- É aqui... – Jaqueline, falou quando chegamos a um luxuoso edifício. – Subam comigo... Por favor...

- Vamos sim... – Nick, respondeu por nós duas.

- Obrigada... – ela sorriu.

Passamos pela portaria, depois que fomos liberadas, o carro foi estacionado e logo estávamos dentro do elevador. Jaque, estava com o olhar perdido, enquanto o silêncio reinava ali, Nick, parecia um pouco envergonhada pelo acontecido a meia hora atrás.

Só de lembrar, senti o coração reagir, a vontade de sorrir era gigante, mas me mantive seria devido ao momento. Aquela sensação que tomou o meu corpo depois daquele ato inesperado, não havia passado. Senti a necessidade de tocar os meus lábios, mas não fiz, pós seria muito constrangedor mostrar a expressão de boba que eu estava lutando para não aparecer.

- É aqui... – paramos diante de uma enorme porta branca. Jaqueline, tocou a campainha. – Obrigada por estarem aqui...

- Não tem o que agradecer, Jaque... – ela deu um sorriso tristonho. A porta foi aberta por um senhor que deveria ter os seus 60 anos, elegante e parecia ser uma boa pessoa.

- Jaqueline... – ele a abraçou e depois olhou para Nick e eu. – Vamos, entrem meninas...

- Leonardo, essa é Isabela e a Nick... – o senhor sorriu, gentilmente beijou nossas mãos.

- É um prazer conhece-las, infelizmente nessas circunstancias... – ele tinha um pouco de tristeza no olhar.

- O prazer é nosso... – Nick, devolveu a gentileza.

- Meninas, sentem e fiquem à vontade... Querem algo para beber? – fizemos um ‘não’ com a cabeça e nos acomodamos no sofá preto e muito confortável. – Jaqueline, venha até o meu escritório. Me deem licença, moças...

Apenas concordamos com um acenar de cabeça, Jaque nos lançou um sorriso e seguiu o senhor por um corredor. Nick e eu, ficamos a sós, ela imediatamente virou de frente para mim.

- Isa... – ela respirou fundo e senti o meu coração dançar dentro do peito. – Sei que não é o momento, mas eu...

- Você... – minhas mãos geladas buscaram pelas suas, o olhar dela acompanhou o gesto, mas logo voltou a me fitar. – Por favor... Continua...

- Eu não entendo como... Não sei em que momento... – ela mordeu o lábio inferior, em sinal claro de nervosismo. O ar ficou difícil de entrar em meus pulmões. – Isa, eu estou sentindo umas coisas estranhas... – ela fez uma carinha de confusão, se ela soubesse que estou sentindo. – Não quis te usar hoje... Espero que não tenha passado essa impressão... – ela estava quase atropelando as palavras.

- Nick... – ela parou e me olhou. – Devagar...

- Desculpe... – ela sorriu. – Estou até parecendo uma adolescente boba... – uma vontade quase incontrolável de beija-la me visitou, mas eu precisava ouvir o que ela tinha a dizer. – Eu gosto muito de você, Isabela... – prendi a minha respiração. – E isso está bagunçando a minha cabeça, pois eu nunca havia sentido nada por uma outra mulher... Eu achei que era carência ao que aconteceu com o Júlio, mas daí... Eu não sei explicar... Eu posso ter confundido a tua doçura com outra coisa, sei lá... Me enrolei.

Ela prendeu os lábios um ao outro, não desviou o olhar nem uma vez, lembrei que precisava respirar e foi o que fiz. Apertei um pouco mais as suas mãos, deixei a cara de boba aparecer, ela sorriu.

 - Estou assustada com o que vem acontecendo esses dias, Nicole... – eu tinha toda a atenção dela e podia jurar que assim como eu havia feito, ela também prendeu a respiração. – Em tão pouco tempo... Eu só senti atração por uma mulher em toda a minha vida... – lembrei da Flávia. – E só beijei essa mesma uma vez... Fiquei apavorada quando me vi pensando diariamente em você, Nicole... – ela abriu a boca, em surpresa. – Também tive medo de ser carência, mas depois de um tempo, essa ideia foi descartada... Isso me deixou desesperada, pois eu fiquei com muito medo de sofrer... De ser a amiga que tem interesse na outra, que vai sofrer quando essa mesma disser que não pode existir nada...

- Então, quer dizer que... Também... Ai, caramba... – ela sorriu, me fazendo ficar derretida. – Eu não vou negar, estou apavorada com isso tudo, mas eu quero...

A voz do senhor, dono da casa foi ouvida e acabamos quebrando o contato, logo eles estão à nossa frente, Jaqueline, estava com os olhos vermelhos. Levantei, ela me abraçou, afaguei seus cabelos e esperei ela se acalmar.

