Lorena

Ciúmes

Entre farpas e galanteios trocados por Anna e Bia, chegamos à construtora vivas! Assim que entrei procurei Rana nas imediações!

- Margô, esta é a Anna uma amiga de passagem na cidade - apresentei-as - Cadê a Rana?

- Ela está atarefada no término de alguns projetos, mas já te procurou hoje! - respondeu Margô após servir um suco pra Bia e Anna e já saindo da minha sala - Quer falar com ela? Eu aviso.

- Sim, estou louca pra vê-la, digo, quero falar com ela - consertei rapidamente o que falara, pois percebi que a Anna me olhara pensativa - E tudo está no controle por aqui? - completei disfarçando.

Margô me inteirou de tudo e saiu.

- Quer conhecer as dependências gatinha? Posso te ciceronear com prazer - Bia piscando descaradamente pra ruiva.

- Me leva Lore? - respondeu ela fazendo voz doce pra mim - Amaria ver o local onde você trabalha.

- Claro levo sim - levantei meio contrariada porque com isso, não conseguiria ver minha Rana logo - Vamos! Vem também Bia?

- Não amiga, vou pra casa. Tenho que pegar um material que deixei lá e que precisarei usar no trabalho logo mais - voltou-se pra Anna - Foi um prazer conhecê-la, lamento não poder passar o dia contigo gatinha. Mas vou corrigir isto hoje à noite. Vamos levar a Anna pra cair na noite de Sampa, não vamos Lore?

-Claro! - sorri discretamente, diante do evidente rolar de olhos de minha amiga ao ficar ciente que teria a companhia da Bia mas tarde. - Passo pra te pegar.

- Não, só me diz aonde iremos que as encontro lá - falou com uma cara de quem tinha planos formados pra a ocasião. Foi pra Anna e sem lhe dar tempo de reação, abraçou-a colando no seu corpo e inclinou-se beijando no cantinho dos lábios da outra - Hum... se no cantinho é gostoso assim! Imagina em cheio, hein Anna? Tchau Lore! Nos vemos à noite Anna, ruivinha linda da Bia!

Ao ficarmos sós, me esforcei pra não rir.

- Abusadinha sua amiga! Mas, deixa pra lá... Vamos ao que interessa! Mostra tudo pra mim - enlaçou seu braço no meu sem me dar chance de escape.

- Claro! - falei sem graça e pensando que precisava ajudar Bia a conquistar a ruiva ou acabaria com problemas com minha síria! Como iria conseguir conquista-la se ela pensasse que eu estava de namoro com a ruiva? - Vamos Aninha!

Mostrei tudo a ruiva que não desgrudou de mim nem um instante, quando entramos em minha sala, Rana estava de costas e debruçada sobre minha mesa olhando algo no projeto que estivemos trabalhando naquele mês. Aquela posição me enlouqueceu... Sua bunda ficava arrebitadinha. Inclinei um pouco a cabeça para olhar, apreciar de todos os ângulos; esqueci a Anna que ainda estava pendurada em meu braço.

- Lore? O que foi? Parou assim abruptamente... - Anna falou e procurou ver o que me fizera ter aquela Reação. Ao dar de encontro com a figura de Rana, que distraída ainda não notara nossa entrada, apertou os olhinhos sagazes e perguntou fria - Quem é ela? Permite assim que funcionárias entrem em sua sala em sua ausência?

- Essa não é uma funcionária qualquer - falei emocionada e cheia de desejo - Vem, vou te apresentar!!! Rana, trabalhando ainda moça, quase na hora do almoço? - falei fazendo Rana notar nossa presença lá.

Ela voltou-se e tinha um sorriso nos lábios que esmaeceu muito rápido me deixando na ânsia por mais.

Senti seus olhos fixarem-se no meu braço entrelaçado nos da Anna, tentei me afastar mas Anna apertou-se mais a mim e com um sorriso de intimidade nos lábios, olhava da Rana pra mim, aguardando a apresentação, sem me largar. Não pude ser indelicada, caminhei com ela e parando frente a minha síria que levava uma expressão fechada e arredia.

- Rana, esta é Anna uma amiga querida! Anna esta é Rana, uma pessoa muito especial pra mim! - falei olhando Rana nos olhos, não queria equívocos quanto a minha relação com a mulher ao meu lado.

