Olhava as luzes que refletiam da piscina em quase todo o quintal de casa, da sacada do meu quarto eu tinha aquela visão. Uma da madrugada, depois do dia de hoje, eu só queria descansar a minha mente. Uma lágrima solitária escorria por minha face e um aperto estranho se instalava em meu peito, eu queria muito conversar com alguém, mas naquele horário, era provável que não havia ninguém acordado.

 

Depois de tanto esforço para tentar entender o que estava acontecendo, simplesmente desisti, ao menos por hoje. Resolvi descer, peguei uma toalha e um pequeno aparelho de som que havia pegado do quarto da Paloma, encaixei um pen driver, descia as escadas da casa que estava parcialmente escura entediante. Cheguei à piscina, o vento forte beijou o meu corpo, mas isso não me tirou a vontade, liguei o aparelho, coloquei em cima de uma mesa de plástico branca, joguei a toalha junto com a minha roupa sobre a espreguiçadeira, uma música começou a tocar. Me joguei na água, fiquei indo de uma borda a outra, o ar pediu passagem, então parei no meio da piscina e fiquei boiando, braços e pernas abertas, só o céu e eu naquele momento. Uma nova canção iniciou, aquele com certeza era o pen drive da Paloma, nunca sabia qual era o meu, prestei atenção na letra e vi que ela era um pouco antiga.

 

- Avril Lavigne... – sussurrei e passei a acompanhar a música.

 

It's a damn cold night

 

Trying to figure out this life

 

Won't you take me by the hand

 

Take me somewhere new?

 

I don't know who you are

 

But I, I'm with you

 

I'm with you

 

 

 

I'm looking for a place

 

I'm searching for a face

 

Is anybody here

 

I know

 

Cause nothing is going right

 

And everything's a mess

 

And no one likes to be alone

 

 

 

Isn't anyone trying to find me?

 

Won't somebody come take me home?

 

 

 

It's a damn cold night

 

Trying to figure out this life

 

Won't you take me by the hand

 

Take me somewhere new?

 

I don't know who you are

 

But I, I'm with you

 

I'm with you, yeah yeah yeah

 

Oh

 

 

 

Why is everything so confusing?

 

Maybe I'm just out of my mind

 

Yeah, yeah, yeah

 

Yeah, yeah

 

Yeah, yeah

 

Yeah, yeah

 

Yeaahh

 

 

 

It's a damn cold night

 

Trying to figure out this life

 

Won't you take me by the hand

 

Take me somewhere new?

 

I don't know who you are

 

But I, I'm with you

 

I'm with you

 

 

 

Take me by the hand

 

Take me somewhere new?

 

I don't know who you are

 

But I, I'm with you

 

I'm with you

 

 

 

Take me by the hand

 

Take me somewhere new?

 

I don't know who you are

 

But I, I'm with you

 

I'm with you, I'm with you

 

E uma nova música iniciou, fechei meus olhos e passei muito tempo ali, estava decidida a conversar sobre as minhas dúvidas, amanhã iria atrás da Emi e Becca, elas saberiam o que fazer para me ajudar a tomar alguma atitude, pois do contrário, eu iria pirar.

 

Começei a lembrar dos últimos três dias, estava rindo só, quem me visse ali, na certa me acharia uma louca. Lembrei das palavras da minha mãe no dia anterior, da sensação esquisita que senti ao ouvi-la dizer aquela mentira que não me incomodou de forma negativa.

 

- O que está acontecendo? – lembrei dos meus primos dando em cima da Isabela. – Por quê eu me senti tão furiosa? Da onde saiu isso tudo? – suspirei.

 

Então a pessoa que eu menos queria lembrar, voltou a minha cabeça, Júlio... O que passamos, de bom e de muito, mas muito ruim... Aquele dia em que eu o conheci verdadeiramente.

 

Decidi sair da piscina, o vento forte arrepiou os pêlos do meu corpo, me enrolei na toalha, desliguei aquele aparelho que em nada ajudou. Andei sem nem uma pressa para dentro de casa, aquele silêncio todo estava me deixando muito para baixo.

 

- Que falta eles fazem... – suspirei. Entrei em meu quarto, deixei o aparelho de som sobre  a pequena poltrona e decidi tomar banho.

 

Uns minutos depois, eu me encontrava deitada em minha cama, observando o teto, o celular vibrou sobre o criado mudo, peguei e lá estava, uma mensagem da Flávia. Desbloqueei o celular em curiosidade.

