Acho que fiquei muito mal acostumada, estava muito triste que em pleno feriado, nem uma das meninas haviam vindo me ver. Está certo, que elas estão aqui todo dia, mas mesmo assim, queria muito que elas estivessem aqui agora. Amanda, mandou mensagem dizendo que não poderia vim durante o dia, pois tinha alguns assuntos para resolver. Meus pais, estavam trabalhando, nem no grupo havia uma única alma.

 

- Que droga... – peguei o violão. Meu braço estava livre das ataduras, somente um curativo cobria a cicatriz que a bala deixou. Coloquei o violão ao meu lado, toquei no tecido grosso e o levantei para olhar o tamanho da cicatriz.

 

- Sua louca... Não faz isso... Esse cara está pronto para qualquer coisa, Amanda, pelo amor de Deus, sai daqui... Eu não posso nem imaginar algo acontecendo a você... Amor... Por favor...

 

- Chega dessa melação! Não basta ter uma? Não basta a loira ai? Tinha que roubar a minha mulher? Sua piranha... Ela é tudo pra mim... Tudo!

 

- Não seja imprudente, rapaz... Não estrague a sua vida... Vamos negociar!

 

- Já que quer morrer junto com ela, vou realizar o seu pedido... Hoje te levo para o inferno junto comigo... Adeus, suas vadias...

 

Botei as mãos sobre os ouvidos, como se realmente pudesse ouvir novamente o som dos tiros, fechei os meus olhos com força, eles umedeceram, de repente tudo ficou lento e vi uma enfermeira falando comigo, mas eu não conseguia ouvir nada.

 

- Flávia? Flávia? Alguém chama a Carolina, por favor... – ela segurava meu rosto e eu apenas via a sua boca mexer. “O que está acontecendo? Que droga é essa?”.

 

- O que ouve? Filha? – a minha audição voltou a funcionar, minha mãe segurava o meu rosto, analisando tudo. – O que aconteceu? Meu amor? Está me ouvindo?

 

Me agarrei a ela, sem conseguir parar de soluçar, eu estava tão perdida quanto ela e tentando acalmar o meu corpo. Os braços da minha mãe me abraçavam possessivamente, a enfermeira continuava ali, certamente assustada com a minha crise repentina.

 

- Melhor? – a voz da minha mãe soou suave.

 

- Sim... – respirava mais lentamente. – Não me deixa só, por favor...

 

- Eu não vou... Pode me dizer o que aconteceu? – ela fazia carinho em meus cabelos.

 

- Não sei explicar... – respirei fundo. – Quando vi a cicatriz no braço... Aquelas lembranças me atingiram e eu não consegui...

 

- Tudo bem, tudo bem... – ela beijou o topo da minha cabeça. – Estou aqui e não vou sair minha menina...

 

- O que aconteceu? – meu pai entrou afobado no quarto. – Filha?  - ela me abraçou também.

 

- Ela estava gritando... – Gisele, a enfermeira falou.

 

- Estamos aqui... – ele falou baixinho. – Vai ficar tudo bem, minha filha...

 

- Obrigada...

 

“Por quê isso agora? Meu Deus, será que isso vai se tornar o meu carma? Eu me recuso a deixar que isso afete a minha vida! Não, não, não”.

 

Não consegui dizer mais nada, fiquei abraçada a meus pais, não sei por quanto tempo e acho que adormeci.

 

 

 

Jaqueline

 

 

 

- Obrigada por tudo, Leandro... – abracei o homem que sempre me tratou com muita gentileza. – Você sempre foi como um tio.

 

- Não precisa agradecer, Jaqueline... – ele segurou as minhas mãos. – Seu avô foi um grande amigo e como se precisasse, me pediu para cuidar de você.

 

- Velho bobo... – rimos, mas senti o coração apertar.

 

- Fique bem, menina... – ele sorriu gentil. – Qualquer coisa que possa precisar, não se acanhe. – concordei com um acenar de cabeça.

 

Sai do carro, ele acenou e deu partida, sentei na calçada em frente ao condomínio em que a Nicole mora e fiquei observando o carro sumir. Uma parte de mim, estava destruída e me dizia que eu não tinha mais porque viver, não havia sentido, mas uma outra parte gritava a plenos pulmões que eu deveria lutar com todas as forças para não ficar no chão.

 

Eu não queria ser fraca, mas estava doendo muito a perda do meu irmão e agora o meu avô que sempre fez de tudo para que Paulo e eu jamais nos sentíssemos sozinhos. Aquele velho maluco era o meu herói, meu pai de verdade.

