Quinta-feira, 3 de setembro, três horas da tarde, as duas malucas já haviam deixado a Flávia, meus sogros voltaram para o trabalho e agora eu tinha que encarar a minha nada feliz namorada, eu nunca falei para ela sobre a Brenda, pois eu realmente achei que não havia o que dizer, mas pelo visto, vou ter que conversar com a bicuda da Paloma. Ela me empurrou a Emi e ficou ao lado da Becca. Respirei fundo e fiquei observando o quarto, estava cheio de flores, balões em formato de coração, com frases de força, até chocolates e bilhetes havia. Peguei uma caixa e fiquei a devorar. O silêncio estava me matando, ele e eu não eramos bons amigos e então, estava torcendo para alguém dizer algo.

- Quem eram aquelas malucas? – Amanda perguntou para a Flávia e depois me olhou, todas nos olharam.

Ok! Qualquer conversa, menos aquela, pelo amor de tudo que é mais sagrado, pois eu realmente pretendia voltar para casa inteira. “Mãe, me ajuda!”.

- Você começa, Cássia... – Flávia empurrou tudo pra mim. Amiga da onça.

- Eu o cacete... – ergui a sobrancelha. – Você tem mais envolvimento do que eu...

Amanda olhou para a Flávia com cara de poucos amigos, achei bom, afinal ela estava mais suja que pau de galinheiro e queria que eu explicasse.

- Eu conto a minha parte e você a sua... – pensei por um segundo, acenei com a cabeça. – Você começa...

“Filha da ... Aaaaah...”.

- Ok... – respirei fundo.

Oito meses atrás...

Uma vez por semana, Flávia e eu visitávamos a ala infantil de câncer do hospital da família dela, passávamos a tarde toda brincando, contando histórias, dávamos livros e brinquedos. Era gostoso demais ver a felicidade que eles tinham, mesmo que seus corpos pequenos e frágeis estivessem tomados por aquela doença tão mesquinha, devastadora, cruel.

Eram quase seis da tarde, estávamos no segundo andar, Flávia conversava com a mãe no celular, enquanto eu trocava mensagens com minha Paloma, é! Flávia ainda não sabia e eu estava esperando o momento certo para contar. O corredor estava vazio, silencioso e quase tive um ataque do coração quando senti a minha mochila sendo puxada para trás e uma mão tapar a minha boca. Ouvi uma porta sendo batida, o lugar parecia se estreito e estava um breu, passei a mão que não estava com o celular para tentar encontrar a maçaneta, mas o que consegui foi apalpar umas varetas, que eu logo pensei ser cabos de vassouras, alguns baldes, uns peitos... Espera aí...

- Que mãos quentes e safadas... – escutei aquela voz e me arrepiei inteira. – Pega mais embaixo, amorzinho...

- Brenda? – eu não estava acreditando, havia conhecido essa mulher fazia uma semana, ela estava sempre dando em cima, mas eu conseguia me esquivar.

- Hum... Que gostoso... – ela soltou uma risadinha. – Reconheceu a minha voz... Pelo visto andou pensando em mim... – ela passou a mão por meu abdômen e depois seios.

- Aaaah... Sai de mim... Espirito ruim... – tentei me esquivar, mas estava difícil devido ao tamanho do lugar.

- Para de resistir, gatinha... – senti a mão dela segurar com força o meu cabelo e depois levei uma mordida na orelha. – Estou louca para sentir essa boca linda pelo o meu corpo todo...

- Brenda... Ai, Senhor... – a louca passou a língua pelo meu rosto. – Me... Deixa sair... Sério...

- Eu sei que você quer, coisa gostosa... – ela apertou a minha bunda.

- AIII!

- Não me faz implorar...

- Eu estou apaixonada, Brenda... – respirei fundo. – Não vai rolar...

