Não queria deixar a Flávia sozinha, mas eu precisei sair para resolver algumas coisas, fiz tudo rápido para poder voltar ao hospital. Amanhã, ela terá alta e os pais dela estão preparando uma festa para recebe-la. Acabei de estacionar, estava andando às pressas para dentro do hospital, só senti um corpo se chocando ao meu, olhei para frente atordoada, querendo me desculpar, mas paralisei quando reconheci a pessoa a minha frente.

 

- Oi, Amanda... – ela estava mais velha, mas não menos bonita. Seus olhos não pareciam surpresos.

 

- Fernanda... – foi só o que consegui dizer.

 

- Quanto tempo... – ela me analisou. – Está ainda mais linda...

 

- Obrigada... – engraçado como aquele elogio não mexeu comigo. – O que faz aqui?

 

- Vim visitar uma tia que está internada... – seus olhos não paravam de me analisar. – Veio ver a menina que foi baleada? – franzi o cenho e ela entendeu a minha pergunta muda. – Eu, vi o vídeo...

 

- Claro... – fiquei desconfortável. – Veio para ficar?

 

- Ah, sim... – ela limpou a garganta. – Vamos ser colegas de trabalho.

 

Imediatamente lembrei da conversa que tive com o reitor na sexta, então ela seria a nova professora.

 

- Vai pegar a turma da Flávia... – só imaginava o problema que isso poderia causar. – Preciso ir...

 

- Calma... – Fernanda, segurou o meu braço com delicadeza. – Queria conversar, será que podemos?

 

- Na faculdade, Fernanda... – retirei a mão dela do meu braço. – Eu tenho mesmo que ir... Foi bom te ver de novo.

 

- Tudo bem... – ela pareceu decepcionada. – Amanhã falo com você...

 

Forcei um sorriso e dei continuidade a minha ida para o quarto da Flávia, queria saber como ela iria reagir ao saber que a Fernanda, seria a sua nova professora. Abri a porta do quarto, ele estava cheio. Paralisei ao olhar para a Flávia, e ver o seu rosto todo sujo de batom, olhei ao redor, Emi e Becca, me lançaram um sorriso amarelo. Nick, parecia emburrada, Cássia e Paloma, de cabeça baixa. Juliane, Camila e Samantha, mexiam em seus celulares, Isa estava em pé e ao lado dela, uma menina de cabelos e olhos castanhos muito claros.

 

- Primeiro, por que a Flávia está com a cara pintada? – elas prendiam o riso.

 

- Olha... – Emi, me entregou o celular, deu play em um vídeo. – Isso aconteceu...

 

Não estava entendendo nada, passei a dar atenção ao vídeo e o primeiro sentimento foi de dó da minha menina, sendo maquiada pela doida da tia. Depois um breve diálogo entre as meninas e o que veio a seguir me deixou muito envergonhada. Olhei para a Flávia, ela me olhava pedindo desculpa sem precisar dizer nada.

 

- Meu Deus, vocês são terríveis... – olhei novamente para a moça.

 

- Essa é a Jaqueline, Amanda... – Isa, apresentou e a menina sorriu.

 

- Prazer, Jaqueline... – sorri para ela. – Bem-vinda ao time...

 

- Obrigada, Amanda... – ela ficou sem jeito.

 

- Deixa eu limpar isso... – entrei no banheiro, peguei o rolo de papel higiênico e sentei ao lado da minha namorada.

 

- Obrigada, amor... – lhe beijei de leve os lábios.

 

- O que está acontecendo aqui? – perguntei baixinho, olhei para as meninas que conversavam e Cássia, Paloma e Isa, tentavam deixar a Jaqueline mais à vontade, Juliane,  olhava sem a menor vergonha para a menina. Samantha, Camila, Emi, Becca e Nick, falavam de viagens e como era os Estados Unidos.

 

- Aquela menina... – ela olhou discretamente para a Jaqueline. – É irmã do Paulo Henrique... – minha surpresa foi imediata. – E não é só isso...

 

- Tem mais? – Flávia, sorriu e fez que sim com a cabeça.

 

- Ela é apaixonada pela Isa... – sorri, enquanto limpava o rosto dela. – A minha irmã... – olhou para a Nick. – Está se corroendo de ciúmes... – rimos baixinho.

 

- Ainda vai dá casamento... – brinquei e Flávia, sorriu.

 

- Ela, vai saber lidar com isso... – olhou com carinho para a irmã. – Sempre foi muito madura, mas precisa se arriscar um pouco mais... – ela olhou para mim. – Quando encontramos alguém que nós faz sentir que somos capazes de tudo... – ela me deu um leve beijo no rosto. – Vale a pena cada loucura.