 

- Velho maluco... – meus olhos já estavam inundados. – Cento e cinquenta milhões de dólares, o que vou fazer com isso? Vô? – respirei fundo. - Vou sentir sua falta, muito... – enxuguei as lágrimas. – Falando sozinha... – ri da minha própria loucura.

 

Levantei, me identifiquei na portaria e caminhava lentamente pelas ruas do condomínio, algumas crianças andavam de bicicleta, outras corriam, alheias aos problemas do mundo. Estava próxima a casa da família que tão gentilmente me acolheu, sem nem pensar duas vezes e eu estava muito agradecida com aquela atitude que ninguém mais teria. Estava distraída, quando senti alguém se chocar em minhas pernas, olhei para baixo e um garotinho com os cabelos loirinhos me apertava, me agachei para ficar a altura dele.

 

- Oi, lindo... – o rosto estava corado, ele me abraçou e estava gargalhando.

 

- Me esconde, tia... – os bracinhos pequenos em volta do meu pescoço.

 

- Nandinho, você vai me matar desse jeito... – Paloma, parou com as mãos nos joelhos e muito ofegante a alguns metros de distância. Peguei o pequeno em meu colo, ele escondia o rosto em meus cabelos.

 

- Ele é seu primo? – perguntei me aproximando dela.

 

- Não... – ela respirou forte. – Cara, preciso começar a fazer exercícios físicos... – ri da cara de drama que ela fez. – Vem e lá dentro você vai entender... Nando, na próxima eu te alcanço.

 

- Pega não, tia... – ele debochou.

 

Entramos pela lateral da casa, direto para os fundos, todas as meninas estavam lá, vi que havia mais alguém, mas não soube dizer de quem se tratava. Foi quando, ela levantou e o que senti foi muito estranho, não sei precisar exatamente o que. Ela olhava para o garoto em meus braços e depois para mim, o ar ficou preso, mesmo não estando tão próxima, eu podia ver as íris extremamente azuis. O loirinho tirou o rosto dos meus cabelos e ela aos poucos, foi se aproximando.

 

“Que menina linda...”.

 

 

 

Becca

 

 

 

As meninas ficaram olhando para a cena de Jaque e Marcela, pareciam até em outro mundo, olhei para a Emi, essa fazia um coração com as mãos, balancei a cabeça, repreendendo a minha namorada.

 

- Vem cá, meu filho... – Nandinho, não queria sair do colo de Jaque. – Mas, esse menino agora não quer mais saber de mim... – rimos.

 

- Deixa ele brincar... – Nick, passou a mão nos fios loiros do pequeno.

 

- Agora, alguém pode reversar comigo... – Paloma, estava corada. – Ele me fez correr horrores.

 

- Marcela, essa é a Jaqueline... – Amanda, apresentou as duas.

 

- Oi, Marcela... – Jaque, sorriu para a menina.

 

- Oi, Jaque... – Marcela, devolveu o sorriso.

 

- Ela é da sua família, Nicole? – Jaque, sentou com o Nandinho em seu colo.

 

- Acabamos de conhecer esses loirinhos faz uma hora... – Nick, respondeu e Jaqueline parecia perdida.

 

- A Cássia... Me ajudou... – Marcela, olhou para a heroína. – Fui assaltada aqui em frente.

 

- Mãe, quero dormir... – ele coçava os olhinhos.

 

- Vem para o colo da mãe, meu sapequinha. – Jaque, levantou e o pequeno se jogou nos braços da mãe.

 

- E como você vai fazer sem dinheiro, Marcela? – minha namorada, que estava ao meu lado, perguntou. Assim como eu, todas ficamos comovidas com a situação da menina e o jeito doce do Fernando, ganhou o coração das meninas.

 

- Eu não faço ideia, Emily... – ela olhou para o filho que já dormia. – Não temos para onde ir...

 

- Vou buscar uma rede para ele deitar... – Cássia, entrou na casa.

 

- Podemos fazer alguma coisa por vocês, Marcela? – Isa, que estava ao lado da Nick, perguntou. Desde que o loirinho chegou aqui, se acomodou em todos os braços, aquele menino parecia um anjo.

 

- Já estão, meninas... – ela olhou para nós.

 

- Boa tarde, galera! – Juliane, chegou com Camila e Samantha. – A ajuda chegou!

 

- Quem são esses? – Samantha, olhou para Marcela e Nando.

 

- Falem mais baixo... – Emi, ralhou. – Vão acordar o Nando...

 

- Foi mal... – elas colocaram a mão sobre a boca.

 

- Aqui... – Cássia, voltou com uma rede em mãos, colocou na varanda, que estava ventilada. – Coloca ele aqui...

