Por Amor e Ódio
Evellyn
Eu sentia o líquido viscoso escorrer pela minha mão. O cheiro forte e inconfundível invadia minhas narinas e era como se eu inalasse desespero. O pânico já havia tomado conta de mim e eu não via e nem ouvia mais nada. Tudo passava em câmera lenta diante dos meus olhos. Toda a dor e o cansaço que eu sentia haviam sumido. Meu coração batia tão forte que eu podia ouvi-lo. Minha visão embaçada me impedia de enxergar claramente, mas eu sabia que o pior havia acontecido. Ela estava ali nos meus braços, onde eu queria que ela ficasse para sempre.
Aproximadamente 1 hora antes...
Eu estava algemada à Camila pelo pulso no banco de trás do carro enquanto Marco corria a toda velocidade. Já havíamos saído de New York e seguíamos por uma estrada deserta desconhecida por mim.
Eu demorei alguns minutos para entender que estava sendo seqüestrada pelo meu irmão e só tive certeza quando ele me entregou as algemas ainda com o carro em movimento e ordenou que eu me prendesse à Camila. Apesar de tudo eu estava surpresa. A frieza em seu olhar, o sorriso sarcástico e maquiavélico em seu rosto, os olhos vermelhos e perdidos. Tudo indicava que ele estava fora de si. Há muito tempo ele estava.
Depois de algum tempo tentando argumentar e após uma tentativa falha de contatar o William ou quem quer que fosse, eu resolvi não fazer nada sem antes pensar com calma. É claro que para isso ele teve que apontar um revólver para mim e para Camila algumas vezes antes.
Agora estávamos, eu e Camila, sentadas em um chão sujo de um galpão abandonado no meio do nada enquanto o Marco mexia em alguma coisa em seu celular há alguns metros dali.
A neve caía forte do lado de fora e eu a sentia tremendo ao meu lado. Não sei se de frio ou de medo.
- Vai ficar tudo bem. – eu sussurrei para ela levando a mão livre ao seu rosto para um carinho.
Juntei nossas testas e a puxei para um abraço, mas logo fomos interrompidas.
- Ah, que lindo! – Marco bateu palmas ao se aproximar – Por favor, não se incomodem com a minha presença, podem continuar.
O vi tirar a arma da cintura e puxar uma cadeira velha que havia ali para se sentar bem de frente para nós.
- Já chega, Marco! – o encarei – Você chegou no limite da sua loucura!
- Você não perde essa sua arrogância, não é irmãzinha?! – observei ele sorrir diabolicamente – Cala essa boca que você não está em posição de gritar comigo! – gritou de repente assustando a mim e Camila que se encolhia ao meu lado a cada reação mais hostil da parte dele.
- A essa hora o William e a polícia já estão atrás de mim, Marco. – eu disse mais calma – Por que você não para de loucura e diminui ao menos um crime da sua lista? Você ainda pode fugir, eu não vou atrás de você, não vou dar queixa. Se quiser eu posso até pedir para a polícia encerrar o caso. Só me deixa ir com...
- Eu pensei que você tinha mais juízo, minha irmã. Pensei que era mais esperta. Eu estou pouco me importando com qualquer coisa, olha pra mim! Olha a que ponto eu cheguei por sua causa!
Eu respirei fundo sem o encarar. O medo e o cansaço não me deixavam raciocinar para encontrar uma maneira de fazê-lo desistir de toda essa loucura.
Meus olhos fechados não me permitiram vê-lo se aproximar e infelizmente eu só percebi a sua presença quando ele segurou firme em meu queixo e me sacudiu com força.
- Eu disse pra olhar pra mim! – o seu grito ecoou pelos meus ouvidos e respingos de sua saliva bateram contra o meu rosto me fazendo estremecer – Olha pra mim, Evellyn! Use a educação burguesa que você recebeu e seja educada, olhe para mim quando eu estiver falando com você! Nós não estamos na empresa onde você acha que manda e controla todo mundo.
Mantive o meu olhar fixo no dele, sem desviar ou me deixar abater. Por mais que eu estivesse em pânico por dentro, eu me manteria firme, por mim e por Camila.
O vi se afastando e se sentando na cadeira à nossa frente novamente. Calmo e elegante, como se estivesse em um jantar da alta sociedade nova-iorquina. Ele realmente estava louco. Respirou fundo, ajeitou seu terno e sorriu tranquilamente ainda com sua arma em punho.
