Cássia

 

Meus olhos estavam pesados, mas o meu corpo quase flutuava, uma preguiça gostosa brincava com meu corpo e um sorriso gigantesco apareceu ao sentir o peso, o aroma e a sensação que somente Paloma me causava. Abri meus olhos para presenciar a cena mais linda desse mundo: minha namorada agarrada ao meu corpo, a costa nua e o lençol cobrindo somente o bumbum, os cabelos bagunçados e o rosto sereno. Tenho certeza que me apaixonei ainda mais, se é que possa ser possível. Depositei um beijo leve em sua face, levantei sem fazer movimentos bruscos. A admirei incontáveis minutos, a noite de ontem foi tão linda, os beijos, sussurros.

 

- Minha linda... – a cobri melhor.

 

Me alonguei para espantar a preguiça, olhei através da enorme porta de vidro e vi a manhã nublada de Belém, aquela quinta amanheceu preguiçosa. Olhei mais uma vez para a mulher perfeita que dormia alheia ao mundo e segui para a cozinha. Havia comprado algumas coisas que a Paloma adora e decidi fazer. Eu estava tão feliz e não podia conter o sorriso a cada flash da noite anterior.

 

- Acabou comigo... – ri.

 

Passei a preparar o suco de maracujá, bolo de laranja, abacaxis em rodela, mamão com leite e café forte, da forma que eu bem sabia que ela gostava. Coloquei tudo em uma bandeja e sorri ao chegar na sala e vê-la se espreguiçando como uma gatinha manhosa.

 

- Bom dia, minha vida... – ela abriu os olhos e sorriu.

 

- Bom dia, meu amor... – olhava sem a menor vergonha para o meu corpo que estava totalmente nu.

 

Coloquei a bandeja ao lado da cama de travesseiros, me sentei ao seu lado e a beijei sem a menor pressa. Trocamos muitos carinhos, mas antes que as coisas esquentassem ainda mais, interrompi para comermos. Como eu disse, Paloma acabou comigo, mas isso me deixou ainda mais tentada a tê-la.

 

- Esse bolo é uma delícia... – ela dizia de olhos fechados e com satisfação evidente. – Você adora me mimar... – beije-lhe o nariz.

 

- Você é o meu amor... – ela sorriu.

 

- Amor, você precisa esconder essas marcas no pescoço... – ela gargalhou.

 

- Eu sabia que iria ficar assim... Sua irmã não vai perdoar... – ela riu ainda mais. – Isso, amor... Ria da minha desgraça... – fiz bico.

 

- Oh, mas que bico lindo... – segurou o meu rosto com as duas mãos e mordeu o meu lábio, puxando-o. – Covardia, sabe que não resisto...

 

- Sei mesmo... – concordei convencida.

 

- Eu adorei cada segundo... – respirei fundo. – Foi melhor do que qualquer coisa que eu tenha imaginado... Você é perfeita... – sorri.

 

- Perfeita é você, Paloma... – segurei a sua mão e depositei um beijo no dorso. – Tá vendo esse sorriso bobo aqui? – ela acenou em positivo. – Tudo culpa sua... – ela gargalhou.

 

- Eu te amo muito, sabia disso? – segurou o meu rosto e fechei os meus olhos para sentir o carinho.

 

- Sabia... Mas não canso de ouvir... – a beijei. – Assim como não canso de dizer... Eu te amo...

 

Terminamos o café, nos amamos mais um pouco ali entre os travesseiros e depois repetimos no banheiro, nos amamos em todo tempo e mesmo assim não parecia ser o suficiente. Queríamos muito mais e sim, eu não podia mais controlar o que o simples toque de seus dedos causavam em todo o meu corpo. Eu queria passar o dia abraçada a ela, mas precisávamos voltar para casa e juro, foi tarefa difícil. Arrumamos toda a bagunça, mas não levei tudo o que havia trago, afinal, estávamos de moto.

 

- Bom dia... – o cara que estava todo sem jeito, parado a porta, disse.

 

- Bom dia... – Paloma e eu nos olhamos, estranhando o fato do porteiro não ter avisado.

 

- Desculpem... Eu queria falar com a Rebecca. – parecia nervoso.

 

- A Becca tá na casa da namorada. – Paloma mandou sem piedade.

 

- Ah, claro... – passou as mãos pelos cabelos curtos. – Tudo bem...

 

- Quer deixar recado? – perguntei, já que ele não se moveu para ir embora.

 

- Não, eu volto outra hora. – sorriu. – Bom dia...

 

- Bom dia... – respondemos e ele entrou no elevador.

 

- Se esse for quem eu tô pensando... Hummm... – franzi o cenho.

 

- A Emi não vai gostar nada...

 

Paloma concluiu a minha analise.

