Capítulo 83
Rebecca
28 de dezembro de 2016. 23:04min.
Fazia uma hora que a Emily havia ido dormir. Tomei um banho rápido e decidi assistir algo na sala. Marcela estava sentada em uma rede na sacada. Me aproximei devagar para não assusta-la. Ao notar minha presença, ela me lançou um sorriso fraco e eu podia imaginar do que se tratava.
- Preocupada? – sentei no pequeno sofá.
- Bastante... – ela olhou para o horizonte. Algumas gotas de chuva ainda caiam. – Ele tem mais chances de conseguir a guarda do Nando do que eu... Olha. – ela me entregou o celular.
- Caramba... – era uma mensagem do pai do Nando. Ele queria encontra-los amanhã.
- Eu não posso ficar sem o meu filho, Becca... – vi seus olhos ficarem úmidos.
- Estamos com você nessa. – ela me olhou. – Amanhã vou ligar para o pai da Flávia. Vamos falar com o advogado e não vamos desistir. Ok?
- Eu não sei o que faria se não fosse por vocês... – levantei, sentei ao lado dela e a abracei.
- Vamos conseguir... – olhei para trás e Emily estava lá com o cabelo bagunçado. Ela sorriu e eu fiz o mesmo.
- Pensei que estavam todos dormindo... – nos desfizemos do abraço. – O que aconteceu?
- Marcela tá preocupada amor... – Emi sentou no sofá que há pouco estava.
- Marcela... Talvez não vá ser tão fácil, mas não iremos desistir. – ouvimos a voz do Nando. – Vá lá com teu filho. Estamos com você e o Fernando não vai a lugar algum. – Marcela sorriu.
- Obrigada meninas... – ela nos abraçou. – Não poderia existir amigas melhores. Vou colocar o danado pra dormir...
Vimos a Marcela sair da sacada e Emily sentou ao meu lado. Passei a mão em seus fios negros e beijei o seu rosto. Ela me abraçou forte, suas mãos acariciavam freneticamente o meu corpo.
- Amor? Tudo bem? – nunca havia visto Emily assim.
- Só quero sentir você... – ela respirou fundo.
- O que aconteceu? – aquilo me preocupou.
- Tive um pesadelo... – franzi o cenho. – Foi horrível... Parecia tão real.
- Calma meu amor... – me afastei dela e segurei seu rosto. – Foi só um sonho ruim...
- Você... Morria... – os olhos dela ficaram úmidos. – A dor foi bem real. – sorri.
- Tá tudo bem... – a puxei para deitarmos.
- Promete que não vai desgrudar de mim? – ri. Emily às vezes me lembrava uma criança. – Tô falando serio amor...
- Ok. – beijei sua testa. – Eu prometo. Estava pensando...
- Em que amor? – ela me olhou.
- Vamos adotar uma criança? – vi os olhos castanhos brilharem. – O que acha?
- Acho ótimo, mas será bem complicado... – eu sabia que sim. – Só que eu quero tentar amor...
- Podemos visitar um orfanato essa semana... – ela sorriu.
- E se eu querer todos? – gargalhei e ela riu.
- Você não existe Emily. – beijei os seus lábios.
- Volta aqui...
Ela segurou a minha nuca e me beijou de forma lenta. Me colocou sobre ela, invadindo minha blusa com a mãos que passaram a fazer carinho em minha costa. O incrível é que aquela sensação de borboletas no estomago estava sempre ali. Antes que as coisas ganhassem proporções maiores, interrompi o beijo.
- Amor... – ela reclamou.
- Emi... Sua mãe pode aparecer. Olha onde estamos. – ela sorriu.
- Estraga prazer... – deitei sobre seu peito. – Falar nela... Sabe o que pensei?
- Hum...
- Será que seria possível encontrar a namorada dela de adolescência? – ela estava mesmo falando serio.
- Vai mesmo tentar fazer isso? – não sabia se seria uma boa ideia.
- Bom... Não sei. – ela pareceu pensar. – Queria que ela pudesse viver o que não pode...
- Por que não conversa com ela?
- Era exatamente isso que queria fazer. – olhei para ela.
- Quer ser cupido? – ela sorriu.
- Se isso resultar na dona Juliana feliz... Sim. – sabia o quanto era importante ver a mãe feliz. Elas se aproximaram tanto. – Vou falar com ela...
