O domingo chegou com previsão de um belo dia de sol. Beatriz madrugou, já havia feito a corrida matinal. Desde seu reencontro com Rafaela, a loira passou a conviver com uma euforia interior, dormia pouco, passava horas no ateliê, e a ansiedade de rever Rafaela todos os dias só aumentava, não conseguira ainda sentar e conversar a sós com a amiga, eram tantas perguntas, tantas coisas que gostaria de saber, mas tinha medo de parecer boba, e procurava se conter, tentando agir o mais natural possível.

- Pâm! Pâm acorda vai – Beatriz chacoalhou a amiga. Ela encaminhou as mãos na máscara protetora de dormir de Pâmela, na vã tentativa de livrá-la do acessório, mas se deteve diante da ameaça:

- Se fizer isso Bia, vou dar na sua cara.

- Sério Pâm, como consegue dormir tanto?

- Sério Bia, porque não enche o saco de outra pessoa.

Beatriz não se deu por vencida e insistiu:

- Hoje é domingo. Lembra da festa ? Gatinhos... Sol... Piscina.

- Tá bom, tá bom...  já vou levantar... só espero não me arrepender disso mais tarde.

Pâmela sentou na cama resmungando e se livrou da máscara, encarando a amiga. Ela franziu a testa ao reparar no look da outa.

- Não vai me dizer que você já está pronta!

Beatriz se empertigou:

- Estou sim... o que tem de errado?

Pâmela revirou os olhos.

- Nada... se você estiver indo para um retiro espiritual ... – depois suspirou – oh meu santinho Bia, desse jeito você nunca vai seduzir o Dr. Habib´s – e continuou – eu não devia, mas vou te ajudar.

Pâmela levantou e abriu sua gaveta de roupas, escolheu um shorts jeans e uma blusinha baby look e jogou na cama.

- Veste isso senhora certinha, e ponha um biquine por baixo.

- Humm... acho que não vai rolar, meu biquine está um pouco pequeno, com certeza Amim vai implicar.

Pâmela suspirou, descreditando no que ouvia.

- Meu Deus Bia, sinceramente tá na hora de você sair desse luto amiga, eu pensei que namorando esse rapaz você voltaria a ser a velha Beatriz, que curtia baladas comigo nas férias de faculdade, mas senhor da glória... você só tá piorando. Aproveita que sua amiga de infância ressurgiu do nada e vamos resgatar a velha Beatriz .

Bia olhou pra ela indecisa.

- Você tem certeza?

- Se não fizer isso agora amiga, eu vou dar em você... prefere que seu noivo olhe para as outras gatinhas? Vai por mim, seja mais ousada, ele vai gostar.

Bia olhou para as próprias roupas, um jeans surrado, camiseta branca e tênis, ela não via nada de errado naquilo, mas se Pâm insistia, devia ter alguma razão, a ruiva vivia arrasando nos looks para sair.

- Tá bom, tá bom, mas se arrume logo você também, porque daqui a pouco Amim vai passar para pegar a gente.

Beatriz voltou ao quarto com as roupas indicadas, e Pâmela aplaudiu incentivado-a.

- Agora sim, você tá linda, vem cá, vou te maquiar.

- Acha mesmo isso necessário? Não sei não, acho que esse shorts ficou um pouco curto.

Pâmela balançou a cabeça em reprovação aos comentários.

- Cala a boca Bia e me obedece, quero ver se o tal libanês resiste a você hoje.

Beatriz se sentou e deixou a outra trabalhar em seu rosto.

- Pronto! Você está ótima, vai arrasar, pega seus óculos escuros e vamos atacar...

- Sério Pâm, acha isso tudo mesmo necessário?

- Se esse cara não te comer hoje amiga, é porque ele é viado.

Bia sorriu olhando se no espelho. Pâmela havia feito uma maquiagem suave, mas o brilho que havia em seu olhar, não tinha nada haver com isso, ha tempos que ela não se sentia assim leve e feliz.   

- Você acha que Rafaela vai?

- Você disse que Amim a convidou.

- Sim, mais é uma festa de Republica, e ela já é doutora.

- Você a conhece melhor do que eu, mas não acho que a doutora se importe.

- Amim disse que ela é lésbica – Bia soltou e se virou na cadeira para ver a reação da amiga.

