Conjuração por Angribbons
Capítulo 3
- Keké, prepare o meu banho
Estava ansiosa para o começo do dia, pois o primeiro dia dos novos escravos ficava aos meus cuidados. Não era uma obrigação, mas um divertimento para mim; trocava o vestidos pelas roupas de montaria. Chapéu, espartilho, blusa com mangas, calça e botas.
Os primeiros dias eram os mais difíceis, alguns faziam corpo mole, outros tentavam suicídio e por conta disso sempre acabava com um no tronco. Porém, as primeiras horas foram tranquilas até o meio dia, e logo se foi ouvida uma gritaria vinda do meio do canavial. Os feitores foram na frente para controlar o tumulto
- Mas o quê diabos está acontecendo aqui? – perguntava papai
- essa negra nova, sinhô, tá recusando a trabalhar! — já sabíamos o quanto Marieta era briguenta, mas sempre que um dos novos escravos tentava fugir do trabalho tínhamos que leva-lo ao tronco como exemplo, pois um engenho sem ordem é um engenho falido.
- Mal criada! — papai desferiu um tapa no rosto de Shiara, fechei os olhos como reflexo — a levem para o tronco, sem água e sem comida o dia todo!
II
A minha família tinha nome e todos, ao nascer, recebiam na parte interior do braço uma cicatriz com forma do símbolo Nkyinkim* feita a ferro quente, era a nossa legitimação real. Com ela seria impossível não ser reconhecida em qualquer continente que conhecesse o brasão da Família Mali e por isso logo tratei de cobri-la com uma tira de pano arrancada da minha própria vestes ainda no barco. Se descobrissem que sou herdeira do tráfico negreiro, com certeza teria sido jogada ao mar.
Blanka, ao ver minha dificuldade, foi tentar me ajudar a colocar algumas canas nos ombros, puxou a tira que cobria meu braço e no desespero joguei-as no chão tentando esconder a cicatriz... “um cálculo mal executado gera consequências “ dizia Elíada, o meu professor de cálculo. O barulho chamou atenção dos que estavam próximos
- o que é isso? — uma escrava, que logo eu saberia que chamava-se Marieta, puxou meu braço com força
- me solta! — puxei o braço de forma rápida, em vão
- vejam só se não é uma Abasi! Uma rainha de escravos! Tá gostando da hospedagem? Tá sendo bem tratada? — falava enquanto me analisava, os outros já haviam parado seus afazeres para ver o que acontecia
- faz tua parte que eu faço a minha. Não quero confusão
- Não quer confusão? Tá vendo esse inferno? Sabe de quem é a culpa? Da tua família, miserável! — exaltava-se
- o que tá acontecendo aqui? Voltem ao trabalho! — gritou o feitor
Tentei pegar a tira no chão na tentativa de coloca-lo de volta no braço, entretanto ela foi mais rápida
- isso aqui fica comigo! Não vai esconder tua raça aqui, vai todo mundo saber que a culpa da gente tá aqui é tua!
Marieta tornaria meu inferno pior. E foi provando isso no decorrer da manhã não me deixando em paz um segundo, me deu incontáveis empurrões e xingamentos, eu iria aguenta-los calada pois não conhecia aquela gente e sabia a culpa que teria que carregar pela situação de todos, o meu do que poderia me acontecer me assolava. Continuaria sendo racional, se ela não tivesse tocado na minha maior ferida
- se tua mãe não tivesse morta, devia tá de navio em navio embuxando de algum comerciante rico, igual fez com o teu pai.
- Marieta, cala a boca
- O quê? Vai dizer que é mentira, vai negar que tua mãe era uma ninguém ? Mas admito, foi uma rampeira esperta
- CALA A BOCA! — fui aos gritos para cima dela, rolamos no chão e bati o supercílio em algo duro, talvez num tronco de cana. Logo os feitores chegaram nos puxando pelos cabelos.
NKYINKIM: iniciativa, dinamismo e versatilidade.
Fim do capítulo
O que me dizem?
Beeijos
p.s no decorrer na estória haverá as descrições dos personagens, entretanto,se preferirem posso postar imagens de como os tenho em minha mente.
Comentar este capítulo:
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]