Olá :)
Duas coisinhas importantes rapidinho aqui pra vocês. Como já perceberam, eu sou uma pessoa que gosta muito de trilhas sonoras rsrs Acho que a música faz toda uma diferença e tem um poder incrível sobre as nossas percepções.
Eu vou indicar uma hoje e quem puder e quiser, escute por favor. Quem não quiser, ta bom também kkk A MÚSICA se chama BLUE do cantor Zayn. LINK NAS NOTAS FINAIS. Essa é pro momento quando a Diana estiver experimentando o vestido. A letra é bem legal e tal...
Outra coisinha é que, gente, eu sempre tento pesquisar muito as coisas antes de escrever, mesmo abusando da minha licença poética eu procuro saber antes pra escrever depois, mas nem sempre dá tudo 100% certo e fica tudo perfeito. Então eu peço pela compreensão de vocês caso encontrem algum erro ou algo que não faça sentido. Só entrem na onda da escritora aí e sigam o fluxo, ta bem? rsrs E agradeço muito desde já.
Espero que curtam!
As Faces
O sol já brilhava alto no céu quando consegui me levantar naquela manhã de domingo. Havia dormido mal à noite e só pela madrugada, quando já amanhecia, consegui pegar no sono de verdade. Meu pai ligou às sete me propondo um passeio de barco. Fiquei tentada a aceitar, mas decidi não ir. Também por preguiça, mas principalmente porque eu estava preocupada e me sentindo mal pelo ocorrido ontem. Resolvi tentar dormir de novo e quando acordei já passava das 10h da manhã.
Saí do banheiro após a higiene matinal e verifiquei meu celular na esperança de que o Eduardo tivesse me mandado algo ou ligado, mas nada.
Fui em direção à cozinha e me peguei lembrando do sonho que tive nas poucas horas que consegui dormir essa noite. Eu sonhei com ela. Não me lembro exatamente como foi, mas me lembro de vê-la sorrir. Aquele sorriso doce o qual ela sempre estampava na minha presença. Um sorriso leve, mas que parecia transmitir mais. Era como se por trás daquele sorriso houvesse muito mais do que o que ela demonstrava. Coisas que eu não fazia ideia do que poderiam ser, mas que eu estava extremamente tentada a descobrir.
Meu celular vibrou no balcão central da cozinha e fui logo ver o que era. Uma mensagem de um número desconhecido com um "Bom dia" na notificação. Abri para ver pensando em quem poderia ser, mas assim que li o conteúdo neguei com a cabeça.
Propaganda de produtos eróticos a essa hora da manhã?
Por um segundo cheguei a imaginar que fosse ela. Mas pensando bem, ela não parece ser do tipo que manda mensagens de bom dia no dia seguinte. Embora às vezes ela aja dessa forma, gentil e atenciosa como alguém que o faria. O fato é que a única certeza que tenho sobre ela é que me deixa muito confusa. Muito!
Acabei por olhar as outras mensagens no aplicativo. Algumas besteiras e mais ‘bons dias’ no grupo do restaurante. Mensagem da mamãe mostrando uma foto num Spa com algumas amigas.
"Bonjur, monamour! #Chique".
Mamãe... Deixei um riso abafado escapar.
No grupo da família do papai comentavam sobre o churrasco de ontem e me cobravam por eu não ter ido. E por último uma mensagem que me deixou feliz. Justine. Minha amiga Justine, que me fazia tanta falta, me mandou uma foto com uma legenda e um calendário dizendo estar contando os dias para vir ao Brasil para me ver.
- Ah, Justine... Se você soubesse...
Respondi que não via a hora de revê-la e matar as saudades. Não tive coragem de tocar no assunto. Não ainda, mesmo sabendo que ela provavelmente irá me matar quando chegar aqui. Não sei se até lá essa história com a Valentina ainda vai existir, então...
Tudo seria tão mais fácil se ela estivesse aqui. Justine é uma das únicas pessoas que sabem sobre a minha bissexualidade. Digamos que ela até fez parte dela, nos tempos da escola descobrimos muita coisa juntas e isso só fortaleceu a nossa amizade. E a outra pessoa que sabe bem sobre esse fato da minha vida é o meu pai. Papai sempre foi um ser humano com uma mente aberta. Tão compreensivo e altruísta. E apesar de ter passado boa parte da vida enfiado em seu escritório e a outra parte viajando a negócios, ele sempre encontrou tempo para mim. Para saber como eu estava, como me sentia. E mesmo convivendo relativamente pouco, é praticamente impossível esconder algo dele. E na fase em que eu era um poço de angústia e dúvidas ele percebeu logo que havia algo diferente comigo.
