Capítulo 28 - Alerta
Era uma segunda feira. Após uma semana em casa fazendo companhia a Giovanna, eu estava voltando para a diretoria da Andrade Lemos. Foi duro ter de deixá-la, uma parte de mim sabia da responsabilidade que eu tinha com a escola, mas a outra, quer dizer, a maior parte de mim não queria sair do lado dela.
No entanto, fui praticamente um voto vencido. Celina e Giovanna acabaram me convencendo de que não havia necessidade de eu ficar em casa, que era melhor deixar o meu afastamento da escola quando o parto estivesse mais próximo, para que assim eu pudesse acompanhar a minha esposa, e posteriormente a minha filha.
Apesar de Celina me garantir que ficaria de olho em Giovanna, eu fui trabalhar um pouco preocupada, resignada na verdade. Minha sogra havia prometido ficar conosco até o nascimento de Anna Sophia, e eu quase implorei para que ela ficasse na nossa casa. Não confiava deixar a ruiva sozinha, eu a conhecia muito bem pra saber que ela não ficaria quieta por muito tempo.
Celina não precisou pensar a respeito de minha proposta duas vezes, logo ela concordou, e isso me deixou mais aliviada e feliz.
Quando cheguei a Andrade Lemos, para minha surpresa, dei de cara com Thaís deixando o carro de Marcela. Sorri de orelha a orelha. Me encostei em meu carro, e fiquei olhando as duas que se despediam bem próximas uma da outra.
E não é que a minha missão cupido deu certo! Sorri com meu próprio pensamento e me esgueirei atrás do carro quando vi Thaís, vindo na mesma direção que eu estava. Ela passou por mim sem me notar.
-- Já virou romance? – perguntei assustando-a.
Thaís deu um saltinho e um pequeno grito. Virou em minha direção com a mão sobre o peito e o rosto levemente lívido.
-- Tá querendo me matar do coração Malu? – suspirou – O que você ta fazendo aí?
-- Eu? Nada. É que vi vocês ali e achei bonitinho.
-- Você estava espiando?
-- E tinha algo pra espiar?
Ela ficou vermelha, abriu a boca algumas vezes e estampou aquele sorriso iluminado que ela sempre tinha nos lábios. Felicidade, era o que estava escrito em seu rosto.
-- Estamos nos conhecendo... – ela quase sussurrou.
-- Olha eu vou querer saber de todos os detalhes viu? – falei voltando a sorrir.
-- Claro, você foi a responsável por essa aproximação, nada mais justo do que dividir isso com você. Mas te conto isso em um outro momento, agora, a primeira coisa que preciso fazer, é te passar a sua agenda.
-- Você tinha mesmo que me lembrar de trabalho acumulado Thaís? – perguntei revirando os olhos.
-- Ai chefinha, o que estava ao meu alcance eu fiz, mas algumas delas precisam de seu aval, sua assinatura, ou sua presença.
-- Tudo bem. Então, mãos à obra.
Thaís me acompanhou até a minha sala com uma agenda de anotações. Me passou tudo o que eu teria aquela semana, e até alguns compromissos na próxima semana.
Entre um compromisso ou outro, acabávamos falando de algum assunto que não tinha nada a ver com que discutíamos naquele momento.
Brevemente contei sobre o que aconteceu com Giovanna. Thaís ficou estarrecida e me fez repetir várias vezes que Giovanna estava bem até que ela se convencesse disso. Não contei sobre o incidente com Henrique, mas contei sobre a conversa com Esther, e depois, com a advogada.
Thaís me relatou, que Marcela e ela estavam se conhecendo, já haviam saído juntas algumas vezes, no entanto, Marcela ainda não tinha conversado com Otávio, dando um final definitivo aquela tentativa de reatar o casamento. E elas nunca haviam passado de beijos e inocentes carícias.
A situação mais complicada entre elas era Gustavo, ele parecia desconfiar de algo, então sempre tratava Thaís de forma grosseira e rude. Conversaria com Marcela, se ela quiser levar adiante o que estava acontecendo entre ela e Thaís, o quanto antes ela conversasse com o ex marido e o filho, melhor.
Talvez fosse difícil fazer o filho pré-adolescente entender um provável relacionamento entre as duas, mas com conversa e diálogo as coisas podiam começar a entrar nos eixos e se acertarem.