 

Marcela levantou e fez o que Cássia pediu, ouvi Nicole e a Paloma, avisarem a tia para nem se engraçar, a mesma fez uma cara de cão sem dono, mas concordou. As meninas passaram a se espalhar pela casa, Amanda e Isa, ficaram conversando com a Marcela. Marcinha e Lili, estavam a todo vapor na cozinha, enquanto nós arrumávamos o jardim. Todas estávamos cientes da surpresa que a Amanda, faria para a Flávia, e tenho certeza que ela iria ficar muito feliz e emocionada com cada detalhe. Nicole veio afoita de dentro da casa, ficamos assustadas e acabamos nos aproximando.

 

- O que houve, Nick? – Isa, perguntou.

 

- A mana... – ela estava assustada.

 

- O que tem a Flávia? – Amanda, levantou já alarmada.

 

- Ela teve um ataque de pânico... – nos olhamos preocupadas. – A mamãe pediu para te avisar...

 

- E como ela está? – podia sentir a aflição da minha amiga.

 

- Ela adormeceu... – Nick, foi abraçada por Isa.

 

- O que aconteceu? – Paloma e Cássia que estavam dentro da casa, nos olharam também preocupadas.

 

- Flávia, teve um ataque de pânico... – Nick, repetiu.

 

- Eu vou lá... – minha namorada já iria saindo.

 

- Eu vou junto... – Nick, estava nervosa.

 

- Fiquem... – Amanda, mandou. – Quando souber de algo, aviso...

 

E sem esperar resposta, saiu rapidamente.

 

 

 

Amanda

 

 

 

Ouvi tanto xingamento de outros motoristas, mas eu estava tão preocupada com a Flávia, que não revidei. Eram quase três e meia da tarde, o transito estava um pouco lento, estranho para um feriado. Eu só me perguntava o porquê dessa repentina crise da Flávia, ela estava tão bem, durante a semana, nem parecia que havia passado pelo que passou.

 

Estacionei de qualquer jeito, desci afobada do carro, esquecendo de fechar a porta e voltei novamente, toda atrapalhada. Andava rapidamente até a porta do hospital, quando vi a minha frente a Fernanda, que abriu um sorriso ao qual não retribui.

 

Estranho como tudo que eu vivi com ela agora parecia apenas um borrão no meu passado, alguém que na época eu achei que significava tanto, mas que nesse momento, é somente o meu passado.

 

- Boa tarde, Amanda. – ela parecia me devorar com os olhos e isso me incomodou bastante.

 

- Boa tarde, Fernanda. – tentei ser gentil.

 

- Veio ver a sua namoradinha? – senti um pouco de deboche em sua voz.

 

- Sim, vim ver a minha namorada. – dei ênfase na última parte.

 

- Estou muito surpresa com você, Amanda. – ela arqueou a sobrancelha. – Decidiu viver de verdade...

 

- Todos os méritos à Flávia... – sorri e senti que Fernanda não gostou. – Até amanhã, Fernanda.

 

Sai sem esperar resposta, era visível que havia algo um tanto sombrio em seu olhar, não parecia em nada com a mulher que um dia eu fui apaixonada. Resolvi esquecer Fernanda e caminhei mais rápido pelos corredores, chegando a porta que estava fechada. Abri devagar e vi Carolina e Henrique, na cama com a Flávia. Ela parecia tão serena, senti o meu coração apertar ao ver a minha menina.

 

Carolina e Henrique, sorriram ao me ver, sorri de volta e me aproximei, fechando a porta atrás de mim. Carolina, em movimentos sutis, deixou ela acomodada na cama, levantou e me deu um forte abraço. Henrique, fez o mesmo, parecia preocupado, apertei a sua mão para fazê-lo ver que eu estaria sempre ali também.

 

- O que aconteceu? – perguntei em tom de voz mais baixo. Enquanto sentava ao lado da minha menina, toquei os seus cabelos que estavam cada vez maiores.

 

- Ela disse que ficou curiosa com a cicatriz no braço... – Carolina, pausou e Henrique, abraçou a esposa de lado. – Tirou o curativo e teve uma sequência de lembranças daquele dia. A enfermeira encontrou ela gritando e quando cheguei... – ouvi ela suspirar, eu apenas encarava o rosto pálido da minha namorada. – Ela estava em lágrimas...

 

Meus olhos umedeceram, não suportava imaginar que ela estava passando por isso, acabava comigo. Eu a amava com toda a minha alma e se ela chorava, eu chorava, o sorriso dela era o meu, a minha menina.

 

Lembrei que precisava avisar as meninas e resolvi manda uma mensagem.

 

“Isa, avisa para as meninas que eu vou ficar aqui, não posso deixa-la aqui e por isso vou precisar que vocês arrumem os detalhes da surpresa para a Flávia.

