Capítulo 35 – Auto aceitação
Fernanda estava em sua sala analisando algumas propostas a respeito de uma possível exposição onde Jasmine e outros colegas iriam participar e que seria patrocinada pela Actualites. A fotógrafa havia terminado a mudança no dia seguinte a noite da boate e elas já estavam a um dia inteiro morando juntas. Todos podiam notar a diferença na editora-chefe; estava mais calma, menos irritada, mais paciente e, definitivamente, mais alegre. Já Ana Júlia tinha ‘evitado’ um pouco Alexya no dia anterior. Após ser deixada em casa pela advogada elas trocaram algumas mensagens. Enquanto a de olhos verdes tentava iniciar algo Ana Júlia arrumava pequenas desculpas, mas ainda dava sinais.
Faltava pouco menos de uma hora para o horário de almoço quando a porta do elevador se abriu revelando a advogada usando um terno feminino na cor verde clara, uma camisa social cinza com saltos da mesma cor, óculos de grau no rosto, os olhos destacados com maquiagem e a boca com um batom claro. Todos os olhares se voltaram para ela e Karla, que estava em frente a uma mesa perto das portas metálicas, se adiantou para cumprimentar a bela mulher com um largo sorriso. A morena guardou o celular que tinha nas mãos no bolso interno do terno e sorriu para a ruiva. Fernanda havia acabado de responde-la que estava em sua sala e que não queria ser incomodada com os dramas da amiga com sua assistente mandando a advogada ir direto falar com Ana Júlia.
- Bom dia Sra. Woods – falou Karla se aproximando mais do que o necessário fazendo Alexya analisa-la ao notar o olhar que lhe era destinado.
- Apenas Alexya – disse ela com um sorriso de canto e estendendo a mão para a ruiva se controlando para não sorrir mais quando a ideia lhe passou pela cabeça – Você se chama?
- Karla – respondeu ela sorrindo e segurando a mão da advogada que chegou um tanto mais perto.
- É um prazer, Karla – falou ela sorrindo – Poderia me informar se a Srta. Guimarães se encontra? Preciso confirmar com ela alguns detalhes a respeito de seu depoimento para o processo contra um fotógrafo.
- Oh claro – falou Karla sacudindo levemente a cabeça para limpar os pensamentos inapropriados que lhe percorreram a mente vendo o sorriso da advogada – Tenho certeza de que ela esta na sala dela. Eu a acompanho até lá – se ofereceu ela fazendo Alexya sorrir internamente.
Karla guiou o caminho até a sala de Ana Júlia e bateu na porta chamando a amiga que, concentrada num relatório e sabendo quem era, nem se incomodou em erguer o rosto do papel em sua mesa. Karla entrou e deixou a porta aberta para Alexya entrar também, só voltando a se pronunciar quando estava quase na mesa de Ana Júlia.
- Ana, a Alexya veio falar com você – falou Karla com um enorme sorriso olhando para a advogada.
Ana Júlia arregalou os olhos e ergueu o rosto assim que ouviu o nome a morena e engoliu em seco vendo a figura da advogada parada em frente a sua mesa com uma pasta nas mãos enquanto retirava os óculos do rosto com um mínimo sorriso para não encarar diretamente os olhos da assistente. A ruiva não notou nada por estar distraída apreciando os gestos da advogada.
- Você teria um tempo pra falar comigo hoje, Srta. Ana Júlia? – perguntou ela quando encarou os olhos da menor que se mantinha de olhos arregalados.
- Como você disse que é sobre o processo, então ela com certeza tem – falou Karla ainda sem encarar a amiga que conseguiu desviar o olhar da advogada para encarar sua colega de trabalho.
Ana Júlia estreitou os olhos vendo o sorriso da ruiva que, descaradamente, olhava o corpo da advogada. Já Alexya deu um sorriso um tanto quanto convencido ao notar o olhar da assistente. Sorriso esse que só fez a expressão de Karla se tornar mais sonhadora e irritar ainda mais Ana Júlia o que, por consequência, aumentou o sorriso de Alexya. Antes que perdesse o seu controle e fosse rude com a amiga Ana Júlia resolveu aceitar a conversa e mandar Karla de volta ao trabalho.
- Karla tem razão, o processo é mais importante do que o que posso estar fazendo agora – falou ela colocando os papéis de lado de olhando novamente para a amiga com um sorriso forçado – Karla, você poderia fechar a porta quando sair? Não é um assunto pra deixar a redação toda sabendo.
- Claro Aninha – respondeu a ruiva ainda encarando a boca da advogada e mordendo seu lábio inferior por causa disso.
- Eu realmente agradeço a gentileza de ter me acompanhado – falou Alexya encarando a ruiva sabendo que tinha o olhar de Ana Júlia sobre si e dando um sorriso.