Ah, seu Ricardo e sua adorável paciência e leveza para falar sobre todos os assuntos.
Ele fez tudo de um jeito tão simples que no final nem foi difícil dizer que eu achava que gostava de meninas também. Nunca vou me esquecer do sorriso que ele me deu no parque naquela tarde do verão francês.
- Eu sempre soube que você tinha bom gosto, filha.
Foi a primeira coisa que ele me disse, acredito que para quebrar a tensão antes de conversarmos e ele me aconselhar a não temer ser quem eu era desde que eu fosse feliz. Naquele mesmo dia decidi que não contaria nada para a minha mãe até que eu tivesse certeza do que eu sentia, pois até então só haviam dúvidas e sentimentos confusos dentro de mim. E mamãe pode ser uma pessoa bastante conservadora às vezes. Ela nunca demonstrou preconceitos desse tipo para com outras pessoas, mas eu sabia que ela não reagiria bem se sua única filha se apresentasse assim.
Bem, o tempo passou e a certeza veio. Eu tive alguns casos com meninas, alguns namoros com meninos, mas nada nunca tão sério. Então resolvi que não haveria necessidade de passar por uma audiência com mamãe até que alguma mulher me prendesse de verdade e fizesse eu me apaixonar ao ponto de enfrentar Madame La Roux e dizer a ela que sua filha gosta de 'jogar dos dois lados'. E bom, até hoje isso nunca me aconteceu e agora acho que não vai acontecer mesmo, dada a minha situação atual. Eu me apaixonei pelo Eduardo e agora vou me casar com ele. E apesar de toda essa minha confusão quanto ao casamento, eu sei que o amo e quero viver com ele. Só ainda não me acostumei com esse detalhe de matrimônio, mas nada que não se possa superar, não é mesmo?
Depois de tanto pensar em toda a situação da minha vida, terminei meu café e resolvi ir para a piscina na esperança de esfriar um pouco a cabeça. Depois de um breve mergulho, me deitei na espreguiçadeira embaixo da cobertura do deck e fechei os olhos enquanto acariciava Branca de Neve na cadeira ao lado. Senti seus pêlos se arrepiarem por conta da minha mão molhada e então resolvi provocá-la respingando água nela, que ronronou irritada e se levantou saindo dali. Sorri da pobre e me surpreendi com Eduardo se aproximando, aparentemente sem jeito. Ele estava de bermuda e chinelos, carregando a camisa no ombro descoberto com seu bronzeado à mostra. Um pouco suado e bastante atraente, diga-se de passagem.
- Bom dia. – ele disse se sentando ao meu lado, de onde Branca de Neve tinha acabado de sair.
- Bom dia. – devolvi o sorriso e o encarei.
- Eu acho melhor você não mexer com ela. Parece que hoje ela está mais temperamental que o normal.
Ele sorriu mostrando o pulso arranhado com duas linhas de sangue ressecado.
- Ela fez isso? – perguntei assustada.
- Fez. Tentei levá-la para passear hoje cedo, mas acho que ela não gostou muito da ideia. – ele riu fitando o machucado.
Eu acabei rindo também.
- Ainda não consegui descobrir qual o problema dela comigo. – ele lamentou.
- O problema dela não é com você, ela não gosta de ninguém. – eu ri tentando amenizar.
- De você ela gosta. E agora parece que da Isis também.
Meu corpo tensionou ao ouvir aquele nome.
- Não se preocupe, amor. Ela aparentemente é uma gata bastante seletiva e os critérios que ela usa para se relacionar, até o momento não fazem muito sentido. Não tem porque ela não gostar de você. Você é adorável. Então acho que o problema está nela mesmo. – sorri e levei minha mão até a sua num carinho.
Ele me olhou e sorriu.
- Me desculpa por ontem? – eu pedi – Depois que cheguei vi o que você tinha preparado pra mim, meu coração ficou pequenininho.
- Tudo bem, amor. Eu te entendo, imprevistos acontecem e eu sei que você tá numa fase difícil, cuidando do restaurante e das coisas do nosso casamento. Deve ser muito estressante pra você, não é?
Não respondi, apenas suspirei sem conseguir encará-lo.
- Eu fiquei chateado na hora, mas já passou. Fui dormir na casa da minha mãe e aproveitei para matar as saudades dela e dos meus irmãos. Hoje cedo cheguei para falar com você, mas vi que você estava dormindo, tão linda e serena lá na nossa cama que nem tive coragem de te acordar. Aí saí pra dar uma corrida na praia.
- Não sem antes levar uns belos arranhões da Branca de Neve. – sorri para ele que abaixou os ombros e levantou as sobrancelhas como se dissesse "faz parte".
