Peço desculpas pela demora, moças. prometo ser mais assídua nas publicações. Bjo grande.
Capítulo 6 - Dúvidas e desejo
Havia retornado à fisioterapia. Apesar da agonia que sentia por estar em um relacionamento com Guilherme e ainda assim, desejar Raquel com todas as forças, não conseguiu a determinação necessária para resolver a situação.
Como se viam sempre na clínica, não havia acontecido mais nada. Com exceção dos olhares que faziam Helena sentir-se despida, Raquel mantinha uma postura profissional.
Quase um mês havia se passado. Helena fazia sua última sessão de fisioterapia e deveria retornar ao ortopedista pra que ele lhe orientasse sobre a possível necessidade de mais sessões. Estava apreensiva pelo futuro incerto de sua relação com Raquel.
-- Vou sentir sua falta. – Disse olhando diretamente nos olhos de Raquel que estava sentada à sua frente.
Raquel a olhou com carinho. Tocou em sua mão sob o pretexto de direcionar o exercício.
-- Quer ir lá em casa hoje a noite? Podemos assistir a um filme ou apenas jantar...
Não tinha certeza se era intenção de Helena continuar a se relacionar com ela, mas tentava manter a relação viva mesmo sem as sessões de fisioterapia. Além disso, desejava com todo o seu ser estar novamente sozinha com Helena.
-- Que ótima ideia! Eu levo um filme e um vinho.
-- Perfeito!
-- Preciso do seu endereço, pode me enviar por mensagem?
-- Isso é algo que farei com prazer...
Helena estava surpresa com a atitude de Raquel. Até então ela se demonstrava muito assustada para ter alguma iniciativa em prol do relacionamento delas. Sacudiu a cabeça sorrindo ao perceber que em sua mente já estava em um relacionamento com Raquel.
-- Do que está rindo? – Raquel olhava com um leve sorriso nos lábios.
-- Nada... Preciso ir Raquel. Nos vemos... por volta de 20:00?
-- Pode ser. Até lá...
***********
Helena foi para a agência decidida a conversar com Fernanda sobre o que estava acontecendo. Precisava falar e principalmente, precisava da opinião da melhor amiga.
Entrou, cumprimentou alguns funcionários e foi direto à sala da amiga e sócia. Logo que a viu Fernanda começou a falar sobre a aprovação de um projeto e Helena a interrompeu:
-- Preciso de ajuda.
-- Com a análise?
-- Não Fernanda. Não sei da análise. Estou falando de mim. Preciso de ajuda.
Fernanda mudou a expressão assumindo um ar preocupado.
-- Sente-se amiga, o que foi?
-- Estou confusa Fernanda. Não planejei nada do que vou lhe contar agora, aconteceu sem que eu pudesse evitar. Mas gostaria que você não me julgasse, não quero me sentir pior do que já me sinto.
-- Helena, seja o que for prometo tentar entendê-la, jamais iria colocar culpa sobre você.
-- Lembra que te falei sobre as minhas dúvidas em relação ao Guilherme né...
-- Sim...
-- Pois agora eu tenho certeza: não amo o Guilherme Fer.
-- Poxa amiga, sinto muito por descobrir isso...
-- É uma pena mesmo... Mas essa não é a questão principal.
-- Uhum, diga...
-- Eu meio que me envolvi com outra pessoa...
Fernanda fez o possível para não ter uma reação exagerada, mas não conseguiu deixar de mostrar surpresa:
-- Sério? Quem? Como foi isso?
Helena juntava forças para contar. Sentia-se envergonhada. Ficou algum tempo em silêncio. Fernanda aguardou paciente.
-- Eu beijei uma pessoa, duas vezes. E agora não consigo parar de pensar nela.
-- Quem é essa pessoa Helena? Eu conheço?
-- Você não a conhece.
Fernanda aguardava. Percebia o nervosismo de Helena, mas não entendia. Eram amigas muito íntimas, ela jamais iria criticar a amiga em um momento como esse.
-- Helena eu...
-- O nome dela é Raquel, é minha fisioterapeuta. – Helena falou de uma vez.
Esperou ver o choque na expressão de Fernanda. Entretanto, a amiga apenas sacudiu a lentamente cabeça em sinal afirmativo, esperando que Helena contasse mais detalhes.
-- Você não reagiu como eu esperava.
-- Helena, estou aqui para te ouvir. Minha reação vai ser sempre de apoio a você amiga. Não deve ser fácil essa situação.
-- Fer, ela era só uma pessoa do meu convívio e quando me dei conta, estava a beijando no meu sofá.
-- Você sabia que ela era lésbica antes desse beijo?
-- Ela não é... quer dizer, não era até então pelo menos.
-- Então isso tudo é novo pra ela...
-- Sim, para nós duas.
-- Bem, mais ou menos né Helena. Me lembro que na faculdade você andou beijando algumas meninas, já gostava da fruta amiga...
-- Era diferente Fernanda. Aquilo era bagunça de estudantes movidos a álcool. É diferente com Raquel, eu quero estar com ela, quero conhecê-la, ajudá-la se for preciso...
-- Helena você está apaixonada – Fernanda tinha uma mão nos lábios.
-- Eu não sei dizer Fer, mas com certeza não é apenas atração física.
-- Wow amiga... E vocês já... Você sabe, já rolou?
-- Não, não! Eu nem saberia fazer isso Fernanda!
-- O instinto é sempre sábio Helena – Fernanda ria.
-- Se é sábio eu não sei. Mas com certeza é bem impaciente...
-- Como foi esse beijo Helena?
