Espero que gostem!
Capítulo 25 - Desespero
Eu olhava para tudo aquilo sentindo nojo. A cada nova palavra que eu lia sentia meu sangue correr por minhas veias de forma fervorosa. A cada nova foto que eu olhava me embrulhava o estomago. Meus olhos ardiam, lágrimas queimavam meus olhos violentamente. Minhas mãos doíam, mesmo assim eu não conseguia empregar menos força ali, as apertava cada vez mais, como se aquele ato conseguisse sanar tudo aquilo que eu estava sentindo.
Aquilo era tudo muito surreal, até parecia que eu estava dentro de um enredo de novela. Como podia? Ainda havia mais coisas naquele envelope, coisas que eu ainda não tinha visto o conteúdo, como um cd. Porém, era pouco provável que a minha raiva, o nojo, a tristeza, a descrença tudo aquilo diminuísse como que quer que fosse que tivesse ali, pelo contrário, tenho certeza de que tudo pioraria.
Bati a mão espalmada sobre a mesa. Ardeu, mas não mais do que aquele nó que estava preso em minha garganta. Olhei para Thaís incrédula. Ela, por sua vez, compartilhava de boa parte de meus sentimentos. Sua feição sempre alegre, pacífica e feliz, estava transfigurada.
-- Eu não consigo acreditar em nada disso Thaís! Estou vendo, está tudo aqui a minha frente, mas me custa acreditar que o ser humano pode ser capaz disso. Como alguém pode fazer isso com alguém? Por tão pouco!
-- Sei que é difícil, eu também não estou conseguindo crer. Isso é demais! É sem escrúpulo, sem caráter.
Olhei mais uma vez para uma foto em específico. O nó em minha garganta pareceu extrapolar dessa vez. Uma explosão ocorreu dentro de meu corpo, me fazendo levantar abruptamente, praticamente levando a mesa comigo.
-- Aonde você vai? – Thaís levantou junto e me encarou espantada.
-- Preciso tirar essa estória a limpo. E tem que ser agora.
-- De cabeça quente você não vai conseguir resolver nada, só vai complicar tudo. Pensa, pensa antes de agir. Da última vez que agiu sem pensar isso quase custou o seu casamento.
-- Como vou parar e pensar, com tudo isso aqui? – exaltei-me e joguei tudo no chão – Como vou conseguir ficar inerte mais uma vez?
-- Não estou pedindo para você ficar inerte, apenas agir com cautela, com cuidado. A palavra é pensar, não tem outra.
Joguei-me de volta na cadeira, largando meu corpo alí. Sentia todos os músculos de meu corpo doerem. Respirei fundo e mesmo contra a minha vontade, dei vazão às lágrimas que tanto maltratavam meus olhos.
Levei as mãos à cabeça e deixei que elas saíssem vagarosamente. Eu chorava por raiva e principalmente porque fui acometida por uma sensação gigantesca de impotência.
-- Como eu não percebi nada disso Thaís? Estava bem aqui, diante de meus olhos o tempo todo. Tudo isso não passou de armação, foi o tempo todo uma armação. E o que me dói, e que quem construiu toda essa teia foi alguém que...
Não consegui mais proferir nenhuma palavra. Fiquei engasgada, tentando repassar tudo em minha cabeça.
-- Antes de qualquer coisa, você sabe o que tem que fazer, não é?
Encarei-a entendendo onde ela queria chegar. Thaís queria que eu conversasse com Giovanna antes de qualquer atitude, e eu sei que devia fazer isso até mesmo antes de pensar em qualquer coisa.
-- Não sei como vou conseguir olhar na cara de Giovanna. Não tenho a mínima idéia de como vou contar tudo isso à ela.
-- Ela é a sua esposa. E ela precisa saber Malu, a Giovanna é uma das peças mais importante no meio dessa sujeira toda.
-- Como pude ser tão cega?
-- Isso foi vil Malu, acho que ninguém esperava por essa. – ela falou se abaixando a minha frente – E saiba que seja o que for eu estarei aqui se você precisar. Não importa o momento, sempre estarei aqui.
-- Obrigada Thaís. Não consigo nem imaginar o que teria sido de mim se eu tivesse aberto isso aqui sozinha. –suspirei – Por onde eu começo?
-- Bom, podemos começar avaliando, estudando e verificando a veracidade de tudo isso aqui. Não podemos confiar, o remetente nem mesmo quis se identificar, então não sei se dá para confiar de olhos fechados.
