Capítulo 5 - Água mole em pedra dura...
-- Não importa para onde fui, não devo satisfações dos meus atos a ninguém. – Isabela sentiu um balde de água fria ser jogado sobre ela, mas não desistiu.
-- Claro que importa. – Permanecia com o olhar firme e fixo sobre ela. – Ontem você disse que poderíamos ser amigas.
-- Ser minha amiga e não minha dona.
-- Não quero ser sua dona... – Olhou-a firme nos olhos – Olha, para uma amizade dar certo é preciso confiança, e só estou perguntando onde foi ontem à noite.
-- Isso não é confiança. – Começava a fraquejar diante da força daqueles olhos verdes e decidiu que deveria ser mais firme.
-- Por que não me responde para onde foi? Tão simples, não acha?
-- Não. – Foi rápida na resposta.
-- Então não somos amigas. – A morena começava irritar-se com si mesma por não colocar limites no interrogatório, temia a força daqueles olhos verdes.
-- Claro que somos.
-- E por que não confia em mim?
-- Isso não é uma questão de confiança.
-- De quê, então? – Manuela começava a sentir sua cabeça doer.
-- Privacidade.
-- Acha que sou uma psicopata fofoqueira que tem por objetivo saber sobre sua vida?
-- Não disse isso...
-- Então fala para onde foi. – Manuela não tinha tempo para pensar diante da insistência da loira.
-- Não.
-- Por que não?
-- Porque não, oras!
-- Porque não, não é resposta Manuela. Não quer me dizer para não me levar.
-- É resposta sim e agora chega. Estou ficando tonta com tanta insistência. – Isabela bebeu um pouco do leite e voltou a observá-la. Manuela fez o mesmo, mas estava olhando o rio – Eu nunca te levaria a um lugar destes. – Resmungou.
-- Por quê? O que tem este lugar?
-- Nada.
-- Então me leva.
-- Capaz, guria! Não insiste. – A loira resolveu jogar:
-- Acho que tu tens ciúmes ou não quer que eu saiba por onde anda?
-- Como posso ter ciúmes se não temos nada?
-- Não temos por que não tu não queres. – Manuela bufou e se afastou indo em direção à casa grande. Isabela ficou observando-a de longe. Ela terminou seu leite e agradeceu aos peões, fazendo o caminho inverso ao que tinha feito pouco antes.
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Manuela entrou pela cozinha com uma expressão fechada e resmungando.
-- Mas que bicho te mordeu, guria?
-- Um bicho loiro de olhos verdes que anda zumbindo em meu ouvido. – Sentou-se à mesa esperando que a velha senhora a servisse.
-- Essa menina foi enfeitiçada pelo doce que emana desses olhos azuis, e agora quer ficar com eles a todo custo.
-- Dalva, eu não posso ficar com uma pessoa sabendo que não a farei feliz, ainda mais se ela for a neta do meu padrinho.
-- Como tu sabes que não serão felizes? Viraste uma cigana premonitória agora?
-- Não brinca com isto. – Disse negando com a cabeça.
-- Estás com cara de quem passou a noite na farra, lá naquele antro. – Isabela entrou na cozinha e escutou a conversa, mas, nenhuma das duas mulheres a viram, pois estavam entretidas na conversa.
-- O Camafeu não é de todo o mal. – Justificou-se – Lá eu posso soltar as energias e não preciso justificar-me ou dar explicações para gente mimada.
-- Eu não queria satisfação ou explicações. – Declarou, interrompendo as duas mulheres. Manuela olhou para trás, olhando-a nos olhos, enquanto Dalva observava as duas com uma cafeteira em mãos. – Devo ser realmente uma criança mimada a ponto de preferir a companhia de uma prostituta à minha.
-- Isabela... – Disse levantando-se, mas a loirinha se afastou e foi para seu quarto. – Mer...
-- Olha o palavrão! – Dalva gritou antes que concluísse a palavra. – Eu ainda consigo te pegar e lavar tua boca com alvejante, não me faz garrar ódio com esse palavreado. – Dalva exercia autoridade sobre Manuela, antes de ser cozinheira na casa do seu padrinho, a velha alemã trabalhou anos na casa do avô da morena até a morte dele. Antônio acolheu as duas em sua casa e cultivava grande consideração pela velha senhora, por quem, também, tinha amizade.
-- Essa guria é um prego! – Passou a mão pelo rosto – Vou lá conversar.