- Talvez seja a melhor forma de começar...
- Vamos pra cama? – levantei e a puxei.
- Hum... Cama... – ela beijava meu pescoço.
- Emi... – fechei meus olhos e suspirei com os arrepios.
- Eu sei que você quer... – ela sussurrou.
- Você... Hum... – tentei concentrar no que iria dizer. – Tem que trabalhar amanhã... – senti suas mãos sobre meus seios.
- Eu sei, mas quero você... – ela mordeu o meu queixo.
Não sei ao certo como chegamos no quarto e nem em que momento as roupas foram tiradas. Só sei que fizemos amor durante horas. Nossos corpos matavam a saudade um do outro como se não se tocassem há tempo. Somente paramos quando estávamos exaustas. Dormimos abraçadas e em meio a beijos carinhosos.
Acordamos cedo naquela terça. Emily estava com uma disposição invejável. Dona Juliana pediu para levar o Nando para passear e Marcela foi de carona com minha namorada. Fui até a galeria para saber dos detalhes de uma nova exposição. Recebi uma mensagem quando estava em meu escritório.
“Hoje a noite vamos fazer uma surpresinha para a Cami. Aniversario dela”
“PS. Tragam ovos”.
- Essa Flávia vai aprontar. – ri. Olhei as horas e ainda não eram nem nove da manhã. Ouvi duas batidas na porta. – Entra...
- Licença dona Rebecca. – Mauricio, um rapaz que contratei. – São para você... – olhei para as flores em sua mão. Peguei e senti o perfume agradável invadir minhas narinas.
- Obrigada Mauricio. – sorri.
- De nada. – ele saiu do escritório.
Sentei novamente e passei a admirar as rosas brancas. Junto havia um bilhete, o peguei e abri. A letra de Emily era inconfundível. Passei a ler o que estava escrito.
“Para a mulher mais linda de todas de uma mulher muito sortuda.
Já estou com saudade e com muita vontade de voltar para casa e fazer novamente amor com você.
ps. Me deixou marcas... Adorei.
ps. Eu te amo...”
Sorri igual boba com o bilhete na mão. Peguei meu celular e enviei uma mensagem agradecendo as flores e outras coisas que não preciso comentar. Fique um tempo olhando para uma foto que estava sobre minha mesa. Emily beijava a minha testa e eu estava sorrindo. Tiramos em um domingo depois que acordamos.
Meu celular tocou e me tirou do meu estado de graça.
- Alô...
- Rebecca... Preciso falar com você. – era a minha mãe. – Estou aqui na frente da galeria.
- Tudo bem... Espero você no escritório.
Me preparei psicologicamente para qualquer assunto que pudesse ser abordado. Bebi um pouco de agua e esperei ela entrar. Me surpreendi com a figura que adentrou meu escritório. Minha mãe esta usando regata e calça jeans? Meus olhos só podiam estar me engando.
- Bom dia... – ela falou e não esperou convite para sentar.
- Bom dia mãe. – sentei ainda em choque.
- Rebecca... Vou direto ao assunto. – ela tirou os óculos e suas feições estavam cansadas. Ela usava pouca maquiagem. De repente senti uma pontada forte em meu peito. – Seu pai tá morrendo. Ele tá com aids... – ela baixou a cabeça. Eu levantei no mesmo momento.
- Isso não tem graça... – meu coração estava a ponto de sair pela boca.
- Infelizmente é verdade... Filha. – os olhos dela passaram a se encher de água. – Seu pai... Ele...
De repente senti o meu mundo dá um giro de trezentos e sessenta graus. Acredito que devo ter perdido a consciência. Tudo ficou escuro e eu só podia ouvir ao longe a voz da minha mãe.
Jaque
A minha cabeça não parava de trabalhar nem por um segundo sequer. Tentava encontrar a melhor forma de ajudar a Marcela. Ela não merecia ter o pequeno tirado dessa forma. Esse ex marido não tinha o direito de estragar a vida dela dessa forma. Fernando era tudo para ela e eu iria ajuda-la no que fosse preciso. Iria falar com o advogado do meu avô e pediria a ele conselhos de como agir sobre essa situação. Só não poderia ficar de braços cruzados.
- Chegamos... – a voz da Juliane me tirou de meus pensamentos.
