Amanda foi para a faculdade, ela estava feliz que ganhou a vaga de professora e deixou de ser substituta, pois a nossa antiga acabou se aposentando, depois que teve a primeira filha. Professora Sandra, é uma mulher com os seus cinquenta anos e que enfrentou uma gravidez de risco e pelo que parece decidiu curtir cada momento com a filha.

 

- Iara... – lembrei da pequena loira dos meus sonhos. - Faz tempo que não sonho com você...

 

Senti um vazio estranho, desejei sonhar com ela novamente, não sei e nem vou ousar a tentar explicar o sentimento que me completa em todas as vezes que sonho com ela.

 

Olhei o quarto vazio, como era chato ficar sozinha, onze da manhã e nada para fazer, já havia me acostumado com as meninas todas aqui, depois que elas vão embora, fico tão triste. Peguei o copo de suco na mesinha ao lado, dei uma golada generosa, a coisa desceu como concreto, quando a porta do quarto foi aberta e logo fechada fazendo um barulho estrondoso. Coloquei as mãos para cima, em uma tentativa inútil de parar de torci, o braço doeu no momento em que o levantei, lagrimas escorriam e a individua que causou aquilo, ficou tão desesperada quanto eu.

 

- Meu Deus, meu Deus... – ela tentava me abanar com a bandeja. – Mulher, pelo amor de Deus, respira...

 

Depois de minutos agoniantes, a respiração foi se normalizando, respirava pela boca, a idiota da Cássia estava com os olhos arregalados.

 

- Que merd*, Cássia... O que aconteceu? – tomei outra golada do suco.

 

- Paloma que fazer amor comigo... Não sei o que fazer...

 

Ela disse tudo em um só sopro, a merd* do suco desceu quadrado de novo, me engasguei, levantei com tudo da cama, derrubando um monte de coisa, Cássia corria feito louca comigo dentro do quarto. Eu não acredito que sobrevivi depois de ter levado dois tiros e ira morrer engasgada com suco de maracujá. Uma enfermeira entrou e se assustou com a cena, me fez parar.

 

- Ela está engasgada... Ajuda ela... – Cássia estava desesperada e eu quase ficando azul. “O que tinha nessa merd* de suco?”.

 

- Calma... – a enfermeira me fez sentar.

 

Depois de um tempo eu já respirava melhor, quase desmaiei de alivio, voltei para o leito e a enfermeira pós outro soro, fiquei de olhos fechados, respirava o mais fundo que conseguia.

 

- Tomem mais cuidado, meninas... – foi só o que ela disse antes de sair.

 

- Me desculpe, Flávia... – ela tocou o meu rosto. – Me desculpe...

 

- Tudo bem... – respirei fundo, abri meus olhos. – Deita aqui...

 

Dei um espaço para ela, minha doidinha deitou-se ao meu lado, ficamos olhando para o teto, respirei fundo mais uma vez.

 

- Agora me diz o que aconteceu, mas com calma... – ela ficou um tempo em silêncio.

 

- A Paloma disse que está pronta para a nossa primeira vez... – olhei para ela, que ainda mirava o teto e tinha um sorrisinho besta. – Passei a noite em claro pensando nisso, Flávia...

 

- Mas, que pirralha sem vergonha... – meu pensamento escorregou pela boca. – O que você disse a ela?

 

- Que esperássemos até o dia do aniversário dela...

 

- Fez bem... – fiquei pensando. – Minha irmã cresceu... – soltei uma rajada de ar.

 

- Você não vai querer me matar, não é? – nos olhamos.

 

- Claro que não... – fiz uma careta. – Não contou isso para a Nicole, não é?

 

- Tá louca? – ela se sentou, continuei deitada. – É capaz da Nicole costurar a minha periquita e colar os meus dedos com super cola...

 

Não contive o riso, Cássia voltou a deitar e começou a gargalhar junto comigo, eu não duvidava nem um pouco da minha irmã, ela era a segunda mãe. E devo confessar que se ela namorasse outra pessoa, e não a minha amiga, eu não seria nem um pouco a favor da pessoa tirar a pureza da minha irmã. Na certa, me juntaria a Nick na tortura contra o individuo, mas era a Cássia, minha amiga e irmã, amava a minha irmã e eu não poderia pedir mais nada.

 

- Dê uma noite bonita para ela... – pedi com sinceridade.

 

- Ela não merece menos que o melhor, Flávia... – ela sorriu e me vi nela, quando se tratava de Amanda.

 

- Hey! – olhamos para porta e Emi, estava apenas com a cabeça para dentro do quarto. – Posso deitar junto com vocês?

 

- Claro que pode... – respondi sorrindo.

 

- Trouxe um amigo comigo...

 

Ela tinha o meu violão na mão, sorri com gosto, ela o colocou na poltrona branca, deitou-se ao me lado e ficamos as três olhando para o teto.

 

- Por quê o quarto está bagunçado? – Cássia e eu nos olhamos.

 

- Longa história...