 

Ela está dormindo, mas quando acordar, avisarei a vocês. Obrigada por embarcarem nessa comigo, vocês são demais. Até a noite”.

 

- Vamos comer alguma coisa, Amanda... – Carolina, beijou o meu rosto e sorriu. – Quando ela acordar, nos avise...

 

- Pode deixar... – sorri para eles.

 

- Você é um anjo, Amanda... – Henrique falou, me deixando levemente ruborizada. – Cuide bem dessa menina... – apenas acenei, incapaz de dizer algo. Eles saíram do quarto, voltei a olhar para a minha namorada, ou quase, sorri ao imaginar o anoitecer.

 

- Nunca mais vou deixar você escapar... – toquei os seus lábios de leve. – Nunca mais...

 

 

 

Juliane

 

 

 

- Meninas? – olhamos para a Isa. – A Amanda, mandou avisar que vai ficar com a Flávia, mas que ela está bem. – ficamos mais aliviadas com a notícia.

 

- Vamos lá! – gritei para incentivar as meninas, que me olharam feio. – Que foi?

 

- Você bem que poderia tirar a bunda dessa cadeira e ajudar, Juliane... – a dotosa falou chateada.

 

- Mas, a minha bunda gosta tanto dela, dotosa... – fiz bico.

 

- Levanta daí, Juliane. – Emi, gritou do outro lado da piscina. Credo, pareciam um bando de velhas de cinquenta anos.

 

- Bando de chatas... – revirei os olhos.

 

Me aproximei da Jaque, que arrumava as mesas pelo quintal, ela sorriu e eu quase grudei nela, pois acreditem, que mulher linda. Percebi que enquanto arrumávamos as mesas, seus olhos buscavam a loirinha gata, sorri internamente.

 

- Ela é muito linda, não é? – Jaqueline, me olhou assustada. – Nem tenta disfarçar... – ela sorriu.

 

- Muito... – ela parecia encantada pela Marcela. – O Nando é uma graça...

 

- Ele conquistou todo mundo... – falei, admito, o loirinho me ganhou. Ele corria com a Paloma pelo jardim, não dormiu tanto assim.

 

- Me sinto uma vela... – ela olhou para as meninas. – Acho que somos as poucas solteiras por aqui. – ela desviou o assunto.

 

- Só por que você quer, gata... – ela gargalhou.

 

- Juliane, você é linda demais... – ela me analisou. – Muito bem humorada, mas é safada demais...

 

- Uau! – botei as mãos para o alto. – Culpada! – gargalhamos.

 

Tudo estava ficando muito bonito, estava até dando uma pontinha de vontade de namorar também, pois para todo lado que eu olhava, via olhos brilhantes, sorrisos bobos. Observei a minha sobrinha e a Isa, se olhavam com tanta devoção, mesmo para alguém que nunca mais quis saber de amor, era bonito de se ver.

 

- A Flávia, vai se derreter ainda mais pelo pedaço de mal caminho... – Jaque, me olhou.

 

- Você não tem jeito... – ela suspirou. – Essas meninas são incríveis... – senti um pouco de tristeza e  carinho em sua voz.

 

- Elas são as melhores pessoas que você poderia encontrar em sua vida, gata... – coloquei a mão sobre o seu ombro. – Elas farão acontecer a terceira guerra mundial por você...

 

- Obrigada... Eu ... – ela respirou fundo.

 

- Não faz assim, gata... Se não eu te agarro... – pisquei para ela.

 

- Mas, não vale nada mesmo... – pronto, a mascote voltou a sorrir.

 

Eram quatro e meia da tarde, estava quase tudo pronto, por volta das seis em diante a nossa família começariam a chegar, a dotosa pós uma música para tocar, improvisamos um pequeno palco com um micro-fone, uma caixa amplificada. Espalhamos luzes brancas por todos os lados e sem sombra de dúvida, quando o anoitecer chegasse, iria deixar tudo lindo.

 

“O que foi? Sou safada, mas não insensível!”.

 

- Meninas, está ficando perfeito! – Becca, falou animada.

 

- A Flávia vai adorar! – Isa, acrescentou. Batemos palma.

 

 

 

Paloma

 

 

 

- Deita aqui Nando... – vou me matricular urgentemente em uma academia, Senhor. – Isso... Me deixa respirar...

 

- A senhora não é de nada, tia... – ele sorria com duas janelinhas na frente. Ficava espantada de ver que apesar de ter apenas quatro anos, ele era muito inteligente.

 

- Amor, bebe um pouco de água... – minha namorada sentou ao lado de Nando. – Depois eu fico com ele.

 

- O que vai acontecer com eles? – fiquei preocupada. – A Marcela não tem dinheiro, mora em outra cidade e até agora não entendi o por que dela estar tão longe de casa.

