendo saber demais... – sorri. Minha tia realmente mudou.
- Será um ménage? – perguntei rindo e minha tia revirou os olhos.
- Quero que cante... Quando ela entrar. – abri a boca.
- Nossa tia... – fiquei besta. – Sério?
- Muito... – ela sorriu e era visível ver o amor transbordar pelos olhos castanhos.
- Vai ser uma honra... – falei com sinceridade.
- Ótimo... – ela respirou fundo. – Vem... Precisamos tomar banho. Ela chega em uma hora...
- Ok...
Depois do banho relâmpago que minha tia fez eu tomar, nos encontrávamos em seu quarto, de frente para o espelho. Ela com um vestido preto e longo, justo na cintura e solto nos quadris até os pés, alcinhas finas.
- Você tá linda tia. – eu ainda estava de toalha.
- Não vai se vestir? – ela perguntou.
- Cadê a minha roupa? - indaguei.
- Ali...
Ela apontou para a cama e eu quase tive um treco. Me aproximei da cama, onde a roupa estava, olhei por longos segundos. Não estava acreditando que ela iria me fazer usar uma roupa de homem.
- Um terno? Sério? – ela gargalhou.
- Vai ficar apertado. Prometo. – ela fez cara de gato de botas e eu revirei meus olhos.
- Vai ficar me devendo essa... – peguei as roupas. – Meu Deus...
5 minutos depois.
- Tô ridícula... – ela arrumava a gravata em meu pescoço, enquanto eu a fuzilava.
- Deixa de ser chata... – ela riu. – Tá gostoso... – gargalhou.
- Gostoso? Tá me estranhando tia. Sou gostosa, com ‘a’ no final. – me olhei no espelho. A calça e a blusa ficaram justas. O paletó no tamanho certo. Tudo bem! Admito! Não estava tão ruim assim.
- Já tinha planejado tudo isso? – a olhei pelo reflexo do espelho.
- Sim... Mandei a Paloma me dá as medidas das suas roupas. – abri a boca.
- Tá me zoando? – estava incrédula. Ela deu de ombros.
- Queria que tudo fosse perfeito. Quero que minha rainha tenha uma noite a altura. – os olhos dela brilharam.
- Sabe... Ainda é estranho ver a minha tia pegadora toda boba. – ela sorriu. – Cadê a música?
Ela entrou em seu closet, demorou poucos segundos e me entregou um papel. Li o titulo e sorri, pois estava com aquela música e seus acordes em minha mente. Já havia tocado ela para a minha loira.
Ouvimos a campainha.
- Ela chegou!
Fim do capítulo
Oiiiiie lindas...
como estão??
desculpem a demora na postagem.
tivemos uns probleminhas, nos deu
um bug digamos assim na hora de escrever...
faltam apenas cinco capítulos pro final....
poise, já estou com o coração apertado...
obrigada a todas que ainda comentam... vcs são demais.
Beijos
LEH CORREA E LUH KELLY.
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Bfr_Laura
Em: 16/11/2016
A Nick é a mais sensata sem duvidas, mas com certeza se for algo com Isa ela vira bicho. Não é atoa que essa nojenta da Fernanda lembro da Isa assim, ja quero ler logo o proximo. Volta aqui Leh
Resposta do autor:
Nick faz de tudo pela Isa, até virar bicho mesmo. kkkk
ela que não se meta com a Isa, senão
verá o furacão Nick pra cima dela. rsrsrsr
Beijos
Luh.
lenna11
Em: 16/11/2016
Aí o que será que vai acontecer a Isa tendo esses pré sentimentos não é à toa!
Eu teria quebrado a cara dessa Fernanda com certeza, e a Flávia de paletó kkkk devia tá um charme kkkk!
Resposta do autor:
Vamos aguardar... espero não ser nada demais.
Essa Fernanda ta mesmo merecendo... pra ver se
assim toma vergonha nessa cara. rsrsr
Sim, Flavinha tava lindona. kkk
Beijos.
Luh.
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