-- Tu não vais a lugar algum. – Declarou com autoridade – Ambas estão de cabeça quente. Come teu bolo, bebe teu café e vai para lida. Depois, com calma, as duas conversam. – Manuela empurrou o bolo a contragosto, sabia que não sairia dali sem comer alguma coisa. Não sabia explicar, mas não gostava nem um pouco da ideia de Isabela ficar magoada e chateada por sua culpa.
-- “Cavala” de ferradura! – Disse para si mesma – Eu sou, realmente, uma ignorante. – Dalva ouviu e não pode evitar o sorriso. Sua menina estava se apaixonando de novo e isso era o que mais queria.
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O dia passou rápido para Manuela que não via a hora de se encontrar com Isabela, já a loirinha, não estava nem um pouco disposta de ouvir suas desculpas. Ela pediu as chaves do carro de Antônio e foi para cidade vizinha.
-- O padrinho saiu? – Perguntou aproximando-se da área da casa.
-- Não, dona Manu. Seu Antônio está lá dentro e pediu que chamasse a senhora.
-- E quem estava dirigindo a camionete?
-- A neta dele, aquela mais nova e baixinha. – Manuela tirou o chapéu e bateu com ele em sua perna.
-- Bah! O que ela vai aprontar agora? – Perguntou-se, olhando o veículo que já desaparecia na estrada.
-- O que a senhora disse?
-- Nada. – Fechou o cenho e entrou na casa.
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-- Padrinho, eu pensei que o senhor tinha saído. – Tentava descobrir para onde Isabela tinha ido.
-- Foi a Bela, ela queria ir até a cidade.
-- Sozinha? – Demonstrou nervosismo.
-- Sim, sozinha. Por que a preocupação?
-- Padrinho, está se armando um temporal vindo do sul, vai chover canivete.
-- Calma. Isabela não é criança, saberá se manter longe de qualquer perigo.
-- Isso o que o senhor pensa. – Disse para si mesma.
-- Como?
-- Nada não. – Disfarçou – O senhor queria falar comigo?
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-- Mimada... Quem ela pensa que é? Arrogante! Xucra! – Falava alto enquanto dirigia. – Pois vou te mostrar que posso sim te ignorar sua... Sua... Não! Deusa não. Jabiraca!
Isabela chegou a cidade e pouco antes do Centro, avistou um sobrado elegante com movimento de mulheres excessivamente arrumadas para o horário.
-- Será que morreu alguém? – Perguntou com ingenuidade. – Pela quantidade de mulher... – sorriu – Deve ser alguém importante, do tipo dono de um harém. – Aquele pensamento até a fez sorrir e afastar outros tantos que permeavam sua mente. Ela olhou ao redor e viu que a cidade não era muito grande, e não tinha muito o que se fazer. Resolveu comer alguma coisa, assim se informava melhor. Sentou-se em uma lanchonete e pediu um pedaço de cuca com uma xícara de café e, enquanto era servida, perguntava a jovem que lhe atendia sobre a cidade.
-- O que tu queres? Comércio forte e shopping? Aqui não tem, podes seguir a rodovia por mais umas duas horas, que vai dá em Pelotas.
-- Hum... Será? – Pensou alto – Não sei se deixo para outro dia, a fazenda do meu avô não é tão perto assim.
-- Teu avô é fazendeiro na região? – Perguntou outro jovem que terminava de recolher os copos sujos de uma mesa ao lado.
-- Sim. – Respondeu sorrindo. – Antônio Steinmetz.
-- Ah, sim. É aquela lá da dona Manuela. – O rapaz comentou com duas mulheres que bebiam um refrigerante em outra mesa. Isabela olhou em direção as duas e percebeu o sorriso trocado entre elas e o jovem.
-- Conhecem Manuela? – Fez a pergunta de forma desinteressada.
-- Sim. Ela é uma “bem feitora” para toda região, apesar das suas preferências. – Disse baixinho.
-- Isso é injusto com ela, Carlinhos. – Retrucou a menina que havia lhe atendido – Dona Manuela é uma alma boa, ajuda todos por aqui. O pai mesmo, se ela não estivesse por perto, ele teria morrido.
-- Mas o que ela fez que evitou... – quando Isabela tentou investigar mais sobre a vida de Manuela, uma das mulheres que bebia refrigerante se levantou e foi em direção ao rapaz.
-- Ela tem muito bom gosto, independente de “preferências”, e deixa muito gaudério no chão, lambendo as esporas dela, por não fazer tão bom quanto ela costuma. – Isabela abriu os olhos em surpresa. Um senhor, por trás do balcão, pigarreou alto, encerrando a discussão entre a mulher e seu atendente.