 

- Ela disse agora há pouco que fugiu da família e do pai do Nandinho... – fiquei surpresa.

 

- Por que? – Cássia, olhou para onde a loira estava, ajudando a Isa, com algumas flores.

 

- Ela foi obrigada pelos pais a se ‘juntar’ cedo, pois eles descobriram que ela não era chegada a meninos. – fiquei surpresa. – Ela nasceu em Santa Catarina, veio com três anos pra morar aqui... Foi o que ela contou...

 

- Caramba... – olhei para o garotinho que levantou e correu em direção a Jaque. – Viu como a Jaqueline, olhou para a Marcela?

 

- E como vi... – rimos.

 

- Amor... – lembrei de ontem a noite. – Não vai acreditar no que eu vi ontem...

 

- Fofoca? – ela sorriu. – Adoro, amor.... Conta logo...

 

- Ontem a Nick e a Isa, estavam se engolindo aqui na beira da piscina... – minha namorada abriu a boca.

 

- Mentira! – ela bateu as mãos uma na outra. – Eu jamais esperei que um dia a Nicole se envolveria com uma mulher... Parece até história de pescador...

 

- Eu também estou surpresa, mas quero muito que elas deem certo... – Cássia, concordou com a cabeça. – Amor... Me ajuda a pegar uma coisa no quarto? – sorri inocentemente.

 

- Claro amor... – levantamos, olhei para o meu loirinho. – Nando, fica ai com a Jaque, eu já volto.

 

- Tá tia... – ele acenou.

 

Subimos as escadas devagar, eu não queria assustar a minha namorada, que estava fugindo de mim, como o coisa ruim foge da cruz. Entramos em meu quarto, ela passou primeiro e eu tranquei a porta.

 

- Amor, o que viemos pegar? – ela se virou para mim. – Amor?

 

Eu sorri maliciosamente para ela, que arregalou os olhos e engoliu em seco, passei a caminhar lentamente em sua direção, ela começou a recuar, com os olhos presos no meu, até que ela parou na porta de vidro que dava acesso a sacada, as cortinas estavam fechadas. Sim, eu planejei isso e não, eu não tenho a menor vergonha de admitir que estou louca para tocar e ser tocada por minha mulher.

 

- Paloma... – saiu mais em um sussurro. Ela estava presa entre a porta e eu.

 

- Shiiii... – ch*pei o meu dedo indicador e botei sobre os seus lábios. Ela respirou pesado, fechando os olhos. – Não vamos fazer nada... De mais... – me aproximei de seu ouvido, mordendo a pontinha da orelha, ela soltou um gemido e isso me causou uma queimação em meu baixo ventre.

 

- Assim... – ela respirou fundo. – Assim, fica difícil...

 

- Então facilite... – falei olhando em seus olhos e depois para a boca que estava entre aberta. – Linda demais... E só minha...

 

Acho que minhas palavras tiveram um grande efeito, pois ela rapidamente me colocou no lugar que era seu, grudou o corpo no meu e puxou com os dentes o meu lábio inferior, me fazendo delirar com aquele gesto. Sua boca esmagou a minha, em um beijo delicioso, enquanto as minhas mãos adentraram a blusa, se espalmando sobre os seis durinhos, ela gem*u e me segurou com as duas mãos pelo bumbum, minhas pernas circundaram a fina cintura e um gemido saiu alto de minha boca.

 

- Meninas? – ouvimos a voz da Emi.

 

 

 

Emi

 

 

 

- Amor, elas querem ficar sozinhas... – Becca, me ralhou.

 

- Elas não podem ficar sozinhas, vida... Nick, mata a Cássia. – esperamos alguns segundos, até que a porta foi destrancada. Os cabelos estavam bagunçados e as roupas amassadas. Revirei meus olhos, Paloma com um sorriso sacana e Cássia, com uma placa enorme de “CULPADA”.

 

- Desculpa, meninas... – Becca, estava constrangida. – Eu disse para a Emi, que não deveríamos atrapalhar...

 

- Deveríamos sim, amor... – olhei para as duas. – Se você... – apontei para a Paloma. – Não quer virar uma virgem viúva, acho melhor sossegar a sua garotinha. – fiz um gesto com a mão, Becca riu. – E você, dona Cássia, mantem os seus dedinhos comportados... Pois a Nick, estava louca para vim atrás de você...

 

- Estraga prazer, Emi... – Paloma reclamou.

 

- Se recomponham e vamos descer... - Becca as ajudou, descemos em silencio e quando chegamos ao quintal, Nick arqueou as sobrancelhas e eu sorri como que não sabia de nada.

