Quando recebi as primeiras informações sobre a fertilização in vitro, logo notei que se tratava de um procedimento composto por várias etapas.
Após a coleta dos meus óvulos os mesmos foram fertilizados. A aspiração folicular foi realizada numa segunda - feira e já na terceira - feira ligaram da clínica informando quantos embriões estavam formados, voltamos a receber ligações nos outros dias, visando esclarecer sobre a qualidade e viabilidade de cada embrião.
A cada nova ligação, a ansiedade da Pilar aumentava gradativamente, confesso que também comecei a ficar ansiosa.
Após exatos quatro dias da fertilização in vitro retornamos na clínica para a realização do processo final e culminante.
A transferência embrionária foi agendada para o período da tarde, conversamos com dois especialistas responsáveis pelo nosso tratamento, eles elucidaram todos os detalhes e ficou decidido que dois embriões serão colocados no interior da cavidade uterina da Pilar, especificamente no endométrio.
A Pilar não precisou ser anestesiada, depois ela contou que o desconforto foi mínimo e que o mais difícil foi manter a bexiga cheia seguindo as recomendações médicas.
A transferência foi rápida e recebemos algumas orientações antes de deixarmos a clínica.
O exame para confirmar a gravidez é realizado entre nove e doze dias após o procedimento, posso nos resumir em duas palavras: expectativa e anseio.
Na sexta-feira e durante o final de semana optamos por não fazer nenhuma atividade física, a Pilar achou prudente fazer repouso nos primeiros dias e a minha mãe a proibiu de fazer esforços.

Esperar... algo que nunca gostei de fazer, mas não tínhamos outra escolha, passei a rezar antes de dormir e até antes de levantar da cama, sempre na companhia da Pilar, que aliás, sofria bem mais com esta espera.

- Amor, estes estão sendo os dias mais longos da minha vida (comentou entediada).

- Anjo, vai passar rápido (tentei acalmá-la).

- Assim espero e que Deus nos abençoe.

- Vai dar tudo certo meu bem.

- Você sabia que a dona Duda fez uma promessa?

- Não, o que ela anda aprontando?

- Ela me contou ontem, quando me ligou, disse assim que confirmada a gravidez temos que ir até a Basílica de Nossa Senhora Aparecida, para acender uma vela do meu tamanho.

- Só minha mãe mesmo, faz uma promessa para os outros pagarem, assim fica fácil.

- Ai amor, não fala assim, ela fez de coração e com muita fé.

- Ainda bem que ela não prometeu algo complexo né

- Deixa de implicar com ela, coitada também esta toda ansiosa.

- Verdade, ela não esta nem dormindo direito.

- Rúbia, vou na acupuntura hoje novamente, tem me deixado mais calma.

- Pilar, agulhas te deixam mais calma? Amor, você não é normal.

- Casada contigo, como eu seria normal? (brincou).

- A sua abusada, vou te morder em resposta a esta provocação.

Os dias passaram arrastados, as horas estavam sendo comandadas por uma tartaruga idosa e tudo que desejávamos era um positivo.

Em um final de semana a Pilar me deu um susto e tive a confirmação que não sou cardíaca.

- Rúbia! Rúbia! Rúbia! (Pilar gritou com euforia).

Eu tinha acabado de entrar na cozinha e ela estava no nosso quarto. Eu voltei correndo e preocupada. Para o meu pavor ela não estava mais deitada na cama, corri para o banheiro.


- Amor, eu estou com ânsia e meus seios estão mais sensíveis (falou rapidamente e toda feliz).

- E o que isso quer dizer? Nossa levei um susto com seus gritos.

- Rúbia, isso pode ser um sintoma (afirmou pulando nos meus braços).


A emoção dela é contagiante.

Quando realizamos um sonho a felicidade é perpetuada e eu passei a sonhar junto com ela.

E depois de alguns dias, Pilar fez o exame, sim ela conseguiu, nós conseguimos, deu positivo, estamos grávidas.

Eu nunca vi a minha mulher tão feliz, acho que felicidade chega até a ser pouco, ela esta radiante, os olhos dela brilham de tanta emoção.