Empurrei a doida, que soltou um grito e coisas caíram, fazendo muito barulho, procurei desesperada a maçaneta e desabei para fora com um monte de vassoura, quando levantei, vi a tal de Nataly, saindo de um outro quarto, arrumou a roupa, passou a mão no cabelo e piscou para mim.

- Vamos, Brenda... – a morena me olhou e sorriu cínica.

- Ainda não desistir, Cássia... – ela mandou um beijo e saiu rebol*ndo. Engoli em seco.

“Estou ferrada!”. Ouvi o barulho de uma porta sendo aberta e por lá passar uma Flávia toda descabelada, amarrotada e com marca de batom no pescoço, rosto e a boca, podem imaginar.

De volta ao presente

Flávia se encolheu toda na cama, sob o olhar fatal da loira, as outras meninas me olhavam e eu tinha absoluta certeza que queriam rir e estavam tentando segurar. Paloma olhou com um pouco de raiva e outra coisa que não pude identificar.

- Por quê não me contou? – respirei fundo.

- Fiquei com medo de você não acreditar... – fixei meus olhos nos dela. – Você já havia me dito que não tinha ido com a cara dela... Juro que não aconteceu nada, Paloma... Apesar que naquela época, apenas ficávamos, eu já estava apaixonada e não queria te perder... Me desculpe, eu deveria ter te dito...

Abaixei a cabeça, me recriminando por não ter tido a coragem de falar, senti um peso sobre as minhas coxas e levantei o rosto, me deparando com um sorriso da minha namorada. Ela segurou o meu rosto, me fez olha-la no fundo dos olhos, senti o coração acelerar e a boca secar.

- Estou muito feliz que tenha nos respeitado, mesmo que na época não estivéssemos em relacionamento, ... – ela me fez carinho. – Você pode me contar qualquer coisa, amor... Confio em você de olhos fechados... Entendeu? – ela depositou um selinho sobre meus lábios e as borboletas que viviam dentro do meu estomago, mexeram freneticamente.

- Prometo não omitir mais nada, amor... – sorri e a abracei forte.

- Agora é a sua vez, Flávia... – Emi cruzou as pernas e apoiou o queixo nas mãos. – Conte-nos tudo e não esconda nada.

- É Flávia... – a voz da Amanda denunciava o grau de sua ira.

Becca voltou a se acomodar ao lado da namorada, e por incrível que pareça, até aquele momento, Nick não havia soltado uma farpa. Ela e a Isa, estavam sentadas lado a lado, pareciam um casal, a mão de Nicole repousava sobre a da menina de olhos bonitos.

- Estamos esperando... – Emily queria mesmo ver o circo pegando fogo.

- Amanda, não me mata depois que eu terminar... – ela estava mais pálida que o normal. Tadinha da minha amiga. – Por favor...

- Não prometo nada... – Flávia suspirou.

- Senhor, me proteja...

Oito meses atrás...

- Está fugindo por que? – eu estava de um lado de um leito, enquanto a louca da Nataly, estava do outro. Parecia até uma brincadeira de criança, mas eu tinha certeza que o que aquela mulher estava querendo, não tinha nada de inocente ou infantil.

- Estamos em um hospital, Nataly... – fiquei ofegante de tanto tentar me esquivar, ela se jogou sobre o leito e conseguiu segurar as alças da minha mochila, o celular que antes eu tinha, agora estava esparramado no chão. Deu até vontade de chorar, pois ele estava cheio de fotos e vídeos da família, micos que nunca poderão ser refeitos.

- Você quer, eu quero... – ela sentou na beirada do leito, enlaçou o meu quadril com as pernas e aproximou sua boca do meu ouvido. – Me come gostoso... Só isso que eu quero...

O corpo todo arrepiou, aqueceu, não consegui mais resistir, joguei a mulher sobre o colchão do leito e a prendi com o peso do meu.

- Quero goz*r muito, Flávia...

Tempo presente...

- O resto eu realmente prefiro não dizer... – ela tapou os olhos com a mão. – Depois eu encontrei a Cássia no corredor.

