Emily

O clima dentro do meu carro não estava nada bom e como não sou besta e nem nada, além de Marcela e Nando, trouxe a Amanda junto. Enquanto elas conversam, eu não recebo os olhares mortais da Rebecca. Flávia também agradeceu o meu pedido, afinal a situação não estava favorável para Cássia, Flávinha e eu. As outras estavam bem a nossa frente, arrumamos uma forma de estacionar, pois a rua era muito estreita. O lugar era pequeno e de dois andares, ficou cheio com tanta mulher. Escolhemos os puzzles com o símbolo do infinito dentro e cada um se encaixava perfeitamente no outro, todos nos pulsos. Passamos aproximadamente três horas dentro do estúdio e quando saímos, já era noite. Decidimos passar no shopping e comprar uma bola, combinamos de passar a tarde de domingo no portal e a pomada para passar nas tatuagens.

O caminho para casa só não foi feito em total silencio, porque o Nando contava animado o quanto se divertiu no Mcdonalds. As outras foram para casa, mas combinamos de nos encontrar amanhã na casa da Flávia para irmos de lá.

- Vou dar um banho nesse sujinho. – Marcela me deixou sozinha com a fera.

- Precisamos conversar. -  falei com um pouco de receio. Ela tirou a jaqueta jeans, fez um coque mal feito e sentou no sofá.

- Pode começar. – pós a mão no queixo e me encarou. “Deus, até brava essa mulher é uma...”. Suspirei.

- Rebecca, foi a muito tempo... – sentei um pouco afastada. – Eu estava em uma fase rebelde depois que sai do Brasil e queria provocar os meus pais.

- Amor... – opa! Me chamou de amor. É um bom sinal. – Me perdoa, eu... Fui muito infantil...

Becca me abraçou e eu realmente não esperava por aquele gesto, mas não perdi tempo e retribui. Ficamos abraçadas por um longo tempo, ela passava as mãos por dentro da minha regata e eu sentia o cheiro gostoso de seu pescoço.

- Eu estou absorvida? – brinquei, enquanto nos afastávamos.

- Sim... – tocou os meus lábios. – Mas, se eu sonhar que isso aconteceu mais de uma vez...

- Não... – me apressei. – Foi somente uma vez amor... Eu juro. – ela riu.

- Eu te amo, minha esposa... – minha boca abriu e fechou várias vezes. – Que foi? O gato comeu sua língua?

- Não... – me joguei sobre ela.

- Emi... – ela gritou e riu.

- Mas, uma gata vai comer a sua... – ela sorriu. – Minha esposa...

Namoramos muito no sofá e mais um pouco no banheiro, antes de dormimos, Rebecca me obrigou a passar a pomada. Depois de fofocarmos um pouco, dormimos abraçadas do jeito que os nossos corpos amavam, nus.

Acordamos cedo, não comemos nada e minha adorável namorada me fez correr horrores, voltei para casa morta, mas iria ganhar um belo café da manhã. Tomei um banho rápido, Marcela e o Nando ainda estavam no quarto. Voltei para a cozinha, Becca arrumava a mesa, sentei e esperei ela fazer o mesmo.

- Amor, nessa correria toda, você não me disse como foi a conversa com a minha amável sogra. – ela riu.

- Não vou estragar com o seu café da manhã, vida? – ela fez uma careta divertida.

- Estou preparada, amor. Manda ver... – pisque e dei um sorriso.

- Ainda quer que eu mande ver, amor? – ela falou de forma maliciosa.

- Meninas, calma ai... – Marcela entrou com o Nando que vestia um pijama o deixando a coisa mais fofo do mundo.

- Tia Becca, tia Emi... – ele saiu do colo da mãe e nos abraçou. – Bom dia...

- Bom dia, loiro lindo... – o cheirei no pescoço e ele riu.

- Bom dia, lindão... – Becca deu um beijo estalado nele. – Vamos comer?

- Estou faminto, tia... – rimos. Ele passou a tomar o suco que Marcela deu a ele.

- Então, amor... – Becca sorriu.

- Eu disse a ela que não importava o quanto ela tentasse, nada iria adiantar. – Rebecca revirou os olhos. – Ela novamente tentou me envenenar, disse que você era nova demais e quando sentisse o peso da responsabilidade, iria cair fora. – velha mal amada. Revirei meus olhos.

- E o que respondeu? – perguntei.

- Eu queria mandar ela a merd*... – rimos.

- E não mandou? – Marcela perguntou.

- Não, me segurei ao máximo, afinal ela ainda é minha mãe. – me olhou. – Eu disse que estávamos felizes, que me sentia segura ao seu lado e não seria uma palavra dela que iria mudar isso.

- Que lindo, Rebecca...

Marcela comentou e eu apenas sorria bobamente.

 

Paloma

- Amor, não! Solta isso!

- Quando planejava me contar, hein? – joguei o tênis, mas não acertou o alvo. – Tem mais alguma coisa a me contar, Cássia Eduarda Santiago Duarte? – ela revirou os olhos. Odiava ser chamada pelo nome todo.