- Foi um prazer – falou Karla se aproximando – Venha mais vezes, sua presença nos alegra – disse ela chegando ainda mais perto.
Alexya sorriu e se inclinou cumprimentar a ruiva com um beijo no rosto enquanto olhava para Ana Júlia que estava começando a ficar vermelha de raiva. Para não correr riscos desnecessários a advogada se limitou a sorrir e não devolver o flerte que Karla havia jogado para ela. Mas encarou a ruiva até que a mesma deixasse a sala fazendo com que Ana Júlia ficasse com ainda mais raiva.
- O que quer aqui? – perguntou ela num tom frio e, claramente, irritado – Eu sou só uma testemunha, não há nenhum motivo para você ter que falar comigo sobre o processo.
- Na verdade há – disse a advogada deixando sua pasta sobre uma das cadeiras em frente a mesa – Mas posso fazer isso a qualquer hora. Vim aqui saber porque está me ignorando – declarou ela parando entre as duas cadeiras, apoiando as mãos na mesa e se inclinando na direção de Ana Júlia; os óculos na mão direita e os dois botões abertos da camisa deixando um decote que, pelo ângulo em que era visto pela menor, expunha uma minúscula parte do sutiã preto contrastando com a pele branca.
- Eu nunca estive te ignorando – falou Ana Júlia depois de segundos, quando conseguiu encarar novamente os olhos verdes – Tenho estado muito ocupada para aceitar seus convites.
- Você está brincando comigo – disse Alexya pausadamente e depois respirou fundo – Quando te deixei em seu apartamento aquele dia me disse que ligaria pra mim depois do trabalho. Eu te mandei uma mensagem ao meio dia apenas porque não quis ficar um dia todo sem falar com você. Só que você não me respondeu e também não me ligou. Ontem tentei falar com você pela manhã e me disse estar muito ocupada, pedi para me ligar depois e, novamente, você não me ligou. Eu não gosto de ser enrolada, então me explique porque razão deu essa desculpa. Porque eu sei que as coisas andam calmas aqui na redação.
- Então decidiu vir aqui pedir satisfação? – perguntou Ana Júlia sorrindo e se deixando recostar na cadeira ao notar que o motivo da visita era Alexya estar nervosa por não ter respostas.
Alexya soltou um riso sem humor sair e abaixou a cabeça, começou realmente a rir e então se reergueu ficando ereta ao encarar Ana Júlia.
- O que você quer de mim, Ana Júlia? – ela perguntou num tom sério e calmo.
- Por que acha que eu quero algo? – questionou a menor erguendo as sobrancelhas, ela queria provocar Alexya novamente.
- Sabe – disse a advogada suspirando – Talvez eu devesse ter me interessado pela sua colega. Ela não estaria brincando comigo e eu não precisaria me preocupar com infinitas possibilidades dela estar tentando me afastar – disse ela puxando um envelope parto de sua pasta de couro e soltando sobre a mesa de uma Ana Júlia com os olhos arregalados em surpresa – Leia e depois me confirme se concorda com as palavras para o seu primeiro testemunho, mas ligue para o escritório. Quando resolver conversar comigo, de verdade, daí então me ligue no meu celular. Você sabe qual, é aquele número que veio insistindo nos dois últimos dias pra ter um momento da sua atenção.
Quando terminou ela pegou sua pasta e recolocou os óculos se virando para sair. O leve som das rodas de uma cadeira sendo arrastada e a voz chamando seu nome a fez parar, mas Alexya não se virou. Segundos depois Ana Júlia parava em frente a ela com uma expressão confusa e temerosa.
- Porque todo esse trabalho de vir até aqui me confrontar? – ela perguntou e sua voz saiu mais firme do que ela mesma esperava – Poderia simplesmente ter esquecido e parado de me procurar, mas ao invés disso aqui está você, na minha sala, me pedindo respostas que eu não tenho.
- Você está confusa – falou Alexya num tom ainda calmo, mas um tanto frio e sem emoção – Gostou do que fizemos antes, mas depois de ficar longe começou a pensar e está se perguntando se não foi tudo apenas pelo calor do momento, pela emoção de fazer algo novo. Não sabe se sente algo real ou apenas um instinto de aventura pelo desconhecido – a cada palavra dita pela advogada menor Ana Júlia se sentia e seus ombros ficavam cada vez mais encolhidos até que ela não pode mais sustentar o olhar da morena – Você está com medo. Eu entendo. Auto aceitação é uma droga até que realmente conseguimos nos aceitar – falou ela mais gentilmente e tocou de leve o queixo da menor fazendo-a erguer o olhar – Jasmine me disse que você nunca se sentiu atraída por mulheres. Talvez eu seja a única, a última; talvez não. Não tem como saber, mas você pode decidir que, apesar de tudo, não quer isso pra você. Nem eu e nem ninguém tem direito de influenciar suas vontades. Eu só não posso esperar pra sempre, sei quando é hora de me retirar do jogo.