- Tá vendo como você é adorável. Eu só lamento pela gata que está perdendo de aproveitar essa sua fofura.
Sorri ao vê-lo ruborizado e o abracei. Ele me apertou em seus braços e me puxou para seu colo e começou a me encher de beijos me fazendo gargalhar.
- Eu te amo. Tanto, tanto, tanto! – ele dizia em meio aos beijos.
Me assustei quando ele se levantou comigo em seu colo e correu em direção à piscina. Não tive tempo nem de protestar. Só senti meu corpo bater contra a água e ele me prender em seus braços sorrindo feito bobo.
- Amor! Eu já estava quase seca! Já ia sair para fazer o nosso almoço.
- Não tem problema, amor. Depois eu te ajudo a se secar. Hoje eu quero você só pra mim. Posso?
Sorri não podendo negar nada para ele depois daquele apelo tão carente.
Começamos ali, continuamos em nosso quarto e passamos o dia inteiro namorando como um casal recém conhecido. Com direito a ver filme abraçados e tudo mais.
***
- O lugar era ótimo, você devia ter ido conosco, filha. Lá eles fazem uma massagem com um nome esquisito que ainda não consegui aprender, mas é simplesmente maravilhosa. E os drinks...
A voz de mamãe ecoava em meus ouvidos desde que a peguei em seu apartamento mais cedo para irmos à prova do meu vestido. Aquele sotaque carregado dificultava ainda mais a sua fala quando ela estava agitada, e aparentemente ela está empolgadíssima desde ontem com esse tal Spa.
Eu sinceramente não consegui prestar muita atenção em nada do que ela disse. Minha mente parecia um sinal de alerta desde que acordei esta manhã. E os motivos eram os de sempre, com o agravante: Valentina.
- Nós poderíamos marcar para você ir lá às vésperas do casamento, o que acha? Vai ser bom pra você relaxar um pouco. Está muito tensa.
- É, legal. Pode ser. – a respondi sem tirar os olhos da pista. Levei a mão até o som e o liguei, deixando numa estação de rádio onde uma música de animada tocava.
- Diana, o que é isso?
- O que? É samba, já se esqueceu como é?
- Eu sei o que é samba. Estou querendo saber que falta de educação é essa? Mal me responde e ainda liga o rádio, me interrompendo desta maneira!
- Me desculpe, eu achei que você já tinha terminado. – falei abaixando o volume.
- É claro, não prestou atenção em nada do que eu disse. – a ouvi suspirar – Filha, o que está havendo? Você não parece bem. Algo de errado com o Eduardo?
E então fui eu quem suspirou.
- Não, está tudo bem. Nosso dia foi ótimo ontem, inclusive. Está tudo certo. Não se preocupe.
- Ainda é aquela preocupação com o casamento?
- Não, mamãe. Está tudo bem. Eu confesso que ainda fico um pouco receosa sobre isso, mas bem menos do que antes. Não se preocupe. – a fitei de relance e tentei lhe mostrar um leve sorriso que foi logo retribuído.
De fato, eu ainda me preocupava com a situação casamento, mas o que estava me deixando à beira de um ataque nesse momento era a presença de Valentina no mesmo ambiente que a minha mãe. Nada poderia dar errado, não poderíamos levantar um só resquício de dúvidas sequer porque eu definitivamente não estava preparada para ser colocada na fogueira pela inquisidora-mor chamada mamãe.
Assim que adentramos o prédio da loja o meu celular tocou. Ao ver o nome dela na tela eu rezei para que fosse uma boa notícia, que no caso seria ela cancelando o encontro. Mas para o meu desânimo ela apenas se desculpou antecipadamente, pois se atrasaria.
Onde é que eu estava com a cabeça quando tive essa ideia?! Ultimamente ando tendo ideias brilhantes mesmo. Se eu chegar aos 50 com a saúde do meu coração intacta será realmente um milagre.
- Muito educado da parte dessa moça avisar que vai se atrasar antes de estar mesmo atrasada. – mamãe disse enquanto subíamos pelo elevador – Já gostei dela. Apesar de que o correto mesmo seria não se atrasar de modo algum, mas não deixa de ser uma atitude louvável. Ninguém está livre de imprevistos, não é?
A encarei por alguns segundos sem conseguir dizer uma só palavra. Nesses 30 anos de vida eu nunca vi a minha mãe perdoar um deslize sequer no que diz respeito às regras de etiqueta. E quando se trata de atrasos então, é o fim do mundo para ela.
Parece que Valentina tem mesmo um poder fora do comum de conquistar as pessoas, mesmo quando ainda nem a conhecem.
E talvez isso possa ser perigoso. Muito perigoso.