 

- O que essa louca está fazendo acordada? São três da manhã... – abri.

 

“Sei que há algo te incomodando e também sei que tem haver com Isabela, então não adianta negar... Estou preocupada com você, mana”.

 

- Essa garota é inacreditavel... – sorri. Começei a escrever, mas apaguei várias vezes, até que finalmente conclui.

 

“Estou confusa... Medo do que estou sentindo... Medo de me magoar ou magoar ela... Sei lá, Flávia... Não sei o que devo fazer... Amanhã, vou tentar conversar com a Emi...”

 

Enviei, me sentei e fiquei esperando ela, senti o coração acelerado.

 

“É normal se sentir confusa, principalmente para alguém que nunca sentiu o que você está sentindo agora... Vai com calma, deixe o tempo levar ou fortalecer o que estais sentindo, Nicole. Assim, você poderá tomar decisões que não te fará ficar em maus lençois, observe as coisas, para então agir”.

 

“Eu vou fazer isso... Você não existe, Flávia. Desde quando ficou tão inteligente?”.

 

Podia até vê-la revirando os olhos.

“Idiota... Estou preocupada com o que vi nos olhos da Isa, mana... Estou preocupada com o fato de você esta acordada a essa hora da madrugada, vocês duas se olham de uma forma que, qualquer um percebe. Eu não suporto a ideia de que você esteja de alguma forma triste e se você fizer alguma graçinha por eu estar te escrevendo isso, acabo com a tua raça”.

 

“Eu tenho a Isa, para quebrar o teu nariz. Muitas duvidas rondam a minha cabeça, parece que vou ter um black out, eu não sei, tudo tão inesperado, estranho, intenso. Acha que ela sente algo? Ai, eu não quero elaborar hipoteses. Vou tentar dormir, mas obrigada, Flávia, eu precisava disso, se não iria explodir”.

 

“Estarei aqui, se precisar... Não esqueça disso. Ela esta tão na sua... Bem-vinda ao brejo”.

 

“ps... A Isa, me ama... Jamais tocaria o dedo em mim”.

 

- Idiota... – não pude deixar de rir

 

Coloquei o celular no silencioso e voltei a deitar, me pus de bruços e não demorou e finalmente consegui dormir.

 

Já estava em pé desde as sete da manhã, poucas horas de sono, mas mesmo assim decidi levantar e fazer algo naquela manhã de domingo. Preparei o café da manhã para Paloma e eu, nada de extraordinario, mas ainda sim dava até um certo orgulho.

 

- Nossa, que cheiro gostoso. – Paloma, entrou na cozinha toda arrumada. – Bom dia... – ela beijou o meu rosto.

 

- Bom dia... – sentamos. – Vai para a casa da Cássia?

 

- Sim, de lá vamos ao hospital... – ela enfiou um pão de queijo na boca. – Papai, mandou você avisar... As... Meninas que amanhã... – ela pausou. – Vamos dá uma festa de boas vindas a mana...

 

- Deveria ao menos terminar de engolir, sua nojenta. – ela riu e pós outro pão de queijo na boca. – Vou avisar, daqui a pouco estou indo na casa da Emi...

 

- Ontem foi demais... – ela estava com uma expressão divertida.

 

- Becca, me surpreendeu totalmente... – falei orgulhosa.

 

- Emi, ficou toda boba... – ela olhou para mim. – Falando em boba...

 

- Tá me olhando por quê? – levantei a minha sobrancelha.

 

- O que foi aquilo com Isa, mana? – quase engasguei. – Nossa... Pior do que pensei... – ela prendia o riso. – Ficou um pimentão...

 

- Cala a boca... – tomei o suco para que o pão descesse. - Eu... Não sei o que deu em mim...

 

- Ah, mas eu sei... – ela sorriu. – Você está sentindo algo por ela, Nicole... – suspirei.

 

- Não sei o que dizer... – ela segurou a minha mão.

 

- Não precisa... – observei o rosto sereno, sem nem um traço de deboche. – Deixa as coisas fluirem... É novo para você, então só deixa fluir...

 

- Você e a Flávia, tomaram algo especial para ficar inteligente e madura? – ela começou a rir e eu também.

 

- A gente tenta... – ela me deu uma piscadela. – Se eu fosse você... Não deixava passar...

 

- Do que está falando, pirralha? – não entendi.

 

- A Isabela, é uma gata... – ela deu um sorriso de canto. – Deve ter... Ah, muita gente caidinha por aqueles olhos verdes...