-- Ah... – Helena sorria – Foi intenso, macio... Na primeira vez em que nos beijamos eu podia sentir meu coração batendo no peito. Parecia que uma força me puxava pra ela. Não lembrei que era hétero, nem que tinha namorado. Parecia que só nós duas vivíamos no mundo e que éramos dependentes uma da outra para continuar existindo.
-- Helena Medina. Nunca a vi falando assim. Isso é sério mesmo...
Helena apenas baixou a cabeça.
-- E o Gui amiga?
-- Me sinto muito culpada Fer. Mesmo que isso termine logo, não posso mais enganar o Guilherme. Não posso estar nesse relacionamento.
-- É complicado mesmo. Não pode viver assim infeliz né Helena.
Helena continuou conversando com Fernanda por um tempo. Quando voltou a sua sala sentia-se muito mais aliviada por dividir aquela delicada questão com alguém. Fernanda como sempre havia se mostrado uma ótima amiga.
Pensou sobre o encontro que teria com Raquel a noite. Não iria fazer nada ainda. Nem sabia em que iria dar tudo isso. Enterrou-se no trabalho para tentar esquecer aquela crise um pouco. A estratégia funcionou, quando se deu conta já era quase 18:00. Foi para casa preparar-se para Raquel.
****
-- Ela vem ou não Caio?
-- Meu Deus Raquel, já falei que ela vem. Aliás, já deve estar na recepção Disse que viria direto do escritório.
-- Tá... obrigada, mesmo.
-- E não vai mesmo me dizer que assunto é esse tão urgente com minha irmã?
-- Dessa vez não lindo, coisas de mulheres. – Saiu assoprando um beijo para o amigo.
Chegou à recepção e viu a loira que sendo irmã gêmea de Caio, era a cópia exata do melhor amigo.
-- Oi Pamela, como vai? – A beijou rapidamente no rosto.
-- Tudo bem e você?
-- Tudo tranquilo. Se importa se formos conversar lá na copa? Está vazia essa hora...
-- Claro, como preferir.
Encaminharam-se para a pequena sala no meio do corredor. Caio estava com um paciente e apenas acenou de longe.
-- Confesso que estou bastante curiosa Raquel.
Raquel encontrava-se com a arquiteta apenas quando Caio as convidava para o bar ou para algo em sua casa. Davam-se bem, mas não eram amigas próximas. Ela precisaria vencer a vergonha, pois Pamela era a única que poderia lhe ajudar naquele momento.
Serviu café para Pamela e para si mesma.
-- Pamela, eu sei que parece estranho eu lhe chamar aqui e acredite, isso vai ficar ainda mais constrangedor. Pra mim, não pra você.
-- Bem, sou toda ouvidos moça. – Raquel agradeceu o fato de Pamela ser uma pessoa divertida e gentil.
-- Eu preciso de conselhos...
Pamela riu.
-- Como assim Raquel? Por que precisa de conselhos justamente vindos de mim?
Não havia um jeito fácil de falar aquilo.
-- Eu... eu queria saber sobre coisas que você tem muita experiência e eu não tenho nenhuma.
-- Urbanismo? Desenho arquitetônico? – Sabia que não poderia ser aquilo, mas se divertia com expressão desesperada de Raquel.
-- Não... algo muito mais pessoal que isso.
Uma ideia passou pela mente de Pamela. Não, não poderia ser aquilo...
-- Do que exatamente está falando Raquel? Vai ter que ser clara, senão não poderei ajuda-la.
-- Bom, te chamei porque você é homossexual.
-- Sim, faz tempo. – Ria sem acreditar que realmente era aquele o assunto sobre o qual Raquel desejava conselhos.
-- Eu... bem...
-- Você não está me cantando né Raquel? – Fez uma cara de assustada propositalmente exagerada.
Raquel riu.
-- Não. Pelo menos não ainda. Na verdade, eu meio que me envolvi com uma mulher – Pamela não esboçou reação – e queria sua ajuda.
-- Fico surpresa, nunca imaginei que poderia ter um relacionamento homossexual. Mas o que precisa exatamente?
-- Bom, eu nunca fiquei com mulher antes né Pamela...
-- E?
-- Eu preciso saber como isso funciona.
-- Bom, não existe muito pra se dizer. Uma mulher se interessa por outra mulher. Elas ficam juntas. Fim.
-- Mas e o resto?
-- Resto de que mulher?
-- Meu Deus Pamela. – Perdeu a paciência – Tenho medo de não conseguir fazer a coisa direito quando e se chegar a hora.
-- Está falando de sex* Raquel?
-- Não, estou falando de rezar um terço ortodoxo. Claro Pamela!
-- Calma. Não precisa apelar... Raquel, do que tem medo? Para com essa preocupação boba. Todos nós, gays, héteros, bi ou o que seja, somos movidos por instinto e paixão.
-- Mas é tudo muito diferente.
-- Sim, é diferente. E se vocês estiverem no momento certo, vão descobrir essas diferenças juntas. Para de grilar com o que não precisa. Se realmente está a fim de ficar com ela, vai saber o que fazer na hora. Vai sentir.
-- Será?
-- Tenho certeza. – Piscou para Raquel que retribuiu com um abraço.
-- Vou deixá-la ir ao encontro de uma de suas várias namoradas então. Obrigada por ter vindo aqui. De verdade. Me ajudou muito.
-- Gostaria que fossem verdades esses boatos que o Caio espalha a meu respeito. Vou para casa assistir filme com a única pessoa que me suporta o suficiente para namorar comigo.
Despediram-se rindo e fazendo piadas sobre a nova “situação” de Raquel, que foi para casa imaginando como seria o tempo com Helena.
Fim do capítulo
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