- Eu pensei que o William fosse mais eficiente. – disse esticando o braço para olhar o relógio em seu pulso – Estamos aqui há um bom tempo e ele ainda não chegou. – sorriu me encarando – Ah, eu não te disse? Que cabeça a minha, ele também está convidado para a festa. Na verdade vocês todos são os anfitriões dessa festa. E por último eu farei uma particular, especialmente para a Susan.
- Você só pode estar louco, Marco. A sua intenção é sair matando todo mundo assim? Qualquer um que entrar no seu caminho você vai simplesmente eliminar? Não acha que já vai pegar anos demais na cadeia só pelos três assassinatos que já estão na sua conta não?!
- Três? – ele me encarou confuso – Ah, é claro... Eu já havia até me esquecido da Megan. – ele sorriu irônico – Sabe, eu tive muitos aprendizados com todos esses acontecimentos. Aprendi que não se pode trabalhar com mulheres, elas são sempre muito sentimentais. – suas pernas estavam cruzadas, uma das mãos em seu bolso e a outra batia o revólver em sua coxa em um ritmo qualquer – O defeito da Meg foi amar demais, se ela não tivesse me perturbado tanto para matar a Camila, talvez estivesse viva hoje. Coitada, no fim das contas ela morreu em vão. Ah, se ela soubesse que eu enfim resolvi atender o seu pedido...
Ele encarou Camila ainda com o mesmo sorriso no rosto e nesse momento eu senti meu coração congelar. Não consegui dizer nada, nem respirar eu conseguia. Só de pensar nessa possibilidade eu sentia o mundo rodar.
- Ah, Megan... Se eu tivesse te ouvido antes teria evitado muitos transtornos. Mas não importa, hoje estamos aqui para dar um fim em todos os meus problemas. Todos!
Uma pausa para me encarar e descruzar as pernas e então continuou com seu terror psicológico.
- E foi essa a outra lição que eu aprendi quando mandei matar a Megan. Se você tem um problema, elimine-o da sua vida. É simples e fácil. Um tempo depois outra lição. Não se pode trabalhar com homens também, eles são traiçoeiros e esperam apenas um deslize seu para tentar tomar o seu lugar. E se você bobear até a sua esposa eles tomam. – o riso dele invadiu todo o galpão sob um forte eco – Junto com essa lição eu aprendi que você nunca, jamais deve envolver a sua esposa com o seu trabalho. Esposas estão sempre prontas para te dar um golpe. Se você não age como elas querem ou não faz o que elas pedem, esteja certo que a conta chegará para você. Seja na fatura do cartão de crédito ou num par de chifres na sua testa. E no meu caso a conta chegou das duas maneiras. Que coisa essa vida, não? Foi então que eu resolvi colocar em prática o meu aprendizado da segunda lição. Eliminei os meus problemas. E foi aí que eu percebi que fazer isso com as próprias mãos é muito mais gratificante. É como lavar a alma, sabe? Você tira um peso enorme das costas. Mas o problema é que o meu peso não diminuiu com a morte daqueles dois. Eu sentia que ainda faltava algo e então percebi que eu só conseguiria ficar em paz quando eu eliminasse a causa de todos os meus problemas. Você, Evellyn. Minha querida irmã!
- Agora a causa de todos os seus problemas sou eu? – perguntei incrédula depois de ouvir tantos absurdos.
- Agora não, Evellyn, você sempre foi a causa de todos os meus problemas! – sua voz soou alterada – Sempre você, a filhinha querida do papai, a mais amada, a filha perfeita do senhor Campbell. Eu passei a vida inteira vendo ele te colocar num pedestal enquanto eu sempre ficava em segundo plano. Eu me dediquei para tentar ser como ele, eu fiz de tudo para que ele me notasse, tentei seguir todos os passos dele, mas foi inútil! Ele sempre preferiu te dar toda a atenção, Evellyn. Você que nunca esteve nem aí pra nada, você que nunca se interessou pela empresa, que estava pouco se importando em saber como funcionava a mina de ouro de onde saíam as suas viagens e curtição pelo mundo.
- Eu não posso acreditar que você chegou a esse ponto por ciúmes! Por inveja porque meu pai me escolheu e não você. Supera isso, Marco! Se ele não te escolheu certamente ele tinha bons motivos para isso. É claro que tinha, ele sabia do seu desvio de caráter, ele nunca deixaria a empresa sob o comando de um mau caráter feito você!
Agora ele gargalhava. O riso saía alto de sua garganta, mas não havia humor. Pelo contrário, havia desespero, dor, raiva.