 

 

 

Nick

 

Acordei cedo para poder levar a Isa na faculdade, tomamos café com minha família e mesmo ela insistindo para que eu não me incomodasse, não cedi. Estávamos longe da federal, Isa falava com os pais e eu pensava na minha irmã.

 

Paloma cresceu, se tornou mulher e eu não poderia fazer nada, a não ser aceitar que ela agora era dona de si. O que me deixava feliz, apesar de quase matá-la de susto, era saber que a minha irmã estava em boas mãos. Cássia a amava e tenho a mais absoluta certeza que ela faria o possível e o impossível para fazê-la feliz.

 

- No que pensa? – senti a mão macia da Isa pousar sobre o meu rosto.

 

- Paloma... – ela riu. – Eu sou chata...

 

- Não é... – sorriu. – Você ama a sua irmã e se preocupa.

 

- Acha mesmo? – perguntei.

 

- Acho sim... – desviei por poucos segundos a atenção do trânsito, para olhá-la. Sorri e respirei fundo.

 

- Eu não canso de dizer... – busquei a mão dela. – Você é linda, Isabela. Linda por fora e ainda mais por dentro...

 

- Você que me vê com bons olhos... – ela pareceu envergonhada e isso a deixava a coisa mais fofa do mundo.

 

- Não é, não... – ri. – Eu tenho vontade de te morder...

 

- Amor, para... – essa menina me faz ir ao paraíso somente me chamando dessa forma.

 

Deixei a Isa na entrada do prédio de odontologia, ela fez questão de segurar a minha mão o tempo todo e me deixou ainda mais encantada quando me beijou de forma natural, não dando a mínima para as pessoas ali perto. Ela sorriu e me abraçou forte e eu sai do campus com um sorriso bobo, encontrei o Rafa, conversamos rapidamente. Dentro do carro, liguei para a empresa e avisei a secretaria que iria somente a tarde.

 

Dormi um pouco depois que cheguei em casa, comi alguma coisa e fui trabalhar. Troquei algumas mensagens com a Isa durante a tarde. Um pouco antes de encerrar o expediente, a Luna, meu braço direito, informou que o Júlio estava me esperando na recepção.

 

- Eu não acredito... – quis gritar. – Quando esse idiota vai entender? – Mande ele entrar, Luna.

 

- Sim, Nick... – fiz um coque mal feito e me enchi de paciência.

 

- Nick, meu amor... – um pouco do que pedi foi embora.

 

- Senta, Júlio. – ele sorria. – O que deseja?

 

- Estava com saudade, Nicole... – trinquei meu maxilar.

 

- Júlio, eu realmente gostaria que não me procurasse mais. – bebi um gole da minha água já quente.

 

- Nicole, tínhamos planos. Eu quero retomar de onde paramos. – o olhar dele era carregado de suplica.

 

- Júlio... Não existe nenhuma possibilidade disso acontecer. – ele cerrou o punho. – Você me acusou de algo que não era verdade, ofendeu a minha família...

 

- Amor, me perdoa... – ele tentou segurar minhas mãos, mas não permiti. – Nicole, eu não aguento mais essa situação. Eu me arrependo tanto do que fiz... Eu... Aquela cena com a tal Isabela não me convenceu.

 

- Júlio, não importa o quanto arrependido você esteja, não existe mais nada, absolutamente nada entre você e eu. – fiquei de pé. – E eu te peço, não me procure mais... Eu estou com alguém...

 

Ele levantou, sua feição mudou de uma forma radical, engoli em seco, apertei o punho e pensei em chamar a segurança.

 

- Quem é ele, Nicole? – ele cuspiu as palavras.

 

- Ela... – disse firme. O telefone tocou novamente. – Oi, Luna.

 

- Nick, a Isabela tá aqui... – respirei fundo.

 

- Mande ela entrar, Luna... – sai detrás da mesa e fui até a porta.

 

- Amor, eu... – as palavras morreram em sua boca.

 

- Vem, amor... – segurei a sua mão. O clima pesou toneladas.

 

- Ela? – ele riu em deboche. – Olha, eu estava certo...

 

- Não naquele momento... – abracei a Isa de lado. – Agora é...

 

- O que tá fazendo, Nicole? – ele gritou.

 

- Você não tá em seu juízo normal, Júlio... – respirei fundo. – Vai embora. Por favor...

 

- Não! – ele estava fora de si. – Você tá doente!

 

- Amor... – Isa tentou dar um passo à frente, mas não deixei.

 

- Vocês me dão nojo... – tentou se aproximar. – Mas, amor... Amor, eu posso te ajudar...

 

- Não chama ela de amor... Não chega perto dela... – a Isa estava ficando alterada.

 

- Luna, pede para os seguranças virem até aqui... – segurava o braço da Isa.

 

- Não precisa fazer isso... – ele recuou.

 

- Você precisa se tratar, Júlio. – disse firme. – Calma... Amor.

 

- Chamou, dona Nicole? – Roberto e Cauã entraram na sala.