 

Começamos a fazer algumas pequenas placas com algumas frases, até a Marcela, passou a fazer o mesmo. Essa menina precisava de ajuda e eu estava pensando em algo, mas primeiro iria consultar a Becca sobre.

 

- Amor, vamos testar as luzes... – peguei em sua mão.

 

- Não vai me arrastar para um quartinho, não é? – ela falou baixinho e com um sorriso sacana.

 

- Não é uma má ideia... – puxei o seu lábio inferior. – Amor...

 

- Diga, vida... – fomos até os interruptores.

 

- Estava pensando... – ela me olhou. – Sobre a Marcela...

 

- Os loirinhos te conquistaram, não é? – ela sorriu, minha namorada era perfeita.

 

- Sim, amor e eu queria muito fazer algo por eles... – falei e olhei para o Nando, que estava dando um baile em Cami e Sam, depois para a Marcela, que olhava discretamente para aonde Jaque, estava.

 

- Eu também estava pensando nisso, amor... – voltei a olhar para ela. – Tem algo em mente?

 

- Na verdade sim, vida...

 

- Me conte amor... – ela segurou a minha mão.

 

- Podemos leva-la para morar conosco e eu posso encaixa-la na empresa... – os olhos da minha namorada brilharam.

 

- Já te disse hoje o quanto te amo, Emily? – ela me abraçou pela cintura.

 

- Já, mas pode dizer quantas vezes você quiser, pois eu amo quando você diz... – controlei a vontade de beija-la por causa do Nando.

 

- Eu te amo... Eu te amo, eu te amo... – ela beijou delicadamente o meu pescoço.

 

- Oh, Becca... – sem querer, lagrimei.

 

- Vamos levar os loirinhos para a nossa casa... – meu coração dançou samba quando ela terminou a frase.

 

- Eu te amo...

 

Ela beijou a minha testa.

 

 

 

Cássia

 

 

 

- A mamãe mandou avisar que por volta das sete ou oito horas, eles estarão aqui... – Nicole, nos avisou.

 

- Preparada para cantar em público, amor? – perguntei, ela estava cortando uma folha de papel em formato de coração, escreveu algo nele e me deu.

 

- Para outras coisas também, amor... – ela sorriu sacana e eu decidi olhar para o papel, tentando não pensar no que aconteceu a pouco minutos atrás.

 

“Eu te amo”

 

Era o que estava escrito de um lado do coração, virei e do outro lado também havia algo escrito.

 

“Você é a minha vida”

 

- Você me faz a mulher mais feliz desse mundo, Paloma... – falei emocionada, ela tocou o meu rosto e sorriu.

 

- Me sinto da mesma forma, Cássia... – ela beijou o meu rosto e sorriu. – Vamos pegar alguma coisa na cozinha? – olhei desconfiada. – Eu juro que é só isso.

 

- Olha lá, Paloma...

 

Entramos na cozinha, Marcinha e Lili, estavam enrolando alguns salgadinhos que a Flávinha gostava muito. Sentamos à mesa e elas nos encheram com um monte deles, em diversos tamanhos.

 

- Estou tão ansiosa para ver a menina... – Lili, enxugava os olhos com um papel tolha.

 

- Não consegui ir vê-la... – Marcinha comentou também emocionada. – Acho que não ia parar de chorar.

 

- Ela perguntou muito por vocês, mas entendeu o porque de não terem ido. – Paloma falou e depois enfiou um monte de salgadinho na boca.

 

- Que coisa feia, Paloma. – Lili, chamou a atenção da minha namorada. – Come devagar...

 

- Paloma não sabe o que é comer devagar... Ai... – ganhei um chute na canela.

 

- Comportem-se... – Marcinha mandou.

 

- Quer sentir como eu sei? – ela falou sussurrando em meu ouvido.

 

Desse jeito não seria possível esperar até outubro, Paloma estava me deixando louca, isso definitivamente não iria acabar nada bem. Eu estava cada vez com mais medo das loucuras que se passavam em minha cabeça a cada vez que ela se insinuava. Contar até dez já não resolvia, eu estava a desejando a cada segundo um pouco mais.

 

“Senhora das sapas em apuros, sei que você não existe, mas agora eu preciso que exista, me dê forças para não levantar daqui e arrastar essa mulher desgraçadamente sexy ao meu lado”.

 

- Parem de comer e venham ajudar... – Cami, entrou na cozinha e pegou das mãos da Paloma, alguns salgadinhos. Peguei uns extras para levar para o Nandinho, agradeci e muito, mentalmente é claro, a Camila por ter aparecido.

 

- Ei, rapaz... – fiz sinal para ele vim até a mim. – Olha o que tenho pra você!

 

- Obrigada, tia... – os olhinhos dele brilharam. Ele pegou os salgadinhos muito sorridente. – Tia, a senhora é muito legal... – esse menino é muito sedutor.