- É claro que ele tinha motivos, Evellyn. Ele tinha tantos motivos... – o seu riso foi diminuindo rapidamente até que o ódio ficou visível em sua expressão – Ah, minha irmã, o senhor Campbell tinha motivos que você não faz nem ideia. Motivos nada justos na minha opinião, mas ele preferiu assim. Ele decidiu me punir por um erro que não foi meu.
- Do que é que você está falando?
- Você nunca se perguntou o porquê? Você nunca se questionou? A nossa mãe sofreu tanto com isso. Ela passou por tantas coisas ruins por causa de tudo isso, tantas coisas ruins que morreu de tristeza. Morreu de infelicidade por viver uma vida inteira de aparência e mentiras.
- Eu não estou entendendo aonde você quer chegar. – a confusão em minha mente e as perguntas que se formavam me fizeram perder o medo de enfrentá-lo.
- Eu vou te contar, minha irmã. Eu vou te deixar saber, não se preocupe que antes de morrer você saberá de tudo.
- Tudo o que, Marco?
- Eu soube pouco antes dela morrer. Eu passei a vida inteira acreditando e vivendo uma mentira. Mas antes de partir ela me deixou saber. Eu me lembro que fiquei desnorteado, eu só tinha 16 anos. Era muito mais do que um garoto da minha idade poderia aguentar. Mas o pior de tudo isso é que a culpa não era minha, nunca foi! Eu não tive culpa de nada e mesmo assim paguei pelos erros de todo mundo. A vida... ela não é mesmo justa. – ele dizia com toda a emoção perturbada que havia dentro de si. Eu o observava vidrada como um espectador na platéia de um show de mágica – Eu sempre fui apegado à ela, muito mais do que ao Michael. E você a ele. Era como se eu fosse importante só para ela e você só para ele. Eu percebia tudo isso, é claro que eu percebia e mesmo sem entender eu não questionava. Minha mãe sofreu calada por tanto tempo, mas dias antes de morrer me deixou saber a verdade. Hoje eu penso que talvez tivesse sido diferente se eu nunca tivesse sabido. Ou não...
- Fala de uma vez, Marco! O que é que a nossa mãe te contou?
- Que eu sou um bastardo! – ele se levantou de repente e começou a gritar –Que eu não tenho o nobre sangue dos Campbell, Evellyn! Eu não sou filho do grande e maldito burguês Michael Augustus Campbell!
Eu o encarava em choque, tentando assimilar o que acabara de ouvir.
- O que... O que você está me dizendo?
- É isso, exatamente isso, minha querida irmã. Eu não sou filho do grande homem, eu sou um bastardo que só tem o nome dele, mas que fui sempre rejeitado, de forma velada é claro, porque ninguém precisava saber que o magnata Sr. Campbell tinha aceitado um filho ilegítimo em sua família.
- Marco, você... Você não pode estar falando sério. Você está fora de si.
- Por que, minha irmã? Por que você acha que ele não me quis na Presidência da empresa? Você acha mesmo que ele preferiu você por te achar mais qualificada para o cargo? É claro que não, você não tinha a menor ideia de como todo o império dos Campbell funcionava até ele te ensinar tudo e te preparar para assumir o cargo. Eu! Eu que sempre estive ao lado dele, mesmo depois de saber que eu não era o seu filho de sangue eu sempre estive tentando o agradar, tentando fazer com que ele sentisse orgulho de mim, mas era inútil! Nada do que eu fizesse seria significativo o suficiente quanto ter o sangue real da família Campbell. Eu não poderia competir com você, foi um jogo injusto. – ele levou as mãos ao rosto gargalhando da própria desgraça – Ah, como a vida é um grande jogo injusto. Eu sempre achei que poderia compensar de alguma forma o fato de eu não ser filho dele, mas eu vi que não. Ele sempre preferiu você, Evellyn. Assim como a mamãe sempre preferiu a mim.
- Você já está delirando, não está em condições de afirmar nada. – eu não queria entender aquela situação, eu só queria que tudo aquilo fosse só um pesadelo em que eu logo acordaria.