 

- Meninos, acompanhem o senhor Júlio até a saída e certifiquem-se que ele não entre mais aqui, sim? – Júlio me olhou com fúria.

 

- Sim, senhora... Vem.

 

- Me soltem, eu sei andar sozinho...

 

Júlio me olhou mais uma vez, eles saíram e me abracei a Isa, ela me acolheu em seus braços e ficamos assim durante um tempo. Não estava com medo, apenas surpresa com a pessoa que acabou de sair por aquela porta. Aquele alguém eu simplesmente não conhecia e isso me deixava furiosa comigo mesma.

 

 

 

Becca

 

- Obrigada, Paloma... – desliguei a ligação.

 

Emi estava no banho, sentei na beirada da cama e fiquei pensando no que Paloma me disse. Queria mesmo entender esse repentino amor do Vitor. Uns meses atrás ele foi bem claro quando disse que não queria qualquer contato comigo. Isso tinha dedo, mão e corpo inteiro da minha mãe. Isso tinha que acabar e eu iria fazer algo para impedir aquela sabotagem com a minha vida. Minha mãe era incrivelmente egoísta, não posso acreditar que aquela mulher fosse mesmo real. Eu queria mesmo saber se algum dia ela iria mudar o jeito preconceituoso, esnobe.

 

- Você tá bem, amor? – sai da avalanche de pensamentos. Ela estava parada na porta do banheiro, uma pequena calcinha e um regata de uma banda. Secava os cabelos e me olhava preocupada.

 

- Vitor foi até o meu apartamento hoje de manhã... – a face dela endureceu.

 

- Andei pensando e queria te pedir para morar em definitivo comigo, Becca. – ela sentou ao meu lado. Sua feição agora era doce. Absorvi o que ela disse e por um momento esqueci os problemas.

 

- Tem certeza? – sorri. – E o meu apartamento?

 

- Você poderia aluga-lo ou vender. Desculpa se estou sendo rápida demais, olha... Eu... – ela tentou levantar, mas não deixei.

 

- Calma... – a puxei para mim. Beijei seus lábios lentamente e ela soltou um suspiro. – Melhor?

 

- Uhum... – fez um som nasal e eu sorri.

 

- Vou alugar... Amanhã vou colocar um anuncio, tudo bem? – ela sorriu. – Podemos buscar as minhas coisas amanhã a tarde. O que acha?

 

- Acho perfeito, amor... – se jogou sobre mim. Ela me enchia de beijos e eu apenas gargalhava.

 

Depois de mais algum tempo, entrei no banheiro para um banho rápido, Marcela estava no quarto com o Nando, que chegou cansado da escolinha. Iria completar quatro meses que Emi e eu estávamos juntas e sei que não deveríamos apressar as coisas, mas ela não tinha dúvidas e deixava isso claro em cada atitude sua e eu... Eu também não tinha a menor dúvida e iria dar aquele passo com um sorriso no rosto, o coração cheio de felicidade e a mente em concordância. Amo a Emily de todo coração, com a alma e só de imaginar viver uma vida inteira com ela, me enchia de paz.

 

Sai do banho e sobre a pia de mármore do um conjunto de seda. Sorri, aquele habito dela me deixava toda boba. Vesti, escovei meus dentes e sai do banheiro para encontrar o meu anjo toda encolhida na cama. Me aproximei sem fazer barulho, cobri o seu corpo e sorri quando ela resmungou alguma coisa.

 

- Linda...

 

Peguei a minha câmera e não resistir em registrar algumas fotos, um álbum era montado e ela nem imaginava. Depois que fiquei satisfeita, sai do quarto e fui até a cozinha para tomar um pouco de água. Voltei para o quarto e quando deitei, Emi se agarrou à mim, sorri e a apertei de volta.

 

Sexta, 14 de outubro de 2015.

 

- Volto na hora do almoço para irmos ao seu apartamento. – Marcela, Nando e minha namorada estavam paradas na porta.

 

- Tudo bem, amor. Quando você voltar, pega o Nando... – o garotão acordou no 220 hoje.

 

- Ok... – me beijou a bochecha. – Eu te amo...

 

- Eu te amo mais... – sorrimos.

 

Eles saíram e eu fechei a porta, corri para um banho, pois precisava sair para por a cobertura em alguns anúncios. Passei em alguns jornais e visitei uma amiga dona de um blog, não queria contratar uma corretora. Decidi passar no apartamento dos meus pais, precisava ter uma conversa séria com eles.

 

- Rebecca... – olhar frio e voz congelante.

 

- Mãe... – respirei fundo.

 

- Entra... Finalmente decidiu aparecer. – revirei os olhos e me acomodei no sofá. Como não poderia deixar de ser, o apartamento estava decorado com o mais alto luxo. – O que devo a honra?

 

- Precisamos ter uma conversa séria...

Fim do capítulo