- Prazer - ambas falaram de má vontade, o antagonismo entre as duas era mais que evidente.

- Então, queria lhe convidar pra ir almoçar conosco, mas sei que sempre almoça com as meninas... - falei triste pra Rana.

- Realmente, faço questão de almoçar com elas...

- Então não se preocupe querida, nós entendemos! - A interrompeu Anna, alegre.

- Mas, hoje minhas meninas foram passar o dia com as filhas do meu primo, inclusive dormirão lá. - sorriu cínica e pirracenta - Então, aceito com prazer almoçar em tão alegre companhias, vou pegar minha bolsa, estou mesmo morrendo de fome! Me espera, "Lore?" - falou meu apelido sarcasticamente, pois era assim que Anna me chamava.

Engoli em seco com o olhar frio da Rana sobre mim.

- Que bom Rana!! Claro que espero. Digo, esperamos né, Anna? - falei sorrindo bobo do jeito carinhoso que minha síria me olhava - Corre!

- Certo, já volto.

Escolhi um restaurante que amava: o Temakeria Paulista, lugar aconchegante, limpo e dinâmico. Onde poderíamos escolher mesa ou balcão. Tinham um serviço muito moderno; você mesmo faz seu pedido através de um tablet com sistema coligado a cozinha e o atendimento era rápido e eficiente. Queria mostrar pra Rana as novidades, o sabor da culinária japonesa que eu tanto amava. A consultei a respeito, antes de decidir, pois comida japonesa era bem adversa da sua culinária, mas ela respondeu me olhando, que estava, ultimamente testando novos horizontes. Aquilo fez subir um arrepio em minha coluna... Aiai. A Anna concordou, pois apreciava comida japonesa também. Escolhemos uma mesa e eu fiquei no meio das duas.

- Nossa Lore! Que lugar bonito - falou Anna tocando minha mão por sobre a mesa - Gostei da tua escolha, não conhecia.

- Eu vim aqui uma vez com a Bia, ela que me trouxe. - sorri e discretamente retirei minha mão debaixo da dela.

Percebi que Rana, disfarçadamente, nos observava enfezada. Será que estava... enciumada? Será???? Tomei, animada com a idéia, mais um gole de Shochu, que é uma bebida destilada típica do Japão. As meninas tomavam coquetéis a base de Umeshu ou vinho de ameixa é um dos mais populares licores japoneses. Seu teor alcoólico gira em torno de 10 a 15%. O sabor e o aroma do Umeshu são apreciados até por aqueles que não costumam beber bebidas alcoólicas; que era o caso de Rana.

- Você está gostando do ambiente, Rana? - falei aproveitando a oportunidade para tocar sua coxa por cima da saia que usava .

- Estou apreciando muito Lorena! - sorriu meiga - é muito aconchegante o restaurante, e também muito Limpo. Estou impressionada, porque apesar do preparo dos peixes serem no salão o cheiro de peixe não invade as mesas... Gostei muito, obrigada por ter me convidado. Sei que talvez quisessem ficar sozinhas neste primeiro momento que encontraram-se. - sondou discretamente e eu percebi.

- Não se preocupe querida, Lore e eu teremos bastante tempo à noite pra curtirmos a companhia uma da outra! - Anna disse isso, enquanto levava a mão aos meus cabelos alinhando-os atrás da minha orelha num gesto muito íntimo de carinho. - Então não está impedindo nada, apenas adiando.

Posso jurar que vi os olhos da Rana faiscarem, a vi entornar meu copo de Shochu, enganada e quase engasgar-se, tentei ajudar mais a mesma afastou-me rispidamente, pedindo licença e indo recuperar-se no toalete. Fiquei em cólicas pra ir atrás, mas Anna conseguiu me deter, pedindo opiniões do que deveria escolher pra comer. Rana voltou 15min depois e tinha os olhos meio vermelhos.

- Tudo bem? - inclinei-me perguntando pertinho do seu ouvido. Vibrei quando vi os pelinhos do braço dela se eriçarem ao som da minha voz, à minha proximidade.

- Quero mais um coquetel, essa bebida sua é muito forte - falou ignorando minha preocupação.

- Certo - concordei escabreada e falei carinhosa - Quer que te ajude a escolher a comida, já que não conhece?

