"Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente!" (Willian Shakespeare)
Capítulo 15
Depois que, como dizem: "Lavar a alma!" decidi contar à Márcia toda minha história com Marina. Desde o início! Inclusive a sensação que tive ao vê-la chegando na praia naquela manhã e, a certeza de que algo diferente acontecia comigo a partir daquele beijo "apostado".
Minha intenção não foi fazer Márcia sofrer, mas a "amiga de todas as horas" merecia minha confiança e a "amante de tantos desejos", minha lealdade.
Durante uma hora inteira, Márcia me escutou sem me interromper. Sua feição permaneceu inalterada o tempo todo e, estranhamente, isso, em alguns momentos, me incomodou.
A maluca que me acompanhou em tantas idiotices eu já conhecia. A morena sexy que arrasava tanto corações masculinos quanto femininos também não me era estranha. A garota do interior que conquistou tudo sozinha e que praticamente não tinha ninguém, a não ser uma tia-avó que visitava sempre que podia, essa eu também conhecia. Mas, desde o momento em que essa menina declarou seu amor por mim, na cozinha da mansão de meu pai, passei a vê-la com outros olhos. Passei a enxergá-la como ela realmente é, ou seja, uma mulher de verdade. Forte e decidida. E só para completar, se ainda precisasse mais alguma coisa, Márcia era dona de uma beleza de parar o trânsito.
Não era à toa que meu irmão Roberto estava de quatro por ela. E ela, meu Deus! Ela estava de quatro por mim!
"Por que meu coração não se apaixona por esta criatura perfeita à minha frente?!" - pensei enquanto me sentia desconfortável com o olhar sem emoção que ela me lançava.
Depois de relatar o que tinha acontecido na manhã anterior e da besteira que fiz ao comparar as duas na cama, a expressão de Márcia mudou.
- O que foi, Má? - perguntei quando ela se levantou visivelmente incomodada.
Márcia me olhou ainda indecifrável.
- Você não devia ter dito isso! - ela falou.
- Mas eu...
- Não se brinca com esse tipo de coisa, Val! - ela me interrompeu - É baixo, entende?
É claro que eu entendia. Sei que fiz mal, que fui infantil, mas foi um gesto de autodefesa. Será que Márcia não entendia isso?
- Agora eu já disse! - falei rebelde, balançando os ombros.
Ela balançou a cabeça, discordando de minha atitude.
- Olha, Val, eu sei que você detesta que te digam isso, mas, às vezes, você se comporta como uma garotinha mimada e que quer que tudo seja do seu jeito!
Aquilo me ofendeu, porém Márcia não se abalou com minha expressão de desagrado e continuou:
- Você, agora, é uma mulher formada, já está mais do que na hora de crescer, Valentina. As pessoas mudam e nem todos estão na vida para te satisfazer, como seu pai o faz...
- Ei! Também não precisa ofender, né? - exclamei pulando da cama.
- Não estou te ofendendo, Val! Você sabe o que sinto por você, mas isso não me deixa cega para os teus defeitos.
- Não estou te entendendo, Márcia! - falei exasperada. - O que você quer dizer com essa conversa toda?
- Valzinha, querida! - ela me segurou. - Você não tem o direito de brincar com os sentimentos dos outros.
Puxei meu braço, brava, e a encarei:
- Olha aqui! Não pedi para me amar... - quase berrei - E não tenho culpa se o idiota do meu coração ama uma mulher fria e insensível...
- Me escuta, Valentina Siqueira Campos! - Márcia ordenou, segurando-me pelo braço novamente. - Não estou dizendo que você está brincando com meus sentimentos. Eu te amo e, sim, e sei muito bem que você só quer sex* comigo. O que estou querendo que você entenda é que Marina não é obrigada a te amar e, muito menos a abaixar a cabeça enquanto você fica comparando seu desempenho na cama com a de outras pessoas! Isso é indecente! É baixo, garota!
Mesmo sem querer aceitar, sabia que Márcia tinha razão. Senti vergonha em encarar aqueles olhos lindos que me faziam enxergar o quanto eu tinha sido infantil com Marina e mais, o quanto era infantil com a vida.
Como permaneci muda - até pelo assombro de vê-la tendo uma reação tão alterada -, Márcia me soltou e, mais controlada, disse:
- Desculpa! Na verdade não tenho nada com sua vida e muito menos com a forma que quer encará-la.
Olhei para ela que permanecia à minha frente:
- Quem deve pedir desculpas sou eu, Má. - tentei abrir um sorriso - Tenho também que te agradecer por ontem, pelo colo, pelo cuidado...
Márcia colocou seu dedo em frente à minha boca silenciando-me:
- Está tudo bem, Valentina. - ela também tentou sorrir. - Fiz porque gosto muito de você, já disse.
Pela primeira vez, desde que nos conhecemos, senti Márcia fria.
Confesso que reconhecer isso me deixou triste. Acho que Márcia começava a se cansar de correr atrás de mim.
Ela me olhou por mais alguns segundos e então, pedindo licença, foi para o banho... Sem me convidar para ir junto.
Também o que eu queria? Que ela continuasse aceitando as migalhas que sobravam depois de cada mulher que eu levava para a cama?
É, de fato ela estava cheia de razão. Eu tinha que crescer e parar de achar que as coisas tinham que girar ao redor do meu mundo.
Márcia tomou seu banho rapidamente e, assim que saiu, entrei. Já estávamos atrasadas para o escritório e quando saí do banheiro, nua, como sempre fazia, ela me deu as costas, saiu do quarto, e, em segundos, a escutei ao telefone avisando Eva sobre um imprevisto, mas não demoraria muito mais. Profissional como sempre!
Quando chegamos ao meu prédio, Manuel me disse que a moça da manhã anterior tinha estado lá. Márcia me olhou, mas não disse nada. Subimos e, em menos de quinze minutos, fomos para o escritório.
O resto do dia voou. Quando Eva entrou em minha sala perguntando se ainda precisaria dela, assustei-me com a escuridão lá fora.
- Nossa! Como o dia passou... - tirei meus óculos, endireitei meu corpo na cadeira e soltei um longo e cansado suspiro.
- Hoje foi um dia corrido para todos aqui. - disse Eva com expressão cansada, enquanto colocava alguns recados à minha frente. - Você tem uma cliente marcada para as dez da manhã e, às catorze horas há reunião com os administradores do doutor Geraldo Garcia.
- Você pegou as pastas com Roberto? - perguntei-lhe, ajeitando meus papéis e desligando meu computador.
- Sim, estão no armário, atrás de você, e aproveitei para tirar uma cópia da última ata da reunião passada.
- Ótimo, Eva, obrigada. Vou levá-las para dar uma olhada esta noite. - levantei-me. - Márcia já foi?
- A doutora Márcia saiu com o doutor Augusto logo após o almoço e não retornou mais. - Eva me informou.
Estranhamente Márcia não me procurou naquele dia. Ela ainda devia estar chateada, mas... Ligaria para ela depois de um banho morno e relaxante.
- Vou pegar um táxi. Quer carona? - perguntei a Eva enquanto ela me ajudava com as pastas.
- Oh, sim! Vou aceitar. - ela sorriu.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Mille
Em: 31/12/2016
Oi Chirs Vallen tudo bem? Saudades ;)
"Desejo a você…
365 dias de felicidade.
52 semanas de saúde e prosperidade.
12 meses de amor e carinho.
8760 horas de paz e harmonia.
Que neste novo ano você tenha muitos motivos para sorrir!"
E muitas inspirações para nos presentear com lindas histórias. Abraços
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]