- Você volta amanhã, Jaqueline... Seu primo estará aqui e poderemos fazer a última vontade do seu avô.

Ela fez que sim com a cabeça, nos despedimos e logo estávamos no estacionamento, entramos no carro da Nick. Ela se acomodou no banco de trás, respirou fundo e nos encarou, dando um sorriso fraco.

- Vocês podem me deixar na casa de uns amigos? Estou hospedada na casa deles.

- Claro que sim, você vai me dizendo o endereço... – Nick, deu partida.

- Obrigada, de verdade... – os olhos marejaram. – Vocês nem deveriam estar ajudando a irmã da pessoa que tanto as prejudicou...

- Ei! – chamei a sua atenção. – Para! Nem termina...

- Ele morreu faz dois dias... – secou as lágrimas. – Em uma semana, perdi as únicas pessoas que me amavam de verdade... – meu coração apertou ao ouvi-la. Nick, me olhou e a vi fechar os olhos por poucos segundos e depois prender os lábios.

- Sei que nunca será a mesma coisa, mas você pode contar comigo, Jaqueline... – ela sorriu sem mostrar os dentes, um sorriso triste.

- Obrigada, Isa... – ela desviou o olhar para a janela. – Meu avô, pediu para o Leonardo, avisar sobre a morte dele só dois dias depois que ele morresse... – ela suspirou pesado. – Falei com ele a quatro dias atrás e ele mentiu que estava bem... Meu avô era um pouco maluco... – ela sorriu. – Inventava um milhão de coisas para fazermos quando eu ia visita-lo na Itália... A última grande demonstração disso, foi ter deixando metade de tudo que ele tinha, para mim... Meus pais na certa, vão pirar...

A voz dela não estava nem um pouco animada ao falar sobre o que herdou do avô, o olhar perdido em algum lugar lá fora. Nick, respirou fundo, me olhou e antes mesmo de eu pensar em dizer alguma coisa, ela se pronunciou.

- Sei que pode parecer estranho, Jaqueline... – Jaque, tirou os olhos da janela e passou a olhar para a Nick. – Se você quiser, pode passar o tempo que for preciso para arrumar um pouco essa bagunça que está em sua cabeça, na casa dos meus pais... – eu fiquei surpresa e Jaqueline, mas ainda. – Nem uma pessoa da minha família nutre algum tipo de sentimento ruim ao seu respeito... Contei aos meus pais sobre o que ouve na casa da Isa, e eles ficaram horrorizados e me disseram que se pudessem, gostariam muito de poder fazer algo por você...

- Eu... Eu... Caramba... – olhei admirada para a mulher ao meu lado, um frio gostoso me fez visita. – Não sei se devo aceitar...

- O que você menos precisa agora é ficar sozinha, Jaqueline... – Nick, falava a olhando pelo retrovisor. – Minhas irmãs, minhas amigas e algumas pessoas da minha família não são nada normais, mas sei que você vai acabar se enturmando com todos... – olhei para a Jaque, ela estava emocionada. – Vamos, aceita...

- Tudo bem... – secou os vestígios das lágrimas. – Nem sei como agradecer...

- Eu sei... – Nick, me olho e piscou. – Não se deixa levar pela tristeza e só chore por seu avô, quando estiver lembrando dos seus momentos de loucura...

- Pode deixar... -  a voz da Jaque, saiu um pouco emocionada.

Eu acredito que estava com a maior cara de bobona de todas, passei a olhar para a janela, pós não queria que me vissem com o sorriso de orgulho da Nicole. A cada dia, me surpreendia mais com essa mulher. Tenho certeza que passaria mais uma noite em claro recordado de cada segundo desse dia.

Passamos na casa dos amigos da Jaqueline, pegamos algumas poucas coisas que ela havia comprado, pois segundo ela, saiu de casa só com a roupa do corpo. Ela agradeceu aos amigos, se despediu e iriamos voltar para o hospital. Nicole, nos deixou no corredor do quarto da Flávinha, e foi procurar os pais, mas disse que logo voltaria. O barulho que vinha do quarto, deixava claro que todas ainda estavam ali.

- Essas meninas são malucas... – Jaque, parecia bem melhor. – Agora entendo o teu encanto por elas... – sorri.

- Elas são demais... Logo, você virará alvo... – falei rindo da cara de espanto dela.

- Oi, meninas... – Paloma, se aproximou assim que entramos.

- Tudo bem? – Amanda, quis saber.

- Não tanto, mas se bem conheço o meu avô, ele não iria querer que ficasse pra baixo... – Jaque, suspirou.

- Olha, Jaqueline... Sei que mal nos conhecemos, mas você pode contar com a gente... – Flávia, falou com um olhar acolhedor. Viu só o por quê dessa família ser tão incrível?

- Obrigada, eu realmente não esperava por tudo isso... – ela sorriu.