-- Tem razão, precisamos encontrar alguém de confiança para fazer isso.
-- Agora, vamos?
Eu sabia muito bem o que ela queria que eu fizesse naquele instante. Respirei fundo e forcei meu corpo a responder. Levantei e apanhei tudo o que eu havia jogado ao chão.
-- Eu tenho que resolver isso tudo Thaís, isso não pode ficar assim.
-- Nós – frisou a palavra – resolveremos tudo.
Era muito bom saber, e poder contar com um apoio daqueles. Thaís estava sendo para mim muito mais do que eu sempre esperei que ela fosse. Estava sendo uma verdadeira amiga. E por falar em amiga, eu tinha que falar também com Alice, saber o que ela achava, e claro, abusar do seu lado profissional. Sei que precisaria.
Subi as escadas em busca de Giovanna e as outras meninas. No fundo, alguma parte de mim temia a reação dela. Nem eu sabia quais seriam as minhas reações posteriormente. Não queria nem parar para pensar. Meu preocupava verdadeiramente o estado emocional de Giovanna. Queria poder guardar tudo aquilo comigo, resolver cada detalhe sem precisar envolvê-la.
Subir as escadas e encontrei-a em nosso quarto. Como era de costume, Alice estava ali, falando com a sua barriga, ou melhor, com Anna Sophia. Giovanna estava sentada na cama, enquanto as duas mulheres mais babonas estavam em sua volta. Alice sempre parecia emocionada ao falar com a afilhada, e Elisa, bom, ela era uma verdadeira manteiga derretida, então já dá para imaginar a cara dela olhando para as duas.
Aquele tipo de cena era o tipo que sempre mexia com o meu emocional. Era engraçado imaginar e chegar à conclusão de que havia tanto amor por um pequeno ser que ainda nem conhecíamos o rosto. A verdade é que eu a amei grandiosamente no exato momento em que ganhei a caixa de presente com o teste de gravidez, e pude entender tudo.
-- Amor! – Giovanna me viu ao pé da porta.
-- Oi minha ruiva.
-- Vem cá. – me estendeu a mão – Acho que a Anna Sophia se mexeu. Ela pareceu contente ao ouvir a voz da Alice, ficou agitada.
Um sorriso brotou em meu rosto. Era uma emoção atrás da outra, e tudo o que envolvia as duas mulheres da minha vida, era maior do que qualquer outra coisa, até mesmo do que os meus maiores problemas.
-- Vem Malu, sente. – Alice chamou-me e me deu o seu lugar.
Sentei e toquei o ventre de minha esposa. Meus olhos já ardiam mesmo sem ainda ter sentido os pequenos movimentos de minha filha.
-- Fala com ela amor. – Giovanna tocou a minha mão e me incentivou.
Respirei fundo e tentei segurar a enorme vontade de chorar.
-- Ei minha pequena. Quer dizer que você já está fazendo o maior reboliço ai dentro é? Não canse muito a mamãe ta? - respirei fundo e continuei – Meu amor eu estou tão ansiosa para te segurar nos braços, para enfim olhar dentro desses seus olhinhos. Eu sei que você será igualzinha a mamãe, e ainda me dará muitos fios de cabelos brancos. Quando estiver grandinha, eu sei que me dará muito trabalho, terei que espantar muito marmanjo ou marmanja. Mas sei que todo trabalho e preocupação valerão à pena, porque o amor que eu sinto por você já é maior que eu, é tão forte que e sei que sou capaz de tudo por você. Eu serei a mãe que você precisa, eu e mamãe prometemos sempre te proteger, te amar incondicionalmente. – suspirei tentando fazer com que a minha voz saísse menos abafada – Você veio para completar a minha vida, e eu prometo não deixar nada te acontecer minha pequena.
Ergui a cabeça, mantendo minhas mãos sobre a barriga da ruiva, e tentando não externar todo o turbilhão que eu tinha dentro de mim. Olhei para minha esposa e ela tinha lágrimas nos olhos. Tentei sorrir para ela, e nesse exato momento, consegui sentir um pequeno e quase imperceptível movimento debaixo de minhas mãos.
Não agüentei, desabei ali. Foi mais forte do que eu. Eu tentava prender os soluços, mas era inútil.
-- Ei amor, não chora. É um momento lindo, mas não quero que chore assim.
-- É a Anna Sophia amor, a nossa filha, ela está se mexendo. – sorri bobamente.
