Cássia

A noite com a minha namorada foi incrível até o momento em que a minha querida cunhada me expulsou do quarto da Paloma e me mandou dormir com a Jaque. Eram duas da manhã quando a porta se abriu. Jaque se remexeu ao meu lado e nós duas olhamos surpresas para a pessoa que entrou.

- O que foi? – Jaque perguntou.

- É... Paloma me fez vir aqui... – Flávia torceu o beiço.

- Pra que? – fiquei curiosa.

- Levanta logo daí e vai lá com ela... – fez careta. – A Nick já foi dormir.

- Ok... – levantei. – Até amanhã... Jaque. – ela riu.

- Até amanhã meninas...

Saímos do quarto e a Flávia continuava com cara amarrada. Não entendi por que e até tive medo de perguntar. Ela me disse boa noite e saiu pisando duro. Segurei apreensiva a maçaneta e por fim abri. Não demorou nada para eu ser atacada por Paloma e nem preciso dizer o que aconteceu, não é?

Só posso dizer que nunca havia visto a minha namorada daquele jeito e se disser que não adorei, estaria mentindo na maior cara de pau. Tinha certeza que no dia seguinte estaria totalmente dolorida e marcada, mas não estava nem ai.

Durante o café da manhã, tentei a todo custo esconder as marcas do crime. Nicole me olhava como se tentasse entrar na minha cabeça e sugar toda a informação que ela queria. Engoli em seco várias vezes e muitas achei que morria engasgada com a comida. Meu sogro foi trabalhar e minha sogrinha ficou sendo paparicada por Flávia e Paloma.

Aqueles dias passaram rápidos. O comercial que já estava passando desde o dia seguinte a gravação continuava a ser repeti. Flávia não quis me dizer o motivo de ter ficado brava naquele dia. Paloma continuava me enlouquecendo. O encontro entre Marcela, Nando e o pai aconteceu e não foi nada amigável. Logo estariam na frente de uma juíza para o desfecho daquele que considerei ser um pesadelo.

- Tá tudo bem? – Flávia me perguntou. Estávamos deitadas sobre a sombra da mangueira do quintal da minha casa.

- Só pensando... – respondi deitada sobre sua barriga. Paloma havia ido a um dia de salão com a Amanda e levaram junto a Becca. Jaque estava resolvendo algumas coisas no centro cultural. Ela foi apresentar o lugar ao cara que iria ajuda-la com tudo referente.

- Animada para fazer o estagio? – ela fazia carinho em meus cabelos. Sorri.

- Bastante. Fiquei feliz que vamos fazer a especialização juntas e na mesma faculdade. – eu não queria ficar sem a minha companheira de todas as horas.

- Tenho dois grandes motivos para permanecer lá e você os conhece. – ela apertou minha bochecha. – Parceira... – rimos.

- Dá pra acreditar nesse ano que passou? – perguntei vendo uma folha da mangueira cair.

- Esse ano teve de tudo... – ela suspirou.

- Tudo mesmo... – lembrei da Paloma. – Encontrei meu amor e você o seu... – lembrei das meninas. – Montamos uma tropa de dá inveja a qualquer país... – rimos. – Nossa Emi voltou... Outras pessoas apareceram. A Nick veio para o lado bom da vida e com muito estilo. – gargalhamos.

- Bota estilo nisso. Escancarou as portas de Nárnia com uma namorada linda... – lembrei da Isa. – Elas são tampa e panela...

- Verdade... – sorri. – Temos as melhores... As mais ciumentas e lindas namoradas... – encarei a Flávia. – Não foi tudo um mar de rosas, mas tenho a impressão que ainda iremos aprontar muito.

- Disso não tenho a menor duvida. – ela me fez deitar sobre seu ombro. – Coisa amarela?

- Hum? – fiz um som nasal.

- Será estranho dizer que te amo? – nos encaramos e passamos a gargalhar.

- Vai... Mas, não vai sair daqui...

- Te amo e quero que nossa amizade seja passada para a futura pirralhada. – fiquei emocionada, mas não ia dá uma de chorona.

- Te amo sua branquela cheia de pintinhas... – ela revirou os olhos. Odiava a pintas que tinha no corpo.

Ficamos mais algum tempo com aquele dialogo meloso e rimos de nós mesmas. Quando já era noite, ela voltou para casa e eu recebi uma mensagem da minha namorada me pedindo para não esquecer a surpresa de aniversario da Nicole que seria no dia seguinte. Depois que respondi, tomei um banho e desci para jantar com os meus pais.

23 de Janeiro de 2016.

Estávamos quase todas no apartamento da Juliane. Ela fez questão de oferecer o lugar para a festa. Havia tido uma comemoração entre eles na casa da Flávinha, mas a verdadeira festa aconteceria daqui a pouco. Isabela ficou encarregada de distrair a namorada, enquanto deixamos tudo apresentável.