Conversamos por um bom tempo, e só então fui pensar em começar a trabalhar. Antes de me envolver em qualquer atividade, aproveitei que estava longe dos ouvidos de minha esposa, e liguei para Márcia. Ela disse que tinha boas notícias para me dar, mas preferia que eu fosse até o seu escritório para que pudéssemos conversar melhor.
Fiquei completamente entretida e compenetrada naqueles afazeres que Thaís havia me passado logo cedo. Não eram muitas coisas, mas precisavam de atenção e cuidado. E apesar de não serem assuntos graves, quanto mais cedo colocasse tudo em ordem, melhor. E, breve me ausentaria por um tempo mais longo, e não queria deixar nada em cima de Thaís.
Próximo ao final da manhã fui para as quadras. Passei o resto da manhã por lá, me empolguei assistindo algumas partidas e só me dei conta do adiantar das horas quando vi que os pais começavam chegar à escola para buscar os filhos.
Voltei a minha sala e liguei para Giovanna avisando que já estava indo para casa. Almoçaria com ela e com a minha sogra. Passei na sala de Thaís para avisar que almoçaria em casa, mas em breve retornaria.
-- Você não quer almoçar com a gente?
-- Obrigada pelo convite, eu adoraria almoçar com vocês, mas é que já tenho um compromisso. – disse com um pequeno sorriso.
-- Ah sei. Diga a Marcela que mandei um beijo.
Ela sorriu ficando ruborizada.
-- Então eu já indo.
-- Espera. – olhou algo no celular e em seguida levantou pegando a bolsa – Eu vou com você, daí você aproveita e você mesma da o beijo em Marcela.
Deixamos a pequena saleta ao lado de minha sala e nos encaminhamos para o estacionamento na parte detrás da escola – estacionamento exclusivo para professores e funcionários da escola.
Já no estacionamento, avistei de longe o carro da morena estacionado do outro lado da rua. Eu tinha a intenção de ir até lá cumprimentá-la, mas parei no meio do caminho e me despedi de Thaís, quando meu celular vibrou dentro da bolsa.
Era uma ligação com ID privado, mas mesmo assim, eu atendi.
-- Alô?
-- Você ama a sua esposa? – uma voz mecânica me perguntava do outro lado da linha.
-- Quem ta falando?
-- Responda a minha pergunta.
-- Quem está falando? – insisti na pergunta.
-- Apenas me responda!
Retirei o telefone de meu ouvido e olhei para a tela como se assim pudesse descobrir quem estava me ligando. Uma tentativa ridícula já que a tela estampava apenas privado.
-- Não responderei nada.
-- Acho melhor me responder. Afinal, é uma pergunta simples, e não custa nada. Apenas diga sim, ou não. Então, vamos tentar outra vez? – uma breve pausa - Você ama a sua esposa Maria Luíza?
-- Sim. – respondi sentindo uma sensação ruim tomar conta de mim.
-- Que ótimo. Pelo menos pra mim. Agora que já me respondeu, apenas entre no carro e vá para casa. Espere que eu ligue novamente. E por favor, não faça nenhum alarde, eu saberei. E se isso acontecer – outra pausa – eu terei que antecipar as minhas ações.
-- Quem é você?
Tudo o que ouvi o som da ligação sendo encerrada. Apressei-me e entrei no carro. Sentei ao volante sentindo o meu coração galopar dentro do peito. Que droga era aquela que estava acontecendo?
Me perdi no tempo, relembrando cada palavra dita naquela curta e misteriosa ligação. O que era aquilo? Qual o propósito? Lembrei de Henrique! Nunca colecionei inimizades, nunca bati boca ou discuti com alguém. Aquilo me parecia retaliação. Claro! Henrique queria me assustar, colocar as mangas de fora e talvez cumprir a promessa em que disse que eu pagaria caro.
Soquei o volante do carro algumas vezes. A raiva me consumindo. Odiando o dia em que aquele miserável entrou em nossas vidas. Depois daquele maldito encontro, tudo desandou, nunca mais tivemos paz.
O celular em cima do banco do passageiro começou a vibrar, fiz menção de não atender, mas pensei em Giovanna, eu jamais poderia deixar de atender alguma ligação, poderia ser sobre ela, ser importante. E agora, poderia ser também mais uma daquela ligação misteriosa.
