Capítulo XIV Ela é nossa escudeira
Carol olhava seu reflexo na água da piscina, que se misturava ao de Alfa. Estava acariciando a cadela e pensando nas conversas que teve ontem. Olhou para Alfa com muito amor e lembrou de quando á comprou. Era apenas uma filhotinha, a menor de oito filhotes e única fêmea da ninhada. Contudo era a mais esperta... A pequenina foi de encontro a Carol, passou por entre as suas pernas e sentou altiva ao seu lado. Quando um de seus irmãos tentou se aproximar da moça, Alfa acoava em posição de guarda. Não teve como não se apaixonar, pois lembrou que Manuela já tinha nomes para quando tivesse um cachorro, - já que Malvina proibia animais à sua volta - se fosse macho seria Ômega e se fosse fêmea era Alfa. Carolina teve certeza que não existiria uma cadelinha mais alfa que aquela.
Abraçou forte Alfa, enfiando a cara no pescoço dela. Alfa por sua vez retribuiu, pois recostou sua cabeça no ombro de Carol. As lembranças continuavam a surgir...
Naquela época Carolina tinha apenas vinte anos, mas sabia exatamente o que queria para si... Antes de chegar em casa, passou por um joalheria... Com Alfa no colo e uma pequena caixinha, pendurada na coleirinha dela, seguiu para casa. Desde que Manuela havia feito dezoito anos, elas moravam na casa da piscina. Que ficava próxima a piscina da família Portman.
Manuela assim que contou para seus pais sobre a relação com Carol, Malvina pirou. Carol frequentava a casa de Manuela juntamente com Ana... Mas a partir do dia que Manu contou que estavam namorando, Malvina passou a dificultar o máximo que podia. Francisco ao contrário de sua esposa, não via maldade alguma nas duas se relacionaram, mas não era fácil lidar com a mulher. Foi então que em uma noite, após ouvir Manuela chorando muito... Francisco teve uma conversa com sua filha, falando para ela aceitar a proposta de Carol e ir morar com ela, pois ele daria todo o apoio.
Carolina, nessa época tinha apenas dezoito anos, sabia que não teria como sustentar as duas, então começou a estagiar na empresa do pai, no setor projetista. Assim a jovem trabalhava de dia e estudava a noite. Conversou com seus pais e os convenceu de lhe cederem à casa da piscina, pois ela tinha planos de levar Manu morar com ela. E privacidade seria o essencial, apesar de Samira e Robert discordarem, pois amavam muito Manuela, e não viam problema das duas permanecerem na mansão... Até porque ela ficaria vazia demais. Carol expos seus motivos e conseguiu a aprovação dos pais. A jovem queria bancar tudo, mas Robert juntamente com Samira, não aceitou.
- Entendemos você filha! – Disse Robert.
- Mas não iremos compactuar com isso... – Completou Samira – Não há o porquê você se matar desse jeito, se teus pais estão aqui e te apoiam! – Carol estava emocionada com a atitude dos dois.
- Vamos fazer assim: - Sorriu Robert – A casa da piscina é de vocês, como tudo aqui é seu. Mas não aceitaremos que pague nada para nós... Contudo terá que bancar com a comida!
- Concordo meu amor! Esses jovens que querem fugir das responsabilidades... – Falou Samira tentando ficar séria – E por falar em responsabilidades... Robert nós esquecemos de fazer o estoque de alimentos esse mês para a casa da piscina!
- Como fomos esquecer meu amor... Bom vamos logo, antes que o mercado feche! Já que amanhã não será mais nossa responsabilidade os suprimentos. – Sorriram para a filha.
- Vocês não existem! – Disse uma Carol chorando.
- Mas são uma manteiga derretida, esses dois mesmo! – Samira sorriu ao ver o marido e a filha emocionados.
- Carol eu sei que você sabe da nossa história – Robert falou olhando para sua esposa – só tínhamos o apoia da minha mãe... E mesmo assim meu amor – limpou as lágrimas de Carol – foi muito difícil. Até porque já tínhamos você, ou seja, nossa preocupação triplicava.
- Mas no final deu tudo certo – continuou Samira – apesar de alguns empecilhos... – Olhou para Robert que sorriu em resposta – E mesmo assim... Ainda estamos vivos, então nada acabou...
- O que queremos dizer minha filha... É que te amamos mais que tudo. O nosso amor e nossa coragem te trouxeram para este mundo! E estaremos sempre ao seu lado, para tudo. Pois isso é família... Não é quem a compõem, no nosso caso: Um casal dito “normal”, uma filha lésbica, uma meiga governanta, um velho rabugento com uma linda netinha e para fechar com chave de ouro... Uma avó louquinha que desbrava o mundo, mas sempre se faz presente...
Aquele momento de lembranças de Carol foi interrompido por uma jovenzinha que vinha correndo em sua direção. Conseguiu limpar uma lágrima que corria por sua face, antes que a criança chegasse perto o suficiente para ver.
- Dinda! – Abraçou forte Carol pelo pescoço – Por que você não foi trabalhar ainda?
