Capítulo XII Me dá um abraço
Estavam saindo da obra quando Carol resolveu dar um último recado para os engenheiros que estavam supervisionando a construção.
- Quando não souberem o que deve ser feito ou houver dúvidas perguntem! Não há nada de errado em pedir ajuda, mas cometer um erro por se acharem inteligentes o suficiente é ignorância!
- Sim Senhora Portman... Nos desculpe por isso. – Disse um jovem rapaz de cabeça baixa.
- Vocês não tem que se desculpar, afinal não irá mudar o prejuízo que teremos... – respirou fundo – Apenas prometam que daqui pra frente darão o melhor e pedirão ajuda se for necessário.
- Sim Senhora!
Manuela ficou admirando Carolina. A forma como ela se portava nas obras era algo novo, parecia mais dedicada e atenta a tudo. Ela reluzia em meio aos montes de areia, tijolos, ferros... Realmente aquele lugar era seu habita-te natural. Observou como todos a ouviam e respeitavam... Por onde Carol passasse, com toda certeza, deixava amigos. Manu prestou atenção quando Carol se dirigiu a um senhor de idade, que estava sentado bebendo uma coca - cola em baixo de uma árvore. Sorriu ao ver Carol sentando ao lado do velho senhor e compartilhando da bebida, enquanto riam de alguma coisa.
Já estavam voltando para a empresa quando Manu não se conteve e fez um comentário.
- Bom... Descobri uma coisa a seu respeito hoje, Senhorita Portman. – Disse séria.
- É Senhorita Fernandes... E posso saber o que foi? – Ficou curiosa.
- Você não é só gentil com as jovens donzelas!
- Ah não?
- Não! É com os senhores de idade também. – As duas sorriram ao mesmo tempo. – Realmente, cada dia que passa me surpreendo mais com você... – mas se arrependeu em seguida do último comentário... O que sua chefe iria pensar! Contudo Carol, mesmo dirigindo, notou que Manu corou as bochechas.
- José está na empresa antes mesmo de eu nascer... É uma pessoa muito amada, tem um coração de ouro. Papai já tentou dar vários aumentos para ele, e sabe o que ele disse...
- O que?
- Que o salário que ele ganhava era mais que merecido... E que era para meu pai dar este aumento para Tobias, pois tinha recém casado e seria pai em poucos meses. – Carol sorriu ao lembrar-se da cena, pois estava junto com seu pai naquele momento.
- Nossa... Nunca ouvi nada parecido. – Manu percebeu que Carol não fez menção sobre o comentário referente a ela. Sorriu por notar como sua chefe era diferente das outras pessoas.
Foram interrompidas pelo barulho do celular, que ficava conectado ao carro. Carol perguntou para Manu se ela se importaria, Manu apenas balançou a cabeça negativamente.
- Alo?
- Carol, filha?
- Oi pai... O que houve? – Percebeu a voz agitada do homem.
- Vem direto pra casa...
- Mas por quê?
- Sua avó... Vem logo!
- Espera pai... – Mas o homem já havia desligado o celular, sem explicar nada.
- Carol está tudo bem? – Perguntou Manu preocupada ao ver a face de Carol agoniada.
- Não sei Manu... A Vovó é uma mulher muito aventureira. – sorriu ao se lembrar das viagens que vazia com ela – Ela vive de pais em pais, nunca está no mesmo lugar... Estou preocupada. – Confessou.
- Entendo... Então o que está esperando, vamos para lá agora.
- Mas eu ia te deixar em casa e...
- Algum motivo para não querer me levar a sua casa, Senhorita Portman? – Manu estava tentando se manter séria.
- Não, nenhum! – Desde que não entre no meu quarto, pensou Carol.
- Então acelera esse carro.
Carol apenas sorriu e obedeceu sua co-pilota. Em menos de dez minutos estavam adentrando a mansão dos Portman. Manuela ficou admirando, como aquele lugar era lindo... Desde a entrada e o designer da casa... Os jardins então eram impecáveis. Sentiu uma sensação muito gostosa quando desceu do carro e ficou em frente à porta de acesso, como se estivesse em casa.
- Está tudo bem Manu? – Perguntou preocupada ao ver a reação da moça.
- Sim... Só que tive uma sensação estranha...
- Que sensação? – Mas foram interrompidas por Joana, que abriu a porta. Carol acabou lembrando-se o porquê estava ali e entrou correndo pela casa.
- Pai! – Gritou.
- O que foi meu amor? Por que esta tão agitada?
- A vovó! O que houve com ela? – Sua preocupação era clara.
- Quer dizer que agora sou vovó? O que aconteceu com a velhota, Carolina? – A Senhora de cabelos curtos e negros ergueu a sobrancelha desafiando a jovem.
Carol sorriu ao ver que estava tudo bem. Pensar que algo havia acontecida aquela jovem senhora de sessenta e quatro anos, fez com que seu coração doesse. Hellen Catarina Portman, a historiadora mais doidona que o mundo já teve, mas também era a avó mais amada dele.