E lá estava eu novamente naquele pedestal. Me encarando naquele espelho, analisando cada detalhe delicadamente desenhado, bordado e moldado naquele tecido para que ficasse perfeito em mim. Eu deveria me sentir a pessoa mais linda e até a mais sortuda e feliz nesse momento, mas algo me impedia. Algo dentro de mim não me permitia me sentir assim. E o pior de tudo é que eu não conseguia entender realmente o que era e nem o porquê.
Olhando pelo reflexo do grande espelho eu vi uma sombra se revelar e se aproximar lentamente. Ela não sorria, mas não era como se não gostasse do que via. Seus olhos estavam fixos em mim como duas esferas brilhantes emolduradas por sua expressão. Ela parecia mesmo maravilhada com o que via.
Suspirei. Meus olhos ainda fixos nos dela e os dela fixos em mim. Meu coração saltitava em meu peito e eu já podia sentir a dificuldade para respirar aumentar. Acho que aquele corpete estava mais apertado do que o normal.
Minhas mãos começaram a suar. Eu me sentia exposta. Como se eu estivesse nua. Como se ela pudesse ver mais do que qualquer outro ali.
Ela sorriu. Aquele sorriso sutil de sempre. Doce. Ela parecia estar emocionada. Pude ler em seus lábios como num sussurro ela dizendo para mim: "Você está linda”.
E essa foi a última coisa que vi antes de me sentir desfalecer.
...
Abri os olhos com dificuldade, os sentindo tão pesados quanto a minha cabeça. Três rostos me observavam enquanto eu permanecia deitada no pequeno sofá de onde mamãe me admirava antes de minha queda.
- Oh, filha! Dieu merci! (graças a Deus!) – mamãe suspirou aliviada, suas mãos alisando o meu rosto.
As outras duas moças, a costureira e a atendente que me observavam, levantaram assentindo que estava tudo bem.
Me sentei com o amparo de mamãe, ainda me sentindo levemente tonta. E só então notei que eu estava sem a parte de cima do vestido, coberta apenas pelo sutiã sem alças que eu vestia antes.
- Aqui está...
Ouvi a voz de Valentina que se aproximava com um copo em uma bandeja. Ela se calou assim que me viu.
- Merci, Srta. Isis. – mamãe agradeceu-a pegando o copo d'água para me entregar.
- Il n'y a pas de quoi, Sra. Émeraud. (Não há de que).
A fitei surpresa pela sua pronuncia antes de pegar o copo e tomar a água.
- Você está bem, filha?
- Sim. – respirei com mais calma – Foi só uma tontura. Acho que o corpete do vestido está muito apertado. Onde estão as minhas roupas?
Eu me sentia incomodada por estar ali quase desnuda na frente dela. Mesmo que ela não me olhasse. Não, ela não me olhava. Desde que chegou e notou que eu estava seminua da cintura para cima ela evitou me encarar. Talvez porque também estivesse incomodada. Talvez porque quisesse evitar algum olhar diferente. Eu não sei.
Mas quando é mesmo que eu sei algo sobre os mistérios de Valentina?
- Eu vou buscar. – mamãe se levantou – E vou pedir para a costureira que folgue o corpete. Não queremos uma noiva desmaiada em pleno altar, não é?
Mamãe sorriu e saiu me deixando a sós com Valentina que permanecia de pé em minha frente.
- Você está bem? – ela quebrou o silêncio.
- Sim. Foi só um mal estar. – cruzei os braços abaixo de meus seios. Eu estava realmente incomodada e o pior é que ela mal me olhava.
- O seu vestido é muito bonito.
- Obrigada. A sua pronúncia é muito boa. Não sabia que você falava francês.
- Merci. – ela sorriu – Você acaba de descobrir mais um dos segredos de Valentina Viegas.
- E são tantos assim?
Ela esboçou um sorriso e antes que me respondesse, mamãe estava de volta com as minhas roupas.
Por insistência da minha mãe nós acabamos estendendo o encontro para um almoço. Pedi ao Fernando que reservasse uma mesa no andar superior do restaurante e nos encaminhamos para lá. E durante todo o trajeto eu dizia como um mantra para mim mesma que não me esquecesse que quem estava ali era a Isis e não a Valentina.
Eu agradecia mentalmente pelo almoço ter seguido tranquilo. Como presumi, ela realmente tinha algo que cativava qualquer um com facilidade e em poucos minutos de interação, madame Madeleine já sorria e conversava com Valentina como se fossem velhas amigas de infância.
- E então, Srta. Isis, eu soube que você faz trabalhos voluntários na Associação de Orfanatos da Irmã Dulce. Esse é um ato muito bonito.
- Obrigada. – a vi assentir parecendo levemente incomodada com o assunto.