 

O meu sorriso foi enorme, fiz um carinho em seu rosto, ela fechou os olhos para senti-lo, beijei a ponta de seu nariz e ela deu uma baixa risada. Imediatamente, lembrei do encontro que tive ainda há pouco e decidi contar.

 

- Amor... – ela abriu os olhos. – Preciso te contar umas coisas. – eu falava o mais baixo possível, somente para ela escutar.

 

- É grave? – o rosto dela ganhou um ar de preocupação.

 

- Depende do seu ponto de vista...

 

- Agora me deu medo... – ela umedeceu os lábios. – Mas, quero saber.

 

- Eu... – respirei fundo. – Encontrei a Fernanda, quando cheguei ao hospital... – de repente o rosto dela ficou sem expressão nem uma.

 

- Que legal... – ela soltou uma rajada de ar pela boca. – E o que mais?

 

- Sexta-feira, eu fui chamada na sala do reitor... Ele me questionou sobre qual relação nós duas tínhamos... – ela franziu o cenho. – Eu disse que agora estávamos em um relacionamento... – ela sorriu convencida. – Ele disse que adorava o meu trabalho, mas que eu não poderia mais dá aula para a sua turma...

 

- Mas, que filho da pu...

 

- Flávia... – ela torceu o beiço, eu quase a mordi com tanta fofura. – Então, ele chamou uma nova professora...

 

- Ah, não... – seu rosto ganhou uma expressão chateada. – Não me diz que a tua ex, vai ser a nova xerife?

 

- Ela, disse que sim... – Flávia, ficou carrancuda.

 

- Que ótimo... – revirou os olhos. – Ela não deu em cima de você, não é? Por que se deu... Ah, Amanda... Eu arranco os dentes dessa mulher... – não consegui conter o sorriso.

 

- Ciúmes? – ergui as sobrancelhas.

 

- Claro que não... – ela empinou o nariz. – É apenas cuidado... Ah, que se dane... É ciúmes sim...

 

- Oh, meu amor... – espalhei beijos em todo seu rosto. – Linda, minha menina...

 

- Nem vem me agradar... – ela tentou, mas no fim não conseguiu ficar com a carranca.

 

- Você sabe que só quero você... – falei em seu ouvido. – Só amo você... Só desejo você... – disse com a voz extremamente rouca. Vi os pêlos dos seus braços ficarem eriçados.

 

- Golpe baixo... – ela sussurrou e eu sorri vitoriosa.

 

- Ok, casal... – ouvimos a voz da Nick. – Já chega disso... Se controlem...

 

- Vocês são um bando de empata foda... – Flávia, revirou os olhos. – Até em meus sonhos não tenho o direito de namorar em paz...

 

As meninas começaram a rir.

 

- Vamos jogar alguma coisa? – Cássia, sugeriu.

 

- O que? – Nicole, evitava olhar para Isa e Jaqueline. Era muito engraçado ver a Nick, assim.

 

- Verdade ou desafio. – as meninas soltaram um som.

 

- Que clichê... – Juliane, falou. – Mas, eu topo...

 

- Quem mais?

 

Todas concordaram, então passaram a se acomodar pelo quarto, Isa, fez um gesto para Nick, a mesma imediatamente sentou ao seu lado. As meninas ficaram com sorrisinho de lado, Jaqueline, apenas sorriu ao ver a cena.

 

- Tenho uma garrafa aqui... – Isa, abriu a mochila e retirou o objeto.

 

- Quem gira primeiro? – Juliane, quis saber.

 

- Eu! – Cássia, pegou a garrafa e girou, parando em Samantha e Camila. – Camila, você pergunta para a americana... – rimos.

 

- Verdade ou desafio, Sam...

 

- True... – Samantha, sorriu.

 

- É verdade que você está caidinha pela Isa, namorada da Nick? – todo mundo olhou pra Samantha, que ficou vermelha, olhamos para Isa, que ficou um pimentão e depois para a Nick, que tinha um pequeno sorriso no rosto, mas o escondeu abaixando a cabeça.

 

- Eu... bom... – ela limpou a garganta.

 

- Não enrola... – Emi, mandou.

 

- Sim... – gargalhamos deixando Sam e Isa, muito constrangidas. Jaqueline, apenas sorria, na certa deve está pensando que somos um bando de doidas.

 

- Olha, Nick... – Flávia, olhou para a irmã que levantou a cabeça. – Mais concorrência... – Nick, balançou a cabeça negativamente e sorriu.