-- Eu sei meu amor.
-- Meninas, acho melhor deixar-mos elas curtirem esse momento um pouquinho. – disse Thaís.
-- Tem razão. – concordou Elisa – Estaremos lá embaixo, ta bom?
Não consegui responder nada, apensa balancei a cabeça afirmando.
Estava me sentindo tão frágil, tão vulnerável que nem mesmo dava para disfarçar. E eu nem queria, queria buscar abrigo e conforto nos braços da mulher que eu mais amava nesse mundo, e que agora, dividia o meu coração com o pequeno ser que em breve nos brindaria com seu pequeno sorriso.
Deitei-me sobre as pernas de Giovanna e não demorou para que eu sentisse seus dedos passearem suavemente, de maneira carinho por entre os meus cabelos. Fechei os olhos, suspirei.
-- Parece que foi ontem que recebi a notícia de que seria mãe.
-- É. Parece ontem. Mas você não tem ideia de quanto foi trabalhoso armar todas aquelas surpresas pra você amor. E foi doloroso.
-- Doloroso? – perguntei abrindo os olhos procurando o meu mar azul.
-- Sim. Sabe que não consigo mentir para você, então teve momentos em que eu tive que fugir, evitava te ver, fugia de perguntas suas. Quase desisti da surpresa e entreguei tudo no dia que cheguei a casa e você havia tomado remédios para dormir. Seus olhos não te deixavam negar, tinha chorado antes de dormir.
-- Todas as coisas ruins que senti naquela época se tornaram tão pequenas.
-- Eu estou tão feliz amor.
Engoli em seco ao ouvir tais palavras. Como eu diria ela, sobre a teia de armações que nos envolveram? Suspirei pesadamente sem nem me dar conta, mas, ela percebeu.
-- O que foi amor? Por acaso... – parou por alguns segundos – por acaso você está infeliz? Não era isso o que queria para a sua vida?
Ergui-me de suas pernas mais do que depressa. Assustei-me com o rumo que aquela conversa começava a tomar. É claro que eu estava bem onde eu queria, minha vida ia perfeitamente, meus sonhos se realizavam e se complementavam com os da ruiva a minha frente. Tudo ia bem, até abrir aquele maldito envelope.
-- Giovanna? – chamei-a quando a vi baixar a cabeça - Ei minha ruiva, olha aqui para mim.
-- Desculpa se as coisas não estão saindo como você imaginava. Eu sei que um filho agora pode estar tirando todos os seus planos dos trilhos. Me precipitei, devia ter conversado com você antes da inseminação, então...
-- Giovanna! Me escuta!
Olhei para aqueles olhinhos lacrimejantes e senti um pequeno aperto no peito. Não queria que ela pensasse aquilo, não era verdade. Anna Sophia estava na verdade colocando a minha vida nos trilhos. É verdade, eu não esperava que fosse naquele momento, mas agora, a sua chegada era tudo o que eu mais queria.
Segurei suavemente as mãos suaves e trêmulas de minha esposa. Apertei-as levemente, fazendo com que ela olhasse para mim.
-- Não é nada disso meu amor. A vida não poderia estar melhor, é até mais do que eu sempre imaginei. Tenho verdadeiro orgulho e felicidade por me dar conta de tudo o que construímos, de onde chegamos. Nossa filha é o meu, o nosso maior presente, e não tem nada que eu faria diferente.
-- Tem certeza de que está feliz? – perguntou chorosa.
-- É claro que tenho meu amor. Estou imensamente feliz, e só tenho a te agradecer por tudo isso.
-- E porque desde que entrou nesse quarto eu tenho sentido que tem algo errado? Você parece angustiada, aflita. E eu simplesmente não sei o que pode ser.
Ainda segurando as suas mãos, baixei a cabeça, suspirei e tornei a olhar para ela. Tinha que ser agora, mesmo com a coragem quase me escapando, tinha que ser agora!
-- Nós precisamos conversar.
-- Eu sabia! – falou com um sorriso triste.
-- Mas não é nada do que você está pensando, é algo que até eu, nunca imaginei. Jamais cogitei.
-- Está começando a me assustar.
-- Eu recebi isto aqui agora a pouco – disse pegando o envelope sobre a cama, atrás de mim – Um garoto veio até aqui, perguntou se eu me chamava Maria Luíza, e me entregou. Nunca o vi. A questão, é que até agora eu não sei quem me mandou isso, já recebi outros dois parecidos, mas nunca cheguei a abrir.