- Velhota! Então você ainda vive? – Sorriu Carol para a avó – E eu achando que alguma maldição já havia levado sua alma!
- Que isso criança! Só existe uma maldição que quero pra minha vida! – Olhou sapeca para Carol.
- E qual seria velhota? – Sabia que vindo da sua avó poderia esperar qualquer coisa.
- A maldição do moreno sensual... Se bem que uma morena gostosa também não iria nada mal. – Ninguém conteve a risada... E foram interrompidos por uma voz muito conhecida.
- Bem, pelo menos já sei de onde Carol puxou a autoestima. – Disse Manu atraindo a atenção de todos e o sorriso de Carol. – Desculpem pela intromissão.
- Está tudo bem. – Disse Hellen – E não fomos interrompidos por você e sim agraciados com tamanha beleza!
- Vovó! – Disse Carol séria.
- Como é seu nome mesmo? – Perguntou Hellen, mas assim como todos conhecia Manuela perfeitamente e Samira já havia lhe deixado a par da situação.
- Manuela Fernandes. – Disse envergonhada.
- Então Carolina fique sabendo que se não casar logo com a Manuzinha... Eu irei roupa-la de você! – Ninguém acreditou no que Hellen falou. Carol estava de boca aberta e Manu sorriu olhando para Carol.
- Eu concordo com mamãe! – Disse Robert divertido.
- Pai! – Carol repreendeu-o.
- Eu apoia a minha sogrinha! – Samira não ficou para trás.
- Mãe! Sério isso? – Carol estava inconformada.
- Bom... Sendo assim, bem vinda à família menina Manu! – Disse uma Joana sorridente.
- É um complô né! Tudo bem... Envergonhada pela própria família... – Estava um pimentão de tão vermelha. Manuela literalmente amou aquela família e ver Carol com tanta vergonha a divertiu.
- Está tão emocionada que chegou a ficar vermelha? – Manu também não perdoou e entrou na brincadeira.
- Até você Manuela?! Ok para o mundo que quero descer!
Todos começaram a rir da situação, menos Carol que estava com uma vontade louca de beijar Manuela e isso, desde que, a moça foi tentar a vaga na empresa. Mesmo sendo um momento descontraído e divertido, para Carolina não era bem assim. Ter de novo a mulher que amava em casa, com sua família, mas sem ser como era antes dilacerava seu coração, e o pior... Aos poucos. Levava tudo de boa, para não preocupar as pessoas que amava, mas sabia que ter Manuela tão perto e ao mesmo tempo tão longe, estava lhe matando dia após dia. Não tinha outra opção, a não ser, entrar na brincadeira.
- Então minha futura esposa... O que quer para o jantar? – Sorriu feliz, pois mesmo sendo brincadeira... No passado essa frase realmente teve significado.
- Jantar?
- Nem ouse recusar Manu! Ninguém vem aqui em casa e sai sem, no mínimo, uma refeição. Ainda mais se for minha futura norinha ou seria minha “genrinha”?
- Ai mãe!
- O que a senhora preferir. Senhora Portman. – Disse Manu sem jeito, mas mesmo sem saber o motivo, feliz.
- Ok! Vamos começar pelo básico... Pode me chamar de Samira, este é Robert meu maridão. Hellen minha sogrinha amada. E esta é Joana a melhor governanta que já conheci.
Após todos a abraçarem como se fosse à primeira vez caminharam para a sala. O lugar era incrivelmente aconchegante, apesar de ser enorme. Manu não deixou de reparar nas fotos espalhadas pela casa, mas uma em particular chamou sua atenção... Era uma fotografia que tinha a Carol e mais duas meninas, uma era Ana, mas a outra nunca viu... Ficou imaginando quem seria, pois a foto deveria ter alguns anos, já que elas aparentavam ter uns quinze anos de idade. Mas de uma coisa Manu tinha certeza... Estava em casa.
A noite seguiu com Hellen contando suas últimas aventuras pelo mundo. Todos estavam em uma sintonia incrível. Manuela agia como se sempre estivera entre eles, o que deixou a todos pensativos. No fundo Robert sempre achou um absurdo Carol ter tomado àquela atitude, mas não deveria interferir, tanto ele quanto Samira, sabiam que a filha deveria cometer seus próprios erros para aprender e crescer com eles... Jamais saberá se uma chama queima se não colocar o dedo... E essa dor, os pais não podem explicar com palavras.
Carol saiu para atender o celular deixando Manu com eles. Sabia que seria um tanto quanto perigoso, mas não poderia esconder a verdade de Manu para sempre. Uma hora ou outra ela viria à tona. Assim que Carol saiu Manu aproveitou para obter uma resposta que á estava incomodando.
- Estava reparando como essa foto é linda! É a Carol e a Ana, né? – Perguntou em um tom descontraído.
- Sim, elas tinham... Quantos anos Robert?
- Quatorze, meu amor. – Respondeu sorridente para a esposa.