 

- Eu giro! – Camila girou a garrafa que parou em Flávia e Juliane. – Tia, você pergunta para a Flávia...

 

- Beleza... – Juliane, sorriu maliciosamente. – Verdade ou desafio, gata?

 

- Verdade... -  Flávia, apertou a minha mão.

 

- Sua loira é boa de cama, verdade? – Flávia, me olhou indignada com a pergunta da tia. Eu permaneci quieta, era melhor.

 

- Responde, mulher... – Camila, parecia ansiosa.

 

- Tenho mesmo que responder isso?? – ela olhou para todas que fizeram ‘sim’ com a cabeça. – Jaqueline, mal chegou e já foi contaminada por essas daí... – a menina riu do comentário da minha namorada. – Ok... Ela é fantástica, e nem cresce os olhos para cima da minha mulher, tia, pois eu grudo com super cola a sua perseguida...

 

As meninas caíram na gargalhada, beije os lábios da Flávia, de leve e ela me deu o melhor presente de todos, um lindo sorriso.

 

- Eu giro... – Juliane não perdeu tempo. A garrafa parou em Nick e Cássia, essa última engoliu em seco. – Nick, você pergunta para a dotosa... – Paloma, olhou de forma ameaçadora para a tia.

 

- Perfeito... – Nicole, tinha um sorriso satisfeito no rosto, Cássia, engoliu em seco. Emi, olhou para a Paloma, pareciam até conversar telepaticamente. – Verdade ou desafio?

 

- Verdade... – Cássia, piscou várias vezes, Paloma, cochichou algo em seu ouvido, fazendo os olhos de Cássia se arregalarem. – Desafio, desafio...

 

- A primeira é que conta, querida cunhada... – o olhar de Nick, era perturbador.

 

- Mas...

 

- Regras são regras... – Samantha, decretou.

 

- Merda... – Cássia, fez um rabo de cavalo nos fios castanhos. – Pode mandar...

 

- Então, querida cunhada... – ela torturava a menina. Flávia, sabia o que estaria por vim e quase me deixou nua, de tanto que puxava a minha blusa. – É verdade que a senhorita que enfiar esses seus dedinhos aonde não deve?

 

As que estavam por fora da situação, abriram a boca em espanto, Cássia, ficou pálida, Emi, bateu a mão na testa. Tive vontade de rir, mas por amor à minha vida, apenas fiquei observando.

 

- Você ainda não fez gol, Cássia? – Juliane, pós as mãos na cintura e olhava para a Cássia, como se aquilo fosse o maior absurdo de todos. – Esperava mais de você, dotosa...

 

- Me enterrem, por favor... – Cássia, escondeu o rosto no pescoço da Paloma.

 

- Acho que a brincadeira acabou... – decretei, pois Nick, iria levantar. Ouvimos uma batida na porta e olhamos para ela.

 

- Desculpem... Boa tarde, meninas... – só quem não sabia de quem se tratava, respondeu. - Nick, posso conversar com você? – Júlio, estava um pouco barbudo e tinha muita tristeza nos olhos.

 

- Como se atreve a voltar aqui, seu babaca... – Flávia, levantou e eu nem tive tempo de segura-la. – Não é bem-vindo aqui, vaza...

 

- Voltou para levar mais um soco no nariz? – Paloma, também levantou. Júlio, se desesperou.

 

- Eu só queria pedir perdão, Nicole... – os olhos dele se encheram de lágrimas. Isa, apenas abaixou a cabeça, Nicole, permanecia imóvel.

 

- Não ouviu, vaza! – Emi, tentou levantar, mas foi impedida por Rebecca.

 

- Eu só preciso de alguns minutos, por favor... – ele deu um passo à frente, mas parou quando Flávia e Paloma, também fizeram o mesmo. – Nicole, eu tirei conclusões precipitadas, pelo amor de Deus, me olha...

 

Nicole, tinha os olhos marejados quando esses pararam de fitar o chão e encararam os de Júlio. Isa, apenas brincava com os próprios dedos, quando foi surpreendida com a mão de Nick, que entrelaçou os seus dedos nos dela. Ela levantou e encarou a dona daquela atitude com muita confusão na face.

 

- Você disse o que realmente achava, Júlio... – Nick, desviou seus olhos de Isa, e encarou o ex-namorado. – Ofendeu as minhas irmãs, ofendeu as minhas amigas... – ela olhou para cada uma, parando em Júlio, novamente. – Me acusou de algo que não era verdade...

 

- Nick...

