- Me desculpe por isso, moça... – a garota dizia com a maior cara de culpada. – Qual é o seu nome?

 

- Juliane... – eu ainda estava me perguntando porque diabos eu me meti nessa confusão. Meu rosto iria ficar roxo. – Relaxa, garota...

 

- É Micaela... – revirou os olhos e eu a encarei. – Deixa eu por mais gelo...

 

- Aí... – cadê a delicadeza?

 

- Desculpa, desculpa... – a doida parecia envergonhada.

 

- Só deixa que eu faça isso... Ok? – se ela não fosse tão linda, eu tacava esse gelo nela. – Por que me beijou? Não que eu esteja reclamando, mas mereço saber o por que fui usada... – ela sorriu sem graça, brincou com os dedos.

 

- Eu peguei aquele filha da pu... – Micaela fechou os olhos e os punhos. – Ele estava comendo uma vadiazinha no banheiro feminino... – controlei para não rir.

 

- Então decidiu se vingar dele, beijando uma mulher que nunca viu na vida? – arqueei uma sobrancelha. Ela arregalou os olhos.

 

- Ai, meu Deus... – a louca pós as mãos na cabeça. – Eu beijei uma mulher... Uma mulher...

 

Revirei os olhos. “Era só o que me faltava... Mas, se bem que, se ela quiser... Ok... Acho que o soco afetou meu cérebro”.

 

- Sossega, Manuela...

 

- É Micaela! – a mulher ficou estressada. Errei de proposito, ver ela com raiva era bem sexy.

 

- Ok... Só relaxa... – o gelo já não queimava a minha pele.

 

Fechei meus olhos para parar de olhar o decote da mulher. “Espera! Eu parei mesmo de olhar para um lindo decote? Merda, o que há de errado comigo?”. Ouvi vozes e reconheci, abri meus olhos.

 

- Tia... – Camila estava acompanhada da Rebecca, Amanda, Marcela e Isabela.

 

- Juliane, você tá bem? – o pedaço de mal caminho perguntou.

 

- Tô bem... – sorri para reforçar o que disse. – Foi só um soquinho de nada... – mostrei.

 

- Como isso aconteceu? – Isa se aproximou.

 

- A culpa foi minha... – Micaela se pronunciou. “Que menina linda... Nossa”.

 

- E quem é você? – Cami olhou a menina de cima a baixo.

 

- Me chamo Micaela...- ficou sem graça.

 

- Cadê as namoradas de vocês? – perguntei para tirar a garota da reta.

 

- Foram atrás do cara que te bateu... – Marcela respondeu.

 

- E como souberam o que aconteceu?

 

- Me solta!

 

Ouvi uma voz masculina gritando, outras misturadas, olhei para a Micaela e a menina arregalou os olhos. Logo a cozinha foi invadida por Flávia, Emily, Nick, Jaque, Sam, o idiota que me acertou e o segurando, dois armários.

 

- Cala a boca, seu idiota... – Flávia gritou.

 

– Micaela, você mandou fazer isso?

 

- A dona Flávia mandou você ficar quieto... – um dos armários falou. A voz do cara era assustadoramente grave, deixando o espancador de mulher quietinho.

 

- Alguém pode explicar o que aconteceu? – Nick perguntou.

 

- O mané aí estava se acabando em uma novinha no banheiro, a Micaela pegou ele com a boca na botija. Eles estavam discutindo ao meu lado, a garota o mandou deixa-la em paz, mas ele segurou o braço dela. Ela ficou furiosa, me olhou e me deu um beijo de tirar o fôlego... – me abanei. – O cara ficou louco, iria bater nela, eu me enfiei no meio dos dois e levei o soco... – terminei e botei o gelo de volta no rosto. As meninas ficaram me olhando, dei de ombros.

 

- Stalone, quebra esse imbecil! – Emi mandou.

 

- Não, não... Por favor... – mas, era muito cagão mesmo.

 

- Com mulher você se garante, não é? – o armário levantou o borra calça uns vinte centímetros do chão.

 

- Calma aí... Ninguém vai bater em ninguém... – Becca se pronunciou. – Mesmo que ele mereça, violência não se responde com violência.

 

- Micaela, me perdoa... Amor? – torci o beiço para o idiota.

 

- Amor é o cacete! – ela gritou. As meninas a olharam espantadas e eu quis que ela me tirasse o fôlego mais uma vez. – Qual é o seu problema?

 

- Amor, você precisa me perdoar... Eu te amo... – vi a Micaela ir em direção ao mané, mas a puxei pelo braço.

 

- Calma, linda... – ela estava de frente para mim. – Você tem olhos bonitos...

 

- Obrigada... – ela não piscava e acredito que eu também não.

 

- Vão ficar se comendo na minha frente? Devia ter pegado a sua tia de novo...

 

Ai meu Pai.

 

- Como é? – ela avançou no cara e segurou os bagos dele. – Repete...