Respirei fundo tentando me recompor, alcancei o celular ao lado e atendi de olhos fechados.
-- Amor? – meu coração errou uma batida ou ouvir aquela voz.
-- Oi meu amor. Aconteceu alguma coisa?
-- Nada. – ela suspirou e fez silêncio.
-- Giovanna, o que aconteceu? Me conta amor.
-- Você está dirigindo? – ela odiava que eu falasse ao celular enquanto dirigia.
-- Não amor, estou parada, pode falar. Está tudo bem com você e com o bebê?
-- Não é nada com a gente amor, está tudo bem. É que senti algo estranho, um aperto no peito. Não sei explicar, só quis ouvir a sua voz. Onde você está? – falou tudo em um fôlego só.
-- Já estou chegando amor, em alguns minutos eu chego. Tá bom?
-- Vem logo. – pediu com a voz manhosa.
-- Já chego. Te amo.
-- Também te amo Luíza.
Fiquei com o celular junto ao ouvido por alguns segundos, apenas ouvindo a sua respiração e notando a sua relutância em encerrar aquela chamada. Às vezes me assustava o sexto sentido daquela mulher, até desconfiava que ela tivesse o sétimo.
Coloquei o celular dentro da bolsa, joguei no banco do passageiro, respirei fundo mais uma vez e liguei o carro ganhando as ruas.
Liguei o som do carro e aproveitei que parei em um semáforo para colocar uma boa música. Parada ali naquela esquina, olhei pelo retrovisor e avistei um carro preto, o mesmo carro que eu tinha visto à algumas ruas atrás. Ele estava bem próximo dessa vez.
A partir dalí dirigi sempre olhando se aquele mesmo carro ainda vinha atrás de mim, e sim, ele vinha. Agora com um pouco mais de distância, mas ainda estava ali. Ele só parou, só ficou para trás no momento que entrei na rua de casa.
Algo em minha mente piscava o tempo todo, meu alerta estava ligado. Estava tudo muito estranho, tudo devidamente fora do lugar. Deixei o carro na rua, e assim que coloquei os pés na calçada olhei ao meu redor, procurando qualquer movimento estranho. Não sei bem. Apenas qualquer coisa.
Abri o portão rapidamente e entrei trancando-o em seguida. Parei e ri com a minha própria paranoia.
Assim que cheguei a soleira da porta da sala um cheiro maravilhoso de comida invadiu minhas narinas. Era sempre tão gostoso chegar em casa quando se tinha alguém lhe esperando.
Olhei para a poltrona no canto próximo ao bar e Giovanna estava lá, as pernas suspensas sobre um pequeno banco enquanto lia um livro que não consegui identificar. Meu Deus, como eu podia me encantar ainda mais por aquela mulher cada vez que a via?
Consegui dar apenas um passo, logo ela abaixou o livro e olhou em minha direção. Me brindando com aquele sorriso de dentes branquinhos, lindo! Ele largou o livro em cima da poltrona e caminhou até mim, enlaçando meu pescoço. Ela me beijou, delicadamente, mas logo sua língua pediu passagem. Entreguei-me àquele beijo, minha mente esvaziou, o coração pulsou forte e eu quase me derreti ali.
Ouvimos um pigarro atrás de nós, e nos separamos com sorrisos nos lábios. Tínhamos que tomar mais cuidado agora, com a Celina em casa, se continuássemos assim acabaríamos traumatizando a mulher.
-- Desculpa, só vim avisar que o almoço está pronto.
-- Ah não Dona Celina, nada de pedir desculpas aqui dentro dessa casa. – Giovanna disse abraçando minha cintura.
-- Aqui você está em casa Celina.
-- Tudo bem, eu me acostumo. – ela disse mais para ela do que para nós.
Giovanna e eu rimos.
Almoçamos à mesa em um clima harmônico. Celina relatou que por duas vezes durante aquela manhã Anna Sophia chutou e fez uma pequena festa no ventre da mamãe. Além de alguns pequenos pulinhos que a Dra. Paula explicou, e disse-nos que poderia ser pequenos soluços.
Meu horário de almoço acabou se estendendo um pouco, porque depois de apreciarmos a maravilhosa comida que Celina tinha nos preparado, eu subi com Giovanna para o quarto quando ela reclamou de sono. Fiquei ao seu lado até que ela pegasse no sono, e me despedi com um pequeno beijo em seus cabelos.