- Eu nunca estive mais lúcido! E essa é a única verdade, o Michael sempre preferiu você porque você tem o sangue dele, e a mamãe sempre preferiu a mim porque eu sou o fruto de um relacionamento com o único homem que ela amou na vida. Ela nunca amou o seu pai, Evellyn. A nossa mãe se casou grávida de outro homem. Se casou obrigada pela família, você sabe como as coisas funcionavam naquela época, casamentos eram quase como acordos comerciais e de títulos de nobreza. O seu pai foi um homem honrado e generoso, isso eu não posso negar. Ele poderia ter anulado o casamento quando soube, mas aceitou dar o seu nome a um filho que não era dele. Continuou com um casamento de aparências em nome da honra da família. Mas hoje, vendo o que a atitude dele causou na minha vida e na vida da minha mãe, seria preferível que ele tivesse me deixado viver como indigente, sem nome. Se ele não tivesse feito essas escolhas a minha mãe não teria vivido uma vida triste e amarga, eu não teria vivido à sombra de um nome que nunca foi de fato meu e o principal e melhor de tudo, você nunca teria nascido, Evellyn.
Eu estava zonza com tudo aquilo. Eu vivi toda a minha vida alienada, alheia a tudo sobre a minha família.
- Eu não sou a causa dos seus problemas, Marco. Você e a sua própria loucura são. Esse sentimento de inferioridade que você sempre teve, você se apegou nisso e criou uma realidade que não existe. O nosso pai sempre teve mais afinidade comigo sim, mas isso não quer dizer que ele te menosprezava. Se ele te deu um nome e te aceitou na família foi porque ele era justo e sabia que você não tinha culpa de nada. Ele sempre te aceitou ao lado dele, Marco. Ele te considerava sim como um filho. Se você não foi para a Presidência é porque o nosso pai sabia o que era melhor para a empresa.
- Ele não é o meu pai! – ele se aproximou berrando contra mim – Ele nunca foi o meu pai, só o seu pai! – se afastou enxugando o suor que, apesar do frio que fazia lá fora, se formava em sua testa – Ele não tinha motivos, não fez o que fez por estratégia ou coisa do tipo, ele fez unicamente porque um filho bastardo não pode estar à frente do grande patrimônio que leva o nome da família. Ele fez isso porque tinha você, uma puro sangue que mesmo sem a menor experiência era mais honrada para assumir o cargo do que eu que tinha todas as qualificações para ser Presidente.
- Isso não... – eu sussurrei sentindo como se o sangue tivesse parado de correr pelas minhas veias.
- Calma, Evellyn. – Camila sussurrou me segurando pelo braço – Não enfrente ele, ele está fora de si.
- Dói, não é? – ele continuou – Dói ouvir a verdade, saber que você não foi escolhida por mérito e nem porque ele te amava tanto a ponto de te dar o maior cargo da empresa. Foi por puro orgulho dele mesmo.
- Mesmo que isso seja verdade você não pode me culpar por isso, Marco. Foi uma decisão do meu pai, eu não... Eu não queria, no início eu não queria assumir. Você sabe muito bem disso. Você não pode me culpar por todos os seus problemas.
- Você não queria, mas fez muito bem, não é mesmo? Você assumiu o poder e gostou do cargo. Gostou de se sentir superior a todos, de mandar em todos, inclusive em mim. Você sempre agiu como se fosse melhor do que eu, como se a empresa não fosse minha também, mas era minha sim! Era tudo tão meu quanto seu, mas você se achava melhor. Mas agora isso acabou. Acabou, minha irmã. Eu vou dar um fim em você e em todos que te ajudaram a me derrubar, inclusive você, Camila. Você poderia ter se livrado disso tudo, se tivesse seguido o meu conselho quando eu te avisei pra se afastar da Evellyn não estaria aqui hoje.
- Se você tocar nela eu te mato, Marco! – eu já não tinha mais paciência. Já não podia mais raciocinar depois de tudo aquilo. Eu não suportaria que ele causasse mais mal às pessoas que estavam ao meu lado, muito menos à Camila.
- O seu ego é tão grande que você não é capaz de entender o que é que está acontecendo aqui, Evellyn. Você ainda acha que está em condições de me fazer ameaças? Quem está no comando agora sou eu e sou eu quem diz quem morre aqui!
- Marco! – enfim eu ouvi aquela voz conhecida que me aliviou e me encheu de esperança – Larga essa arma!
William chegou com o revólver apontado para o meu irmão e para a minha surpresa estava acompanhado do Detetive Collins.
- Ah, finalmente! Agora a festa está completa. – Marco se virou sorrindo para os dois – Eu só não imaginei que você fosse trazer mais um convidado, mas não tem problema. Tem lugar para todo mundo.
- Marco, eu sou o Detetive Collins do Departamento de Polícia de New York, abaixe a arma e vamos conversar. Daqui você não tem saída, eu já avisei as viaturas e em poucos minutos você vai estar cercado. É melhor você facilitar as coisas e se entregar.
