Capítulo 8 - Certezas de uns, preocupações para outros
Isabela chegou a fazenda com o carro de Manuela, o que chamou atenção de alguns peões que começaram as fofocas. Antônio voltava a cavalo quando viu o carro se aproximar e fez sinal pensando ser a morena, mas, para sua surpresa, era a loirinha.
-- Vovô!
-- Isabela? O que “tu faz” com este carro? – Perguntou surpreso, sabia que a morena não emprestava sua camionete a qualquer um.
-- Ela me emprestou para eu vir pegar a comida que Dalva fez.
-- E por que não chamou um dos peões?
-- Ah vô, pergunta o senhor a ela. – Desconversou – Só estou fazendo um favor humanitário. – Mandou um beijo e saiu em direção a casa.
-- Ajuda humanitária? – Tirou o chapéu coçando a cabeça em seguida – Ai tem! – Disse, observando o carro se afastar.
Dalva ouviu o barulho do carro e saiu para ver se era Manuela.
-- Cuida, dona Joana, só foi falar que eu iria lá na casa dela e a guria aparece. É o medo que eu entre naquela casa. – Reclamou – Eu não sei qual segredo tem lá que não me quer por perto. – Saiu para receber a morena, mas, ao ver Isabela descer da camionete ficou surpresa.
-- Bah! Pensei que era Manuela.
-- Sou eu. – Respondeu sorrindo – Surpresa com minha presença, Dalva?
-- Não com tua presença, mas com teu transporte. – Olhou-a melhor – Tu conseguistes muita coisa dela, pelo teu olhar e esse sorrisinho.
-- Capaz! Estás imaginando coisas demais.
-- Eu conheço a Manuela desde guria pequena, sei todos os limites dela. – Isabela deu uma gargalhada e beijou a velha senhora.
-- Só vou tomar um banho rápido e pegar uma muda de roupa, e já volto para pegar a comida para ela.
-- Vai dormir lá?
-- Claro. – Afirmou sorrindo – Vai que ela piore. – Piscou e Dalva respondeu piscando também.
-- Sei. Estás vendo, dona Joana?
-- Sim. – Estava sorrindo – Acho que agora se entenderam.
-- Então vamos investigar.
-- Dalva... – permanecia sorrindo.
-- O máximo que pode acontecer é ouvir um não. – Ligou para Manuela. – Manu?
-- Esta é uma gravação. Manuela está desligada ou fora da área de serviço.
-- Emprestaste teu carro para guria? – Fez de conta que não ouviu a tentativa da morena de se livrar dela.
-- Se estás vendo ela dirigindo ele...
-- Não resmungue, pareces uma velha.
-- Tá, Dalva, pergunta logo o que queres.
-- Eu não quero saber de nada, não me confunda com aquelas alcoviteiras daquele chinaredo... – Fez uma pausa e continuou – Mas já que falastes: tu estás sendo bem cuidada?
-- Dalva!
-- O que eu falei? Só quero saber se precisa que eu vá para aí cuidar de ti. Saber o quanto me preocupo contigo.
-- Estou Dalva. – Respondeu cansada.
-- Estás enrolada com ela, então?
-- Não!
-- Mas acabaste de falar que estás.
-- Falei que estava bem cuidada, assim como tu perguntou.
-- Joguei a isca. – Sorriu - Perguntei usando de subtexto, li isso em um site na internet aqui pelo celular...
-- Tá Dalva, entendi. – Interrompeu antes que falasse mais.
-- Então estão mesmo de entrevero. – Afirmou.
-- Eu posso te esconder alguma coisa?
-- Não.
-- Estamos namorando – a velha alemã pulou enquanto fazia sinal de positivo para Joana, que sorria – mas não fala nada aí por enquanto, quero falar com o padrinho e a madrinha antes.
-- Claro. Tu que tens de falar com eles, fazer o que é certo. – Declarou, olhando para Joana que não parava de rir.
-- Não abre esse bocão, Dalva, por favor.
-- Estás pensando que sou lá daquele chinaredo?
-- Ah não! Começar tudo de novo, não. – Revirou os olhos cansada – Vou tomar um banho. Daqui a pouco Isabela chega.