-- E o que tem aí?
-- Olha amor, quero que saiba que apesar de ser horrível, nós vamos solucionar tudo isso, descobrir tudo e colocar todos os pingos nos “is”.
-- Luíza o que tem nesse envelope?
-- Eu sinto muito por tudo isso. – estendi-lhe o tal envelope.
Giovanna hesitou por alguns segundos. Se manteve olhando, incerta e insegura. Mas após um breve suspiro, ela o tirou de minhas mãos, e lentamente abriu, dando uma pequena olhada no conteúdo. Até ai, nenhuma reação, no entanto, quando ela retirou as fotos, levou a mão até a boca.
Tentei me manter firme ao seu lado, ser passível de uma maneira que não deixasse vir a tona aquele mar de emoções que eu estava sentindo. Meu coração batia na garganta, e conforme Giovanna passava as fotos e as analisava de maneira minunciosa, mais ele acelerava.
Até então suas emoções pareciam estar sobre controle, mas então ela chegou nas 5 últimas fotos, foram exatamente aquelas que me arrasaram, feriram minha alma e meu coração.
Essas fotos, pelo que tudo indicava foram tiradas no dia do congresso que Giovanna participou, aquele mesmo congresso que me deixou aflita e insegura. O mesmo congresso que o tal médico metido a galã deu o ar da graça no último dia quando ninguém o espera. Pelo menos não a minha esposa.
Uma das primeiras, me chamou a atenção. Wilson, o chefe de Giovanna lhe servia um copo com um drink, depois ele se retirava e ficava apenas observando. Nas que seguiam, era apenas Giovanna, visivelmente alterada pela bebida. Ela aparecia ao telefone, provavelmente na noite em que falava comigo. Logo depois Henrique aparecia, e em todas as outras ele estava presente.
Próximo demais, passando a impressão de possessividade. Suas mãos estavam sempre a tocar minha esposa.
Nas fotos também é possível ver a cena que Giovanna descreveu no dia em que o hipócrita afirma ter tido relações sexuais co ela. Um desequilíbrio e ele a leva para o quarto, entrando junto com ela. Não sei como e nem quem era o responsável por aquelas fotos, mas, a tal pessoa conseguiu tirar fotos dentro do aposento.
E são exatamente essas fotos que fazer o meu coração vibrar negativamente dentro do peito. Afoito. Magoado. Ferido. Dilacerado. As fotos mostram que não houve a relação sexual, mas o mostra despindo minha esposa, deixando-a apenas de roupas íntimas e tocando seu corpo com as mãos. Beijando seus lábios logo em seguida. Houve sem abuso sexual.
Ver aquelas fotos doía muito. Giovanna desacordada, sendo tocada por aquele homem sem que pudesse ao menos impedir ou se defender. Aquilo me arrasava!
-- Quem te enviou isso?! – perguntou com lágrimas nos olhos.
-- Eu não sei.
-- Ele...eu não acredito que...
-- Eu sinto muito meu amor. Me sinto horrível, impotente.
-- Cheguei a acreditar que tudo o que aquele homem falou tivesse sido mentira. E eu quis muito que fosse mentira, que ele não tivesse encostado um dedo sequer em mim...mas...ele...
Ela começou a chorar. Eu já estava chorando desde o instante em que vi seus olhos lacrimejantes. Por Deus! Como eu estava me odiando por não ter conseguido evitar aquilo, por ser incapaz de tirar a tristeza e a dor que eu estava vendo naqueles olhos azuis que eu tanta amava.
-- Anna Sophia, a nossa filha ela...
-- Não.
Mostrei a ela a última foto onde ele abria a porta, entrando uma enfermeira morena – eu conhecia aquela mulher, foi a mesma mulher que um dia atrapalhou o meu plano de agredir aquele médico no hospital em que Giovanna trabalhava – ela entra, e ele deixa o quarto.
Não havia possibilidade de Giovanna estar grávida dele. Mas como Thaís e eu conversamos antes, tiraremos a prova de tudo aquilo. Um teste de DNA, infelizmente faria parte do plano.
Giovanna voltou a mexer no envelope, dessa vez despejando todo o conteúdo sobre a cama. Ela pegou o CD e examinou-o, revirando de um lado para o outro. Talvez com medo.
-- Isso aqui? Você já viu? – perguntou-me.
-- Não cheguei a abrir amor.