- Detetive Collins, é um prazer. – ele acenou com a cabeça sem demonstrar nenhum receio – Não precisa vir com todo esse discurso, primeiro porque eu não estou a fim de ouvir e segundo porque eu não estou preocupado com o meu destino depois daqui.
- Você pode ter certeza que o seu destino depois daqui não será dos melhores. – William disse firme.
- William... O fiel escudeiro. – Marco o fitou – Você foi perfeito, exatamente como eu previ. Seguiu o rastreador do carro como manda o protocolo, chegou sem fazer alarde... Muito bem. A essa hora eu acredito que você já deu uns belos socos no seu pupilo, o Rogers. Por favor, não o culpe. Ele não tem a experiência que você tem, William.
- Você só pode estar mesmo louco pra achar que sozinho vai acabar com todos nós aqui. Larga essa arma e eu prometo que cuido de você bem rápido.
- Ah, é mesmo? Será que todo mundo aqui tem um ego tão grande e confiante assim ou sou eu que não me fiz entender ainda? Quem vai largar a arma é você!
Marco veio até mim e colocou o revólver em minha cabeça. Senti o choque do objeto metálico gelado contra minha pele e fechei os olhos por instinto. Camila que se mantinha firme ao meu lado não conseguiu mais conter o choro. Senti sua mão apertando o meu braço cada vez mais forte. O pior de tudo era saber que ela estava passando por tudo isso por minha causa. Eu que só queria fazê-la feliz acabei a colocando em toda essa situação.
- Larga essa arma agora, William! – Marco ordenou – E você também, Detetive. Retire a sua arma de onde quer que ela esteja e coloque-a no chão. E sem gracinhas.
Observei os dois abaixarem cautelosamente e deixarem suas armas no chão.
- Marco, por favor. – eu supliquei assim que ele se afastou – Você não precisa fazer isso. Se o problema todo é a empresa, eu te dou a minha parte, não me importo. Eu deixo tudo pra você, o cargo da presidência, todas as minhas ações, tudo. Só me deixa ir em paz com a Camila, por favor?
- Você não entendeu ainda, não é? O meu problema não é a empresa, Evellyn. O meu problema é você! É você e esse maldito nome, essa maldita família dos Campbell! Esse nome vai morrer com você, Evellyn! O seu sangue da nobre família Campbell vai jorrar levando a última da linhagem.
Eu poderia omitir a informação sobre a existência de um outro filho legítimo do meu pai para proteger a Susan e o Matt, mas a essa altura eu duvido que o Marco saia livre daqui. O Detetive Collins e o William já estão a postos, logo a polícia também vai chegar. Eu preciso pensar rápido, eu preciso saber jogar para desestabilizá-lo e será em sua fraqueza que ele vai cometer um erro. E eu só preciso de um erro dele para salvar a mim e Camila. Mas um erro meu pode nos condenar.
- Eu não sou a última, Marco. – eu disse firme e analisei cada movimento e expressão dele ao me encarar – Eu não sou a última dos Campbell.
- O que é que você está me dizendo? Está louca? – seus olhos arregalados denunciavam seu desequilíbrio e aquilo me dava medo, mas eu precisava arriscar.
- O meu pai teve um outro filho. – eu disse calma – Com a Susan. Ele deixou mais um herdeiro legítimo antes de morrer.
- Você não... Não está falando sério. – ele sorria desnorteado – Você não pode estar falando sério! – ele gritou e apontou a arma em minha direção o que fez meu coração parar por alguns segundos.
- Eu estou, Marco. O sangue dos Campbell vai continuar vivo com o herdeiro e filho legítimo de Michael Augustus Campbell. Mesmo se você me matar agora haverá mais um filho com o verdadeiro sangue dos Campbell para assumir a Presidência da empresa.
Ele me olhava atordoado, mal piscava. O suor escorria por sua testa e eu sentia que meu corpo também suava. Eu não ousei tirar os olhos dele um segundo sequer na tentativa de prever o que ele poderia fazer a qualquer momento.
- Levanta! – ele veio até mim rapidamente me puxando pelo braço livre.
- Marco, não faça nada do que possa se arrepender depois. – Collins se pronunciou, mas o meu irmão não deu ouvidos.
- Levanta e fala na minha cara que isso é mentira! – Camila se levantou comigo, apertando o meu braço em nervosismo – Fala que isso é mentira! Fala! – gritou contra o meu rosto.
