- Sério? – minha mãe estava horrorizada.

 

- Muito sério... Sempre soube que ele era um idiota, mas nunca imaginei o grau dessa idiotice.

 

- Sua irmã deve estar arrasada, meu amor... – dona Carolina ganhou um ar de tristeza.

 

- Vai lá mãe e dá um abraço nela por mim... – sorri murcho. – Ela está precisando da senhora, eu fico sozinha sem nem um problema... – ela me olhou por uns instantes.

 

- Eu volto em duas horas... – ela pegou a bolsa em cima da poltrona e me beijou a testa. – E não inventa nada, Flávia, pelo amor de Deus... – não pude controlar o riso.

 

- Não se preocupe... – peguei o celular e mostrei a ela. – Vou ficar conversando com a Amanda.

 

- Tudo bem... Eu volto logo...

 

Ela me deu um outro beijo e saiu, respirei fundo e olhei ao redor, aquele quarto era assustador, desbloqueei o celular e disquei um número decorado, no segundo toque fui atendida.

 

- Oi, meu anjo...

 

- Oi, mana... – a voz dela era dengosa. Me partiu o coração.

 

- Ai, não faz assim... – suspirei.

 

- Não pensei que iria doer, mana... – ela falava calma, mas com a voz levemente embargada.

 

- Vai passar, meu anjo... Logo ele será apenas um borrão em sua vida... – ouvi ela respirar fundo.

 

- Você acha que sou forte assim?

 

- Eu não tenho a menor dúvida... – falei sincera.

 

- Eu acredito em você... – eu podia ver o sorriso dela.

 

- Agora você tem uma quebradora de nariz pra te defender... – ela soltou uma gargalhada e isso encheu o meu coração de felicidade.

 

- Ela foi demais... – não pude deixar de sorrir ao lembra da menina dos olhos bonitos. – Da onde ela tirou tanta força?

 

- Vou perguntar pra ela... – ri. – Quem sabe não me seja útil também.

 

- Quero aprender também...

 

- A mamãe saiu daqui agora há pouco...

 

- Você contou pra ela?

 

- Detalhe por detalhe... – ela suspirou. – Ela precisava saber, mana...

 

- Eu sei... Espero que ela não queira fazer nada, sabe como ela é protetora... – soltou uma baixa gargalhada.

 

- Oh se sei... – Nicole riu mais ainda, pois sabia exatamente do que eu estava lembrando naquele momento.

 

10 meses atrás...

 

- Chamou as minhas filhas de que?

 

- Bom... Eu... E... – o idiota se embananava todo pra falar.

 

- Bom...Eu... E... Nada, garoto... Se chamar as minhas filhas de deliciosas mais uma vez, eu corto o teu pinto...

 

O cara saiu correndo, tropeçou nas próprias pernas, mas levantou e feito um raio, correu para longe da minha mãe. Paloma, Nicole, meu pai e eu ficamos de queixo no chão.

 

Agora...

 

- Boa sorte, mana... – ri e ela soltou o ar com força. – Estarei aqui se precisar...

 

- Eu sei que estará... Você sempre está... – sorri bobamente. – Obrigada...

 

- Amo você, minha chatinha...

 

- Te amo, minha marrentinha...

 

A ligação foi encerrada, fitei o teto por uns instantes, olhei para o relógio e ele marcava 18:03, estava entediada. E como mente vazia nunca presta, decidi fazer uma besteirinha para a minha loira. Levantei um pouco aquela roupa medonha de hospital, deixando a minha calcinha amostra, acionei a câmera do celular e bati uma foto, liguei a internet e entrei em meu Whatsapp, ignorei as mensagens e fui direto para a foto da loira, abri a conversa e enviei a foto.

 

- Quem disse que o braço ia impedir alguma coisa... – um sorriso sapeca cresceu. A loira respondeu e quase tive uma crise de risos com a resposta.

 

Amanda me mandou um monte de carinhas com a boca aberta, outras com a mão no rosto e também de boca aberta.

 

“O que pensa que está fazendo??”.

 

“Tentando te seduzir”.

 

“Te proíbo de fazer isso, Flávia”.

 

Ignorei o que ela mandou, afastei a roupa e bati uma dos meus seios e uma com a calcinha afastada. Enviei as duas e depois desliguei a internet, rindo muito, queria muito poder ver a cara da minha namorada... Opa... Namorada??

 

- Será que vou ganhar um pedido?

