Pilar e eu não temos nenhum caso de gêmeos na família, por isso a surpresa foi grande, porém durante o processo de fertilização in vitro fomos avisadas desta possibilidade.

- Amor, sabia que eu estou me sentindo muito feliz e poderosa (Pilar revelou em um final de semana enquanto assistíamos televisão).

- Poderosa, por quê?

- Tem duas vidas aqui dentro de mim, isso é o máximo e é tão lindo ser capaz de gerar dois seres, me sinto especial. Estou realizando um sonho.

- Pilar, você é maravilhosa. Eu te amo tanto!

- Rúbia, eu também te amo muito.

- Eu estou muito feliz por nós (garanti).

Logo que a gravidez foi confirmada vivenciamos incontáveis bons momentos, repletos de alegrias e com a família reunida. Começamos a sair só para comprar roupinhas, eu fiquei encantada com o universo infantil e acabava precisando me controlar para não me tornar uma compradora impulsiva. Até brinquedos eu já queria adquirir. Mas também descobrimos, em uma das inúmeras consultas, que na gestação de gêmeos é fundamental fazer um bom acompanhamento de pré-natal e que neste caso os cuidados são redobrados. Soubemos também o tipo de gestação gem*lar e recebemos diversas orientações.

No quinto mês de gravidez, a nossa médica diagnosticou uma falta de controle na pressão arterial da Pilar e nos explicou a importância de nos atentarmos para esta questão, pois durante a gestação a hipertensão pode ocasionar um problema seríssimo para a saúde da mãe e também dos bebês, a pré-eclâmpsia, que é uma doença convulsiva, algo que pode ocorrer com mulheres primigestas, ou seja, a mulher que esta na sua primeira gravidez. Foi um susto saber desta notícia.

Além da elevação da pressão arterial, a Pilar começou a apresentar inchaços, e estava ganhando peso muito rápido. Com tudo isso, nossa equipe médica pediu retornos ainda mais frequentes, visando acompanhar tudo detalhadamente.

A Pilar é uma pessoa muito otimista e cuidadosa, não se deixou abater com os problemas que surgiram e ela também me tranquiliza. Confesso que tenho receios e me preocupo muito com a minha companheira, e agora também com meus filhos.

Por sugestão da minha mãe e também seguindo as recomendações médicas, a Pilar decidiu se afastar da empresa quando entrou no sexto mês de gravidez, ela já tinha deixado todos os seus afazeres em ordem e a sua equipe estava bem preparada para cuidar de toda a contabilidade durante toda a sua licença maternidade.

- Rúbia, eu queria continuar trabalhando até o final da gravidez, mas por segurança, acho melhor me afastar um pouco antes do previsto (revelou chateada quando deixávamos a empresa e seguíamos para a nossa casa numa sexta-feira).

- Amor, não fique chateada. Vai dar tudo certo.

- Após o nascimento dos bebês, como faremos? (perguntou preocupada).

- Anjo, não se cobre tanto, você é muito responsável e deixou tudo em ordem. Depois do nascimento dos nossos filhos você pode retornar para o trabalho aos poucos ou então prestar apenas assessoria, desta forma você consegue ter uma maior flexibilidade de horário.

Ela sorriu e balançou a cabeça em concordância.

No final de semana resolvemos passear com os meus pais, viajamos para Atibaia, um município a apenas 65 quilômetros de São Paulo, nos hospedemos em uma pousada e descansamos bastante. No final da tarde de sábado, enquanto Pilar dormia, meus pais me chamaram para conversar.

- Minha filha, agora que a Pilar se afastou da empresa, o que você pretende fazer? (meu pai questionou).

- Como assim seu Rubens? (perguntei sem entender).

Minha mãe que até aquele momento só observava começou a falar:

- Rúbia, você tem consciência que a gravidez da Pilar é de alto risco?

- Sim.

- Só faltam três meses para o término da gravidez, eu sugiro que você também se afaste dos negócios e permaneça ao lado da sua esposa nesta reta final.

- Mas mãe, eu não posso. Ela tem uma equipe que pode ficar no lugar dela. Já no meu caso um afastamento esta fora de cogitação.

