Capítulo 5 - Um pouco de Iara
Acordar cedo era algo bem comum, já que ha muitos anos o sono nem sempre era algo que me acompanhava, mas, por incrível que pareça, aquela havia sido sim uma noite tranqüila e sem sonhos, o que pra mim era algo muito bom. Acordar cedo era comum, mas não ao lado de uma mulher como aquela. Parece que os papeis agora estavam invertidos e ela era que se aconchegava a meu corpo.
Uma sensação agradável tomava conta de meu corpo e não pude deixar de contemplar sua beleza e lembrar de que há pouco tempo atrás eu achava toda essa idéia de expedição de pesquisa uma grande idiotice, nada mais do que um capricho de meu tio querendo me obrigar a voltar aquele lugar, onde eu praticamente havia jurado não por mais os pés. Ainda me lembrava da nossa conversa tensa.
- Não padrinho eu não quero voltar lá! Não pode me obrigar!
- Não quero te obrigar Iara, apenas a estou lembrando suas responsabilidades, não pode passar a vida fugindo de seu passado e de suas origens.
- Eu não quero isso pra mim, não vou seguir os passos de meu pai e me enterrar naquele lugar até minha morte, não a nada que me prenda aquele lugar.
-Iara escute o que esta dizendo, sua mãe pertencia aquele lugar e tenho certeza que ela iria querer que você ao menos tentasse ajudar o povo ao qual ele pertenceu. E você não precisa ir à reserva se não quiser, apenas peço que cuide do que por direito é seu.
- Eu não preciso desse tipo de herança.
-Tudo bem! Não vou obrigá-la, mas você poderia ao menos ler o projeto que foi enviado a nós?
- Se eu ler esse projeto o senhor me deixará em paz?
- Sim, mas tem que me prometer que se gostar do projeto me deixará explicar o que tenho em mente.
- Ok, senhor Otávio, me convenceu, impossível dize não a você.
Depois de ler todo o projeto tive que admitir que ser mesmo uma idéia maravilhosa, e que de certa forma até me favorecia já que tiraria de minhas mãos grande parte da responsabilidade pela área, que uma vez convertida em uma reserva particular, bastaria que mantivesse um pessoal adequado e a área se tornaria um local ideal pra pesquisas e conseqüentemente estaria protegida. Faria sim o que seu padrinho queria aprovaria o projeto.
A parte de aprovar era algo muito tranqüilo, mas não contava com as mirabolantes idéias de meu querido padrinho, que fazia questão de minha participação na equipe. Alegando que ninguém melhor que a proprietária da área estivesse presente na expedição, sem contar que as fotografias que eu poderia tirar durante o tempo que passasse lá seriam de grande utilidade para os pesquisadores.
Meu padrinho sabia exatamente que argumentos usar para convencer - me. Amava trabalhar com minhas fotografias, e retratar a natureza era o que mais gostava de fazer, na certa se não houvesse optado pelo curso de artes e mais a dedicação as fotografias, teria feito o curso de biologia. Tinha certo medo de atuar em uma área que pudesse me aproximar mais daquilo que há anos vivia fugindo.
Ser fotógrafa permitia que pudesse ter uma visão distanciada da natureza, sem que precisasse me envolver demais em tudo que pudesse estar relacionado a sua defesa. Muitas vezes até dizia que fotografar era uma forma de preservar a beleza do mundo, pois tudo que registrava com a câmera seria imortalizado, e as futuras gerações poderiam ao menos vislumbrar tudo que já existiu, enquanto se fosse bióloga a luta poderia ser completamente em vão, como vinha sempre acontecendo com muitos pesquisadores e defensores da natureza que até mesmo a vida haviam perdido em nome dessa causa.
Apesar de toda relutância acabei gostado da idéia, apenas ficou combinado com meu padrinho para que ele não contasse à equipe que ela era a proprietária da área, queria que todos a tratassem apenas como mais um membro da equipe. Meu padrinho já estava muito adiantado com os preparativos na área, pois ele parecia saber que eu acabaria cedendo então já havia preparado tudo para que a estadia dos pesquisadores tivesse todo suporte necessário. Fiquei até surpresa com o andamento das coisas.
Não pude conhecer toda equipe, mas depois de conhecer Arthur notei que não seria nada complicado passar aquele ano todo envolvida com a expedição, se todas na equipe tivessem seu bom humor e simpatia, tudo sairia muito bem, e o amor com que e falava da pesquisa, da importância dos resultados me deixava ainda mais motivada.
Ele comentou sobre a equipe que nos acompanharia, inclusive sobre a chefe da equipe a doutora Maria Luísa, comentou que ela era bem pouco comunicativa às vezes, mas que era bem justa e que era a pessoa da equipe mais envolvida em tudo e que seu amor pelo seu trabalho era algo maravilhoso. Disse que ela era sua irmã mais velha, mas não entrou em mais detalhes. Fiquei curiosa em saber quem seria essa tal Dra, na certa deveria ser uma daquelas senhoras que dedicaram toda sua vida a pesquisa, deixando de lado família e tudo mais pra passar seus anos no meio do mato.
A maior surpresa que tive foi ao conhecer Malu, ou seja, a Doutora Maria Luísa. Tudo que eu havia imaginado sobre ela simplesmente foi desmistificado. Ela era a mulher mais linda que eu já tinha visto, não era nada velha deveria ter no máximo 27 anos e era ruiva com olhos de um castanho que lembrava folhas secas, sua pele era tão branquinha e cheia de sardas. Como alguém que parecia ser tão delicada e claramente sensível ao sol poderia ser a pesquisadora de quem Arthur havia falado. Ela me parecia muito mais uma daquelas gringas turistas do que uma pesquisadora.
Não haviam sido muitas as palavras trocadas até então e não pude deixar de notar certa provocação em seu olhar, como quando havia me chamado a frente de todos para falar mais sobre a área. Era como se ela quisesse me desafiar, não sabia o que havia feito pra que ele agisse assim, mas eu definitivamente aceitaria qualquer desafio, pois desde o momento que a havia visto de pé na frente da vã conversando com meu tio eu tinha descoberto a minha verdadeira motivação para encarar toda aquela viagem e tinha certeza que ao lado dela eu não teria medo de voltar ao lugar de qual sempre havia fugido.
E era essa motivação que eu estava observando adormecida ao meu lado. Não queria nem me mexer para não acordá-la, como adoraria poder fotografá-la assim tão linda. Movi devagar o braço, mas isso foi o suficiente para que ela começasse a despertar e eu tivesse que parar a minha contemplação.
Fim do capítulo
Olá meninas, desculpe pela demora, mas darei u jeito de compensá-las pelo atraso. Espero que gostem de ter um pouco da visão de Iara. Bjos e boa leitura!
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