- Mamãe, por favor. Esse é um assunto pessoal.
- Ah, não seja boba. Não há motivos para tanta discrição. É um ato tão nobre, deve ser reverenciado.
- Eu agradeço, Sra. Émeraud. Mas na verdade, discrição é uma característica minha natural. É apenas um trabalho voluntário que faço como várias outras pessoas. Não vejo motivos para vanglória.
- Entendo. E aprecio também. Discrição é uma qualidade louvável. Mas para alguém que recebe destaque nos agradecimentos não apenas pelos trabalhos realizados, mas também pelos valores em doações, é normal que haja certa curiosidade acerca da mulher por trás desse ato de nobreza.
- Mamãe, agora a senhora está sendo indiscreta. Por favor!
- Me perdoe, Isis. Não foi minha intenção lhe colocar em uma situação desconfortável. Foi apenas curiosidade.
- Tudo bem, Sra. Émeraud. Não se preocupe, eu entendo perfeitamente.
- Senhoras. – o meu sub chef apareceu e eu o agradeci mentalmente por nos tirar daquela situação desagradável – Já posso trazer a sobremesa?
- Fernando! – mamãe o cumprimentou – O almoço estava divino!
- Muito obrigado, Sra. Émeraud. Eu fico muito feliz que a senhora tenha apreciado.
- Sim, por favor, Fernando. Obrigada. – eu disse a ele que assentiu e se retirou em seguida.
***
Logo após a sobremesa, mamãe se despediu dizendo que precisava resolver alguns assuntos. Mas não foi embora sem antes encher a minha "assistente de noivas" de elogios. Ao que parecia, Valentina havia ganhado mais uma admiradora.
Me vi sozinha com ela mais uma vez. Ainda à mesa ela admirava a paisagem do lado de fora pela grande vidraça. Os jardins do parque central e histórico da cidade embelezavam a vista dali e privilegiava quem parasse para admirar.
- Foi por causa dessa vista que eu escolhi esse lugar. – comentei.
Ela me olhou parecendo sair de um momento de distração.
- É lindo! À noite deve ficar perfeito, com todas as luzes e luminárias que enfeitam o jardim. Eu estava justamente pensando nisso enquanto admirava. É um lugar perfeito para jantares românticos. Casais apaixonados, pedidos de casamento...
- É, é sim. Eu fui pedida em casamento aqui. – sorri levemente para ela que não pareceu surpresa.
- O seu noivo é um homem inteligente. E apaixonado também. Mas quem no lugar dele não seria, não é?!
A fitei por alguns segundos analisando a sua fala. Preferi não comentar.
- Quer conhecer o restaurante? – mudei de assunto.
- Claro.
Àquela hora o movimento era quase inexistente. Sendo uma segunda-feira então, só haviam alguns funcionários pelo local.
A levei pelo salão contando sobre como eu havia chegado até ali. Como havia me decidido sobre a decoração francesa clássica e aconchegante, que me fazia lembrar a casa de minha avó, minha maior influência e inspiração.
Ela me ouvia atentamente e olhava tudo com admiração e até certo carinho.
- E voilà! Chegamos onde a mágica acontece. – ela disse.
- Oui. O coração de um restaurante.
Ela caminhou pela cozinha observando cada detalhe até chegar a uma imagem com a foto de minha avó que eu deixava na parede acima de um dos balcões.
- Essa é a minha inspiradora. Céline Émeraud ou apenas vovó Eme.
A vi analisar a foto por alguns segundos, ainda com admiração no olhar.
- Você ama estar aqui, não é? – perguntou.
- Sim. Eu amo o que faço.
- Certamente é por isso que o seu restaurante é um sucesso e tudo o que você faz é maravilhoso.
A encarei confusa e ela pareceu entender a minha dúvida.
- Sim, eu já vim aqui algumas vezes além daquela que você me viu.
Levantei as sobrancelhas assentindo.
- Mas como pode ter certeza? Nem sempre sou eu quem faz os pratos. Tenho auxiliares e o Fernando comanda tudo às vezes.
- Realmente. – ela concordou – Acho que seria interessante eu ter a prova para confirmar que, ao menos no quesito profissional, tudo o que você faz é maravilhoso. Apesar de já ter certeza que é sim.
- O que sugere? Quer que eu prepare algo para você?
- Essa é uma ideia formidável.
- E quem sabe se eu te ensinasse? Ou vai me dizer que cozinhar é mais uma das façanhas da Valentina?
- Ah, nessa você me pegou. Cozinhar é algo que está fora das minhas habilidades.
- Pois bem. Prepare-se para ter aulas com a Chef!
- Como quiser, Srta.