-- Hum... Não vai deixar a loirinha esperando.
-- Até Dalva! – Desligou sem tempo para novos questionamentos. – Fofoqueira! – Disse para si mesma, mas, parece que a velha entendeu porque mandou uma carinha zangada pelo WhatsApp. Manuela sorriu e foi para o banho e quando a água tocou em sua pele machucada, xingou a si mesma pela dor que sentiu.
-- Então estão juntas? – Joana perguntou entusiasmada.
-- Sim! – As duas pularam em comemoração.
-- O que está acontecendo aqui? – Alexandra perguntou após pegar as duas nesta comemoração.
-- Nada. – Dalva se adiantou.
-- E tu não viste nada, guria. – Foi a vez de Joana – Entendeste, né?
-- Tá vó. Tem alguma coisa para comer? Estou faminta.
-- Onde passaste o dia?
-- Ah, fui acompanhar vovô, e depois tomar banho no rio. – Olhou ao redor – Bela não voltou?
-- Voltei e já estou saindo. – Interrompeu a conversa após entrar na cozinha com pressa. – Então Dalva, o que levo para aquela morena comer.
-- Aquela morena? Estão íntimas assim? – Joana provocou e Alexandra tossiu atrapalhando a conversa entre as duas.
-- Não sei dona Joana, mas estas gurias estão estranhas. – Provocou e segurou o sorriso ao perceber os olhos verdes de Isabela bem arregalados.
-- Estranhas? Eu que não estou estranha. Manuela sim, ela é cheia de mistérios. – As duas mulheres mais velhas se olharam e Joana mudou de assunto, passou a falar em comida. Quando Isabela pegou as cestas arrumadas por Dalva olhou para a irmã e chamou-a com um gesto de cabeça. As duas saíram discretamente, imaginando que não haviam chamado atenção.
-- Elas acham que não percebemos. – Joana confidenciou para Dalva, entre sorrisos.
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-- O que está acontecendo afinal? – Alexandra não estava entendendo nada.
-- Estou com Manuela. – Confidenciou animada.
-- Tá, isso eu já sabia.
-- Não mana, tu não entendeste direito. – Sorriu – Estou ficando com Manuela.
-- Ficando de beijar e outras coisas?
-- Combo completo. – Pulou sorrindo.
-- Por isso as duas estavam pulando?
-- Que duas?
-- Vovó e Dalva. Elas me alertaram para não comentar nada com ninguém.
-- Claro que não é por isso, não falamos nada para ninguém.
-- Estou começando a ficar com medo desta família.
-- E eu que não consigo mais ficar longe da minha deusa de olhos azuis cor de céu. – as duas se abraçaram.
-- Mas... Tu já... – fez gestos com as mãos como se quisesse mostrar algo que foi logo entendido pela loirinha.
-- Não. – Sorriu de forma sapeca – Ela vai penar um pouco antes.
-- Por quê?
-- Por que foi difícil para mim e tem o agravante que irei castigá-la para aprender.
-- Aprender?
-- Isso é algo nosso, um dia talvez te conte.
-- Mana, tu és terrível!
-- E eu não sei?! – Riram juntas.
-- O pai te procurou?
-- Sim. – Mudou a expressão para uma mais pesada – Não aguento mais essa insistência em meu casamento com Diogo.
-- Ele alega que tu foste irresponsável em terminar às vésperas do casamento.
-- Eu? Alexandra, não me lembro de ter definido data ou ao menos ter dito sim àquele pamonha.
-- Sempre te falei para impor limites, deixaste tudo a vontade de terceiros, agora não podes dar um freio.
-- Não posso? Estou terminando toda essa história e não colocando freios. Não quero mais isso para mim. Estou com Manuela e sei que seremos felizes. – Sorriu com a afirmação – Ela é a minha princesa encantada, diferente dos contos que nos acostumamos a ouvir.
-- Lá vem tua imaginação. – Sorriu. – O mister ameba deve ter feito muito ruim para tu mudar de lado.
-- Não é questão de bom ou ruim. – Respondeu pensativa – Quando nos encontramos com Manuela naquele dia, ela naquele cavalo, com aquele ar imponente, todo aquele porte, cabelo solto ao vento e olhos extremamente azuis, eu vi.