- Eu não posso dizer porque é verdade, Marco. – tentei manter a calma, mas por dentro meu corpo estremecia.
- Marco, a polícia já está a caminho, é melhor você se render. – o Detetive fez mais uma tentativa – Você não vai sair daqui livre, de uma maneira ou de outra você vai pagar pelo que fez e está fazendo. Se você se render será melhor para todo mundo.
- Melhor para todo mundo? – ele se afastou e encarou o detetive – Melhor para todo mundo menos pra mim, não é mesmo senhor Detetive?! A vida é sempre melhor para todo mundo, menos pra mim!
William o analisava, creio que tentando encontrar uma maneira de acabar com aquela situação sem maiores danos. Eu não queria que tivesse chegado a esse ponto, não queria que terminasse assim, mas eu não poderia arriscar a minha vida e a vida de Camila. Fixei meu olhar no meu segurança esperando que ele me olhasse. Eu daria aquela ordem e poderia me arrepender pelo resto da minha vida, mas já havia me decidido.
Tudo aconteceu em uma fração de segundos. William me olhou e um leve aceno com a cabeça foi o suficiente para ele me entender. O vi sacar outra arma de dentro de seu terno com cautela, enquanto Marco gritava coisas sem nexo com o Detetive Collins que tentava sem sucesso negociar com ele.
- E tudo isso acontece na minha vida por culpa sua, Evellyn! – ele berrou e se virou para mim – Tudo por causa da sua existência, da sua maldita existência!
Ele se aproximava lentamente com a arma apontada para mim, tão lentamente que era quase torturante. Meu coração acelerado, o suor pelo meu corpo e minha adrenalina nas alturas. Olhei para William e o vi apontar sua arma para Marco, mas no mesmo instante foi impedido pelo Detetive Collins que segurou o seu braço. E foi nesse momento que eu pensei que ali seria o fim.
- Eu vou usar uma última vez a melhor lição que aprendi na vida. – Marco parou a alguns metros de mim me olhando com a mesma expressão insana que esteve em seu rosto durante todo esse tempo – Vou eliminar o meu maior e pior problema.
A última coisa que pude ver foi um leve movimento de sua mão com a arma e em seguida, em milésimos de segundos que se passaram lentamente, senti o corpo de Camila colidir com o meu me abraçando firmemente.
- Camila! – gritei num susto.
Um. Dois. Dois tiros foi o que ouvi antes de não ver mais nada ao meu redor. Eu senti o peso do seu corpo escorregar sobre o meu e não consegui me manter de pé. Eu mal tinha forças para segurá-la enquanto caíamos lentamente em direção ao chão.
Ela estava ali nos meus braços, onde eu queria que ela ficasse para sempre. Eu a tinha em meus braços, mas não do jeito que eu sempre quis que ela estivesse. Eu a tinha colocado naquela situação. A minha vida cercada de amor e ódio me trouxe até aqui e a trouxe junto. Pelo ódio do Marco eu estava ali e pelo amor da Camila eu sobrevivi.
Ela respirava fundo e com dificuldade, me olhando daquele jeito lindo que ela sempre me olha. Um sorriso bobo ainda brincava em seus lábios como se ela tentasse me dizer que estava tudo bem.
- Não, não... – minha voz soou mais trêmula que as minhas mãos estavam enquanto a seguravam – Era pra ser eu! – eu mal conseguia enxergar tão embaçados pelas lágrimas meus olhos estavam – Por que você fez isso, amor?
Ela se esforçava para manter os olhos abertos. Seu sorriso aumentou levemente ao soltar um longo e dificultoso suspiro.
- Porque eu te amo. – disse me olhando como se fosse óbvio – E eu não conseguiria mesmo viver num mundo onde você não existe.
...
Fim do capítulo
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cidinhamanu
Em: 22/10/2016
Sweet.
Bom dia!
Eu tive algumas surpresas, o fato do Marco não ser filho do Michael não era uma coisa de se esperar... Também a reação da Camila , confesso que não esperava, esse ato mostrou o quanto ela ama Evellyn. *_*
Confesso, nunca fiquei tensa, em seguida um choque de adrenalina, depois medo e por fim nervosismo em um único capítulo.
Enfim , tudo isso tornou o capítulo perfeito, parabéns ...
Sua história é perfeitamente criativa e abrange todo o tipo de conteúdo e assunto sem deixar o leitor confuso e a sua extrema organização em escrever, meus parabéns.
Resposta do autor:
Muito obrigada!
Obrigada pelos comentários e pela opinião tão positiva ♥
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