-Sinceramente Bia, seu noivo é patético, que interessa a ele quem a doutora está pegando.

Nesse momento a buzina de um carro soou na frente da casa, interrompendo a conversa das amigas.

- Vamos logo, não quero que você perca pontos hoje com o patético Dr. Habib´s.

-Não começa Pâm.

***

Rafaela chegou ao local da festa por volta das 13hs, trocou de roupa várias vezes. Não tinha certeza se deveria arriscar a usar um shorts na frente dos residentes e enfermeiras. Ficou indecisa de comparecer nesse almoço, uma festa de República, não fazia mais parte de seus programas habituais. Com certeza seus pais a repreenderiam se soubessem. Aquele não era ambiente para uma médica de renome, mas Rafaela pouco se importava. Saber que Beatriz estaria ali era o motivo que a impulsionava a comparecer. Que mal podia acontecer? Só precisava se manter longe de bebidas alcóolica e tudo estaria bem, não cometerias loucuras, nem correria o risco de terminar o dia com algumas enfermeiras na cama.

A visão de Beatriz ao adentrar no ambiente lhe deu a certeza de que estava fazendo o que era certo, infelizmente o noivo chato e grudento estava a postos. A beira da piscina Sabrina e outras enfermeiras acenaram para ela. Ao seu lado Pâmela tomava sol, a ruiva abusava da exposição do corpo num minúsculo biquine branco, chamando bastante a atenção dos presentes. Ela se aproximou e cumprimentou as amigas com um beijo no rosto.  Beatriz expunha um sorriso de quem já andara bebendo. Com um copo de caipirinha na mão, ela ofereceu a Rafaela, que recusou a bebida se servindo de um suco.

- Porque demorou? Achei que não viria mais.

Rafa sorriu, era bom saber que Beatriz sentira sua falta e tentou fazer charme para chamar a atenção:

- Eu acordei um pouco indisposta hoje.

- Bebeu muito ontem? – o libanês perguntou.

- Eu não costumo beber  Dr. Chaniny.

“Ponto pra Rafaela”- Beatriz pensou mentalmente. Sorriu e virou o copo de caipirinha, ela já havia percebido uma pequena disputa entre o noivo e a amiga. “Porque ele tinha que ser tão ciumento assim?” A conversa continuou com troca de farpas entre os dois, a antipatia de ambos era visível e Pâmela se divertia com as tiradas de Rafa, visualizando nela uma aliada.

A poucos metros dali uma mesa era arrumada pelos residentes. Uma garrafa de tequila e copinhos com várias fatias de limão e sal são colocadas sobre ela. O mais baixinho deles sobe no móvel e anuncia:

- Atenção pessoal, preparem suas duplas... porque hoje vamos de.... “body shot” – ele grita, e salta da mesa tirando risos e aplausos dos presentes.

Nesse momento Pâmela se aproxima de Bia e lhe dá uma piscada, incentivando-a puxar o libanês pra brincadeira. Rafaela não entende nada e apenas observa quando a loira cochicha algo nos ouvidos do rapaz fazendo ele abrir aquele sorriso bobo quando grita:

- Vamos primeiro! - puxa Beatriz para perto da mesa e cochicha de volta.

- Tem certeza de que sabe o que está fazendo? - mas ela não responde.

Concentrada em chamar a atenção do noivo, Beatriz coloca um limão nos lábios do imbecil e em seguida lambuza os dedos médio e indicador do rapaz com o sal. Um gemido rouco escapa dos lábios dele quando ela os coloca em sua boca e sua língua desliza sobre seus dedos de maneira despudorada. Rafaela revira os olhos, quando a vê ch*pando os duramente, nem mesmo a presença de Pâmela no minúsculo biquine ao seu lado consegue desanuviar sua atenção. Beatriz ri se sentindo poderosa e em seguida vira sua dose e ch*pa o limão e os lábios do rapaz juntos. Uma onda de gritos eufóricos, vaias e assobios invadem seus ouvidos.

- Body shot, body shot!

Ela fica ligeiramente ruborizada quando olha para Rafaela, mas gira o rosto de novo pro rapaz lhe intimando.

- Agora sua vez amor!

