Capítulo 7: Términos
Recebi subitamente uma forte iluminação nos olhos, que me cegou momentaneamente, impedindo-me de visualizar o ser que estava a centímetros de mim. Estava totalmente indefesa nesse momento, nem minhas pernas estavam disponíveis se quisesse correr e essa era a única maneira de sair ilesa daquele combate na minha concepção.
Ouvi uma voz forte, que me interpelou asperamente:
-- Mocinha, o que pensa que está fazendo?
Ao mesmo tempo que falava, já veio pra cima de mim me puxando subitamente pelo braço e me arrastando impiedosamente pelo local, que naquele momento parecia definitivamente mal assombrado. Com o susto, ainda deixei o presente cair. É, a minha vida não está nada fácil.
Um pouco mais adiante, enfim tomei coragem para avaliar meu oponente. Era um homenzarrão de mais ou menos dois metros de altura, cara nada simpática e porte de lutador na categoria pesos pesados do UFC. Só pude pensar que meu fim estava muito próximo e que ninguém saberia onde estava e, portanto, meu corpo jamais seria descoberto. Estava em tal estado de pânico, que só poderia se comparar com as vítimas de 11 de setembro ou do terremoto mais recente do Japão.
Aquele homem era capaz de matar com um simples apertão mais forte e, por isso mesmo, preferia ter morrido em qualquer outra ocasião naquele dia. Me recriminei totalmente por não ter permitido que o tal bicho selvagem tivesse me estraçalhado. Seria mesmo uma morte menos dura do que a que me esperava.
Quando dei por mim, estava em uma sala iluminada e sendo olhada ameaçadoramente pelo cara. Arregalei os olhos e como não encontrei nenhuma outra saída, me coloquei a implorar pela minha vida:
-- Por favor moço, não me mate. Por tudo o que é mais sagrado. Juro que não estava fazendo nada demais, só queria recuperar o presente da minha namorada que estava no meu carro, que foi trazido pra cá sem que eu sequer soubesse. Não tire a minha vida, pelo amor de Deus, apesar do meu dia hoje ter sido verdadeiramente terrível, não quero morrer. – disse tudo num fôlego só, com toda a minha pompa dramática e completamente desesperada.
O cara, não sei se devido minhas palavras ou por causa da minha aparência, que se podia ser considerada semelhante ao Rambo no final de um daqueles filmes loucos, relaxou o rosto e perdeu um pouco aquela pose ameaçadora que ostentava.
-- Você está me dizendo que aquele carro que você estava destruindo agora pouco é seu? – perguntou desacreditado.
Fiz que sim com a cabeça confirmando e logo completei:
-- Pode olhar nos documentos moço, é meu sim. Precisava mesmo do presente que deixei lá, era caso de vida ou morte e como estava fechado e não tinha a chave, resolvi pular para pegá-lo. Nunca quis causar nenhum problema pra você, juro pelo que quiser.
Ele me olhou mais compreensivamente naquele momento e, pensativamente, resolveu relevar toda a confusão que eu havia causado. E, pasmem, ainda foi comigo até o carro e me deixou pegar a gargantilha. Essa vida é realmente uma caixinha de surpresas! Nem eu acredito que Murphy me deu essa trégua, é pra comemorar de pé.
Depois de liberada e de todo aquele sufoco, continuei em frente mais uma vez, com certa felicidade e plenamente orgulhosa de mim por ter sobrevivido a tantas coisas e mesmo assim não ter desistido. Mas sei que sou osso duro de roer mesmo. Sou brasileira e não desisto nunca.
Resolvi mentalmente passar em casa para tomar um banho, não queria me encontrar com minha loira naquele estado, certamente estava até com mau cheiro. Realmente não seria nada agradável, pois queria ter uma noite memorável. Era o mínimo que merecia depois de tantos dissabores.
Estava numa calçada qualquer, entregue aos meus pensamentos e, pra não perder o costume, totalmente alheia ao que acontecia no mundo real. Por isso, não reparei que entrei em uma rua mal iluminada e obscura de um bairro meio suspeito. As vezes fazia isso para cortar caminho, mas sempre durante o dia.
Não percebi também qualquer movimentação estranha a minha volta, por isso fiquei verdadeiramente surpresa e chocada quando apareceu do nada aquele pirralho e puxou com força a minha mochila. Gostaria mesmo de ter corrido atrás dele e bem que tentei, mas minha situação física me permitiu apenas uns poucos passos, pois minha perna direita estava me causando uma dor lancinante devido à torção.