--Pega pra mim? – apontou para a mesa onde jazia o seu notebook.
-- Não precisamos ver isso agora, depois, nós...
-- Por favor. – pediu com a voz quase sumindo.
Levantei e caminhei a passos extremamente lentos até a cômoda. Peguei o aparelho e voltei para a cama. Coloquei-o sobre minhas pernas e pedi o CD. Queria ser a primeira a ter um “contato” com o conteúdo, assim, dependendo, eu poderia poupar a ruiva chorosa do que ali continha.
Coloquei o CD, e uma pasta intitulada com “Diálogos”. Abri a pasta e havia alguns áudios sem título ou nem outro tipo de identificação. Cliquei no primeiro.
**********
-- Que prazer receber a senhora aqui. Sente-se, por favor.
-- Não preciso desse tipo de bajulação Henrique. Nós dois sabemos muito bem o que vim fazer aqui.
-- Sim, nós sabemos. No entanto, a senhora também deve saber que antes de mais nada, não darei nem mais um passo sem que a senhora me dê a primeira parte do dinheiro, assim como combinamos.
-- Já olhou a sua conta bancária hoje querido?
-- Confesso que não. – uma risada – Muito perspicaz a senhora.
-- Não estou de brincadeira meu caro. Sabe muito bem o meu interesse, sabe a tradição e os valores que o nome de minha família carrega. E como tal, minha palavra é de honra. E de maneira nenhuma permitirei que a imagem de minha família seja prejudicada com tamanha baixaria. Se minha irmã agora compactua com isso, eu jamais compactuarei.
-- Penso que poucas pessoas na cidade não apreciem o nome de sua família.
-- Deixemos de conversa fiada Henrique, agora quero saber o que você tem em mente para separar aquelas duas.
-- As coisas estão saindo melhor do que encomenda. Já consegui uma certa aproximação, e sei o que causei naquele...naquilo que elas chamam de relacionamento.
-- Isso não me acrescenta nada.
-- Em breve haverá um congresso de fisioterapia. E eu estou mexendo meus pauzinhos, tenho alguns contatos, e não há nada que uma quantia significativa não compre.
-- Conte-me mais.
-- Giovanna, mesmo contra sua vontade, terá que ir a este congresso. E eu também irei, porém, ela só saberá em cima da hora. O nosso chefinho, o Wilson, está me ajudando nessa parte, inclusive, ele conseguiu com um colega, sei lá, uma droga para colocar na bebida dela. Farei parecer que ela não resistiu aos meus encantos. Pouco a pouco em vou acabar com elas, Maria Luíza está possessa de ciúmes, isso é perceptível, farei ela perder a cabeça.
Uma forte e asquerosa gargalhada foi ouvida. Era Carmem!
-- Não quero apenas isso! Para mim não basta que elas se separem, eu quero o fim daquela aleijada. Quero vê-la fracassada, em derrocada. Quero-a sem nada!
-- Darei uma atenção em especial para ela. Não se preocupe querida.
-- Não poupe esforços e muito menos dinheiro.
**********
Aquela gravação terminou ali. Fechei e abri os olhos algumas vezes, tentando raciocinar e assimilar o que acabara de ouvir. Olhei para minha esposa e os indícios de choro estavam presentes em seu rosto, ela estava segurando, mas sei que logo desabaria. E eu não queria que ela guardasse nada, era melhor deixar sair, chorar.
-- Amor? – chamei-a.
Ela não me respondeu, apenas levantou bruscamente ficando de costas para mim. Arregalei os olhos, com uma preocupação fora do normal tomando conta de mim. Aquilo, aquele reboliço todo no emocional dela não faria nada bem, nem para ela nem para o bebê.
Levantei e fui até ela. Pousando minhas mãos em sua cintura. Dando um leve aperto, apenas para ela saber que nada importava, eu estaria ali para elas.
-- Nunca entendi porque o nosso amor pode ser tão vergonhoso para alguns. Ela é minha tia...ela...não acredito nisso. – sua voz era chorosa.
-- Nosso amor não é motivo de vergonha para ninguém amor. Sua tia não sabe o que é amar, ela não entende isso.
Giovanna se virou para mim ligeiramente. Passou os braços por meu pescoço. Apertando, me puxando mais e mais para ela. Ela escondia seu rosto na curva de meu pescoço, e não demorou para que eu sentisse algo quente molhar aquela área. Logo os espasmos e os soluços começaram a balançar o seu corpo.
