- Paloma, pode me explicar o por que da tortura com a sua namorada?

 

Flávia me trancou no quarto depois que cheguei da escola, ela esperava pacientemente por minha resposta. Olhei para ela pensando nas palavras que usaria para melhor explicar o que estava acontecendo.

 

- Eu... – mordi meu lábio. – Flávia, eu quero... Mas, eu quero ela. Entende? – acho que não saiu como eu esperava.

 

- Eu sei como é, Paloma... – ela sentou ao meu lado na cama. – Mas, tenta pegar leve... Espera mais um pouco... Pois do jeito que tá, vai matar a pobre... Que fotos eram aquelas? – não contive a gargalhada.

 

- Eu também não estou me reconhecendo... – olhei para ela. – Ao menos não estava nua...

 

- Era só o que faltava... – ela revirou os olhos.

 

- Por quê não tenta com a loira? – ela arqueou as sobrancelhas. – Sei que ela tá usando calcinha de aço... – gargalhamos.

 

- Não... – ela limpou o canto dos olhos depois de tanto rir. – Assim tá bom... Vou esperar as coisas acontecerem... Promete que vai tentar controlar esse espirito pornográfico que baixou em você?

 

- Prometo... – revirei os olhos.

 

- Ok... – ela levantou. – Quando precisar conversar... Me chama... – me beijou a testa.

 

- Obrigada...

 

Os dias passaram rápido, no sábado fomos conhecer o galpão e o lugar era enorme e foi aprovadíssimo pela Jaque. Ela falaria com o advogado e comprariam o espaço, devo confessar que estava muito animada para dar aulas aos pequenos que em pouco mais que um mês ou dois, estariam ali. Já era noite, minha namorada havia ido para casa há poucas horas e eu já estava com saudade.

 

Eu nunca falei à ninguém, mas desde os meus quinze anos, era completamente apaixonada por ela, porém ela sempre me tratava apenas como a irmã mais nova. Ter beijado ela naquela noite de janeiro foi a melhor coisa que já fiz na vida.

 

Quando disse à minha irmã que eu não estou reconhecendo a mim mesma, era a mais pura verdade. Não sei explicar, tudo nela fica cada vez mais atrativo, sensual, provocativo e por mais que eu tente controlar, quando dou por mim, já enviei alguma foto louca para ela. A sensação de perigo faz com que tudo fique mais louco, eu sou louca por ela e só por ela.

 

- Vou cantar pra você...

 

Sai do quarto e fui buscar o violão da minha irmã no dela, entrei sem fazer barulho, ela dormia tranquilamente e parecia sorrir. Beijei de leve a testa pálida, sai do quarto de mansinho e voltei ao meu.

 

- Vamos ver... – peguei o celular e o coloquei no pau de selfie, deixei de uma forma que pudesse filmar apenas do meu queixo para baixo. – Isso...

 

Lembrei de uma música um pouco antiga, mas que ouvia constantemente quando sonhava com o dia que iria me declarar para ela. Ri, as lembranças das noites mal dormidas por causa da Cássia.

 

- Oi... – mordi meu lábio. – Sei que deve tá dormindo, mas eu não consigo parar de pensar em você e queria que soubesse disso... – sorri. – Eu te amo...

 

 

 

Você é assim
Um sonho pra mim
E quando eu não te vejo
Eu penso em você
Desde o amanhecer
Até quando eu me deito...

Eu gosto de você
E gosto de ficar com você
Meu riso é tão feliz contigo
O meu melhor amigo
É o meu amor...

E a gente canta
E a gente dança
E a gente não se cansa
De ser criança
A gente brinca
Na nossa velha infância...

Seus olhos meu clarão
Me guiam dentro da escuridão
Seus pés me abrem o caminho
Eu sigo e nunca me sinto só...

Você é assim
Um sonho pra mim
Quero te encher de beijos
Eu penso em você
Desde o amanhecer
Até quando eu me deito...

Eu gosto de você
E gosto de ficar com você
Meu riso é tão feliz contigo
O meu melhor amigo
É o meu amor...

E a gente canta
E a gente dança
E a gente não se cansa
De ser criança
A gente brinca
Na nossa velha infância...

Seus olhos meu clarão
Me guiam dentro da escuridão
Seus pés me abrem o caminho
Eu sigo e nunca me sinto só...

Você é assim
Um sonho pra mim
Você é assim...
Você é assim
Um sonho pra mim
Você é assim...
Você é assim
Um sonho pra mim
Você é assim...

