No quarto do chalé, as duas mulheres se amaram e saciaram seus desejos até que ficassem exaustas. Lívia acordou com o toque de seu celular, assim que abriu os olhos percebeu que estava sozinha no quarto. Pegou o celular e sentiu seu coração pesar ao ver que era Eduardo quem estava ligando. Ignorou a chamada, mas isso não fez com que a culpa deixasse de se apossar dela. A morena sabia que não estava certo o que vinha fazendo, estava sendo desleal com Bruna e, de certa forma, com Eduardo também, uma vez que o plano deveria ser para ajuda-lo e agora tudo que ela mais queria era manter Bruna longe do homem.

Sabia que suas possibilidades eram se afastar de Bruna e deixa-la seguir a vida, mesmo que isso causasse sofrimento as duas, ou contar todo o plano e tudo que sabia para a ruiva e enfrentar Eduardo. Mas havia o medo da rejeição, era isso que a impedia de contar tudo para Bruna. E se a ruiva se decepcionasse a ponto de não levar a diante o que elas tinham? E se mesmo depois de saber de tudo Bruna quisesse continuar casada? Seria muita pretensão de sua parte achar que a mulher largaria tudo para ficar ao seu lado?

Lívia decidiu deixar essas questões para outro momento e aproveitar o tempo que tinha ao lado da ruiva que estava a fazendo tão bem. Vestiu um roupão e saiu do quarto em busca de Bruna. Encontrou a mulher na varanda, estava sentada enquanto lia um livro. Aproximou-se sentando em seu colo e passando os braços em seu pescoço.

 - Bom dia, dorminhoca! - Bruna a cumprimentou com um sorriso.

- Bom dia. - deu um beijo rápido na ruiva - Está acordada faz muito tempo?

- Sim, o Lúcio e a mulher dele estiveram aqui para saber se precisávamos de alguma coisa.

- Poderia ter me acordado para lhe fazer companhia. - Lívia respondeu enquanto descia seus beijos para o pescoço da ruiva.

- Você parecia cansada, achei melhor deixa-la dormindo! - Bruna sentiu os beijos se transformando em mordidas e sorriu com aquilo. Estava com algumas marcas naquele local por causa da noite passada. - Lívia, você precisa parar de marcar meu pescoço, não é fácil esconder isso.

- Não consigo, é mais forte que eu! - Lívia falou, rindo da bronca que estava levando, e continuou com seus carinhos até que sentiu um gosto estranho e afastou-se enquanto Bruna ria de sua cara.

- Tive que passar um pouco de base ai, estava bem feio. - Bruna gargalhava enquanto Lívia esfregava a boca tentando tirar o gosto da maquiagem - Saí para dar uma volta de bicicleta, não podia deixar as pessoas verem isso e achar que estou apanhando de alguém!

- Isso tem um gosto horrível, Bruna! Vá lavar esse pescoço! - Lívia falou enquanto ria da situação - Prometo me controlar, pelo menos enquanto estiver cheio de base.

- Vamos lá em cima, você me ajuda a tirar isso e veste uma roupa.

As duas mulheres levantaram e Lívia abraçou a ruiva por trás para falar em seu ouvido.

- Prefiro te ajudar a tirar sua roupa!

Enquanto isso, Eduardo estava se divertindo em um hotel qualquer de São Paulo com uma de suas várias amantes quando ouviu o celular tocar e o número já conhecido aparecer no visor.

- Espero que tenha boas notícias para estar me ligando no sábado!

- Acho que já tenho todas as respostas que você queria! Assim que desejar, lhe mostro tudo que consegui. - respondeu o homem do outro lado da linha.

- Ok, te ligarei na segunda-feira!

Eduardo terminou a ligação sentindo que finalmente iria dar um jeito nas coisas que o estavam incomodando. Sabia que Lívia lhe escondia alguma coisa e não deixaria isso barato. Agora teria a mulher em suas mãos, tinha essa certeza!

No orfanato, Afonso estava brincando com os amigos no pátio quando viu Marco Antônio e Cristina entrando. Correu até os dois, feliz por vê-los.

- Tia Cristina, que saudade! - falou abraçando as pernas da mulher, que logo se abaixou para falar com ele - A tia Bruna veio ontem e prometeu que ia trazer vocês mas não sabia que ia ser tão rápido!

