Capítulo 2
ÚLTIMO SEMESTRE
- Como você não vai participar dos eventos da formatura??? – Callie parecia magoada com decisão de Marina – A gente ralou um bocado, e você não quer comemorar nossa vitória sobre esses dois anos de sofrimento? É por causa de dinheiro, é isso? – A jovem segurou a mão de Marina como se quisesse dar apoio moral.
Marina olhou a mão sobre a sua e desejou poder entrelaçar os dedos nos dela. Callie não sabia que ela era dona de uma cadeia de loja altamente conhecida na cidade e que esta possuía filial em dois outros países. A impressa jornalística não a conhecia porque não gostava de publicidade sobre sua vida pessoal. Desde que começara a prosperar financeiramente, havia uma pessoa contratada para ser o alvo dos “paparazzi”. Portanto, dinheiro nunca fora problema, pelo menos de uns 10 anos pra cá, mas não podia dizer isso a jovem. Claro que Marina usufruía da sua fortuna, viajando nas raras férias, possuía carro, apartamento, jóias, roupas e calçados de marcas famosas, mas era tudo tão discreto, funcional e prático, que nada denunciava a grande fortuna que possuía.
Callie continuava olhando-a esperando uma resposta. Suspirou e respondeu pacientemente, como sempre.
- Eu tenho algum dinheiro guardado – “Não deixa de ser verdade”, pensou divertida – Não é esse o problema. Eu apenas não gosto desses eventos. Você sabe muito bem disso, Carlota – Callie revirou os olhos ao ser chamado pelo nome de batismo. Ela dizia que era um nome horrível, mas Marina só o fazia para provocá-la. Ela sorriu notando sua intenção. Apertou mais a mão de Marina e reafirmou:
- Você vai pra formatura, ou eu não vou! – Disse categórica.
- Não? Tem certeza? Duvido que Roger permita que a namorada não vá, principalmente depois do dinheirão que ele gastou em roupas. Você não me disse que ele até comprou um conjunto com vários paletós, cada um mais lindo que o outro, e que tudo custou uma pequena fortuna? – Callie baixou os olhos, procurando novos argumentos. Fazia um mês que ela vinha insistindo. E estava cada vez mais difícil negar o pedido. Marina Observava as nuances no rosto amado quando Callie ergueu os olhos de repente pegando seu olhar de admiração em flagrante. Ficou sem jeito, mas manteve o olhar. Ficaram se fitando sem dizer nada, até a jovem voltar a pedir, desta vez com uma voz repleta de carinho e suavidade:
- Oras vamos, Mari! Não vou me divertir tanto se você não for... Podemos falar com Luiza e ela ainda pode incluir seu nome na lista dos eventos! Por favor... Por favor, Mari, o que eu tenho que fazer pra você mudar de idéia? – Marina estremeceu ao ouvir pedido feito desta forma, e tentou disfarçar sua perturbação. Puxou a mão desfazendo o contato e encostou-se na cadeira, tentando parecer relaxada. Callie franziu a sobrancelha ante ao movimento estranho.
Ultimamente, Callie notara que Mari estava evitando ser tocada por ela. Alguma coisa estava errada, mas a amiga nunca fora de lhe fazer confidências, mesmo que ficasse horas insistindo. Gostaria de saber o que ela pensava quando ficava compenetrada assim, olhando-a como olhara a pouco...
Marina, absorta, estava a pensar sobre a viagem já programada para casa da irmã, em outro país, marcada para dias depois do evento de colação de grau. Já falara inclusive na reitoria, solicitando assinar o documento logo após o período de festividade, para poder viajar o mais rápido possível. Quando a faculdade acabasse não haveria razão de ficar próxima a Callie.
Estava prestes a se mudar também, pois em breve estaria abrindo uma nova filial da empresa no País onde a irmã atualmente morava.
Marina andava com os nervos a flor da pele, e tomara essas decisões principalmente depois do encontro fatídico, na saída do cinema dentro do Shopping Sul há algumas semanas.
INÍCIO DO MÊS PASSADO.
Marina e sua mais atual “ficante” estavam saindo do cinema, quando sentiu alguém segurar seu cotovelo puxando-a. Ao virar seu rosto em direção a pessoa, ficou surpresa... E temerosa. Era Callie e o namorado, nada satisfeito pelo encontro, Roger.
- Puxa você nem me disse que viria assistir a esse filme! Nós poderíamos ter marcado pra virmos juntas! – A frase foi dirigida a Marina, mas o olhar de Callie estava todo o tempo sobre sua acompanhante, Sofia.
Para surpresa de Marina, Callie não se apresentou como o faz normalmente, ficou apenas encarando Sofia, como se esperasse uma apresentação formal por parte da amiga.