 

Passei a divagar sobre o assunto, às vezes aquilo tudo parecia mentira, o meu corpo reagia de diversas formas quando eu pensava na Amanda, esses últimos dias tem sido os melhores da minha vida, porém por muitas vezes o medo me visitou. Medo de tudo acabar de repente, de fazer alguma bobagem que a faça se cansar de mim. Pensar nisso me trazia uma angustia muito grande, pois parecia que uma parte de mim era arrancada. Eu a amava muito e a queria, se possível, sempre em minha vida, cada segundo, minuto, hora...

 

O toque do celular me tirou daquele momento, vi a foto no visor e o coração acelerou, a boca secou, um frio conhecido, mas jamais menos intenso, se apossou do meu estomago.

 

- Oi, amor... – fechei meus olhos e mordi o meu lábio inferior ao ouvir a voz dela.

 

- Oi, meu amor... – ouvi um suspiro e ele se misturou ao meu.

 

- Estou com saudades... – rouca e sexy. Ai meu coração.

 

- Também estou com saudade...

 

- Por que fez essa maldade comigo? – acho que molhei a calcinha... Essa mulher conseguiu me deixar assim só com aquela voz... Me arrepiei inteira.

 

- Porque sinto saudade do seu corpo grudado no meu... – mordi o lábio ao lembrar de alguns momentos com a minha Amanda. Isso mesmo, MINHA!

 

- Desse jeito vai me fazer sair correndo pra esse hospital...

 

- Essa é a intenção... – carreguei a minha voz de malicia.

 

- Flávia...

 

- OK... – soltei uma gargalhada. – Parei, amor...

 

- Já jantou? – sorri com sua pergunta.

 

- Ainda não, mas acho que daqui a pouco a enfermeira cara de enterro vem trazer... – Amanda riu alto.

 

- Ai, meu amor... – que gostoso ser chamada de amor pelo meu amor... – Cadê a Carolina?

 

- Foi dar uma força pra Nick. – fiz cara feia ao lembrar do Júlio, foi automático. – Ela não estava tão bem...

 

- Sua irmã e forte e logo sairá dessa, meu amor... – aquela nem de longe parecia a Amanda de uma semana atrás, isso me encheu de esperança. – Que foi, amor? Ficou caladinha.

 

- Às vezes me pergunto se estou sonhando, Amanda...

 

- Como assim, amor? – pensei um pouco para responder.

 

- Eu te amo tanto, sabe... – uma lágrima escorreu e morreu em meu colo.

 

- Tá chorando, meu amor? – a voz dela era meiga e isso me fez querer sair correndo do hospital, me jogar nos braços dela e permanecer lá o resto da vida. – Eu vou aí...

 

- Calma, amor... – passei a mão no rosto para enxugar a lágrima e sorri. – É de felicidade... Eu te quero, Amanda... Te quero sempre e cada vez mais. – segurei o choro. – Meu peito doí só de cogitar uma vida sem você, eu não consigo viver sem você, amor... Sem exagero e mesmo assim com todo exagero do mundo...

 

- Aí... Tá me fazendo chorar igual a uma boba... – ouvi a respiração pesada do outro lado da linha. – Prometo que vou te reconquistar todos os dias um pouco mais, quero estar em tua vida e nada me fará mudar... Eu te amo, Flávia e quero uma vida contigo... Nossos filhos, nosso cachorro, nossa casa... Nossos planos, nossas lembranças... Eu quero tudo...

 

As lágrimas brincavam livres em meu rosto, cada canto do meu corpo reagiu aquelas palavras que saíram firmes e decididas.

 

- Mal posso esperar, meu amor... – a minha voz saiu arrastada.

 

- E eu menos, minha menina... Agora come direitinho e depois descansa... – sorri e quase rasguei o rosto. – Estarei ai depois que sair da faculdade.

 

- Como o meu amor quiser... – ela riu. – Esperarei ansiosa...

 

- Boa noite, minha menina...

 

- Boa noite, minha esposa... – ela soltou outra gargalhada.

 

- Eu te amo...

 

- Eu amo muito mais...

 

A ligação foi encerrada, mas o sorriso não sumiu, fiquei olhando para o celular por um longo tempo, até ser tirada do momento por batidas. A enfermeira com cara de que ch*pou limão entrou, deixou a minha comida e não deu um misero “boa noite”.

 

- Que velha mal amada! Tá precisando de um pouco de sex*...