Me deixei ficar um pouco ali, nem um pouco preocupada com o ambiente hostil que me encontrava. Na verdade, estava totalmente anestesiada. Já era quase uma da manhã, portanto o dia oficialmente já havia terminado, mas infelizmente não meus infortúnios. Murphy não tem dó de mim mesmo, não tem jeito.
Naquele momento, tive uma vontade arrebatadora de chorar, pela primeira vez naquele dia. Por que? Simplesmente porque o presente de Amanda que tanto lutei para comprar e, posteriormente recuperar, estava dentro da maldita mochila roubada e agora jamais os teria de volta. Teria que ir na cara dura mesmo, com as mãos abanando, sem ter qualquer coisa para oferecer para minha namorada naquele dia tão importante.
Não chorei mesmo, acho que o choque não me permitiu. Olhei em volta e me assustei por estar ali jogada no meio da rua, parecendo um daqueles pobres desabrigados que vemos por aí.
Como não havia mais nada a ser feito mesmo, e já parcialmente recomposta do choque daquele assalto, depois de alguns minutos caída naquele chão frio, me levantei e fui.
Não sabia mais pra onde deveria ir, mas como já não tinha presente algum para entregar a Amanda, desisti do banho e resolvi ir assim mesmo, toda desgrenhada, suja e destruída, para tornar mais real todos os meus infortúnios e ter mais motivos para fazê-la me perdoar por não ter aparecido no jantar na hora combinada.
Cheguei finalmente à casa de Amanda, exatamente uma e quarenta e dois da manhã, mas mesmo assim apertei a campainha, disposta a acordar a vizinhança toda se fosse preciso.
Depois de um tempo, Amanda apareceu de pijama com uma cara nada boa, que conhecia muito bem, estava totalmente mal humorada. Ao me ver, arqueou as sobrancelhas de uma forma totalmente irônica e disse:
-- Ah! Enfim, resolveu aparecer a margarida. Mas sinto lhe informar que chegou muito tarde. Não há mais comemoração alguma, pois a minha paciência se esgotou juntamente com o encerramento do dia.
Desconsiderei suas palavras e fui entrando porta adentro, tentando começar a me explicar:
-- Amanda, meu amor, você não sabe tudo o que tive que passar hoje e mesmo assim vim aqui pedir que me perdoe, porque não foi minha culpa, juro. Não me esqueci do nosso aniversário, mas as circunstâncias tornaram impossível que eu viesse antes.
Estava tentando retomar o fôlego e pensando no que diria para que ela me desculpasse daquele meu aparente descaso com nosso namoro, quando Amanda me interrompeu e começou seu discurso impiedosamente:
-- Chega, Sophia! Não quero ouvir nenhuma desculpa esfarrapada, porque se você quisesse realmente comemorar nosso aniversário de namoro teria dado um jeito. Faria qualquer coisa para estar comigo. Teria alugado até um helicóptero, se fosse preciso, e mesmo que estivesse numa cadeira de rodas teria vindo se arrastando, se fosse importante pra você. Até aceitaria suas desculpas se você estivesse em coma numa cama de hospital, mas um mísero braço quebrado não vai salvar sua pele dessa imensa falta de consideração comigo.
Respirou fundo e continuou me destruindo por dentro com suas palavras cruéis:
-- E não adianta que não vai me convencer só porque está com essa aparência desastrosa. Aliás, essa é mais uma falta de respeito da sua parte. Chegar aqui, fedendo mais que porco no chiqueiro, aposto que armou tudo isso pra tentar me emocionar com alguma desgraça que você sempre inventa que te acontece. Não caio mais nesse seu papinho furado.
-- Amanda, você precisa me ouv...
Não consegui terminar a frase, pois ela logo continuou disparando:
-- Não vou ouvir nenhuma palavra sua, você não se dignou nem a atender meus telefonemas, não me mandou uma mísera mensagem. Pelo que estou vendo, nem presente você teve a capacidade de comprar. Então, como pra você nosso relacionamento está e sempre esteve em último lugar na sua vida, eu definitivamente quero e mereço alguém que me considere a coisa mais importante do mundo e que faça qualquer coisa por mim, até mesmo enfrentar uma maratona se eu pedir. E hoje, ou melhor, ontem, tive a confirmação necessária de que você não é a pessoa que quero passar o resto da vida junto. Portanto, adeus. E não adianta fazer essa cara de cachorro sem dono. Nosso namoro acaba aqui e não me procure mais. Não aceitarei nenhuma justificativa infundada. Esqueça que eu existo e que um dia fiz parte da sua vida, entendeu?