 

- Deus... – foi só o que ele conseguiu dizer. Vi uma veia em sua testa saltar e uma lágrimas correr de seus olhos.

 

- Aperta com mais força... – Sam incentivou e eu apenas sorri.

 

- Não acredito que me enganei tanto com você... Seu, seu... – apertou ainda mais as bolas do tal Gustavo que estava quase desmaiando. “Que mulher”. Suspirei.

 

- Segura a baba... – Jaque se pós ao meu lado.

 

- Tá difícil... – respondi.

 

- Acho que já chega... – Amanda colocou a mão sobre o ombro da Micaela que soltou o ex.

 

- Obrigada... – ele disse em uma voz fina.

 

- O que a gente faz com ele, dona Flávia? – o guarda-roupa tamanho família perguntou.

 

- Por mim. Quebraria ele, Stalone...

 

- Flávia... – Amanda ralhou.

 

- Vamos esperar a polícia chegar. – Nick decretou.

 

- Deixe ele ir... Não vale a pena... – dei de ombros.

 

- Leva esse saco de merd*, Stalone... – Emi pediu.

 

- Com todo prazer, dona Emily... – o tal Stalone jogou o Gustavo no ombro.

 

- Mais alguma coisa, meninas? – o outro super crescido perguntou.

 

- Não, Van Damn... – quase ri desse apelido.

 

- Boa noite. – eles levaram o mané que parecia desmaiado. Acho que estava molhado de medo.

 

- Que vergonha! – Micaela escondeu o rosto no meu pescoço e esse gesto me pegou totalmente de surpresa.

 

- Então tá... – Cami falou.

 

- Tia, você... – Amanda interrompeu a fala da Flávia, pós a mão sobre a boca dela e todas foram saindo da cozinha.

 

A menina chorava baixinho, passei o braço por sua cintura e a trouxe mais para mim.

 

- Calma, linda... – passava a mão em seus cabelos. – Você não precisa de um cara como esse...

 

- Só não me conformo de ter sido tão estupida... – a voz dela saiu abafada.

 

- Vai passar... Vai por mim... – ela se afastou um pouco.

 

- Já passou por isso? – os olhos dela estavam molhados.

 

- Sim... Há um bom tempo atrás... – enxuguei o rosto dela.

 

- Ele é um idiota... – ela falou séria, me fazendo rir.

 

- Concordo... Ela era uma idiota... – Micaela arregalou os olhos. – Sim, eu gosto de mulher...

 

- Nossa...

 

- Vamos sair daqui? – sorri para ela. – Tem mais alguém contigo nessa festa?

 

- O meu irmão... – Micaela percebeu que ainda segurava o meu pescoço e ficou toda sem graça.

 

- Fica linda toda vermelha... – ri. – Vem... Vamos procurar o seu irmão...

 

 

 

Flávia

 

- O que foi aquilo? – Nick perguntou.

 

- Também boiei... – Emi passou a mão nos cabelos.

 

- Pensei que morreria e não veria uma coisa dessas... – Cami nos olhava querendo rir.

 

- Nossa... Como tá tarde! – Becca olhou para o relógio em seu pulso.

 

- Caramba! – olhei as horas.

 

- Acho que a festa já deu por hoje... – Isa falou e concordamos. – Vamos esperar o Rafa e a Liz.

 

- Vou levar a Jaque e Isa, Flávia. – Nick avisou.

 

- Amor, posso dormir na sua casa? – pedi a minha loira.

 

- Claro que pode, amor. – ganhei um beijo.

 

- Vamos dormir na casa da tia Carolina. – Camila falou. – Agora, só falta a tia Ju...

 

- Cadê a Paloma? – Nick olhou para todas nós.

 

- Fui... – peguei a mão da Amanda.

 

- Lembrei que tenho de fazer xixi...

 

- Boa noite...

 

As meninas se saíram, deixando a Nick com cara de tacho e a Isa rindo. Como os meus pais levaram o Nando mais cedo, então Marcela foi embora com a Emi e Becca, as meninas iriam com a minha irmã. Hoje o dia foi bom, na faculdade entregamos alguns presentes de dia das crianças para uma garotada, o aniversário da minha irmã foi perfeito e agora iria dormi ao lado da minha namorada. Fomos o caminho todo conversando e trocando carinhos, e foi em meio a isso tudo que lembrei da pequena loira dos meus sonhos. Imaginar uma vida ao lado da Amanda me fazia sorrir involuntariamente.

 

- Que sorriso é esse? – olhei para a minha loira.

 

- Estava pensando... Imaginando como seria viver ao teu lado. – estávamos no sinal. Ela sorriu.

 

- Às vezes me pego pensando no assunto... – guardei sua mão entre a minha, mas logo soltei quando o sinal abriu.

 

- Amor... Aonde viveríamos? – ela deu uma risada, aquela que me fazia levitar sem sair do chão. – Eu tinha alguns planos, mas já não quero mais.