- E quando terminarmos você vai poder dizer que faz coisas maravilhosas além do âmbito profissional.
Um sorriso brincou em seus lábios e notei que ela se esforçava para não rir.
- Então... Devo imaginar que você acredita que eu seja maravilhosa no que faço profissionalmente? – ela ainda tentava não rir.
A encarei sem reação. Precisava prestar mais atenção nas coisas que eu falava.
- Bem, não foi isso que eu disse. – sorri para ela – Mas suponho que seja sim.
Ela me analisou por alguns segundos antes de assentir vitoriosa.
- Pois bem. O que a Srta. Chef tem para me ensinar?
- Gosta de Petit Gateau?
Passamos os 30 minutos seguintes entretidas na cozinha. Por fim eu encontrei algo em que ela não era boa. Definitivamente cozinhar não era uma das habilidades da Valentina. Entre risadas, sujeira e seu desajeito com o que para mim era simples e fácil, conseguimos preparar o doce, que então descobri ser o seu favorito.
- Eu acho que vou precisar de mais aulas. – ela dizia enquanto eu nos servia.
- Ah, você foi bem. E tenho certeza que ficou uma delícia.
- Levando em consideração que foi você quem fez quase tudo, estou certa que ficou sim.
Terminei de nos servir e vi seus olhos brilharem sobre os pratos.
- Por favor. – indiquei que ela fizesse as honras e experimentasse primeiro.
Depois de levar a primeira colherada à boca e fazer um leve suspense, ela me olhou sorrindo.
- Como eu disse, maravilhoso!
- Merci.
Por um breve momento houve um silêncio. Um silêncio confortável. Era incrível como as minhas reações diante dela mudavam constantemente. Em um instante eu me sentia extremamente incomodada com a sua presença e no minuto seguinte era como se fôssemos velhas conhecidas em um reencontro.
- Como você consegue? – perguntei.
- O que?
- Ser a Isis e ser a Valentina de um jeito tão... Natural. É como se você se tornasse cada uma no momento certo, mas mesmo assim as duas se completassem em você se tornando uma só. É nítido quando você está de Valentina e quando está de Isis, mas nas duas situações eu consigo enxergar os traços de uma e da outra dentro de você.
- Talvez seja porque eu sou exatamente as duas.
- Entendi.
- São momentos. – ela continuou – Mesmo quando eu deixo uma em evidência, a outra ainda está dentro de mim.
- Eu vejo traços da duas em você o tempo todo.
- É porque com você eu não consigo ser uma só. Você desperta os meus dois lados, mesmo que na sua presença eu me esforce para ser apenas uma.
A fitei sem saber o que responder, já me sentindo estranha novamente. Eu não sei se aguentaria essa oscilação por muito tempo convivendo com ela.
- Obrigada pelo convite, pelo almoço, pela aula e pela atenção. – ela disse se levantando – Você foi muito gentil.
- Imagina. Eu é que agradeço por ter vindo. E me desculpe pela minha mãe.
- Não se preocupe. Ela é adorável.
Assenti, não negando, mas também não confirmando.
- Bem, agora eu preciso ir. Porque quando o sol se põe, eu deixo de ser a Isis e me torno Valentina. Até breve, Srta. Émeraud.
Acenei para ela e a vi sair, com o sorriso de Isis e o olhar de Valentina.
***
Passei o resto do dia pensando nas coisas que ela havia me dito. Mas uma frase em especial não parava de se repetir em minha cabeça.
“Porque quando o sol se põe, eu deixo de ser a Isis e me torno Valentina.”
Eu não conseguia entender, mas aquilo não havia me soado tão simples quanto parecia.
Já em minha cama, deitada para dormir, todos esses pensamentos rondavam a minha mente, mais uma vez me impedindo de ter um sono tranquilo. Não sei por quanto tempo divaguei naquilo até pegar no sono.
Um zumbido começou a ecoar em meus ouvidos e aos poucos fui sentindo meu corpo entrar em alerta. Acho que estava tão cansada que demorei um pouco para reagir e entender que era o meu celular.
No quarto escuro, bati a mão na luz que piscava no criado mudo ao lado da cama e ainda meio zonza pude ler o seu nome na tela em chamada.
Isis... Isis?
Era pouco mais de 3 da manhã. Eduardo ressonava ao meu lado e eu virei para o olhar, na dúvida se atendia ou não.
Nesse meio tempo a ligação caiu. Fitei o celular novamente e não demorou para que começasse a chamar outra vez. Me levantei e fui até a vidraça da sacada abrindo-a cuidadosamente. Saí e a fechei e enquanto eu fazia isso a chamada já havia parado mais uma vez e recomeçado de novo.