”Tô nem aí!”.

- Juro que não tem mais nada, amor. – ela se escondeu dentro do meu closet. – Agora, para e vamos conversar como pessoas civilizadas.

- Civilizadas é o meu sapato no seu...

- Paloma! – ela me interrompeu.

- Sai daí... Agora Cássia! – gritei.

- Saio coisa nenhuma! – ela gritou de volta. Passei a mão no rosto e tentei me acalmar. Sentei na cama e respirei fundo. – Se você e eu vamos nos casar, ter filhos e uma vida. Precisamos saber dialogar.

Ela tinha toda razão, eu estava agindo feito uma louca e não estava dando espaço para ela dizer qualquer coisa a seu favor. Tenho consciência que preciso amadurecer, mas para uma pessoa ciumenta como eu, imaginar a minha namorada com outras duas mulheres em uma cama, fazendo...

- Respira, Paloma! – olhei para um mural que havia acima da minha escrivaninha e nela havia inúmeras fotos nossas. Os pequenos presentes que me deu ao longo desses meses que estávamos juntas. Sorri.

- Posso sair? – escutei a voz dela.

- Pode sim, amor. – ela colocou apenas o pé e depois a cabeça.

- É seguro? – ela arqueou as sobrancelhas.

- Vem logo aqui! – sentei no meio da cama.

- Podemos conversar agora? – ela ainda estava receosa.

- Podemos... Senta. – sorri para encoraja-la.

- Tá melhor? – ela sentou na ponta da cama.

- Senta ao meu lado... Não vou fazer nada. – ela fez o que pedi. Me coloquei entre suas pernas, ela se escorou na cabeceira e passou a afagar os meus cabelos. – Quando aconteceu? – ela respirou fundo.

- Foi depois de você sabe quem. – apertei a sua cintura. – Eu estava chateada, puta da vida. Fui em uma balada, a Flávia me pediu para não ir, mas eu fui mesmo assim. Bebi um pouco, juntei a frustração com a coragem que a bebida me deu. Conheci umas meninas e você pode imaginar o resto...

O bichinho do ciúme que todas as mulheres da minha família possuíam, quis mostrar as garrinhas novamente, mas controlei.

- E não tem nada além? – esperava uma resposta negativa.

- Não, amor. – ela beijou o topo da minha cabeça. – Não há mais nada. Acredita em mim? – ela me fez olha-la nos olhos.

- Acredito. – ela sorriu.

- Fico feliz... – beijou os meus lábios. – Eu te amo, minha esquentadinha...

- Eu te amo, minha pegadora... – ela gargalhou. Ouvimos o toque do celular anunciando uma mensagem. – É o seu, amor...

Ela levantou e saiu a procura do celular e o encontrou na sacada, Cássia me olhou e eu apenas ri. Ela deu uma gargalhada ao ver o conteúdo da mensagem, fiquei curiosa, ela voltou a sentar.

- O que foi?

- A Jaque perguntou se eu apanhei muito. – ri também.

- Responde que a gente tá fazendo amor. – ela gargalhou e escreveu o que pedi. – Vamos fazer amor? – tirei o celular da mão dela. Cássia me olhou sorrindo. – Meus pais estão na casa da vovó, a Nick na casa da Isa... As meninas no quarto...

- Gostei da ideia... – senti os lábios macios roçarem o meu pescoço.

Fizemos amor sem pressa, a porta do meu quarto estava trancada e a minha fome da minha namorada. Tomamos banho juntas, Cássia me pediu para tocar algumas músicas.

- Acha que a Amanda vai deixar a Flávinha explicar? – perguntei.

- Se ela não tiver o gênio tão difícil quanto você... Aí. – belisquei a barriga dela que estava exposta.

- Doeu... – ela fez bico.

- Essa foi a intenção. – beijei o lugar. – Vamos fazer algo para comermos...

Descemos e encontramos Jaque e Flávia, que estavam conversando, minha irmã estava com uma carinha de cão que foi chutado da mudança.

- Vamos fazer alguma coisa pra comer? – Cássia chamou.

- Vamos, né?! – Flávia respondeu.

- Música? – Jaqueline quis saber.

- Por favor! – respondemos.

A voz de Matheus e Kauan invadiu a cozinha.