Marina estava paralisada, algo novo pra ela, pois ficou sem saber como agir diante da situação inusitada. Nunca esperara encontrar o jovem casal ali naquele shopping tão distante de onde Callie residia com os pais. Desde que admitira pra si mesma os sentimentos pela pequena, passara a fazer seus programas longe do local freqüentado pela ruivinha, e com esse encontro, temia que Sofia demonstrasse algo que denunciasse a natureza do relacionamento das duas. Marina nunca se preocupava com o fato do mundo saber que ela era lésbica, exceto para uma pessoa...
Roger, diante do seu silêncio, acabou se apresentando e a namorada também. Ele “puxou” uma conversa trivial, que vez por outra, era complementada por Marina ou Callie. Sofia se mantinha calada apenas observando os três.
Sofia possuía a aparência graciosa, uma beleza extraordinária e era muito feminina, mas era a Inteligência, sua maior qualidade. Ela olhava para Callie e, em seguida, para Marina como se tivesse chegado a solução de todas as respostas que procurava.
Marina percebeu as conclusões que Sofia devia estar chegando, e precisa tirá-la dali imediatamente. Alegando ter que terminar algumas anotações da faculdade e do trabalho, ela conduziu a amante rapidamente para longe do casal. Notou o espanto de Callie e o sorriso satisfeito e misterioso de Roger ante a sua saída repentina. Às vezes, tinha a impressão que ele sabia sobre sua homossexualidade.
No carro dela, Sofia apenas a olhou e perguntou calmamente, enquanto atacava o cinto de segurança:
- Você está interessada nela?
Marina não falou nada de imediato, e quando o fez, foi de forma “aparentemente” displicente, enquanto manobrava o carro para fora do estacionamento:
- Você não percebeu que ela é hétero, Sofia? – A loira lhe lançou um olhar penetrante e ficou silenciosa em todo o caminho de volta.
Na entrada do apartamento, Marina pensava que Sofia faria um monte de perguntas sobre sua relação de “amizade” com Callie, pois nunca havia falado sobre a existência da ruivinha para ela. Estava se preparando para não ter que respondê-las, quando abriu a porta.
Assim que adentraram ao imóvel e a porta foi fechada, a loira puxou Marina, pegando-a de surpresa, e a encostou contra a parede do hall. Beijou-a tão sedutora e profundamente que acabaram fazendo sex* ali mesmo. Depois de goz*rem, foram para o quarto e repetiram o ato, não uma, mas várias vezes, e praticamente a noite toda. Marina nunca havia visto a amante se comportar daquela maneira ardente e exigente, mas não reclamou e se concentrou nos desejos dela, tentando esquecer Callie por algumas horas.
No dia seguinte, durante a refeição matinal, Sofia afirmou num tom seco que a relação delas seria dali pra frente, apenas profissional. Não houve explicações nem cobranças. Apenas uma decisão e pronto. Marina não questionou e aceitou, de certa forma aliviada, pois há tempos queria encerrar o caso com a loira. Se Sofia pareceu decepcionada, disfarçou bem. Ao encontrar Callie na segunda-feira na faculdade, estranhamente, esta também não fez nenhum tipo de questionamento sobre o encontro dela na saída do cinema. Desde então, Marina não havia se relacionava sexualmente com mulher nenhuma. Queria evitar situações como aquela até dar um jeito de se afastar definitivamente de Callie.
- Mari? Mari? Marina? – A voz suave a fez olhar novamente para o mar azul de Callie. Pela primeira vez em dois anos de convivência, a jovem não vinha insistindo em algo. Marina também notara a mudança de comportamento, não entendia, mas também não questionara.
- “Era melhor assim... Quanto mais rápido eu me afastar, mais rápido a esquecerei!” – Pensava a mulher a morena, tentando se convencer. Notou que Callie ainda a olhava em expectativa esperando sua decisão. “Sentira bastante falta dela quando fosse embora”.
- Esta bem – Um sorriso de felicidade formou-se na expressão de Callie. Marina provavelmente se arrependeria de participar desses eventos, mas precisa estar perto da jovem o máximo possível antes de viajar. Estava contrariando sua própria decisão anterior de se manter longe, mas não conseguia evitar – Você pode me dar o telefone de Luiza? Talvez ela me dê algum desconto ou parcele o valor! – “Teria que dividir o valor, para não chamar a atenção dela” Pensou Marina enquanto observava Callie rir e concordar, pegando o celular para procurar o número solicitado.
CONTINUA...
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
lia-andrade
Em: 24/07/2016
Adorando a estéria.. Acredito que Callie sinta algo além da amizade por Marina..
Bjo, até o próximo.
Resposta do autor:
Fico feliz que esteja gostando. Será que Callie sente algo por Marina? Vamos ver o que as idas e vindas vida proporcionará a elas... Xero no coração!
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