- Vamos suas sapatas... – olhamos para a Juliane que estava sentada despreocupada no sofá. - - Que foi? Não... Esperem! Micaela! – ela berrou o nome da namorada.

2 minutos depois...

- Agora fica aí quietinha... – Camila sorriu sarcástica.

- Gente... Que maldade. – Micaela olhava com pena para uma Juliane amordaçada e presa com fita adesiva.

- Muito ajuda quem não atrapalha... – Flávia piscou e voltamos ao trabalho.

Terminamos tudo e nos arrumamos em um alvoroço só. Amanda e Emi desamarram a Juliane e foram entrar na loucura. Isa mandou uma mensagem dizendo que já haviam chegado. Desligamos as luzes e esperamos elas entrarem.  Ouvimos o barulho da porta e ficamos em silencio absoluto.

- Amor? Tem certeza que tem alguém aqui? – Isa riu. – Tá tudo escuro...

- Surpresa! – gritamos juntas.

- Aaaaaaaaaaaaaah... – minha cunhada levou um baita susto.

A festa começou, demos os presentes a Nicole que ficou muito emocionada com tudo. Agradeceu bastante e abraçou todas nós. Passamos a dançar bastante e riamos muito do jeito sem noção que a Sam e o Fábio dançavam. Marcela e Jaque conversavam ao pé do ouvido. Micaela e Juliane haviam sumido. Flávia e Amanda dançavam coladas, Nick e Isa era um amorzinho só. Camila estava com cara de bunda,  Emi e Becca conversavam na sacada, enquanto eu me matinha distante, tentando não olhar muito para a Paloma. A garota estava testando todo o meu autocontrole.

- Vamos brincar de ‘eu nunca’? – Juliane surgiu com a namorada grudada em sua mão. As duas estavam visivelmente em clima de pós amasso. Olhamos uma para a outra.

- Não! – respondemos juntas.

- Por quê não? – ela perguntou com a sobrancelha arqueada.

- Já esqueceu o que rolou da última vez? – Flávia perguntou. Eu lembrava e não estava nem um pouco afim de que acontecesse novamente. Paloma com raiva era a coisa mais assustadora do mundo.

- Dessa vez vai ser diferente. – ela sorriu.

- Tem certeza que tá afim de desenterrar teu passado com uma namorada tão brava quanto a Micaela? – Emi perguntou da sacada. Juliane pareceu pensar por um instante e imediatamente arregalou os olhos, sorrindo amarelo.

- Pois é... – engoliu em seco. – Vamos deixar isso pra lá...

-Tem tanta coisa assim no teu passado? – Micaela fechou a cara. Talvez agora ela soubesse como é a sensação de se estar em uma saia justa.

- Minha vida é um livro aberto...

- Livro de pornografia... Só se for... – Camila murmurou baixinho ao meu lado.

Acreditem vocês ou não, elas iniciaram uma discussão sem noção. Como adoro ver uma discussão, sentei mais próximo e passei a observar tudo. Começaram somente entre as duas o jogo. Sabíamos que não iria prestar, mas eu estava louca para ver até o fim.

Marcela

29 de Janeiro.

O dia da audiência chegou tão rápido. Eu não imaginava que tudo se agilizaria tão depressa. O advogado expos todos os prós e contra. Eu estava muito nervosa com o desfecho desse dia. Não queria ficar sem meu filho. Não era justo tirarem o meu pequeno de mim. Emi também tirou aquela manhã para estar ao meu lado. Todas estavam ali para me dá uma força.

Recebíamos olhares nada agradáveis de Caio e os pais. Jaque segurava com delicadeza a minha mão, enquanto tentava me tranquilizar. Flávia e Paloma brincavam com o Nando, quando fomos chamados.

- Já volto filho... – beijei o seu rosto.

- Vai dá tudo certo amor. – abracei a minha namorada.

- Obrigada... – sorri e beijei sua bochecha. – Eu te amo...

- Eu também te amo...

- Estaremos aqui... Ninguém tira nosso mascotinho. – Flávia falou.

A coisa não estava nada fácil. Caio jogou o fato de eu gostar de mulher sem dó e nem piedade. Vi que a juíza pareceu não aprovar tanto aquela verdade. O advogado me pedia calma a todo momento. O desespero passou a aumentar e de repente me vi em um beco sem saída. Eu ter fugido da minha família também não ajudou em nada.

- Peço que a excelência ouça o menor... – meu advogado pediu.

- Tragam o menor. – um policial saiu da sala e logo voltou para a mesma com o Nando em sua mão.