Assim que terminou de falar ela se inclinou deixando um beijo na testa de Ana Júlia, mas quando foi se afastar as mãos da menor agarraram as laterais do blazer que a morena usava mantendo-a perto. Ana Júlia tentou se erguer para beijar o rosto da morena, mas Alexya a segurou pelo ombro e afastou o rosto. Sorriu de forma triste e negou com a cabeça, ela queria que Ana Júlia realmente pensasse a respeito e não apenas agisse por impulso quando a tinha por perto.
- Pense e quando tiver uma conclusão definitiva me procure – avisou a advogada com um mínimo sorriso.
- Ao menos me deixe te acompanhar até o elevador – pediu Ana Júlia em voz baixa e a mais alta concordou.
As duas saíram da sala e andaram lado a lado pelos corredores até a recepção e o elevador. Ambas davam passos curtos e lentos, as duas querendo prolongar o momento. Uma porque pensava que poderia ser o ultimo que tinham e a outra porque mesmo com tantos pensamentos confusos na cabeça sentia a necessidade de impedir que a outra fosse embora.
Ana Júlia estava com medo sim, ela já havia admitido isso para si mesma. Quando se viu longe da presença da advogada sua mente começou a raciocinar a respeito de todos os pontos desfavoráveis e duvidosos de seus sentimentos pela morena. Ela nunca tinha sentido atração por mulheres. E se o que sentia por Alexya fosse apenas curiosidade? E se fosse passageiro? E se depois de entrar de cabeça nisso ela descobrisse que continuava a preferir e querer homens? Muitos E se’s rodavam em sua mente desde o instante em que colocou a chave na fechadura de seu apartamento.
Ela viu a amiga contente enquanto arrumava suas malas e se lembrou da certeza que ela sempre teve a respeito de si mesma, sua sexualidade, seu interesse por mulheres. Para Jasmine sempre foi tudo tão claro e certo que Ana Júlia se questionou a respeito do quão real era o que ela estava sentindo. Como acreditar em algo que surgiu num rompante tão inusitado? Ela se lembrava da fotógrafa dizendo que no começo nem mesmo ela era tão certa de tudo, mas ela própria sempre foi muito certa de si mesma no seu gosto por homens. Ela não entendia como poderia ser tão difícil pra ela realizar que desejava uma mulher; não deveria ser se fosse algo real.
Todo o caminho ela teve sua mente bombardeada por si mesma com imagens e memórias, cenas e conversas. Mas foi quando chegaram ao elevador que algo se sobressaiu preenchendo Ana Júlia com uma realização que ela sentia que poderia lhe trazer todas as certezas que ainda não tinha. Alexya apertou o botão solicitando o elevador naquele andar e Ana Júlia se virou para ela tocando seu antebraço para lhe chamar a atenção.
- Você e Jasmine falaram sobre auto aceitação – disse ela encarando os olhos verdes com uma expressão mais calma do que qualquer outra que tenha lhe cruzado o rosto desde que conheceu a advogada – Porque? Qual a razão disso ser tão importante?
- Eu não sei ela – começou Alexya com um sorriso um tanto mais real – Mas pra mim é a parte mais importante. É impossível ser feliz se não aceitamos aquilo que somos, o que realmente somos e não o que os outros pensam de nós. Existem infinitas possibilidades de definições que nós aplicamos uns aos outros pra nos definir, hetero, homo, bi, branco, negro, entre diversas outras. Não importa realmente qual se aplique, só ficamos em paz quando nos aceitamos.
- Significa que eu não me aceito? Por isso sinto medo? – perguntou ela diretamente, mas sua expressão continuava calma.
- Eu não sei o que você está tentando usar pra se definir, então não posso dizer se você se aceita ou não – falou Alexya vendo as portas se abrirem – Mas acho que tem medo porque ainda não entendeu que continua sendo a mesma pessoa de sempre. A palavra que a sociedade usa pra te definir não muda quem você é. Apenas serve como base para os outros. Talvez você só não tenha notado que a essência da Ana Júlia de hoje continua sendo a mesma da Ana Júlia de sempre.