- Hunrum - respondeu e franziu a testa desagradada ao ver a mão da Anna começar a alisar minha perna, enquanto distraída, olhava o cardápio.

Ai meu Deus... ela tá morta de ciúmesssssssssssss de mim. - Pensei feliz.

Vibrando por dentro, saltei um sorrisinho que engoli rapidamente ao ver o semblante carregado da Rana contemplando da mão da Anna em mim ao sorriso que eu exibia. Entendi que como ela não podia ler meus pensamentos, devia achar que o sorriso que eu lerdamente exibia era de agrado pela caricia da outra na minha coxa. Ao perceber isso, arregalei os olhos preocupada e rapidamente levantei dando a desculpa que iria ao toalete e sai pela direita escapulindo dali pra desanuviar o ambiente.

Quando voltei percebi um silêncio tenso à mesa.

- Rana, queria sugerir pra você Temaki.

- E o que é isso Lorena - perguntou - E se eu não gostar?

- Vou te explicar, minha linda. TEMAKI nada mais é que um tipo de sushi em forma de cone, enrolado à mão com o NORI (alga). TE - significa "mão" e MAKI - "enrolado". Tem mais ou menos 10 cm de comprimento e é servido para comer com as mãos, já que é muito difícil pegá-lo com o hachi (palitinho). Os recheios mais comuns são de salmão, california (kani, manga, pepino, cream-cheese), atum, peixe branco, ovas, vegetais e acompanha uma pastinha de maionese com cebolinha. São servidos ainda com wasabi (raiz forte) e molho shoyu. Um temaki deve ser comido logo após sua preparação, já que a alga absorve rapidamente a umidade do recheio, deixando-a maleável e difícil de morder. E então, quer encarar? - perguntei sorrindo boba pra mulher que queria pra mim.

- Quero, pede pra mim Lore! - sorriu lindo.

Entre mortos e feridos salvaram todos e o restante do almoço ocorreu numa relativa paz. Quando entramos no carro, disse que levaria as duas pra dar uma volta em São Paulo e que não voltaríamos mais para construtora. Rana relutou um pouco mais a convenci. As levei ao MASP, ambas ficaram encantadas.

Em um momento do passeio, tive quase certeza que a Rana, mesmo sem perceber, sentia ciúmes mesmo de mim. Paramos para olhar obras de Portinari, nesta hora Anna a pretexto de conversar sobre determinada pintura colou junto de mim me enlaçando a cintura. Ranna que olhava outra peça ao ver aquilo aproximou-se e segurando minha mão me puxou, afastando-me da outra.

- Lorena vem ver que peça linda do Candido Portinari, aqui também! - entrelaçando os dedos nos meus, e me tirando da Anna, que ficou aborrecida e nos seguiu.

-Lorena estou cansada, querida! - reclamou Anna ao ver que eu e Rana estávamos nos divertindo muito e num mundo só nosso - Me leva ao hotel? Quero estar descansada para nossa noite! - falou provocante.

- Noite?!!!! Como assim? - exclamou Rana emburrada - Quer dizer, desculpem-me, não é da minha conta.

- Afff, Rana! Que bobagem... Não é segredo nenhum! Vamos sair mais tarde pra tomar uns drinques, talvez dançar numa boate Gls... Quer vir conosco? - convidei cheia de expectativa em sua resposta, principalmente porque deixei claro que iriamos num ambiente GLS.

-Por favor, Lorena! A Rana não tem cara que curte, como nós, uma boa balada! Ela é careta! - riu Anna - Ainda mais pra onde nós vamos!

- Realmente Anna, não estou acostumada a baladas nem tampouco ao ambiente GLS, mas... confio na Lore e gosto da companhia dela, então... Eu topo sim Lorena, qual é o horário que a srta. Irá me buscar? - respondeu surpreendendo a Anna.

- As 23h em ponto passo pra te buscar, pode ir bem básica - falei explodindo de felicidade.

Deixei-a em casa e fui levar Anna ao Hotel. A ruiva faceira, perguntou se eu não queria subir e tomar um drinque, neguei alegando querer ficar descansada pra noite. Beijei sua face e entrei no carro dando partida.

Meu coração ia cantando o caminho inteiro: Meu amor vai sair comigo hoje à noite!

Meu último pensamento ao entrar em casa foi: A noite promete!

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Fim do capítulo