 

Cássia começou a narrar tudo, desde a entrada até o assunto ‘Paloma’, Emi ouviu tudo atentamente, riu em algumas partes, deitou-se sobre o meu ombro e passou a mão sobre a minha barriga, Cássia estava deitada de lado, com a mão sobre a minha barriga também. Como nos velhos tempos, foi o pensamento que quase me fez chorar.

 

- Sua piranha... Me encheu por causa da Becca e agora sabemos que vocês nunca fizeram nada... – Emi ficou indignada, Cássia e eu apenas riamos de sua face.

 

- A Paloma é de menor, sua zé... – Cássia ainda ria. – Fora que ela ainda não estava preparada...

 

- Casos diferentes, Emi... – me meti.

 

- E qual é a diferença? – ela nos questionou.

 

- Paloma ainda é virgem e você e a Becca, não eram mais puras a muito tempo... – respondi e não pude conter a risada.

 

- Você tirou a minha pureza, Flávia... – ela relaxou e riu comigo.

 

- Bom, você tirou a minha, então estamos numa boa...

 

Continuamos conversando, logo o sono bateu, dormimos as três abraçadas, tive alguns sonhos malucos, mas o último não poderia ser mais perfeito.

 

- Quando eu crescer, quero ser uma Mistura das minhas mães com um toque meu... - olhei para a garota que já não estava tão pequena. Seus cabelos ainda eram enormes, seus olhos me lembravam as melhores poesias, o sorriso era a cópia perfeita da Amanda, ela estava quase do meu tamanho.

 

- Como você cresceu... – fiquei admirada com a loira a minha frente.

 

- Ah, mãe... – meu coração bateu forte. O que era aquilo? – Você sempre diz isso... – ela sorriu.

 

- Parece tanto com a Amanda... – passei a mão sobre a face do anjo loiro.

 

- Mamãe, sempre diz que eu pareço com você... – ela sorriu. – Não poderia ser mais perfeito... Parecer com as pessoas que mais amo no mundo... Amo a vó Carolina, o vô Henrique, a vó Kethelen, o vô Christian... A tia Nick, a tia Paloma... A madrinha Emi, a madrinha Becca, madrinha Isa, a madrinha Cássia... Ah, mamãe... Amo muito vocês...

 

A menina que estava virando uma mulher, me abraçou forte e eu senti algumas lágrimas escorrerem por minha face, meu coração estava feliz e a alma em paz...

 

- Mas que coisas mais lindas... – ouvi ao longe. Era a voz da Isa.

 

- Bate mais algumas fotos... – ouvia a Becca. Meus olhos estavam pesados.

 

- A Flávia está chorando? – ouvi a voz da minha loira.

 

- Parece que sim... – Paloma.

 

- Acorda essas três... – Nicole mandou.

 

Senti o rosto molhado, eu realmente estava chorando, abri meus olhos de vagar e as cinco me encaravam cada uma com um ponto de interrogação enorme na cabeça.

 

- O que foi meu amor? – Amanda chegou mais perto e enxugou o meu rosto.

 

- Vamos acordar, cambada! – Nicole balançou a Cássia.

 

- Não foi eu, mãe... – ela levantou em um pulo. Fiquei espantada.

 

- Amor, acorda... – Becca, fazia carinho no rosto da namorada, que eu bem sabia que estava fingindo pra ganhar mais carinho. – Estou usando aquela lingerie preta que você adora.

 

- Eu quero. – não disse? A fingida levantou rapidinho. As meninas começaram a rir, levantaram e foram sentar ao lado das namoradas. Amanda, sentou o meu lado e ficou me encarando, estranhei, franzi o cenho.

 

- Por que estava chorando? – Isabela me perguntou.

 

- Eu estava? – não era sonho.

 

- Estava, amor...

 

- Tive um sonho... – respirei e me concentrei nele.

 

- Continua sonhando com aquela menina? – Becca me perguntou.

 

- Sim, cada vez mais real... – passei a mão sobre a cabeça que já não estava mais enfaixada.

 

- Que menina e que sonho? – Emi estava curiosa, Amanda me olhou estranho.

 

- Faz uns meses que estou tendo sonhos com uma menina loira, ela não deveria ter mais que cinco anos... – minha mente viajou. – Ela é nossa...

 

- Filha... – Amanda completou o que eu ia dizer. Minha boca deve ter formado um grande “O”. – Iara...

 

- Amanda... – o que era aquilo?

 

- Eu também já tive vários sonhos com ela, Flávia... – Amanda pareceu ficar distante.

 

- Que merd* é essa? – Cássia falou abobalhada.

 

- O que sonhou para estar chorando? – Paloma perguntou.

 

- Ela dizia que quando fosse mais velha, queria ser uma mistura de Amanda e eu... – sorri com a lembrança. – Mas, dessa vez... Ela estava mais velha... Parecia ter quase quinze anos... – as meninas me olhavam de forma engraçada. – Disse que amava à nós... – olhei para a loira que parecia partilhar do mesmo sentimento que eu. – Disse que amava os avós... Meus pais e os teus... Amanda... – sorri, beirava a realidade. – Que amava as tias... – os olhos das minhas irmãs se arregalaram. Vi as duas sorriem. – Que amava as madrinhas... – olhei para Emily, Cássia, Rebecca e Isabela, elas ficaram visivelmente surpresas. A essas alturas, a minha loira tinha lágrimas nos olhos.