Um minuto de silencio para a futura defunta, estavam todas de olhos arregalados, Amanda a fitava e parecia uma estatua.

- Amor? – Flávia não ousou tirar a mão do rosto. – Fala alguma coisa...

- Eu vou te matar... – Amanda começou a beliscar a pobre.

- Ai... Socorro...

- Como você se deixa levar assim por uma piranha qualquer... – fechei meus olhos, as meninas invés de ajudar, começaram a rir da Flávia. – Nem ouse chegar perto daquela loira de araque, Flávia...

- Ai, Senhor... Eu vou desmaiar...

 Flávia apagou, rapidamente Amanda parou com a seção de tortura, Isa e Becca levantaram preocupadas, enquanto Emily, Nicole, Paloma e eu não mexemos um musculo, coloquei um dedo sobre meus lábios, pedindo silencio para as três que ameaçavam explodir em risos, pois sabiam que a Flávia estava fingindo. Ela fez a mesma coisa quando a Emily encontrou uma carta de uma fulana que era apaixonada pela Flávia, no primeiro ano do ensino médio, Emi quis matar a coitada da minha amiga que não tinha culpa de nada, e a segunda vez eu conto em outra ocasião.

Depois de alguns minutos fingindo, a doida abriu os olhos e ficou sendo paparicada pela namorada que esqueceu momentaneamente do assunto “atrizes pornô”. Levantei, peguei o celular da Flávia para trocar o alarme, sim! Eu adoro fazer isso. Desbloqueei e fui bisbilhotar as fotos que ela recebia no whatsapp e quase me engasguei com saliva quando me deparei com três fotos.

- O que foi amor? – Paloma quis saber e todas me olharam, Flávia arregalou os olhos e eu sentir necessidade de compartilhar o que estava vendo.

- Cássia, me devolve o celular... Agora!

- Deixa eu ver isso... – Paloma pegou o celular, Emi e Nick se aproximaram.

- Ai, meu Deus... – Emily pós a mão sobre a boca.

- Mas, que menina mais safada! – Nicole exclamou. – Nem toda enfaixada sossega a periquita...

- Pra quem enviou essas fotos, Flávia? – a mesma se escondeu debaixo do coberto.

- Que fotos? – Amanda perguntou entre dentes para ela. Flávia, respirou pesado.

- As fotos que eu te enviei... – ela soltou uma rajada de ar da boca, ainda debaixo das cobertas. – Esqueci de apagar... Merda!

- Merda! – Amanda passou a mão nos cabelos.

- Eu quero ver! – Rebecca e Isabela disseram juntas.

- Nem pensar! – Emi e Nick responderam juntas.

Elas levantaram as mãos em sinal de rendição, continuamos a olhar e zombar da pobre, Amanda ficou rubra, mas estava gostoso demais zoar a Flávia. Alguns minutos depois, Isa e a Amanda, receberam ligações, os advogados ligaram e informaram que o delegado do caso estava pedindo a presença das duas na delegacia, Amanda ligou para o pai, Isa para os pais. Nicole se ofereceu para leva-las.

Emily e Rebecca, Paloma e eu, ficamos para fazer companhia a nossa amiga de roupa estranha, pedi aos céus que as duas não aparecessem mais. Já se passavam das oito da noite, Amanda havia ligado para a Flávia e disse que iria passar a noite com ela e como estávamos todas sem carro, decidimos ir para casa depois que a Carolina e Henrique disseram que ficariam com ela.

- Dorme em casa? – Paloma me pediu.

- Sempre que quiser... – lhe dei um selinho, enquanto nós quatro esperávamos o ônibus.

