"Um coração grande não conhece prazer na vingança e sim... no inteiro e disposto ato de doar-se!" (Cristina da Suécia)
Capítulo 14
Trabalhar foi impossível. Não conseguia me concentrar em nada por mais de meia hora. E, final da tarde, assim que a secretária de Geraldo Garcia saiu de minha sala, joguei-me no sofá confortável de couro negro e pedi uma aspirina a Eva, para tentar amenizar a dor de cabeça infernal que sentia.
Queria ficar uns minutos em silêncio e pedi para não ser incomodada. Podia voltar para casa, mas o perfume de Marina devia estar no ar e também a lembrança do amor que tínhamos feito pela manhã.
Amor?! Não! Eu tinha feito amor, ela... sex*!
Ficaria ali, até meu corpo parar de doer e minha alma se aquietar. Mas Márcia chegou antes disso acontecer e, mesmo debaixo de um sonoro e mal-humorado "Não quero ir!", ela me arrastou para sua casa.
Seria muito mais fácil amar Márcia! E muito menos dolorido! Mas, como disse o poeta, o amor tem razões que a própria razão desconhece. Será que foi um poeta? Um filósofo? Não sei. Quem quer que tenha dito essa bobagem, com toda certeza conheceu alguém como Marina. Fria, intocável e sem coração!
Márcia me deu banho, enxugou-me, colocou-me na cama, fez-me engolir um caldo verde fumegante e, depois, abraçou-me de forma protetora. Ou seja, cuidou de mim sem me perguntar nada.
Dormi assim, abraçada a ela, mas me sentindo péssima por estar me aproveitando de seu amor e abusando de sua amizade.
No meio da noite, acordei sentindo seu corpo quente e macio encostado ao meu. A sensação de segurança e proteção que senti me trouxe certa alegria. Virei-me e abracei aquele corpo feminino e... Nu!
Um forte arrepio fez meu corpo estremecer. Busquei um dos seus seios e, fazendo círculos suaves ao redor do mamilo, senti-o enrijecer. Um gemido rouco soou...
- Por favor, Val! - a voz sonolenta de Márcia me pediu.
- Humm... Não quer? - perguntei-lhe mordiscando a pontinha de sua orelha.
Márcia estremeceu.
- Sabe que sim... - ela respondeu pressionando seu quadril de encontro ao meu.
- Então! - falei e continuei a carícia nos seios, depois fui descendo pela barriga lisa, passando pelo umbigo, indo em direção da...
Márcia segurou minha mão.
- Se não parar agora, não vou deixar que pare mais! - apesar do desejo revelado na voz trêmula de Márcia, ela ainda tentou me deter.
- Não quero parar! Quero você! - falei virando-a para mim e, colocando-me sobre ela.
- Quer mesmo, Val? - não conseguia vislumbrar, na penumbra do quarto, o rosto de Márcia, mas podia perceber a insegurança no tom de sua voz.
- Quero! Quero muito, Má! Você sabe o quanto te desejo! Nunca escondi isso... Nunca! - falei convicta.
Márcia pareceu pesar minhas palavras, mas num arroubo louco, capturou minha boca num beijo urgente e cheio de tesão e passou a me tratar como sua "antiga" amante. Ela sabia onde me tocar! Sabia como me tocar e me fazer implorar pela satisfação completa, total.
Pode parecer estranho! Afinal, estava despedaçada pelo amor não correspondido que carregava no coração por outra mulher. Mas, resistir à Márcia?!? Impossível!
Transamos até que nossos corpos exaustos e satisfeitos exigiram um pouco de descanso. Adormecemos agarradas e, quando o dia clareou, fui acordada por uma morena gatíssima e supergostosa trazendo-me café na cama.
- Bom dia, dorminhoca! - Márcia abriu as cortinas deixando a claridade entrar e se fazer dona absoluta do ambiente.
- Bom dia, Má! - respondi espreguiçando-me feito uma gata.
- Dormiu bem? - ela se aproximou e me beijou os lábios.
- Muito bem! - retribui o beijo. - E você?
- Fazia tempo que eu não dormia "tão" bem, Val! - sua resposta veio acompanhada de um olhar terno e dolorosamente carente.
- Má... - comecei, tentando encontrar palavras para me desculpar pelo "ataque" na madrugada, afinal ela tinha sido tão gente boa cuidando de mim, trazendo-me para sua casa.
- Não diz nada, Val! - ela me interrompeu e, servindo uma xícara de café, me entregou. - Sei por que você não estava bem ontem à noite.
- Sabe? - perguntei surpresa. Como ela sabia se eu não tinha lhe contado nada?
Márcia balançou a cabeça numa afirmativa.
- Bem, na verdade eu imagino que é por causa da partida de Marina, não é? - ela me encarou.
Baixei o olhar. Como ela sabia?
- Pois é, vai! Mas, como você sabe?
- Guto me disse! - foi sua resposta. - Sei também que se encontraram ontem pela manhã.
Olhei para ela e, num levantar de sobrancelhas, ela entendeu minha curiosidade em saber como sabia disso.
- Passei em sua casa para irmos ao escritório e Manuel me disse que você estava com visita. Deduzi que fosse ela. - Márcia falou, satisfazendo minha curiosidade.
- Márcia, eu queria que...
- Eu já lhe disse, Val! - ela não me deixou continuar. - Não precisa me contar nada e também não precisa se desculpar pelo que aconteceu nesta madrugada...
Como essa mulher me conhecia, meu Deus!
- Quis tanto quanto você, ou até mais! Eu te amo, Valentina! Eu te amo! E não precisa se sentir como se estivesse me usado para esquecer Marina. - Ela se levantou e, tomando a xícara vazia de minhas mãos, juntou a bandeja e colocou no criado mudo, sentando-se à minha frente. - Eu sei o que você sente e dói muito. Mas, posso viver com isso. Agora, quero que saiba que não te trouxe aqui para trans*r com você, Valentina. Queria cuidar de você porque senti que estava precisando e sempre que precisar, vou estar aqui. Pode apostar nisso.
Márcia pegou minhas mãos entre as suas, num gesto tão protetor quanto sincero. E eu lutava contra lágrimas de tristeza por não conseguir corresponder a tão desprendido amor e lágrimas de agradecimento por tão desprendido gesto.
- Não chore, meu amor! - Márcia secou minhas lágrimas. - Ou melhor, chore sim, isso vai te fazer sentir-se melhor! - e me abraçou.
Fim do capítulo
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Mille
Em: 25/07/2016
"Ser escritor é isto viver no limite das possibilidades e atuar possibilitando o bem, o visto que, refletir com os conteúdos das suas histórias desenvolve a bondade. " Regis Barros.
É graças ao dom da escrita que remete a nós leitores a possibilidade de viajar por lugares conhecidos e desconhecidos, emocionar como se estivessemos assistindo a cena e a vontade de gargalhar em cada momento engraçado.
Parabéns!!!
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