Elise, ajoelhada em minha frente, eu estava só de toalha e a calcinha que ela acabara de colocar, sua mão ainda passeava na minha coxa, então ela inclinou seu rosto para cima, me olhava com desejo de quem estava num deserto sem água nenhuma, seus olhos brilhantes e claros como âmbar olhavam meus olhos daquela forma que eu sempre desejara. De repente seus olhos deslizaram para baixo, para meus lábios, mordi levemente provocando-a, ela voltou os olhos pros meus como se dissesse: não faz isso! O que me fez rir suavemente, ela por outro lado estava completamente séria e tensa, parecia estar se controlando, me aproveitei disso, ela ainda estava com as mãos em minhas coxas, coloquei as minhas mãos em cima das delas, ela estremeceu, entrelacei nossos dedos, ela acompanhava o movimento de uma forma apreensiva, mas interessada, levantei nossas mãos até meu rosto e beijei suas mãos demoradamente e de olhos fechados. Soltei suavemente nossas mãos em meu colo, e fazia pequenas massagens com meu polegar no torço de sua mão.

-Obrigada – Sussurrei para ela, ela ficou em silêncio, como se quisesse sair dali correndo, era perceptível a sua ansiedade, ela se levantou e se inclinou em minha direção de forma inesperada, me fazendo cair deitada na cama, ficou por cima de mim, seu rosto estava a poucos centímetros do meu, respirava rapidamente, ofegante de desejo reprimido. Meu coração parecia que ia sair do meu peito, senti uma vertigem percorrer meu corpo como se fosse eletricidade pura. Ela ficou sem ação,  sua coragem havia se desvanecido, ergui meu braço até seu rosto e comecei acariciar docemente, ela fechou os olhos, como se estivesse sonhando, deslizei minha mão pra sua nuca e entrelacei meus dedos no seu cabelo curto, ela reabriu os olhos, aquele olhar... Que me arrastava pra longe e pra perto, me fazia sentir-me tudo, a mais desejada, e como se não houvesse esperança sem ela, aquele olhar... eu seria o que ela quisesse.

-Eu sou Sua. – Sussurrei, seu olhar se iluminou com novo ânimo, puxei seu rosto para baixo em direção ao meu, e ela cedeu vagarosamente até que seus lábios tocassem os meus... pela primeira vez. Seus lábios eram tão suaves, assim como a sua pele macia fresquinha, suas mãos procuraram meu rosto, estavam tão frias, Elise estava nervosa, o sangue lhe fugia, mas nos entregamos àquele beijo incondicionalmente.

Senti algo vibrar debaixo do travesseiro, mas não queria parar o beijo, aquilo era a coisa que havia mais desejado os últimos anos. Achei que devia ser o celular de Elise, ela começou a parar o beijo, então tirei o trambolho de debaixo do travesseiro. Droga. Era o meu.

-É a Carol. – Elise me olhou sem paciência e saiu de cima de mim indo até a janela abrindo-a. fiquei extremamente chateada, mas então lembrei que eu mesma tinha pedido à Carol que me ligasse, se eu não atendesse ela ficaria preocupada. Deslizei o botão verde. – oi amiga – falei em português.

-Oi amiga, cê tá aonde? – perguntou ela preocupada.

-Ai amiga, é uma longa história, eu estou bem. Eu... Estou com ELA.

-ahh sim – falou ela rindo – interrompi alguma coisa? – fiquei sem graça, e demorei a responder.

-Sim – falei, meio sem jeito.

-Meu Deus, Vic, me desculpa, tô desligando, beijinhos, aproveita.

-Obrigada – desliguei o celular, e pensei como minha amiga era uma figura,  joguei o celular num canto.

Elise estava inclinada no peitoril, mesmo ali do térreo dava pra ver e ouvir o barulho do mar, e a brisa que entrava deixava um ar frio e com gosto salgado.

Elise estava com aparência fechada, imaginei se estivesse com raiva de mim por causa daquilo que eu acabara de fazer.

-Elise? – Chamei suavemente, ela apenas virou seu corpo em minha direção, permanecendo ainda apoiada no peitoril, e com uma cara muito séria. Aquilo era muito sexy. – Você está zangada? – Ela apenas balançou a cabeça, voltando os olhos pra praia e semicerrando os olhos como se desejasse ver algo além. Me levantei ainda com a toalha enrolada no corpo e me aproximei de seu corpo com a perna ainda doendo, tentei abraçá-la. Ela se afastou.

-Não posso fazer isso. – disse secamente, o que me magoou profundamente.  – Eu já fiz coisas erradas demais com você por um dia. – fiquei sem ter o que dizer, foi como se eu tivesse tomado um banho de água fria na cabeça. – Acho que é melhor eu pegar um táxi e ir embora de vez. – eu não conseguia raciocinar, fiquei em silêncio e fui com dificuldade até a cama e me sentei.

-Você está certa – eu disse com voz embargada – Não tenho direito de te fazer sofrer mais, você deve ter sua vida, uma pessoa que te ama, e olha o que eu fiz com você! – comecei sentir a visão embaçada, eu iria chorar de novo. Me senti uma idiota. – vai, pode ir, eu apenas quero sua felicidade, mesmo que isso custe a minha. – Aquilo doeu muito mesmo e não consegui segurar as lágrimas, Elise me olhou com cara de pena, e odiei aquilo, me sentia fraca e insegura.

-Não fala isso, você vai ser feliz – disse vindo em minha direção e se ajoelhando novamente. – você é linda, sei que deve ter muitos homens aos seus pés.

-Eu não quero nenhum homem! – falei em tom infantil, ela me olhou com aquela mesma expressão, o que me irritou, e ela riu da minha cara de criança emburrada, o que me deixou ainda mais impaciente.

-você é sempre tão fofinha com essa cara emburrada... – me falou ela tocando meu rosto e limpando as lágrimas. – eu não quero ver você chorar, mocinha. Você não precisa de mim, ok? Sou só aquela garota esquisita do Arkansas, lembra? – por um segundo todas as lembranças me vieram e me fizeram resgatar a memória de o quanto Elise era importante pra mim, o que realmente não facilitava nada. Foi então que me surgiu uma ideia absurda.

-Uma noite. – falei com os olhos cravados nos dela. – Me dê apenas uma noite pra eu te mostrar tudo o que eu sinto por você. – Ela fez uma careta e coçou a nuca de uma forma muito sensual, o que aumentou meu desejo. Fiquei esperando enquanto a expressão de indecisão.

Fim do capítulo