Jaqueline

Domingo, 15:30.

- Amanda, já deu. – Juliane e Amanda estavam conversando sobre a briguinha boba entre ela e a Flávia.

- Eu vou falar com ela. Sou idiota e tô agindo igual criança. – ela respirou pesado. – Eu não era ciumenta até conhecer a Flávia.

- A Flávia é louca por você, Amanda. – falei. – O que aconteceu foi a muito tempo...

- É verdade, Amanda. Sei que é chato imaginar, mas não deixe isso interferir no que vocês tem. – Camila completou.

- Dá logo um beijão na tua namorada, assim que chegarmos. – Samantha aconselhou e rimos.

- Pode deixar... – o carro da Nick ia bem a frente. – Espero que ela me desculpe...

- Com toda certeza ela vai. – respondi convicta.

- Agora me diz, Juliane... – Amanda deu uma risada. – E a Micaela?

- Não fala esse nome, a tia vai ter um ataque do coração. – rimos.

- Vocês não tem o que fazer? – ela bufou.

Passamos o caminho todo enchendo a paciência da Juliane com o assunto, ela nos mandou para longe um monte de vezes. Chegamos ao portal e o lugar estava em clima agradável, pessoas passeando com suas famílias, skatistas, casais.

- Vou ver ali no quiosque como podemos jogar... – Juliane saiu.

- As meninas estão vindo... – Camila falou.

Amanda passou a andar em direção a Flávia, que vinha a alguns metros a nossa frente, acho que todas pensaram que ela iria bater na garota. Amanda segurou a namorada pela nuca e deu o maior beijão. As meninas ficaram de queixo no chão, algumas pessoas que passavam ficaram perplexas.

- Vão procurar um motel! – uns garotos que passavam de bicicleta gritaram.

- Vão se ferrar! – Cami, Sam e eu gritamos de volta.

- Nossa, fiquei excitada. – Juliane falou assim que as meninas se desgrudaram. – Isso que eu chamo de fazer as pazes.

- Eu também! – Flávia disse ofegante.

- Gente... Tô besta! – Emi falou.

- Mandou bem, cunhada... – Nick falou.

- Me perdoa por minha infantilidade? – a loira perguntou dengosa para uma Flávia com cara de boba.

- Só de olhar essa cara de palerma, já dá pra saber a resposta. – Paloma implicou.

- Claro que perdoo, amor... – elas se abraçaram.

- Fim de drama. – Cami falou.

- Vamos jogar... – Juliane chamou.

- Oi, minha linda... – Marcela me abraçou e o perfume dela me embriagou.

- Oi, tia Jaque... – o lindão estava muito fofo com uma blusa do Barcelona.

- Oi, meu anjo... Oi, meu loiro lindo. – apertei os dois. – Estava com saudade. – falei só pra ela ouvir.

- Eu também, meu amor... – ela sussurrou em meu ouvido e eu suspirei pesado.

- Sente... – peguei a mão dela e coloquei sobre o peito. – Fica assim com você. – ela sorriu.

- Jaque, deixa o babado pra depois... – Juliane falou e eu revirei os olhos.

- Vamos, minha linda... – ela segurou a minha mão e eu gostei do gesto.

Juliane reservou dois horários e eu sinceramente me questionava se daríamos conta de correr durante duas horas. Isabela, Amanda, Nicole e Rebecca ficaram de fora, Juliane iria ser a juíza.

- Vou logo adiantando, não aceito suborno. – as meninas reviraram os olhos. Dividimos os times. – O time que perder, vai nadar pelado na piscina da Carolina.

- Juliane! – as meninas ralharam.

- Credo. Foi só uma ideia inocente. – algumas meninas riram da cara de indignação dela.

Estávamos jogando fazia meia hora e o time em que eu estava jogando, vencia por dois a um. As meninas riram muito quando a Cami derrubou a própria parceira de cara na areia, aproveitei para roubar a bola e fazer gol.

- Isso foi falta! – Cami reclamou.

- Não pode ser falta, Camila. Você derrubou a Samantha. – ela fez bico.

- Isso não vale.

 

Juliane

- Ei? – ouvi alguém me chamar e virei para saber quem era.

- Oi. – era um garoto e tinha um rosto familiar.

- As amigas da minha irmã querem jogar. – franzi o cenho. – Elas estão ali. – ele apontou para um grupo com pouco mais de dez pessoas e a maioria mulher.

- Diz que elas podem sim... Espera... – chamei antes dele sair. – Eu conheço você.

- Sou irmão da Micaela... – “Merda!”. – Ela tá tentando se esconder. – ele revirou os olhos.

- Se esconder? De quem? – fiquei confusa e com umas sensações que eu me recusava aceitar.