As duas mulheres pagaram suas contas e saíram. O velho homem saiu de trás do balcão e foi até a loirinha.
-- Tu não ouves o que essas daí falam. Elas não são sérias.
-- Elas são do Camafeu. – Disse com orgulho. Isabela o olhou assustada com a notícia, e depois olhou para as duas mulheres com curiosidade, mas elas já estavam saindo.
-- Ademir! – Chamou atenção do rapaz. - Vá limpar lá dentro. – Olhou para menina e concluiu – Ajude lá teu irmão, assim ele não causa mais prejuízos. – Quando estavam sozinhos o velho explicou – Dona Manuela, assim como teu avô são pessoas de bem, que ajudam aqui na cidade independente de política. – Os dois foram interrompidos por novos clientes, e o assunto acabou. Isabela terminou de comer, e chamou Ademir até sua mesa.
-- Aquele lindo sobrado na entrada da cidade pertence a quem? – Falou baixinho, sabia que poderia tirar tudo daquele jovem, precisava apenas de um jeito.
-- Aquele é o Camafeu.
-- Aquelas duas senhoras trabalham mesmo lá? – Instigou.
-- Senhoras? – Riu e Isabela agradeceu por ter jogado a isca. – Luana e Paola? Elas são outra coisa. – Revelou com malícia.
-- Bonito aquele sobrado, deve ser histórico na cidade. Sou arquiteta e gostei da construção, será que um dia poderia entrar lá? Conversar com a proprietária do local?
-- O nome dela é Astrid, mas tu podes vê isso com dona Manuela, ela vive lá. – Brincou, novamente, usando um tom malicioso.
-- Ademir! Não queres perder este emprego guri? Então cuida ou perderás. – Isabela ficou sem graça e depois desconversou. Pagou a conta, agradeceu a atenção de todos e se despediu.
Agora ela tinha novas informações que poderiam usar no momento certo para provocar a morena.
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-- O que tu tens que já é a sexta caneca de café que bebe?
-- Capaz que não tenho mais sossego nesta vida! Quando não é aquela guria me infernizando, és tu, Dalva?
-- Não sei de qual guria estás falando.
-- Não sabe? Eu que sei quem tu és sua “alemão” velha. – Dalva riu e colocou um pedaço de bolo para morena. Neste momento começou a chover forte. – Eu falei para o padrinho que iria cair água, mas ele sempre tranquilo.
-- O que tem de chover? Estás trabalhando com o clima agora? – Manuela bufou balançando a cabeça.
-- Ele deu a camionete para aquela desajuizada sair por aí. Agora com este tempo, como vai pegar a estrada de barro até a fazenda?
-- Ah! Agora entendi: estás preocupada com a menina Isabela. – antes De alguma resposta, Alexandra entrou na cozinha acompanhada da avó.
-- Não precisa se preocupar com Bela, ela sabe se manter longe do perigo.
-- Ela é o perigo! – Resmungou.
-- O que disse Manuela?
-- Nada madrinha, só pensei alto. – Levantou-se e olhou o relógio. – Quase hora do jantar, ela passou o dia todo fora, e continuam achando que está tudo bem? – As três mulheres se olharam e disseram ao mesmo tempo.
-- Sim.
-- Não discuto mais! – A morena saiu em direção a sua cabana, apesar de saber que voltaria logo para conferir se a loirinha havia voltado.
-- Onde esta guria se meteu, Dalva? – Joana perguntou após se sentar, estava muito aflita.
-- Ela logo chega, ou Manuela vai atrás.
-- Do jeito que ela está, não duvido que já tenha ido. – Alexandra concluiu com um sorriso malicioso nos lábios.
-- Tomara, porque Isabela não conhece a região, e pegar umas dessas estradas de barro errada...
-- Calma dona Joana, ela logo chega.
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Isabela pegou a estrada no final da tarde. Passeou pela cidade, conheceu várias pessoas com quem conversou e ficou algum tempo avaliando o sobrado e imaginando o que se passava lá dentro. O que aquelas mulheres quiseram dizer sobre Manuela? Seria mesmo o Camafeu um local de prostitutas? Mas uma mulher como Manuela, frequentar um tipo de local como este? Muitas dúvidas se passavam em sua cabeça, e precisava esclarecê-las para entender melhor a morena por quem estava atraída.