 

- Ai, que lindo... – peguei ele é coloquei em meus ombros.

 

- Treinando para quando desvirtuar a minha irmã? – Nick, passou por mim e se foi.

 

- Oh, céus... – passei a andar para a direção em que Jaque, Juliane e a Paloma estavam.

 

- Ei, garotão... – Jaque, pegou um salgadinho que o loirinho lhe deu. – Obrigada, lindo.

 

- Nada, tia... – ele ofereceu outro para a Juliane.

 

- Valeu, lindo... – ele sorriu.

 

- Já são seis horas... – Paloma olhou no celular.

 

- Está quase tudo terminado... – Jaque olhou em volta.

 

- Tias? Quero tomar banho e ficar cheiroso para a festa de vagalumes... – rimos do jeito muito fofo que ele falou.

 

- Daqui a pouco, lindão... – Jaque fez cosquinhas nele, que gargalhou com gosto.

 

 

 

Isa 

 

 

 

- Marcela? Queríamos falar com você. – Emi e Becca, estavam com sorrisos de orelha a orelha.

 

- Claro, meninas... – Marcela é uma garota muito legal.

 

- Então... – Becca olhou para Emi. – Queríamos muito fazer algo por você e aquele baixinho. - Olhei para o Nando, que agora brincava com a Nick. Fiquei toda boba vendo a cena, eu sou boba quando se trata dela.

 

- Meninas, não precisam se incomodar... – ela sorriu fraco. – Eu meti o meu filho e eu, nessa situação. Nada mais justo do que eu própria tentar concertar...

 

- Mas, queremos ajudar... – Emi falou sincera.

 

- Por favor... Aceite... – Becca sorriu gentil.

 

- Ok... – ela disse vencida. – Posso perguntar como?

 

- Claro... – Emi e Becca, ficaram empolgadas e eu compartilhei desse sentimento. – Você aceitaria trabalhar na filial da empresa que era do meu avô... – senti o timbre da Emi dar uma leve vacilada, Rebecca percebeu e segurou a mão da namorada. O gesto fez um sorriso brotar em Marcela e em mim.

 

- Tá falando sério? – ela pareceu pensar um pouco. – Como podem ser tão legais com alguém que vocês conhecem a menos de seis horas?

 

- Nossas histórias são um pouco parecidas... – Emi sorriu triste. – Eu também tive fugir da vida que os meus pais queriam me empurrar a força e essas meninas aqui... – abriu os braços. – Essa mulher aqui... – beijou o rosto da Becca. – São as pessoas que não me deixam cair...

 

- Eu aceito... – Marcela disse por fim.

 

- Tem outra coisa... – Becca parecia receosa.

 

- Pode dizer... – Marcela a confortou.

 

- Queríamos muito que enquanto você se ergue, que venha morar conosco... – Emi assumiu a frente, Becca ficou na expectativa.

 

- Vocês moram juntas?

 

- Basicamente, sim... – Becca respondeu. – Depois podemos te explicar melhor... – ela concordou.

 

- Então? – pelo o pouco que pude perceber, Marcela não gostava de depender de ninguém. Ela olhou para o filho que estava jogado no gramado rindo, enquanto as meninas faziam cosquinhas nele.

 

- Aceita, Marcela... –  a incentive e ela me olhou, ponderou. – Aproveita esse recomeço... Você e o garotão merecem um restart... – ela voltou a olhar para o filho.

 

- Vocês são demais... – ela abriu um sorriso. – Obrigada por isso...

 

- Yes! – comemoramos.

 

- O que houve? – Nick me perguntou baixinho, enquanto as meninas conversavam. Admirei a mulher a minha frente antes de responder.

 

- Você é linda... – ela ficou sem graça, me fazendo querer enche-la de beijos. – Emi e Becca, vão dar uma força para os loirinhos...

 

- Sério? – ela abriu aquele sorriso que acaba comigo. – Eu quero estar nessa... Gostei muito deles...

 

- Eu percebi... – ela me olhou. – Lindo te ver interagindo com o Nandinho... – ela analisou a minha face e eu fiquei levemente corada.

 

- Isabela, assim vai me fazer perder a cabeça e te beijar aqui mesmo... – meu coração deu um solavanco. – Alias, estou querendo fazer isso desde que fui te buscar hoje de manhã...

 

- Nick, assim...

 

- Ei, Nick... Me ajuda aqui... – Camila chamou, estava com um monte de lanterninhas em formato de coração, deixou cair metade. Nicole me deu um beijo na bochecha e foi ajudar a prima.

 

- Se acertaram? – levei um susto. – Desculpe, Isa... – Jaqueline riu. – Não foi a minha intenção te assustar...

