Em mais uma visita ao orfanato, Lívia estava sentada desenhando com Aninha, uma loirinha que a havia encantado nas últimas vezes em que esteve ali, enquanto Bruna brincava no parquinho com Afonso. A morena fazia apenas alguns rabiscos no papel, estava distraída observando a brincadeira ao longe, quando foi surpreendida por uma pergunta inusitada.

- A tia Bruna vai ser mãe do Afonso? - Aninha questionou observando os dois.

- Não, meu amor, eles são amigos, assim como nós duas, entendeu? - tentou explicar para a menina, não queria criar expectativas na criança sobre algo que poderia não acontecer.

- Sabe, quando eu brinco de casinha, gosto de imaginar que tenho uma mãe bem bonita e parecida comigo. - apesar de sorrir com a inocência da menina, Lívia sentiu-se triste com o que ouvia - Eu acho que a tia Bruna poderia ser a mãe do Afonso de mentirinha!

- Um dia você vai ter uma mãe, Aninha, - falou sensibilizada - e talvez não pareça tanto com você, mas ela vai te amar tanto que isso não vai importar!

- Não fica triste, tia, eu não tenho uma mamãe ainda, mas sou muito feliz porque tenho vários amigos legais, igual você e a tia Bruna.

Lívia abraçou a menina, ainda mais tocada com sua sensibilidade, e deu um beijo carinhoso em seu cabelo.

- Eu também adoro ser sua amiga, viu? - a menina sorriu feliz para a mais velha - Agora vamos terminar logo esse desenho que o dia já está escurecendo!

- Titia, dá próxima vez que você vier me ver, traz a tia Cris também? - Afonso perguntou enquanto Bruna o balançava.

- Claro, meu anjo! Ela vai ficar muito feliz quando souber que você está com saudade dela! - assim como Bruna ficou feliz por notar que o menino havia se afeiçoado à sua mãe

- e o Tio Marco, não quer que ele venha também?

- Pode ser, mas não estou com saudades dele ainda! - o menino falou inocente.

- Não? - Bruna riu da sinceridade inocente da criança - Ele vai ficar triste quando souber disso!

- O tio Marco sempre vem me ver - o menino falou sem saber que estava "entregando" o mais velho - às vezes ele fica mais tempo lá dentro com o tio Tiago, mas sempre brinca um pouco comigo.

- Entendi, Afonso! Pode deixar que trarei a minha mãe na minha próxima visita. - a ruiva respondeu meio pensativa, não conseguia imaginar por qual motivo seu pai estava indo até ali ter conversas com Tiago.

Um mês havia se passado desde o final de semana em Petrópolis. Eduardo já estava ciente do romance entre as mulheres, mas preferiu não agir de cabeça quente, no final, estava procurando um jeito de conseguir tirar proveito da situação. Ele já sabia também que Bruna estava visitando com frequência o orfanato, mas não fazia ideia de que ela visitava o filho que ele aceitou se desfazer e, como a ruiva não havia trazido o assunto adoção para casa, Eduardo achou que era algo sem importância.

Nesse tempo, Tiago e Marco Antônio fizeram tudo que estava ao alcance deles para chegar até a verdade. Marco havia descoberto coisas interessantes, como o fato de o médico que atestou a morte do bebê nunca ter clinicado na vida e que esse homem havia recebido um dinheiro para sumir do mapa. Para Marco era inacreditável que alguém tivesse armado para separar Bruna de seu filho, uma vez que a moça nunca fez nada para justificar tamanha crueldade, e mesmo sabendo que Rogério era extremamente ganancioso quando o assunto é política, não conseguia assimilar que o homem teria coragem para praticar tal ato. De qualquer forma, um detetive de confiança já buscava encontrar o falso médico.

O exame de DNA já havia sido feito, não foi difícil convencer Bruna a fazer "exames apenas para verificar se estava tudo bem" e, como já era esperado, Marco Antônio chorou de alegria quando descobriu que seu neto tão desejado estava vivo e tão perto deles. O primeiro abraço após a notícia fez Marco Antônio chorar como uma criança, emocionando também Tiago que assistia a cena e deixando o pequeno Afonso confuso com o que estava acontecendo. Os dois adultos combinaram de esperar o momento certo para revelar aquilo para Bruna, precisavam descobrir mais coisas e o pai da ruiva sabia que não seria fácil para ela lidar com tanta coisa ao mesmo tempo.

Depois que saíram do orfanato, Bruna e Lívia estavam indo para o apartamento da morena. Bruna já havia percebido que nos últimos dias a morena estava se apegando cada vez mais a pequena loirinha do orfanato.

- Você se afeiçoou muito à Aninha, não é? - viu um sorriso brotar no rosto da mulher ao seu lado antes dela responder.