-"Você é assim
Um sonho pra mim
E quando eu não te vejo
Penso em você
Desde o amanhecer
Até quando me deito
Eu gosto de você
Eu gosto de ficar com você
Meu riso é tão feliz contigo
O meu melhor amigo
É o meu amor"

 

 

 

Coloquei o violão ao lado, depois que enviei o vídeo que provavelmente ela veria somente amanhã. Depois de tocar e tentar aprender mais algumas canções, tomei um banho rápido, troquei de roupa e deitei. Fiquei pensando que dali a trinta e um dias, finalmente faria dezoito anos e talvez uma festa não seria de todo mal, acho que dessa vez eu não corria o risco de ter um palhaço para animar...

 

- Cássia... – ri, meus olhos pesados. – Flávia...

 

Simplesmente adormeci.

 

12 de setembro de 2015, domingo nublado, depois de fazer a minha higiene matinal, resolvi descer para tomar café e ao me aproximar da cozinha, ouvi risos. Sorri, a mesa estava cheia e a minha menina linda estava lá. Meu coração que reconhecia aquela voz, deu fortes batidas e o meu sorriso foi impossível de esconder.

 

- Bom dia, família... – sai distribuindo beijo. – Bom dia, amor... – beijei o nariz dela e sentei ao seu lado.

 

- Bom dia... – a resposta veio em coro.

 

- Isso de me enviar vídeo na madrugada... – começou falando baixinho em meu ouvido. – É pra me deixar ainda mais apaixonada... – ela se afastou sorrindo.

 

- Funcionou? – falei sorrindo, ela acenou que sim. – Então acho que farei mais vezes... – entrelacei meus dedos aos dela.

 

- Meninas... – minha mãe chamou. – O pai de vocês e eu, vamos visitar a vó de vocês...

 

- A vó Helena? – Nick perguntou.

 

- Sim... E o avô de vocês... – torcemos o beiço, minha mãe tentou não ri. – Eles voltarão pro Rio hoje...

 

- A vó quase não veio aqui... – reclamei.

 

- Vocês conhecem a situação... – meu pai falou.

 

- Voltamos a noite... – minha mãe avisou. – O que vão fazer?

 

- Vamos chamar as meninas pra piscina... – Flávia falou.

 

- Mas, com esse tempo? – Cássia perguntou.

 

- Daqui a pouco melhora... – Nick disse com firmeza.

 

- Ótimo... – eles levantaram. – Juízo, minhas filhas... – beijou o topo de nossas cabeças. Jaque corou com o gesto.

 

- Nada de som as alturas, filhas... – meu pai repetiu o ato da minha mãe.

 

Eles saíram, continuamos a tomar café.

 

- Quem vai cozinhar? – Nick perguntou.

 

- Eu posso fazer... – Flávia se animou. – Alguém me ajuda?

 

- Eu... – Jaque levantou a mão.

 

- A gente também, não é? – olhei para a minha namorada que sorriu concordando.

 

- Vou buscar a Isa... – Nick levantou. – É pra trazer alguma coisa?

 

- Algumas frutas... – Flávia levantou com o celular na mão. – Vou chamar a minha namorada e as outras meninas...

 

- Ótimo... Já voltou... – Nicole saiu.

 

- Flávia... Vou ligar pra Emi... – Jaque avisou e minha irmã fez um ‘ok’ com a mão.

 

Depois que chamamos todos, passamos a arrumar a bagunça do café da manhã e decidir o que fazer para comer.

 

- Posso te pedir uma coisa? – falei para a Jaque.

 

- Claro... – ela sorriu. Estávamos lado a lado na pia, cortando alguns itens da salada.

 

- Sei que agora... Tem grana e pode fazer o que quiser... – ela franziu o cenho. – Mas, não vai embora... – ela sorriu. – Todas já nos acostumamos com você...

 

- Eu também... – olhou para o tomate em sua mão. – Mas, não quero abusar da hospitalidade dos teus pais...

 

- Meus pais gostam de você, Jaque... – ela me olhou. – Não sou fofoqueira, mas ouvi eles conversando sobre você...

 

- Sério? – balancei a cabeça em positivo. – O que eles disseram?

 

- Que gostariam que você ficasse e que iriam conversar contigo... – vi seus olhos lacrimejarem. – Ei? Não é pra chorar e quando eles te chamarem pra essa conversa, acho bom dizer que sim... – ela gargalhou.

 

- Tudo bem...

 

Continuamos o que estávamos fazendo, depois de quase uma hora as meninas foram chegando. O almoço estava quase pronto, Becca se juntou a nós para concluir, afinal ela sabia cozinhar divinamente. Olhei para a piscina e sorri ao ver o carinho entre Isa e a minha irmã, Flávia se pós ao meu lado.

 

- Elas são bonitas juntas... – comentou.

 

- E pensar que poderia ser você ali... – ela riu. – A loira agiu rápido. Tá feliz, não é?