-- Shiii. – falei passando as mãos por seu cabelo.
Abracei-a apertando. Sentindo meus próprios olhos querendo me trair. Eu tinha que ser a força naquele momento. Engoli a vontade de acompanhá-la naquele choro e pensei apenas em acalentá-la, deixá-la confortável.
-- Luíza você promete que não vai deixar ninguém nos separar? Promete pra mim? – perguntou contra minha pele.
-- Ninguém jamais no separará amor. Eu não deixarei! – falei com toda a convicção que eu trazia no peito – Eu te amo mais que tudo, você é o meu ar, a minha razão, e eu jamais saberia viver sem isso. Sempre te amarei, mesmo quando eu não estiver mais aqui.
-- Não fala assim! Você sempre estará aqui, ficaremos juntas até a velhice, partiremos juntas.
Notei um certo desespero em sua voz. Certo! Escolhi mal as palavras.
-- Ninguém vai nos separar amor. – repeti ao seu ouvido.
Ficamos ali, de pé, abraçados por um bom tempo. Não sei precisar, mas eu só ousei afrouxar meus braços em volta dela quando a vi mais tranqüila. Ela já não chorava, apenas suspira profundamente.
-- Tem mais alguma coisa nesse CD? – perguntou.
-- Não. – menti – O que acha de deitar um pouquinho e descansar?
-- Você fica comigo?
-- É claro meu amor.
Levei-a até a cama, e cuidadosamente deitei-a.
Ela buscou meus olhos enquanto me mantive de pé. Olhar aqueles olhos tão brilhantes agora avermelhados doía em mim. Ninguém jamais entenderia como as emoções daquela mulher me afetavam. Ninguém jamais compreenderia que eu daria tudo, tudo o que fosse preciso para jamais ver um resquício de tristeza naquele olhar.
Sorri para ela e dei a volta na cama. Deitando ao seu lado. Suavemente ela se encaixou em mim. E era nessa hora que eu sempre tinha certeza de que aquela mulher havia sido feita para mim. Era o meu encaixe. Meu encaixe perfeito.
Passei os braços por seu corpo. Cheirei e beijei cada cantinho de pele exposta. Seus ombros nus era o meu maior alvo. Apesar de não falar eu sabia que ela estava acordada, e levou um certo tempo até eu sentisse seu corpo finalmente relaxar.
Fiquei ali, encarando o teto. Tentando pensar em algo, porém, não conseguia. Minha cabeça estava um emaranhado de informações, emoções, notícias...tudo junto, rodando dentro da minha cabeça sem que conseguissem formar algum tipo de elo.
Esperei até que ela aprofundasse o sono e lentamente soltei seu corpo, com cuidado para não acordá-la. Sai da cama e cobri-lhe o corpo. Depositando um beijo cálido em sua testa antes de deixar o quarto.
Cheguei até o meio do corredor, quando estanquei de repente. O notebook. Mansamente voltei até o quarto e peguei o aparelho, aproveitando para recolher toda aquela merd* de encomenda que me fora enviada. Levando comigo para a parte de baixo da casa.
-- A Thaís não quis nos contar, mas eu sei que tem algo acontecendo. E sei que é algo grave. Pode falar de uma vez. - Alice me atacou com palavras assim que cheguei a sala.
Olhei para aqueles três pares de olhos curiosos, aflitos e angustiados e senti algo remexer dentro de meu estômago. Caminhei devagar, me dirigindo até o sofá e joguei meu corpo ali. Ficando no meio de Alice e Elisa, e de frente para Thaís.
Tentei novamente engolir o choro, mas dessa vez falhei. Cai em um choro convulsivo. Sentindo o peito subir e descer freneticamente, soluçando vergonhosamente.
Senti um toque acolhedor em meu obro. Era Alice.
-- Malu...
-- Querem arrancar a Giovanna de mim... – sussurrei – E me assusta, me deixa desesperada o fato de não saber o limite de tudo isso.
Alice me abraçou de lado, e com cuidado fui relatando tudo desde a primeira encomenda que tinha recebido. Quando terminei de contar tudo, senti como se o mundo estivesse sobre meus ombros. Senti um cansaço surreal, incomum.
-- Essa mulher é uma víbora sem escrúpulos! – bradou Alice.
-- Ela é a tia da Giovanna. – falou baixinho Elisa.