- Oi, meu anjinho! - a mulher deu um beijo carinhoso no menino - A tia Bruna nos contou do desenho que você fez e nós ficamos tão felizes que viemos buscar logo!

- Ei, garotão, eu não ganho um abraço? - Marco Antônio perguntou já se abaixando para cumprimentar o pequeno.

- Tio, a gente vai jogar bola hoje? - o menino perguntou depois de dar um beijo no rosto do homem.

- O tio precisa conversar com o Tio Tiago um pouquinho, mas depois a gente vai jogar sim! Porque você não leva a tia Cris para ver os desenhos enquanto isso?

- Vem, tia, você vai adorar o seu desenho, a tia Bruna que me ajudou a fazer. - o menino pegou a mão da mulher e saiu a conduzindo para dentro.

Dentro do escritório, Tiago já havia deixado separado tudo que havia encontrado sobre Afonso.  Ouviu as batidas na porta e sabia que era Marco Antônio.

- Bom dia, Tiago, como vai? Espero não estar incomodando por aparecer numa manhã de sábado.

- Bom dia, Marco, não é incomodo nenhum! Por favor, sente-se, acho que vai se interessar pelas informações que tenho!

Tiago pegou em sua gaveta a pasta onde havia colocado todas as informações a respeito do pequeno Afonso. Em pouco tempo o rapaz encontrou coisas interessantes sobre o menino.

 - Mostre tudo que você descobriu, Tiago - o mais velho falou enquanto se sentava - se tivermos coisas suficientes, podemos pensar na possibilidade de fazer um exame de DNA.

- Bom, aqui está o arquivo do Afonso, tem o dia que ele chegou aqui, todas as informações que tivemos na época e também os dados que atualizamos anualmente para nosso controle interno. - Tiago entregou a pasta esperando que Marco Antônio observasse tudo - Como o senhor pode ver, o Afonso chegou aqui dia 7 de novembro, a senhora que o recebeu não trabalha mais aqui, mas eu fui até a casa dela saber do que se lembrava.

- Então ele chegou aqui no dia seguinte ao seu nascimento! Essa senhora tinha alguma informação interessante?

- A dona Tereza lembrou-se do menino pois foi um dos últimos que ela cuidou antes de adoecer e largar o orfanato. Mas não me disse nada que nos ajudasse, infelizmente. Ele foi trazido para cá por uma mulher que não quis se identificar e apenas disse que o menino era órfão e que o último pedido de sua mãe foi que ele se chamasse Afonso.

- Realmente, isso não nos ajuda muito! - afirmou o mais velho - Aqui diz que o Afonso faz uso de medicamentos, o que são?

- Sim, o Afonso tem asma, esses são os medicamentos que normalmente ele faz uso quando algum sintoma aparece. Mas, apesar disso, o caso dele é leve, teve poucas crises em todos esses anos e a doença pouco aparece no cotidiano.

- Bem que eu notei que não eram medicamentos desconhecidos, a Bruna é asmática! - respondeu o homem pensativo -  São muitas coincidências, se é que podemos chamar assim.

- Sim, é realmente incrível que isso tudo esteja acontecendo! O que o senhor descobriu? Algo além do que já sabemos?

- Existe alguma coisa nessa história que quiseram esconder muito bem! Essa semana eu me encontrei com o médico que cuidou de Bruna durante toda a gravidez e que fez o parto, e o que ele me disse é que não foi ele quem atestou a morte do bebê. Quando Bruna deu entrada na emergência do hospital, o Drº Hélio já estava de saída, mas resolveu fazer o parto da minha filha por cuidado e preocupação. Após o parto, ele constatou que o menino passava bem e foi embora. Três horas depois, o menino faleceu.  O médico que atestou a morte do menino nunca trabalhou naquele hospital!

- Mas houve um velório? O corpo da criança foi enterrado? Quem acompanhou isso tudo?

- A família do Eduardo, meu genro, foi quem cuidou de tudo. Não houve velório, apenas um enterro. Se minhas dúvidas estiverem corretas, eu não posso questionar o Eduardo ou seu pai.

- O senhor desconfia deles? É isso que quer dizer? - Tiago estava horrorizado com tal desconfiança, em sua cabeça era inaceitável um pai tomar uma atitude como essa.