O médico solta um sorriso safado, ele realmente gostou da brincadeira. Coloca sua fatia de limão na boca da noiva  e a inclina sobre a mesa, deixando a de costas. Ela agarra a borda do móvel com as duas mãos  e empina o traseiro olhando para o lado, enquanto morde o lábio inferior de forma lasciva. Os seios lindos querendo surgir do decote ousado da baby look que Pâmela insistiu que ela vestisse. Rafa quase engasgou com o suco com a visão.

“Sério isso? Beatriz havia se tornado uma vadia nas mãos daquele idiota?” Nenhum pensamento bom se passou por sua mente naquela hora, mas os olhos não conseguiam se desviar da cena.

O sujeito salpicou o sal na base do shorts jeans da loira, puxando-o mais pra baixo. Rafaela prendeu o ar. Será que ele ia mostrar a bunda da namorada pra todo mundo? Antes que conseguisse coordenar seus pensamentos viu o médico lamber o sal lentamente, em seguida  espalhar beijos sobre a coluna da moça, até ficar totalmente debruçado sobre ela e alcançar seu copo na mesa. Tomou sua dose para depois puxar o queixo da loira para si ch*pando o limão e seus lábios ao mesmo tempo. Gritos eufóricos abafaram a música em resposta ao show do rapaz. Rafaela soltou o ar, precisava de uma tequila agora se quisesse continuar por ali. Ela não costumava beber, mas aquilo era demais para suportar. Procurou desviar sua atenção para a enfermeira que se encontrava a beira da piscina. Sabrina até que era bonitinha.

O libanês mantinha aquele sorriso que irritava Rafaela quando se aproximou do balcão conduzindo Beatriz pela cintura. Outros casais continuavam a brincadeira do body shot.

- Não vai se arriscar Doutora?

- Deixa ela em paz. A Rafa não bebe.

Ela mediu o casal a sua frente e sorriu.

- Na verdade, acho que vocês me abriram o apetite.

A doutora levantou e já ia caminhar em direção a piscina, quando Beatriz a prendeu pelo braço.

- Rafa, não precisa fazer isso.

Os olhares das duas duelaram por instantes, o tom azul queimando sobre o rosto da loira.

- Você não me conhece mais Beatriz – livrou se das mãos da amiga, e caminhou até a enfermeira.

- Viu? Eu não disse que sua amiga é lésbica?

- Você fez isso de propósito Amin.

Beatriz bufou. Ela observou a médica cochichando no ouvido da enfermeira e a cena lhe incomodou. Aquela intimidade não lhe parecia certa, não que se incomodasse se Rafa fosse homo, hetero ou o raio que o parta, ela só não gostara de ver aquilo. Aquela garota era no mínimo uns 10 anos mais jovem que elas.

Era a vez de Rafaela. A médica conduziu a enfermeira até a mesa dos residentes e em seguida a deitou sobre o móvel. Os aplausos e assobios começaram antes mesmo dela iniciar sua performance. A conceituada Dra. Ferraz se servindo de um body shot de tequila, em uma enfermeira do hospital. Caramba! Isso seria assunto para no mínimo um mês. Nesse momento  Amim se armou do celular para registrar a cena.  Beatriz se retesou enquanto via a blusinha da moça subir se enrolando até a base dos seios. Rafa nunca havia tomado uma dose de tequila antes e certamente não daquele jeito, mas parecia saber exatamente o que fazer. Porque aquilo a irritava? Observou a garota ofegar quando a médica derramou o sal na barriga sarada e fechar os olhos quando ela se curvou sobre a moça lambendo-a muito lentamente de forma obscena.  Gritos e vaias dos presentes soaram acima da música novamente. Em seguida Rafaela virou o shot de um gole só e tirou a fatia de limão dos lábios vermelhos da enfermeira.

- Uauu! Isso queima – ela disse divertida, abrindo um sorriso presunçoso.

Pâmela encostou em Beatriz. Os óculos escuros estavam suspensos e a boca aberta em formato de “O” admirando a cena. Ela aplaudiu acompanhando os outros convidados e já ia se afastando quando a loira a interrompeu.

- Onde você vai Pâm?

- Hum... vou ver se a Dra. delícia quer tomar um shot em mim...

- Pâm!

- Uai, você não disse que era pra eu me divertir?

Fim do capítulo