- Vai se acostumando, Jaque... Quando vamos com a cara de alguém, é pra valer... – Paloma, tirou outro sorriso da menina.

- Cadê a Nick? – Emi, quis saber.

- Foi falar com os pais... – respondi.

- Ah, sim...Teus sogros... – acho que vermelho seria o meu novo tom permanente de pele. – Viu, Jaque? Vai se acostumando, pós logo será você...

Nos acomodamos, já era noite, e aos poucos o grupo foi diminuindo, Juliane, Samantha e Camila, se despediram e disseram que estariam ‘lá’ amanhã e foram embora.

- Mas, o que é esse “lá”? – Flávia, perguntou com a testa franzida.

- Vai saber só amanhã, Flávia... – Becca, sorriu para ela.

- Amor? – ela recorreu à namorada.

- Desculpe, vida... – Amanda, balançou a cabeça negativamente.

- Isa? – ela olhou para mim, seus olhos pareciam de desenho animado. Eu não iria resistir, mas quando ia abrir a boca.

- Nem pense nisso, dona Isabela... – Nick, entrou no quarto.

- Droga! – Flávia, resmungou.

- Manas, tenho uma notícia para dar... – Flávia e Paloma, se olharam.

- Vai casar com a Isabela? – Cássia, falou e as meninas riram. Tentei, mas não fiquei seria.

- Olha, dona Cássia... Ainda temos umas coisinhas para conversar, então eu acho melhor você ficar quietinha... – Cássia, segurou a mão de Paloma.

- Já ganhou a minha curiosidade total, Nick... – Flávia, olhava atentamente para a irmã.

- Teremos uma nova moradora em casa... – as meninas ficaram com uma interrogação enorme. – Teremos mais uma pirralha para dá bronca... – Jaqueline, acabou deixando uma risada escapar, era bom vê-la um pouco mais animada.

- Coitada dela... – Paloma, reclamou. – Se bem que... Vou ter mais uma pessoa para filmar a Nicole, cantando no chuveiro... Então, será três contra uma...

Flávia, prendeu o riso, mas as outras não, Nick revirou os olhos, mas depois acabou sorrindo, me olhou e eu quase levantei para grudar nela.

- Continua... – Flávia, ficou séria. Momento muito raro.

- A Jaqueline, vai passar o tempo que ela desejar conosco... – as meninas olharam para ela, que se juntou a mim, e virou lagosta. – Bem-vinda à nossa família, Jaque... – os olhos dela marejaram.

- Vamos infernizar a vida do cachorro magricela da Nick, ele é mais fresco que madame. – Paloma, puxou a Jaque, para um abraço.

- Eu nem sei o que dizer... – o abraço foi aos poucos desfeito.

- Vem cá, menina... – Flávia, chamou e mais uma vez Jaque, ganhou um abraço caloroso. – Vou logo avisando que Nick e eu, temos mania de bolar planos mirabolantes para acabar com os engraçadinhos que tentam se dar bem com as nossas amigas... – Jaque, sorriu.

Eu estava sem palavras com a atitude dessas meninas, Nicole, sentou ao meu lado, beijou o meu rosto e sorriu.

- O lugar de mascote da Isa, agora é seu... – Emi, falou.

- Preparada para as pessoas mais doidas que já conheceu? – Becca, perguntou brincalhona.

- Garanto que a Becca, não está exagerando, Jaque. – Cássia, sorriu.

- Nem um pouco... – Amanda, completou.

- Vocês são incríveis, meninas... – ela olhou para todas. – Agora sei porque a Isa e a família dela morrem de amores por vocês...

As meninas sorriram, pareceram ficar sem graça com o elogio, começaram a bombardear a Jaque, com perguntas. Nick, virou o rosto para mim, compartilhamos um sorriso, eu não controlava a voz que há dias, me mandava beija-la.

Engraçado, minha vida deu um giro de 360 graus, eu jamais imaginei que um dia tudo isso que está acontecendo agora, iria ocorrer. Se me dissessem que eu iria ficar atraída por uma mulher e acabar gostando da irmã dela, eu certamente diria que a pessoa tinha a mente fértil demais. Nunca fui ligada a preconceitos bobos, só nunca achei que de fato, algum dia, iria ocorrer de uma garota me deixar assim.

- Podemos terminar aquela conversa depois? – sorrindo desse jeito, eu iria ao Japão, se ela pedisse.

- Contarei os segundos... – ela sorriu mais ainda, quase obedeci aquela vozinha.

Eu não sabia qual seria o nosso futuro, mas também ele já não me assustava tanto, queria e iria viver o que eu estava sentindo, suas palavras de mais cedo não saiam um segundo da minha cabeça. Olha como a vida é... Surpreendente, louca e muito espertinha, mas eu estava amando cada segundo disso.

 

 

 

Fim do capítulo