- Alô? – atendi apreensiva.
- Alô! Oi, é a Diana? Diana Éme... Émeraud? – uma voz desconhecida e aflita soou do outro lado.
- Sim, sou eu. Quem é?
- Eu sou a Vivi, amiga da Valentina. Fui ao seu restaurante outro dia desses, tá lembrada?
- Sim, acho que sim. Algum problema? Por que está me ligando a essa hora?
- Então, é que a Valentina tá com um probleminha aqui. Ela não tem ninguém por ela, eu sou a única amiga que ela tem, mas eu...
- Moça, por favor, você pode me dizer logo o que está acontecendo?
- Eu tô com a Valentina no hospital, mas não posso ficar porque tô em horário de trabalho. Será que você poderia?
Senti meu coração acelerar.
- Como? Eu não... Aconteceu alguma coisa com ela?
- É. Digamos que foi um acidente de trabalho. Você vai poder vir ou não?
- Eu... Me fala o endereço, por favor.
...
Fim do capítulo
MÚSICA:
http://open.spotify.com/track/1LLIkqUK19oJXHozT5PJ3B
https://m.youtube.com/watch?v=NbzgChtrIAY
Então, pessoal espero que tenham gostado desse capítulo.
Preciso fazer algumas considerações sobre esse conto para vocês.
Bem, o que vimos até aqui digamos que foi apenas uma introdução aos personagens e suas relações entre si, para que vocês entendessem suas personalidades e como cada um se encaixa no contexto da estória. A partir do próximo capítulo nós iremos adentrar no verdadeiro enredo no qual me propus a fazer quando tive a ideia de escrever 'Noites com Valentina'.
O meu processo de criação funciona assim: Eu tenho a ideia. Faço um resumo. Analiso os personagens, nomes, características de cada um. E então eu faço uma espécie de escopo do que será a história, com início, meio e fim.
Então basicamente o conto inicia para vocês com um destino certo. O que faço é apenas desenvolver a cada capítulo, podendo haver mudanças ou não.
A partir de agora se dará início à "ação". Onde o desenrolar da trama começa. E eu posso dizer para vocês que tenho grandes ideias e que não será uma estória nada morna. Há muitas coisas por trás de tudo o que aconteceu e do que acontecerá, em relação ao passado, presente e futuro das nossas mocinhas principalmente! Eu pretendo surpreender muito vocês e espero de verdade que eu consiga rsrs
Então, se vocês chegaram até aqui, espero muito que tenham gostado e que continuem a acompanhar, porque o que está por vir é o melhor da estória, garanto pra vocês rsrs
Até breve então?
Beijo e até a próxima!
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Anastacia
Em: 06/10/2016
Olá Sweet!
Fazia tempo que não acessava o Lettera e fiquei muito feliz de vim aqui e ver que tinha dois capítulos novos. Não sei a razão de não estar recebendo as atualizações, uma vez que tenho você no meu seleto rol de favoritas!;) Problemas técnicos a parte, surpreendeu-me a bissexualidade da Diana. Temática espinhosa, não? rsrs. Acredito que sua intenção não é polemizar, mas esse assunto sempre desperta discussões interessantes. Outro dia estava conversando com uma alguém que me é muito especial sobre sexualidade e ela falou de forma assertiva que não acredita que exista mulhere 100% héteros. Não obstante considerar a opinião dela um tanto quanto radical e carecedora de empirismo, resolvi arriscar uma segunda pergunta sobre a bissexualidade. Ela me disse que também não entende a bissexualidade. Resumindo, ela acha que todas as mulheres do mundo na verdade são lésbicas e só não tiveram a oportunidade de viver isso, rssrs. Enfim, polêmicas também à parte, a Diana certamente ainda irá nos surpreender com o seu passado. As duas personagens possuem um lado oculto que aguça nossa curiosidade. Mas uma coisa é certa, a química entre elas é forte e só resta acontecer uma faísca na hora certa, ou na hora errada, afinal não existe hora para pegar fogo, não é mesmo?
Beijos, Sweet e até breve.
Resposta do autor:
Olá, Srta!
Ah, fico lisonjeada por isso :) rsrs Obrigada!
