"Ainda podemos ver o brilho das estrelas...."

       Antes do desmaio....

     Callie seguia Claudio pelo corredor do 8º andar. Os poucos funcionários que passavam por eles, os olhava curiosamente e em seguida os cumprimentavam. Seu supervisor aparentava tranquilidade, mas era mera fachada. Esperava que a Presidente entendesse a situação e fosse justa com os eles.  Quando chegaram ao fim do corredor, havia uma senhora severamente alinhada e impecável. Apesar da aparência, seu sorriso era amigável. Pediu que sentassem por alguns minutos. Ela pegou o telefone e anunciou....

- Sra Mendes, o Sr Claudio chegou.

Mendes? Callie sentiu um calafrio pela espinha relembrando a ultima vez que estivera perto de uma pessoa com este sobrenome. Involuntariamente, alisou a barriga.... Estava com 7 meses de gestação. Procurou controlar a respiração. Mendes era um sobrenome comum, pensou tentando se convencer.

- Venham, podem entrar.

       Claudio cordialmente lhe cedeu a vez. Callie então adentrou na sala seguida pelo supervisor. Antes que pudesse falar qualquer coisa, seu olhar recaiu sobre uma figura feminina concentrada por trás de um grande birô de madeira. Só consegui pensar "Mari" antes de perder os sentidos.

      Foi um corre-corre. Claudio conseguiu segurar Callie antes que ela caísse de vez no chão. Marina ergueu-se imediatamente, mas estava tão surpresa que não esboçou nenhuma reação para ajudar.

     Ela estava surpresa sim, admitiu pra si mesma, mas não pelo fato de encontrar a ruiva que assombrava seus sonhos, isso cedo ou tarde aconteceria, mas pelo fato de só agora perceber que Carlota ser sua funcionária e ainda descobrir que ela estava grávida confirmando que casara com Roger. Mesmo atônica, seu lado racional a fez perceber que não havia aliança alguma na mão esquerda ou anel de compromisso na mão direita... Então... O que acontecera desde sua partida???

    Laura, observava Marina, achando estranho o fato dela não ter agido. A conhecia há anos e jamais a vira parada como se tivesse visto um fantasma. Constatando que ela realmente não iria agir, resolveu interferir.  A secretária precipitou-se ate o corredor e chamou dois outros funcionários que passavam ali perto pra ajudar. Callie foi colocada numa poltrona confortável dentro da sala. Marina apenas observava toda a cena, sem interferir ou falar, assistindo os cuidados que Laura dava a Carlota. Após alguns minutos ela começou a respirar mais forte, a cor voltando lentamente ao rosto, os olhos abrindo-se num mar azul....

- Callie, você está bem? - Claudio falava gentilmente com ela. Os olhos dela imediatamente procuraram pela morena. as duas se fitaram, mas foi a ruiva desviou o olhar primeiro, voltando a olhar para o supervisor chefe. Sentia que Marina continuava imóvel num canto olhando para ela fixamente, deixando-a nervosa, coisa que raramente acontecia. Tentando controlar o tremor pelo corpo, respirou fundo e respondeu lentamente, até a voz ficar mais firme.

- Eu... estou....Bem... Agora. Eu... não... comi... nada hoje, pretendia... fazer na hora... que cheguei.

- Isso foi uma imprudência considerando que você está grávida Carlota - O tom seco da voz de Marina fez a cor voltar de vez as bochechas de Callie. Ela podia ser a presidente da empresa, mas não pudia falar com ela assim!

- Claudio havia dito que a reunião era com a "presidenta" e que isso era muito importante - O supervisor arregalou os olhos mediante o tom irônico e a agressividade velada na fala de Callie. Pateticamente ficou olhando de uma pra outra, mas curiosamente Marina apenas ergueu uma das sobrancelhas, num gesto de divertimento. Sem comentar nada, a morena contornou a mesa e sentou-se falando em seguida:

- Como a Sra Carlota passou mal, falarei primeiramente com ela. Claudio espere la fora por gentileza. Laura, providencie algo pra ela comer enquanto conversamos. Obrigada a todos, retornem aos seus respectivos serviços.

Quando a porta fechou, Callie ja estava mais controlada e determinada. Não ia se deixar fraquejar diante dela.

- Vai me demitir por culpa de um funcionário que desobedeceu minha orientação direta? - A pergunta feita em tom firme, fez Marina sentir vontade de rir. Expirou profundamente, sentindo a preocupação se dissipar. Essa era a Callie que ela conhecera, aquela nunca desistia ou recuava.

- Tivemos um prejuízo enorme la na Europa, Carlota. - A ruiva engoliu em seco. - Entretanto, soube que você resolveu o problema. Um brilho de diferente acendeu o olhar de Marina deixando Callie confusa. Parecia um olhar de...  Admiração?

- Se não sou eu, então esteja ciente que Claudio também não teve culpa.  Você pretende demiti-lo? Se alguem tiver que ser responsabilizado, então que seja eu!

        Callie se ergueu na hora que a secretária abria a porta com uma bandeja com suco, bolachas e frutas nas mãos. Laura notou o clima de tensão. Sem nada comentar, colocou o objeto sobre o centro entre as poltronas e saiu.

- Sente-se e coma Callie, não é bom ter outro desmaio, pode ser prejudicial pra você e... Para o bebe.

         Ao ser chamada pelo apelido de forma firme, mas suave, fez com que a ruiva estremecesse. Marina percebeu e imediatamente lembrou deu uma certa noite atrás. Os olhos negros adquiriram um brilho intenso quando fixou-se momentaneamente sobre lábios macios de Callie. A jovem entendeu que ela relembrava os beijos trocados na noite do baile. Com receio de si mesma, obedeceu ao "pedido".

      Marina, passou a mão direita entre os fios curtos, tentando deixar de lado os pensamentos inquietantes. Assumindo uma postura fria e distante, iniciou o processo de averiguação dos fatos, fazendo perguntas e mais perguntas sobre o problema ocorrido. Callie, sem hesitar, as respondia. depois de 30 minutos, questionando a funcionaria, ela se deu por satisfeita. Esperava que Claudio também se saisse bem, pois era um funcionário antigo e, pelo que lera dos registro, era competente e dedicado.

      Apesar de Marina ter liberado Carlota, esta insistia em ficar e saber o que aconteceria ao supervisor. Embora a atitude não agradasse a muitos empregadores pela rebeldia, essa postura era admirada por ela. Callie saíra da sala inconformada por ela te-la dispensado firmemente com um "Isto está fora das atribuições do seu cargo. Volte ao trabalho para o qual fora contratada "

     Claudio entrou aparentando nervosismo, talvez se sentindo inseguro quanto ao seu destino dentro da Empresa, mas suas respostas eram firmes e Marina acreditou nele. Já presumira que o estagiário que havia sumido havia realmente tomado decisões sem consultar nenhum dos dois.

Começava a desconfiava que fora de propósito. A questão que persistia era, fora sabotagem? Por quê? Quem seria o autor?

CONTINUA....

Fim do capítulo