- Mas esta moça não conheço... Quem é?
- É a Olívia. – Respondeu Samira desconfiada.
- Muito bonita ela. – Disse Manu educada, mas apesar da foto ser antiga a moça realmente era bonita. Samira, Robert e Hellen se olharam e pensaram a mesma coisa.
- Sim! Realmente muito linda... Não era à toa que Carol vivia atrás dela, vocês lembram? – Samira disse observando a reação de Manu.
- E como esquecer! Nossa filha morria de amores pela amiga...
- E o que houve? – Manu estava com receio da resposta.
- Elas namoraram por alguns anos. – Respondeu Samira satisfeita em ver a reação de sua nora... Manu ainda ama Carol! Foi a constatação de todos naquela sala. Só que a jovem ainda não havia se dado conta.
Carol voltou para a sala e percebeu que o clima estava estranho... Mas não soube dizer o que havia acontecido... Sentou-se ao lado de Manuela e percebeu que ela havia se arrepiado. Realmente algo tinha acontecido, mas o que?
- Filha, estávamos falando sobre a Olívia. – Disse Robert, sabendo que Carol compreenderia.
- Quanto tempo mesmo que não á vê? – Samira acompanhou o marido, para que Manu não ficasse pensando algo errado.
- Nossa... Faz muitos anos! A última vez que a vi... – pensou – Eu tinha dezesseis. – Respondeu se perguntando o que seus pais tinham falado. – Como chegaram no assunto Olívia?
- Eu fiquei curiosa e perguntei sobre ela. – Disse Manu sorrindo sem jeito. – Desculpe se despertei lembranças.
- Não Manu... Está tudo bem. Além do mais Olívia não representa nada em meu presente... É apenas uma grande amiga, em meu passado. – Sorriu convicta para Manu.
- Bom à noite está maravilhosa, mas tenho que ir. Minha chefe não vai gostar se eu chegar atrasa amanhã. – Dessa vez quem descontraiu a situação foi Manu.
- Tenho certeza que ela compreenderia. – Falou Hellen sapeca, piscando para a neta, que sorriu em resposta.
- Então eu a levarei! E não, não estou pedindo, estou afirmando Manu. – Antes que Manu pudesse responder Carol colocou a mão em sua cocha e viu quando a jovem não arrepiou os pelos, mas sim, eriçou eles. Manu a olhou sem entender o que era aquele turbilhão de sensações em seu corpo e Carol rapidamente tirou a mão. Movimento que foi acompanhado por todos. – Então até depois família!
Todos se despediram com a promessa que Manuela voltaria em breve. O caminho para a casa da moça foi feito em silêncio, não por falta de assunto, mas por haver uma quantia enorme dele. Assim que chegaram, Carol fez questão de acompanhar Manuela até sua porta, seguindo a jovem pelo elevador. Quando estavam em frente à porta, Carol se encostou na parede e ficou observando Manu destranca-la.
- Obrigada... – Manu a olhou sem entender. – Foi uma noite maravilhosa Manuela.
- Não há o porquê agradecer... Sua família é incrível! Me senti em casa com eles...
- É, tenho muita sorte. – Sorriu para si.
- Tem mesmo... Não é todo mundo que possui uma família tão única e feliz... –Sorriu sincera para Carol.
- Bom é melhor eu ir... Afinal sua chefe não deve ser nada fácil!
- E não é mesmo! – Brincou com Carol.
- Mas ela tem algo que compensa...
- Posso saber o que é?
- Sim... É a “seduzencia” em pessoa! – As duas riram gostoso.
- Aha... E se acha também!
- Isso sim é uma verdade... – Em meio aos risos Carol estava saindo quando sentiu seu braço sendo segurado.
- Posso te pedir uma coisa? – Manu estava com o olhar diferente, nem mesmo ela se reconhecia.
- Claro...
- Me dá um abraço?...
Carol não pensou duas vezes e abraçou Manuela pela cintura, enquanto ela repousou a cabeça entre o pescoço e o ombro de Carol, colocando suas mãos nos braços da morena. Os perfumes se misturaram em uma fragrância indescritível para ambas. Carol sentiu seu corpo reagir como há quatro anos não acontecia... E Manu sentiu como se estivesse completa, pela primeira vez, depois do acidente.
- Boa noite Manu... – Disse soltando a moça.
- Boa noite Carol... – Falou mirando aqueles olhos castanhos que por dias a hipnotizam.
Manu foi direto para o chuveiro, pois precisava pensar em tudo que estava acontecendo consigo desde que entrou naquela empresa. Sentou sentido a água escorrer por seu corpo e fechou os olhos.
- O que está acontecendo comigo... Essas reações, a forma como fiquei quando ela sentou do meu lado... E depois quando tocou minha perna... O abraço... – Respirou fundo – Isso não pode ser... Eu não estou apaixonada pela minha chefe... Estou?
Para Manu somente os sonhos seriam tranquilos naquela noite...
Fim do capítulo
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