Quando cheguei à calçada, bem próximo do carro, senti um pequeno calafrio. Olhei para o início da rua e lá estava, o mesmo carro preto que me acompanhou desde o instante que deixei a Andrade Lemos.
Olhei bem para aquele carro, tentei ver a placa, porém, com a distância que ele se encontrava, se tornou uma missão impossível pra mim. Encarei, como se pudesse enxergar quem estava ao volante, ou pelo menos pudesse intimidar o fazendo ver que eu tinha percebido ele ali.
Entrei no carro, decidida a não me importar com aquilo. Não me abalaria, e nem contaria nada sobre a ligação para Giovanna, não queria assustá-la. Era bom para ela e para o bebê que ela ficasse tranquila. Eu daria um jeito de fazer aquilo parar, mas seria sozinha.
Segui com os planos que eu tinha para aquele dia normalmente. Bloqueei o fato de ter um carro me seguindo e meu celular sempre a me alertar de uma ligação ou mensagem com número privado.
No final do dia, depois que sai da escola, fui direto para escritório de Márcia, havíamos combinado de nos encontrarmos naquele horário devido ao fluxo de clientes serem menor diante do horário.
A notícia que ela me dera não podia ser melhor, o pedido de medida protetiva fora aceito. Agora Henrique tinha que manter no mínimo 200 metros de distância de minha esposa e eu. O processo de acusação contra ele também tinha sido iniciado. Henrique agora era acusado de abuso sexual.
“Cuidado onde pisa Maria Luíza. Você tem muito a perder.”. Essa foi a mensagem de texto que recebi assim que deixei o grande prédio comercial onde ficava o escritório de advocacia. Se queriam me torturar, estavam conseguindo, porém, não me fariam parar.
*********
# Giovanna
Fazia um pouco mais de uma semana que Maria Luiza tinha retomado suas atividades na Andrade Lemos. E esse, era o tempo exato que me coração batia apertado dentro do peito. Eu não sei explicar, eu só sentia meu coração comprimir cada vez mais sempre que ela saia de casa.
Era ela colocar o pé fora de casa e aquela sensação ruim se apossar de mim. Não conversei mais sobre isso com ela, só no primeiro dia que simplesmente não consegui evitar o impulso e acabei ligando pra ela. Em um monólogo, coloquei em minha cabeça que era somente os hormônios que estavam deixando minhas emoções à flor da pele.
Durante o dia, eu tentava ocupar a minha mente com qualquer outra coisa, apenas para fazer o meu dia passar mais rápido e ver a minha morena passar por aquela porta com um sorriso enorme no rosto.
Por falar em sorriso, ultimamente notei que ele vinha sumindo de seus lábios com maior freqüência, estava se apagando. Luíza chegava a casa com a expressão cansada, abatida. Eu podia reconhecer o esforço que ela fazia para me dar um sorriso. Parecia estar triste, mas sempre que eu perguntava, ela atribuía a algo no trabalho.
Em uma semana eu sentia que Luíza não era a mesma. Ela estava triste, sim, era perceptível, mas tinha algo mais. Algo que ela não queria dividir comigo, e ao mesmo tempo eu tinha medo de perguntar, algo me impedia. Meu consciente gritava que tinha algo errado com a minha esposa.
Era uma quinta feira, e eu não conseguia me acalmar, hoje mais do que nos outros dias eu estava inquieta e apreensiva. Tentei dormir, tentei fazer qualquer coisa para me acalmar. Precisava manter a calma, não podia deixar tudo aquilo chegar até Anna Sophia, ela também estava inquieta, chutava o tempo todo.
-- Giovanna o que você tem? Fica quieta minha filha.
Mamãe disse me olhando seriamente enquanto eu andava de um lado para o outro na sua frente.
-- Eu não sei mãe, não sei o que tenho. Só não consigo ficar quieta e me acalmar.
-- O bebê está chutando?
-- Muito. – respondi voltando a andar praticamente em círculos no meio da sala.
-- Giovanna, suba, troque de roupa, nós vamos sair.
-- Para onde vamos?
-- Sem perguntas, vai, suba que eu só vou pegar minha bolsa lá no quarto.