- Filha, eu estou vivo e posso cuidar da nossa empresa. Você só vai precisar assumir tudo sozinha quando eu morrer (meu pai afirmou).

- Pai, não fale assim (reclamei).

- Rúbia, você sabe que eu não tenho muita paciência, portanto serei bem clara. Gestar dois bebês esta sendo uma tarefa complicadíssima para a sua esposa, ela é otimista e cheia de esperanças, mais saiba que assim como você ela também tem medo, que o coração dela esta aflito, devido aos últimos problemas da gestação, a imunidade dela diminuiu muito, o fluxo sanguíneo dela aumentou e ela esta hipertensa. Todo cuidado é pouco, ela precisa de repouso e principalmente do seu apoio.

- Mãe, eu sei de tudo isso e fico desesperada. Mas procuro não demonstrar minha agonia, pois sei que ela precisa de todo o meu apoio.

- Ótimo filha e você deve continuar desta forma. Felizmente ela é cuidadosa, tem se mantido forte, compreensiva e otimista. Temos que ter muita fé. Seria mais complicado se ela ficasse nervosa, impaciente e mais sensível.

- Eu não aguentaria passar por tudo isso sem o auxílio de vocês dois (revelei emocionada).

- Minha filha sempre estaremos ao seu lado e por isso te chamamos para conversar. Nos próximos meses não assumirei nenhum compromisso e estarei à disposição de vocês.

- Mãe, obrigada! Enquanto eu estiver na empresa a senhora pode fazer companhia para a Pilar lá em casa?

- Não! (meus pais responderam juntos demonstrando irritação).

- Mas... (tentei dizer algo, porém fui interrompida).

- Rúbia, se você não se afastar da empresa neste momento, serei radical e te deixarei sem escolha. Estamos tentando dialogar contigo numa boa, por gentileza, coopere!

- Pai, isso é uma ameaça? (questionei atônita).

- Entenda como quiser (respondeu levantando e se distanciando do local que estávamos).

- Mãe, o que foi isso? Ele falou sério?

- Sim, nunca vi seu pai falar tão sério. Meu amor, nós estamos muito preocupados e queremos o melhor para vocês. Pense no seguinte: imagine se sua esposa venha a ter um desmaio ou por algum outro motivo precise ser levada com urgência para o hospital, quem que ela vai querer ao lado dela? Compreende que é só na sua companhia que ela vai se sentir mais segura?

- Meu Deus! Eu não tinha pensado em nada disso. Faltam três meses para o término da gravidez, Jesus! Como passou rápido. Mãe, o que eu faço? (indaguei perdida).

- Deixe que seu pai cuide de tudo na empresa e fique ao lado da mulher que você ama, mesmo porque se algo ocorrer na sua ausência você nunca mais vai se perdoar.

- Mãe, a senhora tem razão, mais uma vez muito obrigada! (falei a abraçando e beijando).

- Ei menina para com isso, você esta me babando toda, vá chamar a Pilar, que eu vou atrás do seu pai. Vamos jantar!

Fiz conforme as ordens da minha mãe. Voltei para o quarto e com carinho acordei a Pilar.

- Oi, dormi muito? (perguntou sonolenta).

- Só um pouco. Minha linda, você esta bem?

- Estou sim, senti, acho que eles acordaram também.

Ficamos um bom tempo conversando com os bebês e sentindo ambos dançarem na barriga da Pilar. Na hora do jantar meu pai já estava mais calmo. Antes de deixarmos a mesa anunciei.

- Pilar, conversei com seus sogros e decidimos que é melhor eu me afastar da empresa também, quero ficar ao seu lado.

Meus pais sorriram e ela derrubou algumas lágrimas.

- Que notícia boa, é tão bom ser amada (ela garantiu toda feliz).

Naquela noite Pilar estava muito disposta. Eu fico apreensiva, por conta da saúde dela e dos bebês. Então redobramos os cuidados no ato de fazer amor e com muito carinho saciamos nossos desejos.

Retornamos da viagem na segunda de manhã e conforme o combinado passei a semana toda em casa. Passei minhas pendências para o meu pai e deixei minha secretária ciente sobre o meu afastamento. A partir daquele momento passamos a nos dedicar exclusivamente para a reta final da nossa gravidez.

Fim do capítulo