- Sim, ela é tão linda e tão delicada! Eu realmente estou encantada com aquela loirinha.

Antes que Bruna pudesse responder, escutou o toque de seu celular e o atendeu quando viu que era sua mãe. Lívia voltou sua atenção ao trânsito mas não conseguia tirar da cabeça as coisas que a pequena Ana havia lhe dito mais cedo a respeito da semelhança entre Bruna e Afonso. Como se uma luz tivesse acendido em sua cabeça ao notar que a ruiva conversava com a mãe, Lívia decidiu que iria procurar Cristina, talvez ela lhe desse alguma resposta para suas indagações.

Depois do jantar, Bruna se despediu e seguiu para sua casa. Com o marido lá, não gostava de dormir fora e ter que encarar seus questionamentos no dia seguinte. Lívia aproveitou quando ficou sozinha para ligar para Cristina e convidá-la para um almoço no dia seguinte. A mais velha aceitou de bom grado, queria mesmo conhecer um pouco mais da pessoa que estava fazendo sua filha tão feliz nos últimos meses.

Lívia chegou ao restaurante combinado e encontrou Cristina já a esperando. Sentou-se e cumprimentou a mais velha.

- Boa tarde, Cristina. Como vai?

- Boa tarde, Lívia, estou ótima e você?

- Estou bem, obrigada! E então, já fez seu pedido?

- Não, preferi esperar que você chegasse!

As duas olharam o cardápio e logo Lívia chamou o garçom para que fizessem os pedidos. Depois que ele se afastou da mesa, a morena resolveu ir direto ao assunto que tinha para falar com a mais velha.

- Ontem eu e Lívia estivemos no orfanato, fomos visitar Afonso e também a Ana, uma menina linda que tem lá, a Bruna fica tão feliz quando está perto do menino. - falou inserindo a ruiva na conversa, para aos poucos chegar aonde queria.

- Estou sabendo, Bruna comentou comigo que Afonso disse sentir minha falta, fiquei tão feliz ao saber disso! - Lívia achou lindo o carinho que viu nos olhos da mulher ao falar do menino - Aquele menino é um príncipe, não é?

- Um lindo príncipe! - concordou com ela - Mas uma coisa que a Aninha me falou não para de martelar na minha mente, Cristina, e acho que você pode me ajudar nisso.

- E o que foi que ela te falou, Lívia? Não me deixa preocupada!

O garçom chegou com os pedidos e Lívia esperou ele se afastar novamente para continuar falando.

- Ela me disse que a Bruna poderia ser mãe do Afonso. - Lívia falou de uma vez, notando as diferentes feições da mulher a sua frente enquanto assimilava o que ouviu - Foi muito inocente da parte dela, ela acha que mães e filhos tem que ser parecidos e que os dois podem ser mãe e filho, uma vez que se parecem. Ela é só uma criança, eu sei! Mas isso é tão surreal, você entende?

- Então você nunca havia percebido a semelhança entre eles? - Cristina perguntou curiosa.

- Sim, desde a primeira vez que vi Afonso. Mas escutar isso da Ana, com toda a sua inocência, despertou alguma coisa na minha mente. Isso tudo é tão estranho, mas há algo por trás disso, algo que precisa ser descoberto, Cristina!

A mulher mais velha percebeu toda a aflição que Lívia estava sentindo e decidiu contar para ela tudo que estava acontecendo. Sabia que a moça era de confiança e que nada faria para magoar sua filha.

- Eu acredito que posso te contar o que está acontecendo, mas você precisa se acalmar, Lívia. Eu sei que toda essa aflição é porque você quer o bem da minha filha e do Afonso também, mas com tanto nervosismo não vai poder ajudar. - falou tentando acalmá-la.

- Ajudar? Mas como? Então você já sabe de alguma coisa? - perguntou ansiosa.

- Sim, eu desconfiei da semelhança entre eles no momento em que coloquei os olhos em Afonso. Ele é uma cópia fiel do Ricardo, meu filho, chega a ser mais parecido com ele do que com Bruna. Logo que Marco Antônio ficou sabendo disso e o conheceu, a dúvida o afetou também e ele resolveu buscar as respostas necessárias.

- O Marco está investigando a vida do Afonso?

- Mais ou menos isso, ele e Tiago estão fazendo o possível para encontrar a verdade dessa história! Mas, em meu coração eu já tenho todas as respostas que preciso, Lívia. Aquele menino é meu neto, eu tenho certeza disso!

- Eu não sei... - a cabeça de Lívia chegava a doer nesse momento, de tão confusos que seus pensamentos estavam - É muita informação, eu tinha algumas desconfianças mas não esperava por tanto!

- Estou te contando tudo porque sei que minha filha gosta muito de você e que posso confiar em ti!