 

Eu sabia que ela estava fazendo aquilo para me aborrecer, mas imaginar o que ela me disse, fazia um sentimento estranho apertar o peito.

 

- Você tem razão... – parei para analisar. – Mas, ai...

 

- Vou ficar na minha... – ela prensou um lábio no outro. – Nicole, como foi a tua primeira vez? – já não gostei da conversa.

 

- Por que quer saber? – ela ficou vermelha.

 

- Fala logo... – ela passou a olhar para o copo de suco.

 

- Foi... – lembrei do momento, não foi uma boa lembrança. – Doloroso...

 

- Só? – ela fez um gesto com a mão. – Quero detalhes...

 

- Tá... – respirei. – Eu não estava preparada, mas sentia vontade... Não, não fala nada... – ela colocou a mão sobre a boca. – Ele foi carinhoso no inicio, se preocupou se eu estava sentindo dor e tudo mais... Mas...

 

- Mas, o que? – ela ficou assustada.

 

- Mas, ele gozou e depois ficou com cara de babaca... – Paloma, começou a rir e eu acabei acompanhando.

 

- E você? – ela enxugava os olhos molhados.

 

- Eu? Pisquei e acabou... – voltamos a gargalhar.

 

- Espero que comigo, seja diferente... – parei de rir na hora, a pirralha se deu conta do que disse e levantou. – Preciso ir...

 

- Que história é essa, Paloma? – ela saiu correndo, me deixando com a puga atrás da orelha. – Vou tirar essa história a limpo e sei bem com quem...

 

Arrumei a bagunça deixada, troquei de roupa e logo já estava saindo do condominio, o apartamento da Emi, ficava perto de casa. Dei a volta na rotatoria e entrei no prédio sem precisar ser anunciada. A pessoa que refletia no espelho do elevador me assustou um pouco, nervosa, ansiosa... E outra coisa que não ousei concluir.

 

- Preciso de você... – Emi, abriu um sorrisão e me abraçou.

 

- Quer comer? – ela perguntou enquanto nos encaminhavamos para a cozinha.

 

- Não, já comi... – sentei um banco alto da bancada de marmore. – Cadê a Becca?

 

- Dormindo... – ela preparava o café da manhã. – Adorei o que você disse ontem...

 

- Só disse a verdade. – sorri para ela. – Becca, é nossa amiga... Fariamos qualquer coisa por ela...

 

- Eu sei que sim... – Emi, contava algumas maças. – Está totalmente perdida, não é? – ela me encarou.

 

- Sim, como disse para a Flávia, sinto medo dessa avalanche de coisas novas... – respirei fundo.

 

- E o que exatamente está sentindo, Nick... – ela parou o que estava fazendo, puxou o banco ao meu lado e sentou, seus olhos me analisavam.

 

- Eu... Me sinto estranhamente a vontade perto dela... – passei minha mão sobre a testa. – Eu não consigo controlar a vontade de protege-la... – analisei as minhas mãos suadas. – Ela tem algo... Algo que me desconcerta, Emily... Por que isso? Eu nunca nem imaginei... Eu senti ciúmes, Emi... Ciúmes, tem noção disso?

 

- Tenho noção que você está apavorada e certamente não se tocou ou até já, que está apaixonada por nossa mascote... – baixei a cabeça e passei a mão nos cabelos.

 

- Mas, assim? Até um tempo atrás, torcia para ela se acertar com a Flávia, é informação demais para a minha cabeça... Até há uma semana atrás, estava fazendo planos com o babaca do Júlio e agora estou toda enrolada...

 

- Calma, Nicole... – ela segurou as minhas mãos. – Entendo que esteja confusa, que possa está com medo desse turbilhão de coisas que estão surgindo, mas entenda, não há lugar, não há rapido demais, lento demais, dias, horas... Quando acontece, acontece e você precisa encara-lo de frente... Viver e não pensar no que pode ou não ocorrer depois...

 

- O depois me assusta, Emi... E se eu magoar ela? Ou me magoar... E se não for nada disso? – meus olhos não suportaram tanta confusão.

 

- E se? E se? Nicole? Acorda! – ela balançou os meus ombros. – Vocês se olham com tanta adimiração, os olhos dela brilham quando estão perto uma da outra... Não tem possibilidade de não ser algo, Nick... Não precisa pedi-la em namoro, mas viva o momento.

 

- Como faço isso? –  fiquei lerda com tanta coisa.