-- Ainda sim é uma víbora. Como ela pode fazer isso com a própria sobrinha? Sangue do sangue dela? Ela não enxerga que esta tentando acabar com a felicidade da Giovanna?
-- Amor, calma.
-- Eu não sei nem por onde começar. – estava me sentindo perdida.
-- Nós estamos aqui Malu – Elisa segurou a minha mão – família é para isso, não vamos te abandonar em um momento difícil. Juntas, vamos solucionar tudo isso.
Olhei para Elisa e senti meu peito inflar. Minha família não me aceitava, e sei que jamais aceitaria, porém, Deus me deu uma família incrível. Não era de sangue, mas era de coração, era de alma.
-- Obrigada.
-- Eu tenho um palpite de quem pode ter mandado isso pra você. Meus palpites não costumam falhar, então devíamos procurar essa pessoa e tentar tirar algo dela.
-- Qual o seu palpite Alice?
-- Essa mulher. – falou apontando para a foto.
-- Ela?
-- Sim. Você a conhece?
-- Vi essa mulher uma vez. Lá no hospital onde Giovanna trabalhava.
-- Então nós vamos procurá-la.
-- Mas amor, mesmo que tenha sido ela, não falará tão fácil assim. Algo a impede de falar sobre isso abertamente, do contrário, ela teria procurado a Malu pessoalmente.
-- A Elisa tem razão. – Thaís se pronunciou.
Passamos boa parte do dia falando sobre aquele assunto tão incômodo. Qual seria o real plano? Do que seriam capazes? Nem nos demos conta da hora do almoço. As meninas estavam tão empenhada em me ajudar que saíram da minha casa cada uma encarregada de uma função.
Procuraríamos uma clínica para fazer o teste de DNA. Um profissional para testar a veracidade de cada foto, e eu teria um bom diálogo com três pessoas: Henrique, Carmem, e a tal enfermeira.
Fui até o escritório com o notebook e tive o cuidado de trancar a porta assim que entrei. Liguei o notebook e procurei nas gavetas um fone de ouvido. A curiosidade me corroia, e eu precisava saber o que mais tinha gravado ali.
Cliquei no segundo áudio. Agora a conversa era entre Henrique e o ex chefe de Giovanna, o Wilson. Os dois acertavam os detalhes do “congresso”. Wilson mentiria, não falaria sobre a “repentina” ida de Henrique e ficaria responsável por colocar a droga na bebida dela no início da noite. E terminou a conversa dizendo que com a ajuda dele, ela passaria a noite nos braços dele.
**********
-- E então Henrique, como foi a sua noite?
-- Maravilhosa. Um grande passo. Para todos os efeitos, sua sobrinha e eu trans*mos loucamente durante toda a noite.
-- Acho que no fundo é de um homem como você que ela precisa. Um homem que prove para ela o que realmente é prazer.
-- Fico lisonjeado com isso. Ela tem um corpo maravilhoso, a pele macia, os seios do tamanho perfeito. Sinto por não ter aproveitado e trans*do mesmo com ela.
-- Você terá a sua chance. Logo ela precisará de um ombro másculo para derramar suas lágrimas quando a aleijada abandonar ela de forma incompreensível. Por enquanto, ela precisa apenas acreditar que vocês tiveram uma sórdida noite de amor.
-- Farei isso.
-- E cuide para que a aleijada obtenha essa informação em primeira mão.
**********
Os dois riram e se despediram. Senti meu estômago revirar.
Cliquei em outro áudio.
**********
-- Alô?
-- Henrique!
-- Olá Carmem. Como vai?
-- Vamos direto ao ponto.
-- Tudo bem. O que desejas?
-- Não faça nada agora. Minha querida irmã acabou de me dar provavelmente a arma mais poderosa que temos contra aquelas duas!
-- E que arma seria essa?
-- Giovanna está grávida!
-- Grávida?
-- Isso mesmo! Agora sim colocaremos um fim nessa brincadeira.
-- Ainda não compreendi.
--Ouça com atenção. Antes você apenas diria que trans*ram naquela noite do congresso. Pode ser que fosse algo fraco, ela não acreditasse. Porém, mesmo que ela não acredite, a aleijada irá duvidar desta gravidez. Irá atribuir que você é o pai. Compreendeu?
-- Agora estou entendendo aonde quer chegar.
-- Pois bem. Fiquei quieto por hora. Deixe ela alçar um voo mais alto ainda, e quando ela estiver bem lá no alto, você diz que é pai desta criança.