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Manuela resolveu ir para sua cabana, um pouco longe da casa principal, ela tinha que passar a porteira e pegar a estrada de barro. Pegou sua camionete, a visibilidade era muito ruim, a chuva aumentava, a estrada estava toda alagada.
-- Agora querem que eu fique tranquila sabendo que aquela maluca irritante ainda não voltou. – Falava alto enquanto dirigia. – Fala mais que a boca, capaz de errar o caminho de tanto que se distraí falando. E com essa chuva, vai voltar a nado? – Pensou em peixes e sorriu – Se bem que para peixe, ela seria uma bela sereia com voz suave e calma. – Ficou pensativa por uns segundos e sacudiu a cabeça – Que voz suave? Ela é toda irritante. – De repente ela viu um veículo parado com o farol alto, que piorava a visibilidade – Mas quem é o ignorante a usar farol alto nesta estrada? – Percebeu que o carro não se movia. Parou um pouco distante e desceu com cuidado, quando se aproximou viu que era a camionete do seu padrinho. Ela bateu de leve no vidro embaçado e esperou a loirinha baixa-lo. – O que diabo estás fazendo aqui?
-- Pegando uma chuvinha! – Respondeu com ironia.
-- Então está bem. – Disse irritada e se virou para voltar.
-- Não vai me ajudar? – Isabela gritou desesperada.
-- A tomar banho de chuva? Não, obrigada!
-- Não está vendo que o carro atolou? – Manuela se virou e olhou as rodas do veículo. Voltou até o carro, abriu a porta e puxou a loirinha. – O que está fazendo? – Estava assustada.
-- Resolvendo o problema. – Desligou os faróis e puxou a chave. – Vem.
-- Vai me arrastar com a lama? – Reclamou da forma bruta como Manuela a puxava.
-- Deveria. Como tu sai assim por uma região que não conhece e retorna depois de escurecer? – Estava muito irritada. Isabela se soltou e ficou de frente para morena, encarando-a.
-- Eu não devo satisfação pra ti. – Respondeu enfurecida. Isabela estava de costas para os faróis do carro de Manuela que podia ver o rosto da loirinha molhado e ainda irritada, achou linda aquela aparência angelical e ao mesmo tempo atrevida. Por um momento esqueceu tudo ao seu redor e puxou a mulher mais baixa para perto do seu corpo, encarando-a de forma possessiva, e aproximou seus lábios. Uma de frente a outra, a água descendo pelos rostos molhados. Podiam sentir a respiração uma da outra.
-- Eu quero...
-- Então... – as duas mulheres estavam hipnotizadas pelo momento.
Fim do capítulo
Agradeço às meninas que comentaram, pois seus comentários são de grande incentivo, já que pelo número de acessos que a história teve e os poucos comentários, pensei que não estava boa e até cogitei não continuar a escrever. Beijos a todas!
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Fab
Em: 09/08/2016
Oi autora,
Não abandone a história, Please! Já basta o tempão que ficou sumida. Pensei até que não voltaria mais. Agora que voltou "faz favor" de permanecer! rsrsrsrs
A história está ótima!
No final quero vê-las juntas e com uma penca de filhos. rsrsrs
Beijo
Resposta do autor:
Kkkkkkkk. Que bom qu vc está gostando, Fab. Não se preocupe, pois permanecerei sim. Um beijão!
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lia-andrade
Em: 08/08/2016
Eita será que agora o beijo sai? Essas duas vivem como cão e gato..kkkk amando tudo, espero que a Manu se renda logo aos encantos da Bela..lindas...
Beijos
Resposta do autor:
Confira o novo capítulo e veja se seu desejo foi atendido, lia-andrade. Obrigada pelo carinho. Beijos.
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rhina
Em: 07/08/2016
Olá..
Não sei de todo o enredo
Muitas coisas podem acontecer.
Sua história é ótima autora...
Não desista dela não.
Ao contrário independente dos comentários... a história é sua escreva-a para ti... para seu prazer e orgulho....
Se for o caso cada vez melhor.
Até.
Rhina.
Resposta do autor:
Muitíssimo grata por suas palavras, rhina. Tentarei com que seja, sim, cada vez melhor. Um beijo!
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Mille
Em: 06/08/2016
Sei não vocês autora, gostam de maltratar as leitoras como termina um capítulo assim, espero que ninguém atrapalhe o beijo delas.
Bjus e até o próximo
Resposta do autor:
Kkkkkkkkkkkk. É apenas para que vcs leitoras morram de vontade de ler o próximo capítulo, Mille. Um beijão!
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