 

- Fiquei toda arrepiada... – Isabela mostrou os pelos eriçados.

 

- Espera ai... – Nicole levantou. – Por que só elas quatro são as madrinhas?

 

- É verdade... Por quê ficamos de fora? – Paloma levantou indignada.

 

- Vocês já são as tias, oras... – Cássia as encarou.

 

- É verdade, então nada mais justo sermos as madrinhas... – Emi empinou o nariz.

 

- Apoiado! – Becca falou.

 

- Puxa saco... – Paloma cruzou os braços.

 

- Assino embaixo... – Isabela se posicionou.

 

- Mais uma... – Nicole respondeu.

 

- Vocês devem ficar satisfeitas...

 

E lá começou uma grande discussão, Amanda e eu olhamos para as meninas e depois nos olhamos, sorrimos cúmplices. Ela deitou ao meu lado, ficamos nos olhando e nesse momento nos desligamos totalmente das loucas que discutiam, toquei aqueles fios loiros e os aproximei do meu nariz, cheirava a camomila, fechei meus olhos e guardei na alma o cheiro gostoso. Senti a mão de Amanda tocar o meu rosto, o ar ficou preso em meus pulmões por um tempo, abri os olhos e os azuis invadiam o corpo.

 

- Já imaginou? Uma filha nossa... – soltei o ar e sorri.

 

- Um pedacinho da minha loira... – ela sorriu.

 

- Nosso pedacinho, amor... – ela beijou a ponta do meu nariz.

 

Ficamos muito tempo namorando com os olhos, as meninas pararam para respirar, fiquei a pensar por um instante:

 

- Amor... – olhei espantada para a Amanda.

 

- Que foi, amor? – ela ficou preocupada.

 

- Essas loucas vão estragar a nossa filha... – a loira começou a rir.

 

- Só você, amor...

 

- Nós ouvimos, Flávia... – Nicole se indignou.

 

- Mana, quero te mostrar uma coisa... – Paloma tirou o meu violão da capa.

 

- O que?

 

- Aprendi uma música, foi um pouco difícil, mas suas aulas surtiram efeito... – ela sorria. – Depois de meses...

 

- E qual foi? – fiquei animada.

 

- Amor... – Cássia sorriu.

 

- It Will Rain... – ela sorriu convencida.

 

- Wow... – fiquei surpresa.

 

- Eu toco e você canta, pode ser?

 

- Claro... – ela se posicionou.

 

- Vou gravar... – Emi tirou o celular da mão da Nick. – Desbloqueei... – devolveu para a Nick. Essa Emi, minha irmã desbloqueou e revirou os olhos.

 

- Pega...

 

- Valeu... Vamos lá!

 

Paloma montou o primeiro acorde, respirou fundo e me olhou, os primeiros sons foram surgindo.

 

If you ever leave me, baby

 

Leave some morphine at my door

 

'Cause it would take a whole lot of medication

 

To realize what we used to have

 

We don't have it anymore

 

 

 

There's no religion that could save me

 

No matter how long my knees are on the floor

 

So keep in mind all the sacrifices I'm makin'

 

To keep you by my side

 

And keep you from walkin' out the door

 

 

 

Cause there'll be no sunlight

 

If I lose you, baby

 

And there'll be no clear skies

 

If I lose you, baby

 

Just like the clouds

 

My eyes will do the same

 

If you walk away, everyday it will rain

 

Rain, rain-a-a-ain

 

 

 

I'll never be your mother's favorite

 

Your daddy can't even look me in the eye

 

Oooh if I was in their shoes, I'd be doing the same thing

 

Sayin' there goes my little girl

 

Walkin' with that troublesome guy

 

 

 

But they're just afraid of something they can't understand

 

Oooh, but little darlin' watch me change their minds

 

Yea for you I'll try, I'll try, I'll try, I'll try

 

I'll pick up these broken pieces 'till I'm bleeding

 

If that'll make it right

 

 

 

Cause there'll be no sunlight

 

If I lose you, baby

 

And there'll be no clear skies

 

If I lose you, baby

 

Just like the clouds

 

My eyes will do the same

 

If you walk away, everyday it will rain

 

Rain, rain-a-a-ain

 

 

 

Don't you say (don't you say)

 

Goodbye (goodbye) Don't you say (don't you say)

 

Goodbye (goodbye)

 

I'll pick up these broken pieces 'til I'm bleeding

 

If that'll make it right

 

 

 

Cause there'll be no sunlight

 

If I lose you, baby

 

And there'll be no clear skies

 

If I lose you, baby

 

Just like the clouds

 

My eyes will do the same

 

If you walk away, everyday it will rain

 

Rain, rain-a-a-ain

 

 

 

Fim do capítulo