 

- Quer que eu te ensine a dá em cima de alguém, Nick? – ela sorriu.

 

- Não é só alguém... – ela sorriu mais ainda. – É a Isa...

 

- Viu só? – ela tinha um sorriso convencido. – Agora só falta você começar a agir...

 

- Vou precisar de alguma dica... – Emi, começou a rir. – Eu estou falando sério, sua ridicula...

 

- Você não precisa fazer muita coisa, Nick... – olhei para a porta. Becca, estava encostada, com os braços cruzados sobre o busto. Emi, fez cara de retardada. – Isa, está mais que na sua...

 

- Bom dia, amor... – ela levantou e deu um beijo digno de um oscar. – É assim que se faz... – ela piscou para mim.

 

- Convencida... – revirei os olhos.

 

Começamos a conversar sobre outros assuntos, decidimos ir juntas para o hospital, para visitar a mana. Falei a elas sobre a festa, elas se animaram, lembrei do assunto de hoje pela manhã e decidi tentar fazer com que a Emi, que com certeza sabia de alguma coisa, soltasse algo.

 

- Sabe, hoje a Paloma, me perguntou algo que me deixou um tanto curiosa... – elas me olharam.

 

- O que? – ela soltou o pedaço de mamão.

 

- Sobre a minha primeira vez... – Emi, enfiou a colher no mamão e depois pós na boca.

 

- Hum... – vi que o mamão desceu quadrado.

 

- Hum... O que? – Becca, passou a olhar para a namorada.

 

- Não sei de nada... – ela levantou. – Nem me olha desse jeito...

 

Emily, saiu da cozinha, Becca me encarou.

 

- Ela está metida nessa... – falou sorrindo.

 

- Ah, mas não tenho a menor duvida...

 

Estavamos entrando no hospital, encontramos meus pais que avisaram sobre as visitas ilustres da minha tia e primas, não fui buscar a Isa, hoje pois a Cássia, mandou mensagem que iria busca-la, acho que foi melhor. Espero não ficar com cara de retardada na frente dela, já fiz isso demais por esses dias. Estavamos perto da porta do quarto da Flávia, quando ouvimos risos abafados. Emi, tratou logo de segurar a mão da Becca, é... Minha tia causa esse efeito nas pessoas. As meninas e eu nos olhamos, abrimos a porta e ficamos chocadas com a cena.

 

- O que estão fazendo? – perguntei baixinho.

 

Tia Juliane, estava pintando o rosto da Flávia, com batom, enquanto a prima gringa gravava no celular e a Camila, estava com cara de paisagem. A Flávia? Tadinha da minha irmã, dormia profundamente.

 

- Ela vai te matar, sua pirada... – Emi, tentava ficar séria.

 

- Vai nada... - ela deu de ombros.

 

- Isso, Amanda... – todas olhamos para quem disse aquilo. – Minha... Delícia... – botamos a mão na boca para não rir.

 

- A safada está dando uma no sonho... Está gravando isso, Samantha? – Juliane, se divertia. Minha prima só confirmou com um acenar de cabeça. – Me faz goz*r, Flávia...

 

- Eu faço, amor... – minha irmã tarada não fazia ideia do mico que estava pagando. Estava dificil sufocar a risada.

 

- Então vem, gostosa... Me come... – essa minha tia não vale um centavo. Emi, se aproveitou da oportunidade e entrou na brincadeira.

 

- Vamos, Flávia... Estou molhadinha só pra você... – não existe gente normal nesse quarto.

 

- Aaaah, Amanda... Sua gosto... Gostosa... – Flávia, mesmo dormindo, estava com uma cara de safada.

 

- ACORDA, FLÁVIA! – dei um grito que não duvido que todo o hospital ouviu.

 

- Não estavamos fazendo nada, mãe... – ela se sentou, totalmente perdida.

 

- O que foi isso?? – ouvi a voz da Cássia, bem atrás de mim.

 

- Está tudo bem?

 

A voz mansa da Isa, invadiu o ambiente, engoli em seco, me virei e lá estavam aqueles olhos verdes que entravam em nosso ser sem o menor esforço. Ela me fitou, respirei fundo discretamente, um lindo sorriso se formou no rosto dela e o meu logo ganhou um igualmente grande. Ouvi alguns risos presos, mas não dei a mínima, aquele olhar me prendeu e desejei ficar nele.

 

“Precisa ser linda e fofa desse jeito?”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fim do capítulo