Fiz como mamãe me pediu. Talvez um passeio pudesse me distrair. Olhei dentro de meu guarda roupa por longos minutos. Minhas roupas agora eram todas para gestante, em sua maioria vestidos longos e folgados. Confesso que sentia falta das minhas antigas roupas, teria um belo trabalho para voltar ao meu peso normal.
Escolhi o último vestido que Luíza tinha me dado de presente. Era um vestido de alças finas, tecido leve, na cor branca, que ficava na altura do joelho. Era bem confortável. Minha esposa me presenteou dizendo que era a minha cara, e que com aquele tecido eu não reclamaria tanto de calor.
Luíza estava cada vez mais atenciosa e carinhosa comigo. Até mesmo nesses últimos dias em que ela não parecia a mesma mulher, nunca deixou de me dar atenção, estava sempre preocupada e perguntando se eu precisava e algo.
Quase toda madrugada quando eu acordava para fazer xixi, ela estava toda torta na cama. Eu não conseguia encontrar uma possível confortável pra dormir, então no meio da noite eu acabava tomando quase todo o espaço, mas ela nunca reclamou, dormia naquele pequeno espaço que lhe restara com qualquer parte de seu corpo me tocando. Ela tinha medo de machucar o bebê.
Parei de frente para o espelho e fiquei ali, lembrando de cada mania e cada cuidado que Luíza estava adquirindo conforme a gravidez ia evoluindo. Eu tinha certeza de que ela seria uma ótima mãe. E ainda tinha em mente ver minha morena grávida. Sorri imaginando o humor dela, seu corpo...
-- Um sorriso é bom sinal.
Olhei para a porta e a minha mãe estava lá, com um sorriso.
-- Estava pensando na Luíza, - confessei e olhei meu reflexo no espelho – ela tem sido maravilhosa mãe.
-- Quando eu estava grávida de você seu pai sofreu bastante. Meu humor era inconstante, mas ele nunca deixou de ser atencioso comigo. – ela fez uma pausa e continuou - A Maria Luíza olha pra você do mesmo modo que seu pai me olhava: encantada e completamente apaixonada.
-- Eu não sei o que eu seria sem a Maria Luíza mãe. Eu a amo desde o dia em que ela entrou no meu consultório.
Um flash, de tudo, da nossa estória, do que vivemos, passou rapidamente em minha mente me fazendo ficar emocionada.
-- Ela é mais do que eu sempre desejei. – falei com a voz embargada.
-- Ah minha filha. – disse me abraçando – Você e Maria Luíza foram feitas uma para a outra, se completam de uma maneira extraordinária. Acha que já não percebi como vocês se entendem apenas com um olhar? Ou como os olhos de uma, brilha, ao falar da outra?
-- Você nos entende mamãe? Quer dizer, agora você é capaz de aceitar a nossa relação, não é?
-- Sim meu amor! Eu percebi que a diferença e o conceito de errado estavam apenas minha cabeça. É amor lindo, assim como os outros.
-- Obrigada. – disse deixando uma lágrima rolar.
-- Sou sua mãe, não me agradeça por prezar por sua felicidade. – delicadamente ela capturou a lágrima que rolava – Agora vamos sair. Você precisa espairecer um pouco. Essa danadinha aqui não tem dado uma folga. – tocou minha barriga.
Logo saímos de casa. Mamãe era quem dirigia, sendo assim, ela fez questão de não me contar para onde estávamos indo. Logo que havíamos pegado o caminho para o shopping no centro, mas, dona Celina não parou lá, passamos direto.
Me surpreendi quando ela estacionou. Muito mais do que a minha mãe pode imaginar.
-- Sei que aqui você vai se distrair. Tem tanta coisa linda, que você vai perder a noção do tempo quando entrar ai.
-- Mãe, tudo que essa mulher faz é lindo.
-- Então vamos entrar e dar uma olhada.
Mamãe me levou até uma loja feita exclusivamente para a gestação e os primeiros anos de vida do bebê. A designer de moda, dona daquela loja era famosa por tudo que criava e desenhava. E ficou mais famosa ainda quando se casou com uma designer especializada na criação de brinquedos, e abriram aquela loja. Elas eram um sucesso!
O enxoval do bebê já estava quase todo pronto. Maria Luíza e eu escolhemos cores neutras e unissex. Apesar de termos certeza de que esperávamos pela chegada de Anna Sophia, optamos por não saber o sex* até a hora do nascimento.