- Porque irei te levar para a escola! Ou você prefere que outra pessoa faça isso?
- Não! Quero você! Afinal é mais emocionante... – Ria para a Dinda, lembrando do jeito divertido que elas cantavam as músicas.
- Então já está pronta?
- Mas é claro! Dinda, depois vamos para o parque com a Alfa... Ela já tá cansada de ficar em casa...
- Ah sim! A Alfa né? – Observou como a menina levava jeito com as pessoas.
- Sim Dinda... Olha como os olhinhos dela estão pedindo! – E ficou abraçada a Alfa. Parecia que a cadela realmente entendia as coisas, pois ficou encarando Carol.
- Tudo bem então... Por que sempre perco pras pessoas?
- Porque você tem um coração bom Dinda! – Bia deu um rápido beijo em Carol e foi buscar a mochila.
Carol ficou o resto da manhã na piscina, olhando para a pequena construção que estava próxima a ela... Desde que Manuela sofreu o acidente nunca mais havia entrado. Talvez já estivesse na hora de enfrentar seu passado. Respirou fundo e nadou até lá. Assim que saiu da água olhou pensativa e abriu a grande porta de vidro. A pequena casa da piscina era linda e aconchegante, pois ao longo do tempo Carol á modelou a seu gosto – e claro – de Manu. A sala e a cozinha estavam no mesmo ambiente, contudo a sala continha um pequeno desnível, que estava preenchido por um enorme sofá, que rodeava toda ela, tendo á cozinha atrás dele. Atrás da parede da cozinha vinha a enorme suíte, que continha uma hidromassagem. Havia também um banheiro social, que ficava do lado oposto do quarto.
Incrível como tudo naquele lugar continuava igual, com a mesma disposição dos móveis... Realmente sua mãe e Joana fizeram um ótimo trabalho naquele local, era como se nunca tivesse saído de lá. Sorriu sozinha quando viu as fotos deles penduradas por fios de lã, em um canto da casa. Eram fotos que Carol tirava ao acaso, da família, delas juntas e Alfa com Bia e Miguel. Olhou melhor para aquela foto e viu como as crianças e Alfa haviam crescido... Difícil não se emocionar, pois sabia o quão feliz tinha sido ali.
- Eu nunca deveria ter saído daqui... É o meu pequeno mundo... Tá na hora de voltar! – Sorriu entusiasmada – Já passou da hora!
E a tarde transcorreu agitada para as duas. Enquanto Manu cuidava da empresa sozinha... Carolina reorganizava seu mundo. Marta ficou fascinada com a dedicação e habilidade de Manuela para com a empresa... Já Samira sentia-se orgulhosa da filha, iria oferecer-se para ajudar, mas sabia que aquilo deferia ser feito somente por Carol.
As crianças entravam ás oitos horas da manhã e eram liberados ás quatro e meia da tarde. Carol olhou para o relógio e percebeu como o tempo havia passado... Já eram quatro da tarde, correu para o banho e depois seguiu para o colégio. Ao chegar lá avistou duas pessoinhas conversando... Esses dois ainda casam, pensou e sorrir ao ver que Bia e Miguel vinham ao seu encontro. Abraçou os dois com muito carinho enquanto Francisco se aproximava.
- Quanto tempo em menina? – Falou gentilmente para Carol.
- Verdade... Como está Francisco?
- Muito bem... Na verdade, melhor agora, em ver como você se tornou uma linda mulher. – Sorriu carinhoso para Carol.
- Você sempre tão galanteador! – Riu em resposta – E já percebi que esse mocinho aqui – olhou para Miguel – herdou isso de você!
- Da mamãe que não seria! – Todos riram, achando a constatação de Miguel muito divertida.
- Dinda! O Miguel pode ir para o parque conosco? – Os dois a olhavam pedinchões.
- Por mim seria um prazer... Mas temos que ver se não haverá problemas.
- Mas é claro que sim. – Disse Francisco com ar de quem iria aprontar – Desde que você não se importe Carol.
- Como disse será um prazer! – Sorriu feliz para Francisco.
- Então vamos... Que a alfa não gosta de ficar no carro! – Falou Bia decisiva.
- A Alfa vai também? – Preguntou um Miguel muito feliz.
- Claro Miguel... Ela é nossa escudeira! Né Dinda?
- Sim meu amor! Então vamos?
- Vamos! – As duas crianças responderam ao mesmo tempo.
Despediram-se de Francisco e seguiram em direção ao parque. Passaram a tarde toda correndo e pulando, apesar de Miguel não ter a mesma desenvoltura que Bia, isso não era problema para eles... A menina sabia acompanhar o pique do melhor amigo. Passava das seis horas quando estavam todos sentados no chão olhando para o sol, que começava a se por... Era uma vista incrivelmente linda, pois de onde estavam podiam ver a ponte sobre o mar, que ligava a ilha – Coronado fica em uma ilha próxima ao continente, é tida como o coração de San Diego – ao continente. Bia estava ao lado de Miguel com a cabeça no ombro do menino e Carol tinha a Alfa ao seu lado.