Respirei fundo diversas vezes. A juíza passou a conversar e fazer algumas perguntas para o meu filho. Caio me lançava um sorriso vitorioso e eu senti nojo dele. Prendi minha atenção quando uma pergunta foi feita.

- E com quem você gostaria de ficar? – a juíza perguntou em tom brando.

- Com minha mãe... – ele me olhou e sorriu. Senti meus olhos marejarem.

- E por que com a sua mãe? – ele não esperou para responder.

- Porque ela me ama muito... – deixei minhas lágrimas caírem. – E porque gosto muito da tia Jaque. Ela me chama de homenzinho... – ficou todo vaidoso. – Não quero ficar longe delas e nem das minhas outras tias... Elas são maneiras... – sorri.

- É quem é Jaque? – senti o coração parar.

- A namorada da minha mãe... – senti o olhar de todos. – Ela brinca comigo e me deixa fingir que sou piloto. – a juíza parecia bem surpresa. Nando sempre foi precose em tudo.

- Gosta mesmo dela?

- Muito! Ela disse que quando eu crescer vou ser o homem da família. – por um instante jurei que vi um sorriso se formar na mulher que era muito seria.

- Não gosta do seu pai? – ele olhou para Caio que estava com uma cara fechada. O advogado falou algo em seu ouvido e a feição dele mudou.

- Não sei... – coçou a cabeça. – Ele dizia coisas estranhas da minha mãe...

Fiquei totalmente surpresa. Vi Caio engolir em seco e passar a mão sobre os cabelos. Me olhou por breves segundos, mas logo desviou. A juíza ergueu uma sobrancelha.

- Excelência... A senhora não deveria levar em consideração...

- Silencio, senhor advogado. – ela o interrompeu. – Quero ouvir o que o menor tem a dizer. Que tipo de coisas o seu pai dizia da sua mãe, Fernando?

- Que ela não me amava, que não me queria... Que me trocaria por uma menina, porque não gostava de meninos... – ele cruzou os bracinhos. – Eu não gostei... Minha mamãe me ama... Ela sempre diz isso.

- Quando ele lhe disse isso?

- Todas as vezes que eu ia dormir senhora...

De repente uma raiva subiu por meu corpo. Queria levantar e socar a cara daquele infeliz. Fechei meu punho com força e o encarei respirando pesado. O advogado pareceu sentir a minha revolta e pós a mão em meu ombro.

- O senhor disse isso ao seu filho? – a juíza ficou perplexa. – Que tipo de pai fala umas asneiras dessas ao próprio filho? Assim que queres a guarda do menor?

- Excelência... Bom... – ele gaguejou. – Não quero que o meu filho fique sob os cuidados dessa... Sapatão... – ele se alterou. A juíza pediu silencio e encerrou:

- Declaro que a guarda do menor fique sob a responsabilidade da mãe, Marcela Azevedo.

Nando correu para me abraçar e eu o apertei forte. A felicidade me invadiu e eu chorei de alivio. O peguei no colo, pois o que eu mais queria era sair dali. Encontrei as meninas no corredor e abri o maior sorriso.

- Eu disse que ele não iria nos deixar... – Flávia pegou o meu pequeno no colo. A felicidade delas era visível. Me sentia parte daquele laço a cada dia que se passava.

- Marcela... – fechei meus olhos ao reconhecer aquela voz.

- Pai... Mãe... – eles alternavam os olhares entre Nando, que agora estava com a Jaque, e eu.

- Como pode ter sido tão irresponsável? – minha mãe me olhou com raiva.

- Sabe como ficamos preocupados com o nosso neto?

- Esse não é o lugar e nem a hora...

Os pais de Caio levantaram-se e me olharam com pouco caso. Respirei fundo, não querendo perder a minha razão. Olhei para as meninas, olhei para a Jaque e ela sorriu, aquecendo meu coração.

- Olha só... – virei de frente para eles novamente. – Eu adoraria ficar e bater boca como nos velhos tempos. – fui irônica. – Mas, vou levar o meu filho para casa e voltar ao trabalho. Nos vemos um outro dia com muito prazer, mas hoje não...

- Continua a mesma arrogante... – meu pai acusou.

- Pode ser... – respirei fundo. – Certas coisas nunca vão mudar... – eu me fazia de forte, mas na verdade era doloroso ser olhada daquela forma por eles.

Dei as costas para eles que pareciam acreditar em minha atitude. Segurei a mão da Jaque e saímos daquele lugar. Eu só queria curtir o momento de alegria e a grande vitória daquela manhã.

- Vamos ao McDonald’s? – chamou Emi.

- Vamos sim tia... – Nando se empolgou e eu sorri.

- Parabéns... Eu tô orgulhosa. – Jaque sussurrou em meu ouvido.

- Obrigada...

Fim do capítulo