Juliane convidou Samantha, Cami, Flávia e eu para assistirmos as gravações do comercial. Já que estávamos sem o que fazer e assim poderíamos também planejar a bagunça para a surpresa da Camila.
Entramos no supermercado e logo encontramos um pequeno grupo da agencia e o que parecia os donos do estabelecimento. Fomos todos apresentados e logo nos arranjaram cadeiras para sentarmos. Alberto, o agente da Juliane nos deu o seu cartão, pois segundo ele tínhamos porte para o negócio.
- Nervosa? – perguntei a Micaela.
- Um pouco...
- Vai dá tudo certo... – Samantha falou.
- Relaxa... – Flávia completou.
- Vem amor... – Juliane chamou e ficamos as quatro lá.
- Vocês não lembram de nada importante hoje? – Sam, Flávia e eu nos olhamos.
- Não... – respondemos juntas.
Camila bufou e revirou os olhos. Pego o celular e passou a mexer nele, quase quebrando o pobre. As meninas deram um sorrisinho de lado. Estávamos fingindo que não sabíamos sobre a data de hoje, enquanto a aniversariante jogava varias indiretas para nós. Estava sendo engraçado ver a Cami daquele jeito.
- Tá tudo arrumado? – o diretor gritou.
- Tudo ok! – um outro gritou.
- Em suas posições e ação!
Elas iriam gravar três comerciais naquele dia. Micaela não parecia ser principiante, pois estava totalmente a vontade com as câmeras. Até Camila deixou de dar atenção ao celular e passou a observar. Achei interessante aquele mundo no qual nunca havia tido contato.
Senti meu celular vibrar e nesse mesmo momento Flávia levantou. desbloqueei a tela e abri a mensagem que era da Marcela.
- O que foi? – Cami perguntou para a Flávia.
- A Becca... Ela não tá legal. – respondeu. Terminei de ler o que a Marcela me mandou e fiquei assustada.
- Ela desmaiou e a Emi tá com ela agora. – falei e coloquei o celular no bolso. – Eu vou lá.
- Vamos... – Flávia olhou para as meninas. – Vocês fiquem aqui...
- Mas... – elas tentaram protestar, mas Flávia foi firme.
- Fiquem e assim que soubermos o que houve, avisamos. – as meninas concordaram. – Expliquem pra elas... Vamos Jaque?
Saímos do supermercado e atravessamos a passarela. Como havíamos vindo de carro com a Ju, iriamos de ônibus. O transporte demorou uns vinte minutos e demoraria mais uns quarenta para chegarmos ao apartamento da Emi e Becca.
Um homem que se dizia professor de história e estava desempregado entrou no ônibus. Ele contou sobre sua vida rapidamente e nos deu uma aula da matéria. Flávia e eu tiramos uma certa quantia do bolso e demos a ele, porém algo surgiu em minha mente e Flávia pareceu compartilhar.
- Ei... Ele poderia trabalhar no centro cultural... – sorri para ela.
- Moço... – o chamei e ele me olhou. Veio até a nos. – André?
- Pode falar moça. – ele sorria.
- O que acha de trabalhar comigo em um centro cultural. – vi seus olhos ficarem maiores. – Vou inaugurar um centro cultural e preciso de um diretor para dirigir...
- Moça... Nossa. – ele alternava o olhar entre Flávia e eu. – Não sei o que dizer...
- Me empresta uma caneta e um pedaço de papel. – ele me deu o que pedi. Anotei o endereço do centro e alguns telefones que ele poderia entrar em contato. – Me procura assim que passar o alvoroço de fim de ano.
- Jaqueline... – ele leu no papel. – Eu nem sei como agradecer...
- Apareça e essa será a forma... – dei um sorriso. – Descemos aqui...
- Estarei lá... – ele disse antes de descermos.
- Orgulho de você, maninha... – Flávia entrelaçou o braço no meu. – Você é um anjo, Jaqueline.
- Você faria o mesmo... – fiquei envergonhada.
- Estamos falando da senhorita... – atravessamos as duas pistas. – Tem um coração lindo. Agora vem, antes que você vire pimentão. – rimos.
Entramos e como já erámos conhecidas, o porteiro deixou o acesso livre. No elevador percebi que Flávia estava nervosa. Ela brincava com os dedos, ligava e desligava a lanterna do celular.