Deliciei-me comprando milhares de acessórios, alguns novos móveis para o quarto, mais algumas roupinhas para Anna Sophia e para mim. Me encantei com tudo o que vi, e me policiei para não acabar assustando minha esposa com a fatura do cartão.
Deixamos a loja com o porta malas do carro abarrotado de sacolas. Luíza ia amar tudo o que eu comprei, já podia até ver aquele brilho nos olhos dela.
Na volta, decidimos ficar pelo shopping e almoçar ali mesmo. Estávamos na praça de alimentação, tentávamos decidir o que comer quando meu celular começou a tocar dentro da bolsa. Sorri ao ler o nome na tela.
-- Oi Alice!
-- Gio como está a sua agenda? Estava pensando em almoçarmos juntas hoje, estou me sentindo abandonada.
-- Por que abandonada?
-- A Elisa viajou essa madrugada, precisava resolver algumas coisas lá em Portugal.
Alice usou uma voz tão manhosa que me fez rir.
-- Não se sinta abandonada. Mamãe e eu estamos aqui no shopping do Centro, vem pra cá. A gente almoça aqui.
-- Chego ai em vinte minutos. Me esperem.
-- Vou ligar pra Luíza.
-- Fechado. Até já.
Assim que encerrei a chamada com Alice, liguei para o celular da minha esposa. Nas três vezes que liguei, chamou até cair na caixa postal. Tentei mais algumas vezes e nada. Imaginei que talvez ela estivesse nas quadras, então resolvi ligar para a escola.
Thaís me disse que Luíza chegou cedo, no entanto, fazia mais ou menos umas três horas que ela havia saído. Apressada, e estranha. Senti algo mexer dentro do meu peito. Desliguei e tentei ligar novamente no celular de Luíza, continuava chamando até cair na caixa postal.
Minha mãe me olhava curiosa, mas eu tentei disfarçar minhas agonias internas e talvez infundadas. Eram infundadas, tinha certeza disso. Avisei a minha mãe que Alice estava vindo almoçar com a gente. Logo tratei de puxar qualquer assunto com dona Celina, mudar o foco da minha mente.
Nem vi o tempo passar, mas quando me dei conta, Alice sentava à mesa junto conosco. Estava sorridente, alegre e muito falante. Não demorou a perceber que tinha algo de errado comigo. O que eu diria? Eu nem sabia ao certo o que era. Disse apenas que estava chateada por não conseguir falar com Luíza.
Logo pedimos o nosso almoço. Antes de chegar ao shopping, eu estava com uma vontade louca de comer filé com fritas, agora, subitamente, minha fome havia sumido. Mas eu tinha que comer, por Anna Sophia.
Pedi a conta, e Alice se ofereceu para ir até o caixa pagar, e eu aproveitei para ir ao banheiro. Minha bexiga era sempre um problema. Minha mãe me ofereceu companhia, mas eu neguei, disse que precisava apenas de minha bolsa.
Entrei na cabine e quase no mesmo instante ouvi um barulho estranho na cabine ao lado. Eram batidinhas, suspiros e gemidos. Tentei conter uma gargalhada, era bem claro o que estava acontecendo ao lado. Isso me fez recordar no dia em que Luíza e eu nos trancamos no banheiro de um Buffet onde acontecia a festa de aniversário da minha sócia.
Não resisti, Luíza estava um escândalo naquele vestido vermelho justo, que marcava cada curva daquele corpo maravilhoso.
A bolsa estava pendurada em um suporte na cabine, e fez um barulhinho quando meu celular vibrou em contato com a madeira do pequeno espaço. O peguei rapidamente e o atendi ali mesmo, não queria dar de cara com o casal ao lado.
Olhei a tela. Era Luíza. Atendi sentindo um alívio tomar conta de mim, mas, não durou muito tempo. A voz que ouvi do outro lado da linha não era da minha esposa, era de um homem. Homem esse que me falava algo que eu simplesmente não conseguia acreditar. Aquilo não podia ser verdade. Senti meu mundo girar rapidamente.
Não. Luíza não!
Sai daquele banheiro desesperada. Lembro de ter esbarrado com alguém, mas não me lembro, não vi quem era. Cheguei até a mesa que minha mãe e Alice estavam praticamente correndo.
-- Giovanna, ta tudo bem?
Alice se colocou de pé rapidamente.