- Eu quero ajudar! - Lívia falou decidida - Eu faço o que estiver ao meu alcance para ajudar. A Bruna vai ficar tão feliz quando souber, ela já gosta tanto do Afonso, imagina quando souber disso.

- Lívia, você precisa ter calma, por favor! Toda ajuda será bem-vinda mas a Bruna não pode saber de nada por enquanto, nós só queremos contar para ela quando tudo estiver esclarecido.

- Tudo bem, eu não direi nada! - e então Lívia se lembrou de Eduardo, será que poderia ter dedo dele nessa história - Cristina, e o marido dela? Já está ciente de tudo isso?

- Não, e nem vai! - Lívia percebeu a mudança de expressão da mulher ao falar do genro - O Eduardo é quem deve saber por último disso tudo. O modo como ele reagiu a morte do filho, você precisava ter visto, ele parecia se culpar pelo que estava acontecendo e na época isso não pareceu nada demais, achei que fosse o modo dele lidar com a perda da criança. Mas agora, parece que tem algo a mais nas atitudes deles. E tem o pai dele, sempre frio, uma lágrima aquele homem não foi capaz de derramar pelo neto que havia acabado de partir. Quando paro para pensar nisso, só consigo pensar que eles têm alguma coisa a ver com toda essa sujeira que foi feita!

- Você acha que o Eduardo teria coragem de fazer algum mal ao próprio filho? - Lívia conhecia o caráter duvidoso do homem, mas isso parecia demais, até para ele - Isso torna essa história ainda mais surreal!

- Não duvide da maldade das pessoas, Lívia. Eu tenho meus motivos para não gostar do Eduardo, desde que tudo aconteceu ele mudou tanto, é uma marionete nas mãos do pai, e o modo como desrespeita minha filha, só ele não percebe que todos já sabemos das suas mil amantes. Já tentei tirar Bruna desse casamento tantas vezes, isso nunca a fez bem!

Lívia sentiu-se mal nesse momento, afinal, ela era uma das mil amantes de Eduardo. Ou havia sido, uma vez que já fazia algum tempo que não encontrava o homem. Mesmo assim, a morena se dispôs a ajudar em tudo que fosse necessário e se comprometeu a guardar segredo enquanto tudo não fosse esclarecido. O que Lívia não contou para Cristina é que se Eduardo tinha alguma coisa a ver com isso mesmo, ela estava disposta a descobrir, mesmo que para isso tivesse que voltar a se aproximar dele.

Na verdade, Lívia estava estranhando o fato de o homem ter simplesmente parado de procura-la de uma hora para a outra. No último mês, Eduardo não havia ligado para ela uma vez sequer, e Lívia não conseguia entender o motivo disso, já que pouco tempo antes o homem insistia para que marcassem um encontro, estava sempre ligando e a procurando. Mas não se deixaria afetar por isso, iria procurar Eduardo e sabia que ele não se negaria a encontra-la se ela dessa a entender que seria um encontro prazeroso, mesmo que não estivesse em seus planos ir para a cama com ele.

Depois do almoço, Lívia foi para casa tentando digerir tudo que havia escutado. Então suas desconfianças não eram infundadas, pelo contrário, pareciam estar corretas. Disposta a começar a ajudar o quanto antes, pegou seu celular e logo discou o número de Eduardo.

- Alô?

Eduardo atendeu desconfiado. Sabendo que Lívia estava mantendo um caso com sua mulher, não havia motivos para ela estar lhe procurando. Resolveu ver o que a mulher iria querer com ele.

- Oi, Edu, como você está? Senti sua falta esses dias! - falou sedutora, esperando que o homem mordesse a isca.

- Estou bem, Lívia, e você? - ela percebeu que ele ainda estava receoso com aquela ligação repentina e sabia o que precisava para conseguir o que queria.

- Tudo bem, mas como eu disse, estou sentindo falta de você. - insistiu - Será que a gente poderia marcar um encontro? Você sabe como é, né? Nenhum dos meus clientes chega aos seus pés, Eduardo!

Lívia sabia que o homem adorava ter seu ego inflado e faria isso até que ele finalmente cedesse.

- Nem as suas clientes? - ele indagou a pegando de surpresa, mas Lívia não se deixou abater e o respondeu.

- Mulheres não tem o que estou precisando, Eduardo! Você sabe bem do que estou falando e do que preciso. E então, o que me diz?

Ele demorou um pouco para responder, ainda tinha certa desconfiança quanto ao que ela dizia. Mas sentia falta dos encontros com Lívia, e se ela o queria, não iria negar.

- Eu aceito! Amanhã a noite, naquele mesmo hotel de sempre?

Lívia sorriu ao notar que ele finalmente mordeu a isca.

- Combinado! 

Fim do capítulo