- Calma! – segurei sua mão. – Não sofre por antecedência.
- Vou tentar... – paramos no andar das meninas.
Batemos na porta que foi aberta por Amanda. Flávia e ela se abraçaram, entramos e sentamos no sofá. Vimos uma senhora que usava uma calça jeans e uma regata chegar na sala, nos entreolhamos. A mulher viu que não iriamos dizer nada e se apresentou.
- Sou Alice... Mãe da Rebecca. – por essa não esperávamos. Até onde sei, Rebecca e os pais não se falavam.
- Dona Alice... Essa e a Jaqueline, amiga da Becca. – sorri para a senhora. – E essa é Flávia...
- Sua namorada e amiga da minha filha... – ela concluiu. – Vocês serão importantes para ela nesse momento.
- Onde ela tá? – arrisquei perguntar.
- No quarto... Com a esposa. – Flávia quase teve um treco. – Vou avisar que estão aqui... Com licença...
- Essa é mesmo a mãe da Becca? – Flávia coçava a cabeça.
- Estou tão surpresa quanto você, amor... – Amanda sentou ao seu lado.
- O que aconteceu? – perguntei.
- Becca passou mal depois que teve uma notícia... Ainda não sei do que se trata. – que tipo de notícia? – A mãe dela a levou em um hospital, avisou a Emi e trouxe a Becca pra cá.
- Meninas... Ela pediu para entrarem...
Levantamos, andamos a passos largos até o quarto e a porta estava aberta. Emily segurava a mão da Becca, enquanto conversavam baixinho. Ao nos ver, ela abriu um sorriso fraco. Seus olhos estavam vermelhos e sua pele mais branca que o normal. Flávia a abraçou e em seguida fiz o mesmo.
Sentamos na beirada da cama, Emily deu um copo com água para ela. Rebecca se acomodou na cama. Emi voltou a segurar sua mão e o que ela iria dizer com toda certeza era muito ruim.
- Becca... Tudo bem se não puder contar... – Amanda que segurava a sua outra mão falou.
- Ela vai precisar de nós... – Emily depositou um beijo na mão pálida.
- Vocês são minhas amigas... Eu agradeço por estarem aqui. – sorrimos.
- Estaremos sempre aqui... – falei.
Aquelas garotas me acolheram e quando automaticamente merecia seus desprezos. Não foi dessa forma, longe disso. Passaram a ser como irmãs e todos os dias a certeza de que elas fariam tudo por mim e eu faria tudo por elas aumentava. Eu podia dizer sem nenhuma duvida que amava a cada uma. O laço que desenvolvemos jamais seria rompido, pois ele se fortalecia e não importa qual seja a situação agora, Rebecca poderia contar conosco. Como Cássia disse uma vez: erámos almas gêmeas.
Continua...
Fim do capítulo
Boa noite as leitoras mais lindas
saudade de vcs...
Obrigada a todas que comentaram
vcs são demais...
Becca e Jaque na narração...
espero que gostem.
Beijo enorme
LEH E LUH KELLY.
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SuellemSuh
Em: 25/10/2016
Nossa, que triste. Precisou acontecer tudo isso pra ter um dialogo decente da mãe da Beca, se referiu ate a Emily por esposa da filha. Infelizmente teve que ser assim!
Resposta do autor:
Muito triste....poise
nem sempre as coisas são como
imaginamos, teve de acontecer isso
pra elas se aproximarem...
Bjs
Luh.
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leiacris1
Em: 25/10/2016
Olá minhas autoras lindas
Sempre fico ansiosa esperando o capítulo do dia.
Essa do pai da Rebeca foi forte heim meninas?!! Será que agora a mãe de Rebeca vai ficar mais do lado dela?!! Esse tema sobre a Aids é uma boa, pois os casos de Aids tem aumentado bastante, principalmente entre os jovens. É um bom alerta.
Parabéns meninas
Abraços
Resposta do autor:
Olááá querida leitora....
Que bom saber disso...rsrsrs
Muito forte e triste pra Becca, eu espero de verdade
que a mãe dela fique ao lado dela agora que ela mais precisa.
Sim, teve um aumento significativo e é um
assunto que precisava ser abordado
Obrigada.
Beijo
Leh e Luh.
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