- De você. Vou chamar eles. – o garoto saiu. Fiquei desesperada e apitei.

- Parem... – as meninas estranharam e se aproximaram.

- O que foi, Ju? – Jaque perguntou.

- Tem umas garotas que querem jogar. – as ciumentas quando ouviram o que eu disse, logo se aproximaram.

- Que garotas? – Rebecca perguntou.

- Aquelas... – apontei para as garotas que estavam vindo. As meninas olharam para elas e depois para mim.

- Micaela? – perguntaram. Eu só dei um sorriso tão surpresa quanto elas.

- Oi, meninas... – ela falou assim que se aproximou. Me olhou, mas não sustentou o olhar.

- Oi, Micaela... – respondemos.

Todas as apresentações foram feitas, tive que suportar as risadinhas da Cami e da Sam, os caras que estavam com elas, ficaram de fora junto com as outras quatro, Micaela também não iria jogar e se juntou com as meninas. Algumas ficaram de reserva, e eu iniciei o jogo, mas na realidade mal estava prestando a atenção.

- Ei, tia? – Cami chamou. – Para de secar você sabe quem e apita isso direito.

- Idiota... – resmunguei.

As meninas estavam dando uma surra no time das amigas da Micaela, que estavam ficando irritadas com isso. Outras pessoas se aproximaram para ver o jogo, as meninas viraram algum time de lideres de torcida e ficaram berrando o nome das namoradas. E devo acrescentar que nunca fui tão ofendida em toda a minha vida. Os caras incentivavam as outras, um deles abraçou a cintura da Micaela e isso me incomodou. Ela me olhou, tirou a mão do cara, desviei o olhar.

- Ei, não precisa bater! – Sam reclamou.

- Vamos jogar sem virar UFC, ok? – gritei.

- Isso foi falta! – Camila reclamou.

- Vão jogar, Cami. Sem reclamações. – disse firme.

Elas voltaram a jogar, mas as meninas que perdiam, passaram a chegar mais forte nas outras que já mostravam irritação. Flávia roubou a bola de uma delas, mas ao tentar passar por ela, levou uma cotovela e foi ao chão. Joguei o apito no chão, e sai correndo para ajudar a minha sobrinha, que parecia com falta de ar.

- Respira devagar! – pedia, ela tinha lágrimas nos olhos.

- Sua imbecil! – Paloma berrou. Amanda segurava a mão da namorada.

- Foi sem querer! – a idiota com cara de ralo, disse com um sorrisinho.

- Sem querer é isso... – Nicole empurrou a garota. Outras duas se envolveram.

Uma briga feia entre algumas amigas da Micaela e as meninas começou, Amanda e eu ajudamos a Flávia, mas ela se soltou de nós e pulou na garota que acertou a Jaque. A confusão parecia tomar proporções maiores, e no meio disso tudo, levei um soco na boca.

- De novo não. – senti o gosto de sangue. Os caras e algumas das meninas tentaram e conseguiram apartar a briga. Levaram as idiotas, mas a Micaela e o irmão permaneceram ali. Ela se aproximou de mim, olhou a minha boca sangrando e rasgou a própria blusa e me deu para estancar o sangue.

“Senhor, que barriga é essa??”.

40 minutos depois.

- Você tá bem, tia? – Flávia me perguntou. Estávamos fazendo curativos em um hospital público.

- Vou ficar... – sorri mostrando os dentes com sangue e elas riram.

- Mana, você tá bem? – ela perguntou para a Nicole que estava com um corte no supercilio.

- Tô sim, mana. – a enfermeira terminava de fazer o curativo.

- E você, amarela? – Cássia mostrou a boca que levou pontos.

- Sem comentários. – cobriu o rosto.

- Jaque, e o braço? – Jaqueline olhou para o braço imobilizado. Alguém a empurrou e ela caiu e torceu o pulso.

- Em uns dias vai melhorar. – deu de ombros.

- E você? – perguntei a ela.

- O dedo tá quebrado, mas já levei dois tiros. Isso é fichinha. – ela sorriu.

- Você acabou com a cara de ralo. – falei para Nick e ela gargalhou.

- A Jaque virou faixa preta em caráter. – Nicole comentou e gargalhamos. – Acabou com a loira falsa.

- Aquelas cinco ficaram muito lindas! – Cássia falou. Elas apanharam, mas fizeram um estrago nas outras.

 

Flávia

- Amanhã será complicado levantar... – resmunguei.

- Boa noite, meninas. Sou a doutora Evelin. – olhamos para porta e uma mulher loira sorria gentilmente para nós. – Nossa... Estavam em uma guerra? – ela brincou.

- Boa noite... – respondemos em coro. As meninas estavam de olhos arregalados.