-- O que tu viste? Lembro bem do teu ataque de taradice, parecias uma doida.
-- Eu sou o que ela quiser, desde que esteja comigo. – Riu com malícia. – Tu não entendes mana: eu percebi que Manuela, independente do sex*, é a pessoa da minha vida, a minha outra metade.
-- Mitologia grega a esta hora da tarde com minhas lombrigas clamando por comida.
-- Quando chegar tua hora vais entender do que estou falando. Podes passar a vida inteira com uma pessoa, ou trocando de pessoas, mas quando chegar aquela que te deixa sem palavras, não vais conseguir escapar. Será magico na primeira troca de olhares.
-- Tá. – Afirmou sem muita convicção – Manuela sentiu o mesmo por ti, como estás falando?
-- Não sei. Sabe que é uma boa pergunta a ser feita? – Gargalhou. – Agora preciso ir, também estou faminta, mas de outro tipo de alimento.
-- Isabela! – Repreendeu a irmã com uma falsa repulsa. As duas se despediram e quando Isabela entrava no carro seu avô a chamou.
-- Sim meu lindo gatoso.
-- Gatoso? – Perguntou sem entender a neta.
-- Gato idoso. – Beijou o avô.
-- Já sei que ainda não conversou com teu pai.
-- Falei sim vovô, e confesso que não estou nem aí.
-- Pois deveria. Sabia que ele quer vir aqui com tua mãe, os seus sogros e Diogo?
-- O senhor está brincando, não é?
-- Não. Sua mãe conversou com Joana hoje pela manhã.
-- Vovô, ele não pode fazer isso, pelo menos agora.
-- O que tem agora? – Perguntou com desconfiança.
-- Agora que estou relaxando, divertindo e curtindo meus avós. – Desconversou.
-- Bem, caso ele queira falar comigo, cortarei de imediato. Sabe que não aprecio muito sua companhia.
-- Sei sim vô.
-- O problema que tua mãe evita comentar sobre isto comigo, e só fala com Joana.
-- Não sei quando terei sossego vô.
-- Por que não falas isso com ele?
-- Já falei. – Disse com pesar. – Ele está mais interessado em unir a família por causa da indústria de laticínios que Diego vai herdar, do que minha felicidade. – Antônio conhecia o genro e sabia que aquilo era verdade. Ele sempre colocou o dinheiro e poder em primeiro plano, e a família era apenas um cenário coadjuvante que servia de vitrine social.
-- Tudo se ajeita no final. – Abraçou a neta e beijou sua cabeça – Não é assim que diz a canção?
-- Acho que sim. – Apertou forte o avô – Não deixa ele vir, vô! Não quero mais voltar para BH e nem quero mais morar com eles.
-- Isso mesmo que quer? – Perguntou encarando a neta.
-- Sim. Quero ter direito de comandar minha vida daqui para frente e viver aqui, onde estou sendo livre pela primeira vez na minha vida.
-- Então comprarei esta briga contigo. – Voltaram a se abraçar.
-- Agora preciso ir, Manuela está me esperando.
-- Por que ela está te esperando? Não sabes cuidar de doentes. Até onde sei, tu recém terminaste arquitetura, e nem animal de estimação tiveste direito de ter.
-- Vô... – não sabia o que responder. – Eu...
-- És minha neta, eu te amo. – Afirmou olhando-a nos olhos. – Mas Manuela é a filha que a vida me presenteou. Ela é um tesouro não revelado, uma pedra bruta, e por trás daquele ar selvagem de onça, esconde-se uma gatinha perdida. Não a machuque com dúvidas ou medos. Só entre nisso se estiver com exata certeza do que quer.
-- O senhor... – o homem conhecia bem à alma das pessoas, e sua neta era transparente para ele. Apenas a silenciou com seu indicador.
-- Tu és sincera, tua alma é limpa e sonhadora, mas és dominada pelo teu pai e quando ele descobrir que te apaixonaste por uma mulher, ainda mais Manuela, não terás muito tempo para pensar. – Afastou-se um pouco e coçou sua testa após retirar o chapéu. – Ele fará de tudo para afastá-las.