 

- Tudo bem... – me recuperei do susto e sorri. – Sim... Nos acertamos...

 

- Eu fico muito feliz por você, Isa... – seus olhos transbordavam sinceridade.

 

- Obrigada, Jaque... Quer conversar sobre aquilo que me disse há uns dias atrás? – perguntei e ela sorriu.

 

- Não precisa, Isa... De verdade... – ela estava sendo sincera.

 

- Será que estou enganada ou te vi dando umas secadas em uma certa loira? 

 

Ela sorriu e ficou visivelmente nervosa, me fazendo rir e confirmar o que todas as meninas também viram.

 

 

 

Nick

 

 

 

- Já sabe a música que vai cantar, Paloma? – estávamos dentro do banheiro da mesma.

 

- Sim, eu já havia tentado aprender ela e quando a Amanda me disse que seria essa, fiquei mais animada... – ela sorriu. – Mas, agora me diz o por que de ter me trago até aqui...

 

- Cássia... – ela revirou os olhos.

 

- Vai mesmo torturar a minha namorada? – ela sentou sobre o vaso sanitário. – E é sério que vamos falar disso aqui no banheiro?

 

- Se você não me disser, sabe que eu vou perguntar para ela... – ela revirou mais uma vez os olhos.

 

- Aqui estão vocês... – Emi chegou.

 

- Graças à Deus! – a pirralha se mandou e eu olhei feio para a penetra.

 

- Fez de propósito... – ela gargalhou.

 

- Não sei do que está falando... – ela fingiu inocência. – Já terminamos, vou levar a Becca, a Marcela e o garotão para tomar banho e trocar de roupa. Daqui a pouco estamos de volta...

 

- Ok... As meninas vão se trocar aqui mesmo, esperamos por vocês e Emi... – ela me olhou. – Você teve uma atitude muito bonita... – ela sorriu.

 

- Você também teve, Nicole... – ela me abraçou de lado e saímos do banheiro, indo para o corredor. – Estou orgulhosa da minha parceira de escapadas... – eu ri.

 

- Você não sabe a falta que fez... – paramos no corredor e ela me olhou.

 

- Se for a mesma intensidade que eu senti, então eu sei sim... – ela me abraçou. – Eu te amo, minha irmã...

 

- Eu te amo, minha irmã... – ficamos abraçadas no corredor.

 

As meninas estavam malucas correndo pelo corredor, tia Juliane que não conhecia a palavra ‘vergonha’ desfilava só de micro short e top pela casa. Sam, Camila e Cássia estavam compartilhando o quarto da Flávia, Jaque estava no quarto dela, Paloma e Isa, no da Paloma. Pedi para a Marcinha e Lili, que recebessem a família, afinal já eram todos de casa mesmo. Os pais da Isa, viriam com o Rafa, que chegou hoje de manhã e a namorada dele, Eliza.

 

Deixei o meu corpo relaxar dentro da água, enquanto eu digitava uma mensagem para a minha cunhada. Estava preocupada com a minha irmã, ela não poderia ficar com sequelas emocionais pelo acontecido e faria de tudo para não acontecer.

 

“Como ela está?”.

 

Esperei alguns segundos.

 

“Estou preocupada com ela... Ela parece um pouco aérea.”

 

Respirei fundo.

 

“Tenho certeza que ela vai ficar muito feliz com a surpresa que você planejou”.

 

“Obrigada por tudo, sem vocês não seria possível”.

 

“Disponha, cunhada...”.

 

“Sua irmã se tornou a minha vida, Nicole e eu não vou poupar esforços para vê-la feliz. Ela me trouxe de volta a vida, me mostrou por A+B, que é possível SIM sermos o que somos e não se sentir dependente da opinião alheia. Sua família é fantástica, vocês são as melhores pessoas que alguém pode ter como amigas. Obrigada por isso”.

 

Devo dizer que as palavras de Amanda, me acertaram em cheio e por alguns segundos fiquei sem o que dizer, só por alguns segundos.

 

“O sentimento é totalmente reciproco, cunhada e então fique avisada que somos uma grande família agora, nada normal, mas quem liga, certo? Obrigada por fazer a minha irmã feliz, serei eternamente grata”.

 

Trocamos mais algumas mensagens, ela disse que em aproximadamente quarenta minutos, estariam saindo do hospital, mas Flávia ainda não sabia disso. Me apressei em sair do banho, e eu estava feliz. Feliz por minha irmã estar voltando para casa, feliz porque a minha família cresceu em menos de dois dias, feliz porque a pessoa que causava uma tempestade em minha alma estava a poucos metros de mim... Eu estava muito, mas muito feliz.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fim do capítulo