Alexya entrou na caixa de metal e se virou de frente para a porta e para Ana Júlia apertando o botão do subterrâneo onde estava estacionado seu carro. Tinha um sorriso gentil, mas um pouco triste quando encarou a de cabelos claros. A expressão de Ana Júlia se manteve neutra enquanto elas se encaravam, até que a porta fez um som quando o mecanismo de fechamento foi acionado. A mais baixa deu um pequeno sorriso e balançou a cabeça num movimento mudo de concordância, como se tivesse acabado de aceitar algo. Então a mão se estendeu entrando entre as duas portas impedindo seu fechamento e fazendo-as voltarem a se abrir completamente enquanto ela avançava para dentro do elevador sob o olhar confuso da advogada. Ela se aproximou e ergueu a outra mão até o rosto da morena enquanto seu sorriso se tornava alegre e divertido.
- Não vou mais, nem quero, tentar achar algo que me defina – ela disse em voz baixa enquanto colocava a outra mão perto do ombro da mais alta – Obrigada por ser paciente – ela sussurrou antes de se erguer mais e colocar seus lábios sobre os de Alexya que pode ver dentro do olhar dela a certeza que esteve buscando desde a noite da boate antes de retribuir e puxar o corpo menor pela cintura.
As portas metálicas se fecharam e o elevador começou seu longo caminho até o subsolo, mas as duas em seu mundo particular não notaram o que deixavam para trás. Afinal, o elevador se encontrava numa área aberta que poderia ser vista de quase toda a redação. Um grupo de aproximadamente 14 pessoas cujos olhares haviam sido atraídos para as expressões abatidas das duas enquanto elas percorriam o corredor entre a mesa e as cadeiras da recepção e a parede de vidro que separava o resto dos escritórios. Quando o elevador desceu deixou lá em cima diversos funcionários com olhos arregalados de surpresa, uma Karla tão vermelha quanto seu cabelo e uma Fernanda sorridente e feliz pelas amigas; porque sim, para ela Ana Júlia já estava se tornando uma boa amiga.
Fim do capítulo
Vc me convencem tão fácil kkkkkkk
Antecipei o capítulo (algumas horas, mas antecipei hehe)
Próximo na quinta (pq quero ter outro pronto pra sábado e ser boazinha com vcs kkkk)
Espero que gostem
Bjs ;]
Comentar este capítulo:
rhina
Em: 11/11/2016
Olá.
Boa tarde.
Como está?
Autora cada vez melhor....acerta o ponto.....fabuloso.
Demais.
Estou gostando muito da linda Ana Julia.
Beijos.
Rhina.
Resposta do autor:
Oi =]
Boa tarde, estou bem, obrigada por perguntar, e vc?
Eu sempre me esforço hehe, que bom que está gostando
Bjs
;]
[Faça o login para poder comentar]
Palas F
Em: 08/11/2016
Queee coisa mais fofa esse cap !!!
Rsss adoreiii... Ps.: Essa Alexya é muito fdp na arte de provocar, cara kkk
Resposta do autor:
Estou me especializando em fazer coisas fofas kkkk
;]
PS: Alexya definitivamente é mt fdp em provocar (principalmente a Ana Júlia hehe)
[Faça o login para poder comentar]
line7
Em: 08/11/2016
Kkk..persuasiva , firme a Alexya essa é mulher..rsss..e Ana Júlia em uma confusão só..kk..é difícil pra ela, pó a Ruivão ficou chupando dedo,perdeu play boy . .kkkkkk..até linda : )
Resposta do autor:
Sim kkkk Alexya definitivamente é essa mulher hehe
Ruiva ficou de lado kkk tadinha
Até ;
;]
[Faça o login para poder comentar]
maria lucia
Em: 08/11/2016
Excelente capitulo! Aguardando o proximo com ansiedade.....roendo as unhas.kkkkkkkkkkk
Resposta do autor:
Kkkkk Ainda bem que voltei rápido, assim não deve ter roido todas as suas unhas kkkkkk
;]
[Faça o login para poder comentar]
Tatta
Em: 08/11/2016
Gosto da firmeza de Alexya... a forma como ela é assertiva... determinada! Poderia dizer que até persuasiva, pq os argumentos dela fazem AnJú ser pratica e objetiva... rsrsrs
to shippando esse casal!
Resposta do autor:
Tenho que dizer que Alexya está sendo a minha persoangem preferida kkkkkk
Tbm shippo mt esse casal kkk
;]
[Faça o login para poder comentar]
ILOVEBOOKS
Em: 08/11/2016
Sério vai nos deixar nesse suspense mesmo ? Nos faça feliz por favor, libera outro capítulo.
Resposta do autor:
Sério kkkkk Deixei mesmo no suspense hehe
;]
[Faça o login para poder comentar]
Ada M Melo
Em: 08/11/2016
kkkkkkkkkk o mundo é gay só faltava Ana Julia saber.... amei o cap!!!
Resposta do autor:
Siiim kkkkk Ana Júlia já ta entendendo isso
;]
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]