Empurrou-me porta afora e fechou-a na minha cara tão bruscamente, que até o trinco quebrou. Eu me senti um pouco como aquela porta, semi destruída, como se faltasse uma parte importante do meu ser. Era exatamente assim que se encontrava o meu coração naquele momento: totalmente aos pedaços.
Depois de alguns minutos de total desesperança com tudo, resolvi ir embora para casa. Eu a conheço bem e sei que não falaria mais comigo naquele momento. Mas, se me acontecesse algo mais naquele dia, juro que eu mesma me jogava da ponte da cidade. Se vocês me vissem nessa hora, teriam visualizado um rosto a lá Brás Cubas, de quem estava indo assistir seu próprio velório e posterior enterro, num dia chuvoso e sem quase platéia.
Cheguei em casa e fui direto para o banho, para eliminar toda aquela sujeira que me encontrava. Só o que desejava era que a água que caia sobre minha cabeça e escorria pelo ralo, também pudesse levar consigo as marcas daquele dia.
Depois do banho, fui a cozinha ver se encontrava algo para comer, pois novamente só tinha almoçado hoje e estava faminta, mas minha procura foi vã, pois não tinha ido ao supermercado ainda. Realmente Murphy me adora.
Resignadamente, resolvi ir pra cama assim mesmo, mas meu gesso ficou preso sei lá como na porta do armário e este se abriu, derrubando praticamente todas as coisas que lá estavam. Sem condição alguma de arrumar aquela catástrofe, naquela hora da madrugada, continuei andando rumo ao quarto e no caminho, visualizei algo estranho no chão perto da bancada separatória da cozinha com a mesa de jantar.
Parecia um comprimido. Cheguei mais perto e confirmei minha primeira impressão. E não era qualquer comprimido, era daqueles pequenos e azulzinhos que minha mãe tomava para dormir. Ela deve ter esquecido na última vez que veio aqui e ele deve ter caído do armário agora pouco. Sem pensar, peguei-o e tomei prontamente. Acho que merecia pelo menos uma boa noite de sono depois de tudo o que tinha enfrentado.
Fim do capítulo
Depois de um longo hiato retornei e dessa vez não arredo o pé daqui até o final. Obrigada a todas pelo carinho e espero que continuem apreciando as trapalhadas da Sophia. Espero que Murphy dê uma trégua pra coitada, também tenho dó dela, podem acreditar. Até o próximo!
Comentar este capítulo:
rhina
Em: 09/03/2017
O dia terminou enfim......e definitivamente terminou. .....arrassou com a vida da Sophia.....
e o grand finale. ...um comprimido azul largado sobre uma mesa fecha sua noite
Goodman night Sophia
rhina
Resposta do autor:
Finalmente o dia acabou, demorou, mas ufa, para alivio de todas foi-se, o Murphy também estava precisando de uma folguinha né, trabalhou demais ele kkkkk
O comprimido azul foi pra ajudar a Sophia coitada, que estava toda estrupiada lá, fui boazinha com ela, fiz aparecer um calmante pra ela dormir, não quis matar a coitada não viu kkkkkk
Mag Mary
Em: 05/12/2016
Oie Dani, que bom que você voltou e trouxe contigo a Sophia, que claro, sempre vem acompanhada de Murphy rsrsrs.
Bjus
Resposta do autor:
Olá Mag Mary! Sophia e Murphy são dupla dinâmica igual batman e Robin, sempre juntos nas desgraças lindas kkkk Voltei pra ficar, vou tentar postar religiosamente agora. Conto com sua presença. Beijoo..
[Faça o login para poder comentar]
Mille
Em: 18/10/2016
Olá Dani que alegria ter você aqui!
Tadinha da Sophia, passou um dia infernal e ainda levou o fora da namorada que não deixou nem ela explicar.
Espero que esse remédio possa faz ela dormir tranquilamente, mais acho que não parou por ai de desastres.
Bjus e até o próximo
Resposta do autor:
Olá Mille! Muito bom ter você por aqui também. O dia da Sophia foi mesmo infernal, fiquei com pena dela, mas viu que arranjei um comprimido pra coitada dormir né?! Fui boazinha, pode falar.
Agora Murphy deve pegar mais leve com ela, mas abandonar sua paixão encubada pela Sophia, acho difícil.rs. beijoos. Até :)
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]