- Eu conheço o pai do Eduardo há muito tempo, somos amigos, mas o Rogério é um homem ambicioso e não mede esforços para chegar aonde quer. Eu não sou capaz de entender o propósito dele com essa atitude, mas não posso descartar essa desconfiança!

- E como o senhor pretende descobrir isso? - perguntou Tiago entristecido com tudo que escutou - Acho que já é uma boa ideia um exame de DNA, se suas desconfianças estiverem certas, estamos falando de coisas sérias demais para serem negligenciadas!

- Ter sido governador me trouxe algumas coisas boas, já tenho pessoas de confiança cuidando dessa parte! - o homem afirmou - Quanto ao exame, mandarei alguém de minha confiança vir aqui ainda essa semana. Prepare o menino e eu cuidarei da Bruna. Nenhum dos dois pode desconfiar disso, Tiago! Será nosso presente para eles!

De volta ao chalé, as duas mulheres passaram o sábado deitadas enquanto namoravam e conheciam mais uma da outra.

- Lívia, a gente precisa comer alguma coisa, estou faminta! - Bruna reclamou soltando-se do abraço da outra.

- Vamos ficar aqui só mais um pouquinho - a morena respondeu enquanto puxava a ruiva de volta para si - não quero sair dessa cama nunca mais!

- Nada disso, já é noite e nós passamos o dia nesse quarto, vamos agora!

Bruna levantou e vestiu uma blusa larga que achou jogada em  um canto do quarto. Lívia apenas cobriu-se com um roupão e a seguiu. Enquanto a ruiva preparava o jantar das duas, Lívia acendeu a lareira e procurou um vinho para elas. Pouco tempo depois as duas estavam jantando entre carinhos e conversas animadas.

- Vamos lá para a sala, acendi a lareira para a gente!

Lívia pegou a ruiva pela mão e a conduziu até o tapete, sentando-se e encaixando a ruiva entre suas pernas.

- Obrigada, Bruna! - Lívia disse enquanto abraçava a mulher, fazendo um carinho leve em sua pele.

- Obrigada? - questionou a ruiva.

- Pela surpresa, por ter me trazido até aqui e estar me proporcionando todos esses sentimentos! - Lívia esclareceu sorrindo.

- Eu estou tão feliz quanto você, então não precisa agradecer! - Bruna respondeu e virou-se para beijar a morena. - Fica aqui!

Bruna levantou e foi até o piano que ficava naquela sala. A ruiva tinha boas lembranças daquele piano, foi ali que viu sua paixão nascer. Sentou-se e olhou para a morena que agora estava deitada no sofá a observando. Perdeu alguns segundos admirando a beleza da mulher, seu sorriso encantador e o corpo perfeito que tanto a excitava. Lembrando-se da música perfeita para aquele momento, Bruna começou a tocar as primeiras notas.

Lívia ouviu as primeiras notas musicais e reconheceu a música que a ruiva tocava para ela. Sorriu lembrando-se daquela letra e de como poderia facilmente se encaixar com o momento em que viviam. Os olhares não se desgrudavam, as duas não precisavam dizer nada, tudo que precisava ser dito era passado enquanto olhavam-se perdidas na esfera daquele momento. O sorriso de Lívia tornou-se ainda maior quando ela ouviu Bruna cantar o refrão da música.

It's just a drop in the ocean (Uma gota no oceano)

A change in the weather (Uma mudança no tempo)

I was praying (Eu estava rezando)

That you and me (Para que você e eu)

Might end up together (Pudéssemos acabar juntos)

It's like wishing for rain (É como desejar a chuva)

As I stand in the desert (Enquanto eu estou no meio do deserto)

But I'm holding you (Mas estou te segurando)

Closer than most (Mais perto do que nunca)

'Cause you are my heaven (Porque você é meu paraíso)

Enquanto escutava Bruna cantar e tocar para ela e a observava tão linda e serena, Lívia mais uma vez teve a certeza que queria e precisava daquela mulher ao seu lado. Não iria abrir mão ou perde-la, ainda que tivesse muita coisa para enfrentar, faria isso. 

Para quem quiser escutar, segue o link:

https://www.youtube.com/watch?v=3lSDU48Pr_Q

Fim do capítulo