Diz que pensa tanto em mim
Que tá querendo me ver
Diz que tá me lembrando bastante
Acredito em você

Tô sabendo de tudo, tô lendo seus recados
Minhas fotos que você curtiu, tô seguindo você
E aí, o que é que a gente vai fazer?
Diz aí, se você quer e eu também tô querendo você

Tantos sorrisos por aí, você querendo o meu
Tantos olhares me olhando e eu querendo o seu
Eu não duvido não, que não foi por acaso
Se o amor bateu na nossa porta, que sorte a nossa

Tantos sorrisos por aí, você querendo o meu
Tantos olhares me olhando e eu querendo o seu
Eu não duvido não, que não foi por acaso
Se o amor bateu na nossa porta, que sorte a nossa

Ai ai ai ai

E aí, o que é que a gente vai fazer?
Diz aí, se você quer e eu também tô querendo
Tô querendo você

Tantos sorrisos por aí, você querendo o meu
Tantos olhares me olhando e eu querendo o seu
Eu não duvido não, que não foi por acaso
Se o amor bateu na nossa porta, que sorte a nossa

Tantos sorrisos por aí, você querendo o meu
Tantos olhares me olhando e eu querendo o seu
Eu não duvido não, que não foi por acaso
Se o amor bateu na nossa porta, que sorte a nossa

Ai ai ai ai

Que sorte a nossa...

Ai ai ai ai

Que sorte a nossa...

 

Isabela

Fazia pouco mais de meia hora que eu a observava dormir, depois do almoço, ela simplesmente deitou e caiu no sono. Tirei alguns poucos fios que estavam sobre o seu delicado rosto, ela parecia nem respirar de tão calma que era. Peguei um caderno e uns lápis, coloquei uma cadeira ao lado da cama. Os primeiros traços foram aparecendo, ganhando linhas retas, linhas sinuosas. O rosto dela, os cabelos castanhos, a calmaria que o seu sono transmitia, tentei passar para o papel.

Guardei o desenho, deixei ela dormindo e fui procurar os meus pais que assistiam a um programa de TV. Sentei entre eles, passamos a ver um filme que iniciou logo depois do programa.

- Ela ainda tá dormindo? – meu pai quis saber.

- Sim... Ela teve uma semana cheia de trabalho. – respondi. – Vocês gostam mesmo dela, não é?

- Ela é uma menina maravilhosa, minha filha. – minha mãe respondeu e eu sorri em acordo.

- Eles são boas pessoas. Cuidaram de você, acolheram a menina Jaqueline. – meu pai segurou minha mão. – Ganharam nosso respeito e admiração, meu anjo.

- Eu amo vocês...

Por volta das duas da tarde a Nicole acordou, sentamos no sofá de dois lugares e ficamos assim até o filme acabar. Depois nos despedimos dos meus pais e fomos para a casa da Nick, esperar as outras meninas.

- A mãe e o pai ainda não chegaram? – Nick perguntou assim que entramos na sala. Flávia, Jaqueline, Cássia e Paloma estavam jogando uno.

- Só voltam a noite. – Paloma respondeu.

- Amor, vou tomar banho. – Nick me abraçou pela cintura. – Eu já volto.

- Te espero... – beijei os seus lábios. Ela sorriu e pincelou o nariz no meu.

- Dá pra parar? – Flávia falou.

- Respeitem a dor da pobre... – Cássia brincou.

- Pense bem na próxima vez que for fazer ménage. – Nick falou rindo e subiu.

- Isso... Chuta cachorro morto! – Flávia gritou para a irmã.

- Quer jogar, Isa? – Jaque chamou.

- Vou acabar com vocês! – sentei ao lado da Flávia.

- Estamos entrando! – era a Juliane.

- Trouxemos a loira junto... – Camila falou e a Amanda sorriu para nós.

- Cadê as outras? – Sam me olhou e piscou. Ela fazia isso quando a Nick não estava por perto.

- Ainda não chegaram. – Cássia respondeu. Flávia abaixou a cabeça ao perceber que a namorada não viria falar com ela.

- Ei? – ela me olhou. – Não fica assim.

- Isso é infantilidade, Isa... – ela bufou. – E olha quem tá falando é eu... – ri.

- Ela vai falar com você. Ela só precisa ver o quanto tá sendo injusta. – busquei a sua mão. – Tô com você...

- Obrigada... – ela beijou o meu rosto. – Cunhadinha do meu coração. – rimos.

- Eu não sei jogar futebol. – Amanda avisou.

- Eu também não. – comentei.

- Damos um jeito. Trouxeram roupas? – Cássia perguntou.

- Qualquer coisa, a Flávinha nos empresta. – Juliane piscou para a sobrinha.

- Fiquem à vontade... – deu de ombros.

- Você e a loira ainda estão nessa frescura? – Camila perguntou.

- Digamos que o passado é passado. – Flávia levantou. – Isa, vamos no meu quarto?

- Claro... – as meninas estranharam, mas não disseram nada.

Subimos conversando sobre a formatura em dezembro, Flávia estava visivelmente triste, mas continuava sendo divertida. Entramos no quarto, ela entrou no closet e eu passei a olhar um mural enorme que havia no seu quarto. Haviam fotos nossas também, algumas frases divertidas em cada uma delas.

- Gostou? – ela estava ao meu lado. Não a vi se aproximar.

- Gostei... – sorri.

- Ótimo. Tenho um pra você, mas levo só amanhã na sua casa. – ela sorriu. – Vamos?

- Vamos...

 

Fim do capítulo