Realmente a minha intenção com o tema não é polemizar, visto que a sexualidade de Diana já era algo previsto nos meus rascunhos. Até para poder entender o porquê de uma mulher, noiva de um homem, de repente decidir se encontrar com uma outra mulher, uma prostituta no caso. Não foi algo como um desejo momentâneo, a história dela mostrou isso. De qualquer forma é sempre interessante levantar essas questões. Tabus são quebrados quando se fala sobre e se expõe o assunto, não é mesmo? rsrs
Olha, a opinião dessa "sua pessoa" é um ponto de vista. Eu acredito que seja realmente um pouco radical, mas cada um tem uma maneira de pensar, não é?! rsrs
Tudo o que foge da nossa compreensão acaba por ser um pouquinho mais difícil de entender. Confesso que também já tive minhas dificuldades com o tema, mas busquei entender que, independente de compreensão, as pessoas são o que são e como são. Não cabe a nós julgar ou generalizar uma afirmação porque ninguém é igual ninguém. Sentimos de maneiras diferentes, pensamos de maneiras diferentes e principalmente, vemos o mundo sob perspectivas diferentes. No fim o que vale é o respeito à excessão que iguala todos nós e nos faz ser como todo o mundo: somos humanos.
Sobre as nossas mocinhas, bem, acho que o que posso dizer acerca dos rumos os quais pretendo levar e quem sabe até surpreender vocês, se baseiam no presente da Diana e nopassado da Valentina. Olha que spoiler, hein?! kkk
Essa sua última fala me fez lembrar uma música rsrs Fire Meet Gasoline, da Sia. Descreve perfeitamente. Olha aí, acabo de ter uma ideia... Enfim rsrs
Bem, acho que a essa altura uma faísca entre elas é algo inevitável. Resta saber até quando elas vão conseguir evitar que as chamas se alastrem...
Obrigada mais uma vez e até breve, Anastácia.
Beijo
tatiaraujo22
Em: 20/09/2016
Amanado cada detalhe dessa história. Vc é maravilhosa na sua escrita. <3
Resposta do autor:
Ah, que bom saber disso.
Muito obrigada, eu fico bem feliz mesmo *-*
Espero que goste dos próximos também.
Beijo ♥
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Duda_Gomez1999
Em: 20/09/2016
Eu tô amando sua história, espero que não abandone suas leitoras porque realmente está arrasando.
Quando iremos ter os próximos capítulos? Ansiosa ?
Espero que esteja tudo certo, bjs.
Resposta do autor:
Muito feliz por saber *-*
Não abandono não, de jeito nenhum rsrs
Logo, bem logo. Já estou quase terminando e se tudo der certo até o fim dessa semana eu posto ;)
Muito obrigada!
Beijo!
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ReSant
Em: 19/09/2016
nossa, eu amei esse cap, ate aqui eu gostei de tudo, so foi um pouco chato a demora pra atualizar, tive ue voltar e ler o cap anterior, mas valeu a pena, foi perfeito
Resposta do autor:
Fico feliz *-* Muito obrigada!
Pois é, não tenho conseguido atualizar muito rápido. Mas eu agradeço por você continuar acompanhando mesmo assim rsrs
Obrigada e até mais!
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lia-andrade
Em: 19/09/2016
Cada vez mais interessante a estória. Essa eu não perco por nada, já que vc garante que o melhor esta por vir. Já amo a estória e as mocinhas então nem se fala. ?
O que será que aconteceu a Valentina? ???”
Beijos, até o próximo sem dúvida.
Resposta do autor:
É bom saber disso. Muito obrigada pelo voto de confiança rsrs
Vamos saber mais umas coisinhas no próximo capítulo...
Muito obrigada por acompanhar!
Beijo e até...
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FernandaPRF
Em: 19/09/2016
Tua estória é demais, guria. Li os seis capítulos bem rapidão. Aguardo ansiosa , o seguinte.
BJ.
Resposta do autor:
Obrigada! Que legal saber disso *-* rsrs
Logo, logo eu volto com mais!
Obrigada e beijo
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rhina
Em: 19/09/2016
Olá.
Boa.
Quanta saudades mocinha.
Se até agora so nos apresentou a introdução. ..cara fico até com medo do que está por vir.
Sua história é super complexa. Muitas coisas estão nas entrelinhas.
Bem vinda de volta.
Beijos.
Rhina
Resposta do autor:
Olá, Rhina!
Pois é... Eu tenho tentado fazer uma coisa bem legal pra vocês. Espero que gostem do que está por vir rsrs
Muito obrigada!
Beijo
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Silvia Moura
Em: 18/09/2016
Olá autora!!! Esse mistério me impressiona, me instiga... PROPOSTAS!!! Desde o principair do conto que você lançou uma proptaos, risos... se vamos aguentar ou não eis o misterio, risos... Autora sempre gosto o que esvreves... anciosa sempre para o que virá... na espera... beijos...
Resposta do autor:
Olá!
rsrs Faz parte, pra ficar interessante né... rsrs
Mas é muito bom saber que você está gostando.
Muito obrigada por acompanhar e pelo comentário.
Logo, logo tem mais mistérios da Valentina rsrs
Até mais!
Beijo
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