Minha mãe comemorou tanto que ficou até bêbada e deu um trabalhão para o meu pai, dona Maria Eduarda, bebe raramente e bem pouco, pois é fraca para bebida, mas a empolgação foi tanta que com a notícia ela acabou misturando três tipos de bebidas, algo que segundo ela só tinha feito na juventude.

Eu não entendo nada sobre esta história de semana de gestação, é uma conta maluca, a minha mãe e a Pilar já fizeram até uma tabela de idade gestacional e a cada dia elas assinalam um quadradinho.

O acompanhamento médico é contínuo, diversos exames precisam ser realizados e até alguns medicamentos são recomendados.

Cumprimos a promessa que a minha querida mãe fez, visitamos o santuário, acendemos a vela e assistimos a uma missa.

Atualmente, a Pilar esta na quinta semana de gravidez, tudo esta transcorrendo bem, os exames satisfatórios, ela fica muito receosa e insegura quando não surge nenhum sintoma, até quando ela sente dor de cabeça ela comemora, para ela todo sintoma é bem vindo.

O dia que ela sentiu enjoo ela comemorou como se fosse o dia do aniversário dela, ligou para as amigas, narrou os sintomas para a minha mãe e também para a minha sogra.

Dentre tantos exames, na sexta semana, chegou o dia de ouvir o coração do bebê.
Era uma sexta-feira e eu não consegui trabalhar, fomos para empresa e eu passei praticamente a manhã inteira na sala da Pilar.

- Anjo, desculpa, eu já fui para a minha sala três vezes e não consigo ficar por lá. Posso ficar aqui com você? (perguntei já com o notebook na minha mão).

- Claro que pode, fique à vontade, eu estou tentando ficar focada aqui no trabalho, mas está difícil, eu queria ter marcado para o período da manhã, mas eles só tinham horário no final da tarde.

- Vou repetir meu mantra dos últimos dias. Vai dar tudo certo!

- Vai sim (afirmou voltando a trabalhar).

Depois do horário do almoço eu não consegui voltar para a empresa.

- Pilar, eu não estou conseguindo trabalhar hoje, você acredita?

- Parece até piada isso né (comentou dando risada).

- Eu nem estou me reconhecendo (falei impaciente).

- Vamos para casa então, podemos assistir um filme, tentamos relaxar até o horário do exame.

- Melhor mesmo.

Na realidade mal assistimos ao filme, a Pilar sentiu um pouco de cólica e voltou a comemorar, surgia mais um novo sintoma.

No consultório médico fiz questão de não sair do lado da Pilar, até ajudei ela se acomodar na cadeira ginecológica e meu coração disparou quando a médica disse:

- Mamães, faremos outros exames para confirmar, mas já posso dizer que temos aqui dois sacos gestacionais.

Pilar abriu um sorriso enorme e eu que fiquei sem entender resolvi perguntar.

- Doutora, desculpa, mas não entendi o que a senhora disse. O bebê esta bem?

- Nós vamos ter gêmeos? (Pilar indagou sorrindo).

Para a minha sorte eu estava sentada.

- Eu estou conseguindo visualizar os embriões e estou ouvindo os batimentos cardíacos. Sim, nós temos aqui uma gestação gem*lar.

A medicina e as palavras difíceis, mas aquele sim foi o suficiente para lágrimas de felicidade jorrarem dos meus olhos.

Com a maravilhosa notícia, eu esqueci minha insegurança. Abandonei o medo da maternidade. Agora eu só queria saber sobre isso de ser mãe, aos pouquinhos nossas vidas já estavam começando a mudar e a felicidade passou a reinar em todos os instantes.

Desta vez minha mãe preferiu não beber, ainda estava traumatizada devido ao último porre. Naquela sexta jantamos na companhia dos meus pais em um restaurante muito elegante e aconchegante.

No final da noite quando deitamos na nossa cama começamos a discutir sobre os nomes dos nossos filhos e demoramos para adormecer, ainda estávamos elétricas e triunfantes.

Fim do capítulo