 

- Muito... – me olhou. – Eu amo tanto, mas tanto ela...

 

- Isso ficou muito claro... – segurei sua mão. – Mas, na próxima vez que inventar de se jogar na frente de um revolver, lembra que tem muita gente que te ama... – fiz bico.

 

- Ai, mas que menina dramática... – ela apertou as minhas bochechas. – Minha pirralha foguenta... – gargalhamos, ela me abraçou.

 

Levamos o almoço para a varanda, arrumamos tudo, as meninas logo tomaram os seus lugares e as conversas, as risadas, os olhares apaixonados. A mão da minha namorada repousava sobre a minha, eu curtia o carinho gostoso que ela fazia.

 

- Animado para as aulas, lindão? – perguntei ao Nandinho.

 

- Sim, tia Paloma... – ele abriu um sorriso lindo.

 

- Amanhã a tarde, vamos te buscar... – falei também sorrindo.

 

- Quero cantar uma música pra mamãe... – rimos.

 

Depois do almoço alguns foram para piscina, eu decidi ficar deitada com a minha namorada em uma rede na varanda. Ela estava deitada sobre meu peito, acariciava os seus cabelos lisos e macios.

 

- Já imaginou a gente casadas? – sorri.

 

- Algumas vezes... – beijei o topo de sua cabeça.

 

- É o que imaginou? – levantou o olhar para me encarar.

 

- A gente morando em uma casinha, dois amarelinhos correndo pela casa... – ela beijou meus lábios e sorriu. – Dormindo todas as noites abraçadas... Brigadas ou não, mas sempre abraçadas...

 

- Cachorro? – ela mordeu o lábio.

 

- Com certeza... – beijei a sua testa. – Amor?

 

- Hum... – ela fez um som com o nariz.

 

- Desculpe por tá dificultando as coisas... – ela riu.

 

- Quando você ficou assim? – ela me encarou.

 

- Eu te desejo... Muito...

- Eu também te desejo muito, mas temos que esperar... Me ajuda? – faria qualquer coisa por ela.

 

- Ajudo... – apertei os meus lábios nos dela. – Eu te amo... Sabia?

 

- Sabia, não... – beijou os meus lábios sem pressa. – Eu te amo...

 

E ficamos namorando na rede, enquanto as meninas se divertiam na piscina, Nandinho corria atrás do cachorro magricela da Nick, tia Juliane estava pintando a cara da Sam, que pegou no sono. Essa era a minha: feliz e nada normal.

 

Deixei a Cássia dormindo, me certifiquei que a minha tia não estava por perto e subi para trocar de roupa e me jogar na piscina. Já se aproximava das quatro da tarde e o clima não suaviza e o calor estava insuportável.

 

- Vamos nos vingar daquele massacre de Salinas... – ouvi a Amanda dizer para a Nicole.

 

- Vamos...

 

- O que estão aprontando? – perguntei.

 

- Elas querem revanche na briga de galo...

 

- Ah, sim... Quem vai contigo? – Perguntei.

 

- A Isa... – a olhos bonitos sorriu.

 

- Temos até torcida... – apontou para as outras meninas que estavam do outro lado da piscina.

 

- Essa eu quero ver... – sai de perto delas para acordar a minha namorada. – Amor... – ela resmungou. – Acorda, as meninas vão brincar de briga de galo...

 

- Hum... – ela coçou os olhos. Muito fofa – Tá...

 

Isa, Flávia, Nicole e Amanda entraram na água.

 

- Isso não tá errado? – Rafa gritou.

 

- Isso o que, Rafa? – Flávia perguntou.

 

- Essa troca de casal... – elas deram de ombros.

 

- Normal... – Isa respondeu.

 

- Alguém mais vai brincar? – tia Juliane perguntou.

 

Todos levantaram a mão.

 

- Vamos lá! – Flávia gritou. – Prontas para perder?

 

- É o que veremos! – Nick provocou.

 

5 minutos e 10 quedas depois.

 

- Não vale! – Nicole e Amanda saíram da piscina.

 

- Ganhamos honestamente... – Isa zombou.

 

- Vocês roubaram! – Amanda acusou.

 

- Roubamos nada, amor... – Flávia sorriu. – Quem serão os próximos?

 

Ninguém teve vez com a Isa e a Flávia, passamos a tarde toda rindo, Marcela e Nando, Jaque, Rafa, Eliza. Enquanto eu via a Nick e Becca bebendo água pela quinta vez seguida, ri dos momentos que passamos a compartilhar. Passamos por tantas coisas ruins na infância, mas tudo apenas serviu para moldar a família que temos hoje. Quando dizem que há males que vem para o bem, sem sombra de dúvida é o ditado mais verdadeiro que existe.

 

 

 

Fim do capítulo