- Precisa ver as vadias que fizeram isso... – Cássia falou e a doutora deu uma leve risada.

- Temos uma ligação forte com hospitais... – brinquei.

- Tenho apenas algumas recomendações e libero vocês, ok? – ela colocou o óculos para ler algo que estava em sua mão. – Juliane Freire?

- Eu, doutora bonitona! – minha tia estava animadinha.

- Te receitei um analgésico para aliviar a dor dos cortes da sua boca. – ela entregou uma receita para ela. – Nicole Freire?

- Eu, doutora. – Nick sorriu.

- Um analgésico e recomendo que volte para trocar os curativos. – foi até a minha irmã. – Cássia Duarte?

- Presente. – a amarela brincou.

- Limpe regularmente e volte em 15 dias para tirar os pontos. Analgésico para você também. – Cássia apenas fez um gesto com a cabeça. - Jaqueline Viana?

- Eu, doutora. – Jaque fez uma careta ao tentar se posicionar melhor.

- Sem movimentos bruscos e analgésico para a senhorita também. – e ela olhou para mim. – Senhorita Flávia Freire. – sorri. – Esse sorriso é de quem gosta de aprontar.

- Acertou na mosca, doutora Evelin. – ela riu.

- Te vejo em um mês para retirar o gesso. Analgésico para a senhora recomendo que não se meta em confusão por um bom tempo.

- Eu até que tento, mas essas coisas me perseguem. – ela sorriu.

- Se comportem, garotas. – ela me olhou. – Suas amigas estão na recepção aguardando vocês. Foi um prazer.

- Foi nosso... – respondemos em coro. A doutora foi embora e todas me olharam.

- O que? – franzi o cenho.

- A doutora gatona te deu uma senhora secada. – minha tia falou e eu revirei os olhos.

- Não viagem e nem pensem em fazer gracinhas na frente da Amanda. – elas riram. – Vamos logo.

Chegamos na recepção, as meninas olharam preocupadas, mas sorrimos para tranquiliza-las, Micaela e o irmão ainda estavam lá. Amanda me aconchegou em seus braços e as outras fizeram o mesmo com suas namoradas.

- Meninas, eu sinto muito. – Micaela parecia mesmo chateada pela situação.

- Gata, a culpa não foi sua. – minha tia respondeu e recebeu nossos olhares.

- Claro que foi. Eu deveria ter convencido elas a não jogarem. – ela olhava para a minha tia.

- Esquece isso, Micaela. – Isa a tranquilizou.

- Aconteceu, já passou. – Marcela completou.

- Meninas, olha o estado de vocês. – minha tia ficou ao lado dela e passou o braço sobre o ombro da garota.

- Micaela, relaxa. – nos entreolhamos. – Agora vamos na farmácia. Logo o efeito passa e a dor volta.

- Juliane? – o irmão da Micaela chamou.

- Fala, Fábio. – acho que ela não percebeu que ainda estava abraçada de lado com a Micaela.

- Meus pais querem que você vá jantar em nossa casa. – minha tia arregalou os olhos.

- Por quê? O que eu fiz? – Micaela revirou os olhos e o irmão dela riu.

- Eles querem te agradecer... Pelo ocorrido na festa da Paloma. – Micaela explicou. Ficamos caladas esperando a resposta da minha tia. Eu nunca na minha vida havia visto a minha tia ficar sem jeito e lembraria desse momento pelo resto dela.

- Cla... Claro... – sorriu sem graça. – Qual o endereço?

- Espera... – o garoto pegou o celular. Minha tia que já havia soltado a Micaela, nos olhava com culpa. Ela sabia que iriamos zuar e muito com ela. – Anota o teu número ai...

Eles trocaram os números, fomos para a entrada do hospital, Amanda não me largou nem por um segundo e isso era gostoso demais. Olhei para a Marcela que carregava um Nando apagado em seu colo.

- Marcela, desculpe pelo loiro ter visto isso... – ela me olhou.

- Relaxa, Flávia. – sorriu para me tranquilizar.

- Micaela, você vai pra casa com quem? – minha tia perguntou. Minha língua coçou para dizer algo.

- Eu vou pegar um táxi. – elas duas pareciam em um mundo só delas.

- Sua tia ta caidinha pela Mica. – Fábio, irmão da Micaela disse.

- Concordo plenamente. – falei rindo. Amanda também riu.

- Vai ser difícil convencer a tonta que ela também tá do mesmo jeito... – ele revirou os olhos.

- Então temos dois problemas. Minha tia também tá nessa de negação. – falei baixinho.

- Vocês são muito fofoqueiros. – Emi falou ao se aproximar.

- Ok. Por hoje já deu de aventuras! – Becca falou. – Vamos pra casa.

E foi o que fizemos.

Fim do capítulo