-- Por que “ainda mais Manuela”? – Antônio sorriu com satisfação.
-- Não queria falar do teu pai, mas, já deves te preparar... – deu de ombros e voltou a sorrir – Teu pai por ser mais novo e se achar o dono do mundo porque é um conceituado advogado, veio aqui naquela época em que estive com o braço imobilizado no gesso.
-- Sim, mas isso faz anos, eu nem estava na universidade. – Declarou após se lembrar da época.
-- Sim, acho que uns oito anos. – Voltou a sorrir – Ele me ameaçou e Manuela o colocou para fora daqui de casa. – A expressão de Isabela foi de incrédula ao desespero. – Ela o ergueu pela camisa e o jogou pela varanda, ele tentou voltar, ela puxou a gravata depois de um soco e jogou a ponta pés para fora.
-- Vô...
-- Teu pai é orgulhoso demais. Seu orgulho de macho foi diminuído e agora tu entendes o que quero dizer.
-- Estou perdida! – Colocou as mãos sobre a cabeça.
-- Pense se realmente queres ficar com ela e se vale a pena brigar com teu pai e, consequentemente com tua mãe, já que minha filha é uma marionete nas mãos dele.
-- Vovô, eu nunca tive tanta certeza sobre algo na minha vida, e pela Manuela, estou disposta a brigar com o mundo. – Afirmou com convicção.
-- Esperava ouvir isto. – Sorriu – Não deixaremos ele agir aqui dentro. Conte com meu apoio. – Abraçou forte a neta – Mas não esqueça: não magoe a minha Manuela.
-- Tô começando a ficar com ciúmes. – Choramingou.
-- Serei sempre teu avô, mas se me descuido, posso perder aquela filha arredia. – Brincou, com tristeza e medo.
-- Estou com ciúmes dela vô, não do senhor. – O velho homem se afastou e olhou a neta. – Ah, vô! É muita gente em cima daquela deusa, digo, morena – corrigiu-se com pressa e envergonhada. Os dois sorriram e Isabela se despediu.
-- É, agora estou realmente assustado com a tempestade que se forma. – Antônio falou para si mesmo, vendo o carro sumir entre a poeira da estrada.
Fim do capítulo
Pois é, meninas, voltei e ainda não passou da meia noite - nem aqui, nem na história. kkkkk. O que será que Isabela irá aprontar com a morena?
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lia-andrade
Em: 18/08/2016
Manuela que se prepare para o castigo que virá por ai da Bela..😂😂😂 Que bom, todos apoiando esse relacionamento.. Elas tem que está preparadas para o pai de Bela quando souber..
Beijos, até o próximo. Tenha uma boa noite..
Resposta do autor:
A loirinha é danada memso, Lia. Coitada da Manu. Beijos, boa noite e obrigada por acompanhar sempre.
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Fab
Em: 18/08/2016
É mesmo,autora! Me esqueci que você está postando duas vezes por semana. Sorry!
Ainda bem que Isabela terá o apoio dos avós e "sogra", pois prevejo guerra com os pais.
As palavras são: cambicho e lagartear, rs,
Beijo
Resposta do autor:
Kkkkkkk. Essas palavrinhas são danadas mesmo, Fab. Lagartear é a mais comum. Beijos!
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Mille
Em: 18/08/2016
Vixe a Lourinha vai maltratar a morena e a si mesma, do jeito que ela é tarada não irá resistir.
Ainda bem que os avós e irmã é a favor das duas terem um envolvimento, restando só ela lutar contra o pai, e será uma luta difícil.
Bjus e até o próximo
Resposta do autor:
A morena tarada vai subir pelas paredes. Vamos ver se resiste ao Camafeu. Beijos, querida!
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Ada M Melo
Em: 18/08/2016
tô com a Isa a Manu precisa de um castigo, afinal ela tem dado muito trabalho pra baixinha....kkkkk
Valentina sua historia é viciante estou amando!!!! quero mais!!!
abraço!
Resposta do autor:
Muito obrigada, Ada! Aí está mais um capítulo, desta vez bem mais longo. Um beijo.
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