O apartamento de Emi, ficava a poucos metros do condomínio onde a minha namorada morava, então saltamos na mesma parada de ônibus, nos despedimos e a meninas entraram no edifício, seguimos e logo já estávamos andando dentro do condomínio. Paloma abraçava a minha cintura, enquanto o meu braço repousava sobre seu ombro. Era bom demais sentir o calor daquela menina. Já havia me apaixonado uma vez, mas tive o meu coração partido por uma garota hetero que só me usou como laboratório de lésbica, naquela época eu era uma adolescente boba, chorei durante muito tempo a dor da rejeição, isso aconteceu um pouco antes dos pais da Emi, levarem ela para Londres. Flávia e ela, ficaram comigo em cada minuto de agonia. Depois disso, eu só curtia a vida, ficava e não queria nada sério com ninguém, mas daí... Um dia conversando com essa mulher maravilhosa ao meu lado, as coisas foram mudando, vi Paloma crescer, aos poucos se tornando uma linda mulher. A via como uma irmã mais nova, até aquele dia que ela mostrou não ser mais aquela menininha que gostava de aprontar na escada.

3 de Janeiro do mesmo ano...

- Nunca mais te vi com nem uma namorada, Cássia... – estávamos no quarto da Paloma, os pais e as irmãs haviam ido para uma confraternização no hospital, ela não quis ir e eu me ofereci para ficar e fazer companhia.

- Não sei se tenho estrutura emocional para oferecer algo para alguém... – suspirei, estávamos olhando para o céu da sacada do quarto dela. A noite estava bonita e um vento fresco nos abraçava.

- Não deve deixar a dor de um coração partido te desanimar de conhecer alguém legal, Cássia... – virei a cabeça e ficamos nos olhando. – Vai deixar a idiota da Bruna, ser o fantasma da sua vida?

- Quantos anos você tem, trinta? – ela me empurrou e sorriu.

- Um dia eu quero saber qual é a sensação de beijar uma mulher... – ela me disse sem desviar o olhar do meu.

- Não sabia que era uma curiosa, Paloma... – ela sorriu.

- Não é apenas curiosidade, Cássia...

Ela levantou em um pulo e colocou uma perna em cada lado do meu quadril, jogou o cabelo para o lado, uma mão em cada lado do meu rosto, apoiada no chão. Senti o coração dar um solavanco, um frio que não me visitava desde o fracasso chamado ‘Bruna’, surgiu um milhão de vezes mais forte. Ela rasgava a minha alma com os olhos, eu não conseguia me mexer, admirei cada milímetro do rosto daquela menina.

- Faz tempo que quero fazer isso...

Ela não esperou convite, sua boca beijou o canto da minha, seus lábios ch*param o meu inferior e um gemido saiu de minha boca, uma escola de samba se apresentava em meu peito, a boca dela cuidava da minha com extrema delicadeza, sua mão buscou a minha nuca, aprofundando aquele beijo que eu desejei nunca ter fim.

- Do que está rindo... – voltei ao presente.

- Só lembrando da primeira vez que nos beijamos... – ela abriu um sorriso gigante e depois mordeu o lábio inferior.

- O melhor beijo da minha vida... – ela parou, me fez ficar de frente para ela e depois me abraçou com tanta força, que senti as pernas enfraquecerem. – Eu já estava apaixonada... E tive que criar coragem para dar o primeiro passo... – sorri e quase rasguei as bochechas.

- Você é o melhor presente que a vida me deu, Paloma... – me afastei um pouco para olha-la. – Eu te amo tanto, que chega a doer...

- Eu te amo muito, muito... – distribuiu beijinhos por meu rosto. – E não me faz chorar...

Ouvimos duas pessoas se aproximarem, eram duas senhoras que caminhavam pelo condomínio, sufoquei a vontade de beijar a minha menina, rimos uma para a outra, passei novamente o braço sobre os seus ombros e voltamos a caminhar, até que ela me solta essa:

- Acho que já estou pronta! – estanquei na hora, olhei para ela e vi em seus olhos que não estava brincando, pisquei tentando formular algo.

- Para... Para... – me embananei toda.

- Para te dar a minha primeira vez... Para ser a tua mulher de todas as formas...

“Ai meu coração!”.

 

Fim do capítulo