-- A Luíza, a Luíza... – comecei a chorar nesse instante.
-- Minha filha o que houve? Você ta pálida.
-- Mãe...a Luíza...
Eu não conseguia pronunciar aquilo que o homem me dissera.
-- O que aconteceu com a Malu? Fala Giovanna. – Alice começava a se alterar.
-- Senta aqui filha, conte-nos o que aconteceu.
Eu sentei, apertei os olhos, respirei fundo e senti meu coração dilacerar.
-- Me ligaram agora a pouco do número da Luíza...encontraram o carro dela abandonado perto de uma mata numa cidade aqui próximo. Estava tudo lá...tudo...tudo menos a minha esposa. Ninguém sabe dela.
Não me lembro a reação delas, tudo o que consigo lembrar, é de ver tudo esmaecer e ficar completamente escuro.
Fim do capítulo
Olá meninas! Tudo bem com vocês?
Tem algo ai no ar, não é mesmo? Tô querendo saber a opinião de vocês sobre os rumos dessa estória. O que me dizem?
E alguém ai sabe dizer o que aconteceu com a Luíza?
Beijos! Até o próximo
Comentar este capítulo:
Mille
Em: 31/12/2016
Oi Chris, tudo bem?
"Desejo a você…
365 dias de felicidade.
52 semanas de saúde e prosperidade.
12 meses de amor e carinho.
8760 horas de paz e harmonia.
Que neste novo ano você tenha muitos motivos para sorrir!"
E muitas inspirações para nos presentear com lindas histórias. Abraços
Espero que volte logo, estou com saudades:)
Resposta do autor:
Oi Mille!
Que coisa mais fofa!
Mesm atrasado, desejo tudo em dobro pra você. Que esse dia seja cheio de boas surpresas e coisas maravilhosas.
Beijos
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Mille
Em: 13/10/2016
Ola autora tudo bem?
Hoje me bateu aquela saudade, e resolvi vim deixar meu recado.
Espero que retorne logo ao LETTERA.
Bjus
Resposta do autor:
Olá Mille!
Olha, eu tenho que confessar que adoro o seu carinho, fico muito feliz com isso sabia?
Beijos
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Vih_Benic
Em: 24/09/2016
Parabéns , cada vez mais me surpreendo com tua forma maravilhosa de escrever. Interessante saber que você "acha" que o amor sempre vence. Até sugiro que esse possa ser o título do teu próximo conto : Ironia do Destino!
Um forte abraço de quem AMA VOCÊ ,dona Moça.
Vih!
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sonhadora
Em: 22/09/2016
Cara, faz isso não, mulher grávida não pode passar por tantos perrengues assim!!! Pensa menina, uma criança está dentro do ventre da Gio, indefesa, então Cris, alívia a barra!!! Amo sua história, você tem um time maravilhoso para escrever dramas, gosto do seu jeito de escrever. As vezes leve, as vezes pesado, tudo na dosagem certa!!! Parabéns pela história linda e cheia de amor entre essas moças lindas!!!
Beijos e esperando quase sem respirar pelo próximo capítulo!!!
Resposta do autor:
Ola flor!
Olha, até eu fiquei com uma peninha da Giovanna. Mas esse casal é forte, vai ver! Mas, prometo que vou pegar leve. Flor, muito obrigada pelo elogio, por encontrar coisas boas na minha estória e na minha forma de escrever.
Um beijo carinhoso pra você!
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patty-321
Em: 21/09/2016
Não faz isso muie. Pelamor. O q aconteceu? Quem é o fdp? Esses inimigos das lindas tem q morrer. Não me mata. Volta logo. A estória tá muito dramática. Meu core não aguenta. Rs.
Resposta do autor:
Olá Patty!
Um dramazinho as vezes é bom né? Será que estou pegando pesado? Vai aliviar, prometo, segura esse coraçãozinho aí!
Beijos
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Mille
Em: 21/09/2016
Volta aqui Chris!!! Você está castigando nossos corações.
Algo diz que o sumiço da Luiza tem dedo de Henrique, espero que essa noticia não traga problema para a Gio e Anna Sophia.
Luiza poderia contar para alguém sobre o carro preto que a seguia, mais ainda tenho esperança que a Maria Luiza tenha dado uma rasteira nesses filhos da mães.
Bjus e até o próximo
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