 

- Cala a boca e deixa eu terminar... – ela respirou fundo. – Doeu muito, muito mesmo... Mas... – limpou uma lágrima que passeava por seu rosto. – Mas, você me deu a oportunidade de perceber que, não é com você que eu quero compartilhar os pequenos momentos da minha vida...

 

- Amor, não...

 

- NÃO ME CHAMA DE AMOR! – Isa, passou a mão por seu braço, atraindo a sua atenção. Elas se olharam por breves segundos. – Obrigada, Júlio...

 

- Pelo que? Nicole... – ele estava desesperado. – Nick...

 

- Me deu a oportunidade de conhecer alguém que de fato, me faz sentir o que você não chegou nem perto... – ela sorriu.

 

- O que.... Do que...

 

Nicole, soltou a mão da Isabela, ficou de frente para a menina e por alguns segundos se olharam. Nick, segurou o rosto de Isa, com uma mão e com a outra fez um carinho singelo, respirou fundo e o que ninguém esperava, aconteceu. Ela fechou os olhos e cobriu os lábios de Isa, em um selinho. Júlio, ficou atordoado, tentou dá alguns passos, mas foi impedido por minha namorada e a irmã. Aos poucos, o selinho foi desfeito, ouvimos alguns assovios e foi nesse momento que derrotado, Júlio, deixou o quarto.

 

- O que foi isso? – Emi, estava abobada.

 

- Bem-vinda ao brejo, mana... – Nicole, foi abraçada por Paloma, Isa... Virou lagosta.

 

- Desculpe, Isa... – Nicole, estava muito sem graça.

 

- Não tem problema... – Isabela, sorriu com timidez.

 

- Mandou bem, sobrinha linda... – Juliane, pós um braço sobre o ombro de Isa, e o outro no da Nick. – Virei tua fã...

 

- Perdeu, gringa! – Flávia, debochou da prima, que apenas entortou o beiço.

 

- Isso está muito injusto... – Juliane, retirou os braços dos ombros das meninas e colocou em Jaqueline, que ficou muito vermelha.  – Samantha, tu pega a Cami e eu me entendo com essa menina linda aqui... – ela olhou com malicia para a Jaque.

 

- Nada disso, Juliane... – puxei a menina para o meu lado. – Tira essas ideias nada inocentes da cabeça...

 

- Obrigada... – ela disse baixinho.

 

- Nada... – sorri para ela.

 

- Tia, sinto te decepcionar, mas eu não curto a fruta de vocês... – Camila, se jogou na poltrona. – Mas, devo admitir que estou gostando muito de ficar na companhia de vocês... Cara, vocês são piradas...

 

- Estraga prazer... – ela de repente sorriu. – Vamos brincar de stripp poker?

 

- TIA! NÃO! – as meninas disseram juntas.

 

- Ok... Credo... – ela sossegou.

 

Ouvimos o toque de um celular, Jaqueline, imediatamente atendeu.

 

- Oi... Sim, é ela... – vimos a sua face ficar assustada e logo os seus olhos ficaram inundados. – Ok... Eu... Eu vou...

 

- Jaque, o que aconteceu? – Isabela, se aproximou da menina que se apoiou em mim. Eu segurei sua mão, que estava muito gelada.

 

- Meu avô...  Isa... – ela abraçou a menina, que chorava baixinho.

 

- Vou buscar um copo com água... – Cássia, saiu correndo.

 

- O que aconteceu? – Isabela, ficou muito preocupada.

 

- Ele... Morreu... Ele... – ela respirava forte. – Eu preciso ir... Eu.

 

- Calma... – Cássia chegou com a água, as mãos dela tremiam. – Aonde você precisa ir?

 

- Até a casa do doutor Fernandes...  Ele quer que eu vá... – enxuguei o rosto molhado da menina. – Preciso ir...

 

- Eu posso te levar, se quiser... – Nicole se ofereceu, recebendo um sorriso triste da Jaqueline.

 

- Eu aceito... Vem conosco, Isa? -  ela controlava a respiração.

 

- Claro... Vamos...

 

- Meninas, foi um prazer... – ela sorriu fraco. – Espero que nos reencontremos mais vezes...

 

- E vamos... – Juliane, falou.

 

Paloma foi até o ouvido da menina, que depois sorriu e confirmou com a cabeça, dissemos algumas palavras de incentivo e elas se foram, nos deixando um pouco triste com a situação, afinal, perder alguém nunca é fácil. Ficamos ali, conversando sobre o assunto, parece que Jaque, mesmo sem dizer muita coisa, conquistou a simpatia das meninas e a minha, claro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fim do capítulo