- Miguel vamos brincar com a Alfa de novo? – Pediu olhando para o menino.
- Minha perna já está cansada para correr Bia... – Disse desanimado.
- Bem sendo assim... Então iremos brincar de outra coisa! – Disse ela divertida.
- E o que seria? – Ficou curioso.
- De decifrar as nuvens! – Todos sorriam felizes, nem viram quando Alfa se afastou sentindo um cheiro familiar no ar. Bia puxou Miguel para longe e deitaram na grama olhando para o céu.
- Que tal brincarmos de uma coisa? – Carol virou-se rápido e viu Manuela carregando a Alfa no colo. Manu tinha ouvido toda a conversa entre as duas crianças e quando sentiu a cadela em seus braços, uma lembrança veio em sua mente... Ela segurava uma filhotinha em uma mão e na outra uma pequena caixa. Manu parou ao notar que recordou de algo, depois de todos aqueles anos.
- E o que seria? – Carol tinha a mesma cara que Miguel havia feito há poucos minutos. Trazendo Manuela de volta.
- Perguntas e respostas! Que tal? – Respondeu Manuela soltando Alfa no chão, mas esta não saia de seu lado.
Manuela estava saindo do trabalho quando recebeu uma ligação. Era seu pai dizendo que o Francisco havia saído com uma amiguinha e que não poderia buscá-lo. Manu na hora se prontificou para pegá-lo. Apenas pediu onde ele estava e foi em direção ao carro. Deu sorte por ter ido trabalhar de carro naquele dia, pois como morava próxima a empresa ia sempre a pé para o trabalho. Gostava de caminhar e conversar com as pessoas ao longo do caminho.
Carol sentiu seu coração bater com certa dificuldade ao ver Manuela. Manu sabia que com as crianças próximas assim, seria difícil entrar no assunto que ela queria... Mas iria se divertir muito com Carol... Pois a cara que ela fez ao vê-la, só a denunciou mais.
- Olá Senhorita Portman! – Disse mantendo uma seriedade que não possuía no momento.
- Oi... Pensei que Francisco viria buscar o Miguel... Jamais imaginei...
- Que me encontraria aqui? – Interrompeu Manu.
- Sim... – Disse olhando para os dois que estavam deitados.
- Eles parecem se dar muito bem. Desde quando se conhecem? – E o questionário de Manu começou.
- Desde que coloquei Bia na escolinha... Naquela época seus pais haviam falecido e ela foi morar com o Moises, lá em casa. Eu já era sua dinda então passei a cuidar dela como se fosse minha maninha, quase filha... Já que não tinha idade para ser mãe. – Sorriu ao perceber que falou tão normalmente para Manu... Como se nunca tivessem se afastado.
- E agora tem idade?
- Bia não possui nenhum familiar além do avô. Moises já fez os papéis e se caso alguma coisa acontecer com ele... Bia ficará sobre minha guarda. – Manu percebeu como os olhos de Carol brilharam ao falar aquela última frase, ao mesmo tempo em que viu tristeza, quando mencionou Moises.
- Por que faltou ontem e hoje ao trabalho? – Sentou ao lado de Carol, que não tinha desviado o olhar das crianças, até aquele momento.
- Tive algumas conversas muito significativas... E tinha que ordená-las.
- Isso era motivo para não ir trabalhar? – Manu não ia dar descanso para ela.
- Sim... Não conseguiria me “encontrar” tendo você lá... – Olhou para Alfa e Manu seguiu seu olhar, a cadela continuava ao lado de Manu.
- Macho ou fêmea?
- Fêmea. – Viu que Manu a olhou como se soubesse. E gelou com o que Manuela falou a seguir.
- O nome dela seria Alfa? – Disse olhando com carinho para a cadela... Mas antes que Carol respondesse, Alfa deu dois latidos e começou a lamber Manu. Que riu achando graça do gesto da cadela.
- Sim... Como você sabe? – Carol não estava entendendo nada.
- Simples... Se eu tivesse tido uma cadela esse seria o nome dela. – Falou sem parar de fazer carinho em Alfa.
- Manu eu...
- Posso fazer mais uma pergunta, antes que as crianças voltem, e tenhamos que ir? – Carol apenas assentiu com a cabeça. – Fabio e Jenny deram a entender, um dia, que você tinha um grande amor... O que ouve com ela? – Nisso as crianças estavam chegando quando Carol conseguiu falar.
- Ela... Não lembra de mim...
Pela primeira vez em todas aquelas semanas, Manu e Carol, finalmente trocaram um olhar de cumplicidade... Mas não puderam continuar aquela conversa, pois as crianças estavam ali e não seria o apropriado a se fazer. Cada uma pegou uma mão das crianças e caminharam em direção aos carros... Bia e Miguel já estavam acomodados, esperando Manu e Carol entrarem, mas elas antes de fazer ficaram se olhando... Percebendo que Alfa estava entre elas, sem saber em qual carro deveria entrar.
Fim do capítulo
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