 

- Quais planos? – ela tirou o sapato e o jogou no banco detrás. Olhei rapidamente para ela, o vestido branco e rendado a deixava incrivelmente sexy.  

 

- Você é linda... – percebi que ela sorriu. – Queria fazer especialização nos Estados Unidos...

 

- Estraguei seus planos? – sua voz mudou, me obrigando a olhá-la.

 

- Você os tornou mais bonitos... – a face dela ganhou um sorriso. Aquele gesto acelerou meu coração. – Quero participar de cada momento da sua vida, amor... E quero você nos meus...

 

- Amor, eu... – sorri. – Está disposta a deixar de lado um sonho seu? Por mim?

 

- Eu só quero te ter comigo... – chegamos em frente ao apartamento dela. – Disso não abro mão...

 

Entramos no estacionamento, desliguei o carro e tirei o cinto, encarei os olhos azuis que naquele momento estavam úmidos. Selei nossos lábios em um beijo calmo, me afastei e acariciei o seu rosto.

 

- Eu iria com você pra onde me levasse... – sorri com sua declaração.

 

- Eu digo o mesmo... – beijei o seu rosto. – Vamos, você deve tá muito cansada... - saímos do carro. Parei de costa para ela.

 

- O que foi?

 

- Sobe? – ela riu.

 

- Tá falando sério? – a olhei por cima dos ombros.

 

- Sobe, amor... – ela gargalhou, subiu o vestido e subiu em minha costa.

 

- Amor, vamos cair... – ainda ria.

 

- Vamos nada...

 

Fomos entre risadas e beijos no pescoço até o elevador, Amanda me apertava e ria por ainda está em minha costa. Entramos no apartamento assim, até que a joguei no sofá e deitei sobre ela, escondendo o meu rosto em seus cabelos que cheiravam a camomila. Gargalhávamos, passei a fazer cocegas em sua barriga e em meio a brincadeira, caímos, Amanda sobre mim.

 

- Amor, se machucou? – ela levantou o rosto para me encarar. Eu ainda ria.

- Relaxa... Amor... – beijei sua testa. – Seu tapete é macio... – girei a deixando embaixo de meu corpo, ela soltou um gritinho.

 

- Eu te amo... – sorri, beijei de leve os seus lábios.

 

- Eu te amo... – mordisquei o lábio inferior. – Sua boca é muito gostosa...

 

Passei a beijá-la com mais voracidade, Amanda correspondia da mesma forma e ficamos um tempo naquele beijo e só nos afastamos, quando o ar foi necessário. Beijei todo o seu rosto e ela apenas sorria.

 

- Espera aqui... – levantei.

 

- Amor...

 

Corri para o quarto dela, peguei dois travesseiros, um cobertor e o meu violão.

 

- Podemos dormir aqui? – perguntei quando voltei para a sala.

 

- Sim, amor... – coloquei o violão sobre o sofá, joguei os travesseiros no tapete macio. – Vai cantar pra mim?

 

- Vou... – peguei o violão novamente. Tirei o vestido, ficando somente de lingerie. Amanda me olhou desejosa e fez o mesmo, revelando uma lingerie preta. Arfei.

 

Primeiros acordes.

 

Ainda bem
Que você vive comigo
Porque senão
Como seria esta vida?
Sei lá, sei lá
Nos dias frios em que nós estamos juntos
Nos abraçamos sob o nosso conforto
De amar, de amar

 

Se há dores tudo fica mais fácil
Seu rosto silencia e faz parar
As flores que me mandam são fato
Do nosso cuidado e entrega
Meus beijos sem os seus não dariam
Os dias chegariam sem paixão
Meu corpo sem o seu uma parte
Seria o acaso e não sorte

 

Ainda bem
Que você vive comigo
Porque senão
Como seria esta vida?
Sei lá, sei lá
Se há dores tudo fica mais fácil
Seu rosto silencia e faz parar
As flores que me mandam são fato
Do nosso cuidado e entrega
Meus beijos sem os seus não dariam
Os dias chegariam sem paixão
Meu corpo sem o seu uma parte
Seria o acaso e não sorte

 

Neste mundo de tantos anos
Entre tantos outros
Que sorte a nossa, hein?
Entre tantas paixões
Esse encontro
Nós dois
Esse amor

 

Entre tantos outros
Entre tantos anos
Que sorte a nossa, hein?

 

Entre tantas paixões
Esse encontro
Nós dois
Esse amor

 

 

 

- Não tem ideia do quanto eu te amo... – ela disse com lágrimas escorrendo no rosto.

 

Ela se jogou em cima de mim, passamos horas nos beijando e não, não fizemos amor, ficamos trocando carinhos, declarações e promessas que eu sei que cumpriríamos. Horas depois o sono nos venceu e dormimos ali, naquela sala, nos braços uma da outra.

 

Fim do capítulo