**********
Tirei os fones e os joguei sobre a mesa. Relaxei na cadeira e fechei os olhos. Eu não queria ouvir mais nada. Havia mais. Porém, meu estômago não agüentava mais nada daquela sujeira.
Uma coisa que ainda martelava em minha cabeça, era como aqueles dois se uniram? Por acaso? Como foi?
Respirei fundo apertando as têmporas. Já podia ver aquela enxaqueca se aproximando lentamente. Baixei a tela do computador e o cobri com alguns papeis que haviam sobre a mesa.
Luíza! - O grito desesperado ecoou pela casa.
Corri escada acima, sentindo meu coração palpitar e um sentimento muito ruim tomar conta de mim. Um desespero passou a me consumir pouco a pouco e eu nunca havia percebido que aquela escada era tão grande como agora.
Cheguei ao quarto abrindo a porta com tanta força que um baque foi ouvido. Olhei para minha esposa e a primeira imagem que vi foi sua face transfigurada, ela parecia assustada.
Corri até ela.
-- Amor o que foi?
-- Luíza, por favor, me ajuda. Me ajuda, não deixa nada acontecer com a nossa menina.
Neste momento Giovanna olha para baixo. Segui o seu olhar e senti minha boca ficar seca de maneira instantânea. Quase desabei quando vi aquela quantidade considerável de sangue sobre a cama, no meio de suas pernas.
-- Amor... – choramingou – Está doendo.
Desesperada. Sentindo meu coração palpitar violentamente comecei a agir sob o efeito da adrenalina. Corri até o armário peguei uma toalha e joguei sobre o ombro. Em seguida peguei Giovanna no colo e desci as escadas correndo. Levei-a até o carro e a coloquei no banco do passageiro, cobri o seu colo onde sangue manchava seu vestido, voltei para dentro de casa, peguei as chaves e o celular que vi pela frente e voltei para o carro.
-- Está doendo amor. A nossa menina... – ela sussurrava.
Dei partida no carro, abri o portão da garagem com o controle remoto e ganhei as ruas.
-- Vai ficar tudo bem meu amor. Vai ficar tudo bem.
Eu repetia a todo o momento. Porém, no fundo parecia que eu repetia isso mais para mim do que para ela.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
lis
Em: 28/07/2016
Poxa como pode né existir gente desse jeito que não consegue ver a felicidades dos outros e tem que fazer algo para estragar
Resposta do autor:
É Lis, e o que me deixa triste é me dar conta de que existe mesmo muita gente assim por ai. Felicidade dos outros hoje é motivo de inveja e cobiça. Mas, tenho certeza de que o nosso casal supera mais essa!
Beijos
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LeticiaFed
Em: 26/07/2016
Mas tem gente ruim neste mundo, credo...
Torcendo para que seja tão somente um grande susto e tudo fique bem com a neném.
E nossa autora querida voltou logo, que bom! Foram as mensagens de apoio das tuas leitoras! hahaha
Falando sério, vc merece cada palavra de apoio e carinho. E vambora!
Beijo grande!
Resposta do autor:
Pior viu Leticia. Existe muita gente por ai que não consegue aceitar e ver os outros felizes, querem logo dar um fim. Povo mais mal amado! Tem que ser apenas um grande susto, não é possível que essa fase tão linda das vidas dela se perca diante da maldade dos outros.
Ow meu anjo, fico muito feliz com esse seu comentário. Apesar de estar demorando para responder, tento tantado me empenhar para não deixar as minhas lindas leitoras na mão. Nada pior do que esperar ansiosamente por cada capítulo. Obrigada pelo carinho!
Beijo grande!
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Mille
Em: 26/07/2016
Agora o porque dessas encomendas está junto a parte da gravação da conversa entre Henrique, Willian e Carmen por elas sabemos que não teve relação sexual, assim o filho que a Giovanna está esperando é do irmão da Elise.
Elas teram que pensar em como desmascarar esses filhos da mães, e acho que esssa enfermeira será uma peça fundamental.
Espero que nada aconteça com Anna Sophia e Giovanna.
Bjus e até o próximo
Resposta do autor:
É, tem uma verdadeira quadrilha tentando acabar com esse relacionamto das duas. A enfermeira será bem importante, ajudará a colocar um fim nessa imagem de boa pinta do médico frajuta.
Quanto a Anna Sophia e Giovanna foi apenas um susto. Ufa!
Beijos
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