 

- Eu ouvi isso... – ela colocou a cara na porta e depois foi embora.

 

- Credo... – parei para refletir. – Espera... Eu também estou faz muito tempo... Será que vou ficar como essa ai? Aaaaaaaaaaaaiiiiii...

 

Tentei dissipar aqueles pensamentos idiotas, comi a minha comida sem sal, empurrei a bandeja pro lado e simplesmente adormeci.

 

Acordei com os primeiros raios de sol, essa noite ganhou qualquer outra no requisito sonhos estranhos. ”Eu realmente sonhei que a Megan Fox e a Dianna Agron, estavam brigando por mim? E que do nada a Amanda chegava e dava uma voadora nas duas e me dava uns tapas?”.

 

- O que está pensando?

 

- Caraca, mãe... – coloquei a mão sobre o peito. – É sério... deveria parar com isso...

 

- Desculpe minha filha... – ela começou a rir. – É que você estava com um sorrisinho besta e eu fiquei curiosa... Bom dia... – ela me beijou a face.

 

- Bom dia, mãe... – sorri e pedi aos céus para ela não perguntar no que eu estava pensando.

 

- Vou tomar banho e você espera um pouco que eu vou te dar um banho também...

 

- Ai, pelo amor do Senhor, mãe... – escondi o rosto com a mão.

 

- Nada de reclamação...

 

Ela sumiu e depois de alguns minutos voltou banhada, sem comentários do quanto foi constrangedor ficar nua para minha mãe que não parava de dizer o quanto eu estava desnutrida. Eu queria enterrar a cara, mas fiz o que era mais sábio no momento... Fiquei calada!

 

Depois disso, a velha com falta de dar, trouxe a minha comida, e fiquei lá, esperando as duas da tarde chegar, para ser transferida para o hospital de meus pais. Estava patetando, quando bateram na porta. Estava começando a odiar isso, pois a cada vez que ocorria, lá vinha barraco.

 

- Entra... – minha mãe mandou e a porta foi aberta por um senhor e logo depois uma senhora. Eles me deram uma encarada que me fez arrepiar, mas não no bom sentido. – Posso ajuda-los?

 

- Mãe? Pai? – Amanda entrou e ficou com cara de confusão.

 

Sogro? Sogra? É hoje meu Deus, vão me jogar pela janela.

 

- Precisamos ter uma conversa, Amanda...

 

A voz grave do pai dela me fez ficar realmente com medo, mas ai aconteceu algo que fez toda a apreensão ir embora. Amanda passou por eles, se colocou ao meu lado, segurou a minha mão e deu uma leve apertada, olhou em meus olhos, senti o ar evaporar de meus pulmões e o coração ir para o cérebro. Ela abriu um sorriso que rasgou o meu ser, não pude ficar indiferente, então sorri para a mulher maravilhosa ao meu lado.

 

- Bom dia... – meu pai chegou e olhou estranhando tudo, recebeu o mesmo cumprimento. – Tudo bem por aqui? Me chamo Henrique e sou o pai da Flávia...

 

- Me chamo Christian e essa é a minha esposa, Kethelen. – eles se cumprimentaram.

 

- Sou Carolina, mãe da Flávia... – ela me olhou. – Prazer em conhece-los...

 

- Prazer é nosso... – o pai de Amanda falou e a mãe apenas nos observava com as mãos entrelaçadas.

 

Eu queria sair gritando para todo o hospital o quanto estava orgulhosa da minha loira, mas me contive em apenas fazer uma dança da vitória em minha mente.

 

- Queremos conversar com você, Amanda... – a mãe dela finalmente falou alguma coisa.

 

- Pode falar, mãe... – sorri por dentro.

 

- É um assunto nosso, Amanda... – o pai dela falou sério, meu pai sentou ao lado da minha mãe e me lançaram um olhar do tipo: “Estamos aqui”.

 

- Amor, se quiser ter uma conversa em particular com os teus pais... – vi a minha sogra... Haa... a Kethelen, torcer o nariz ao me ouvir chamar a Amanda de ‘amor’.

 

- Não tenho o que esconder, amor... Tudo envolve nós duas. – sorri e assentir com a cabeça. Novamente vi o incomodo da minha sogra... Aaah... É sogra... Imagina se ela soubesse o que já fizemos... Esse pensamento me fez querer rir. “Esse tiro realmente me afetou, caraca.... Concentra, Flávia... O assunto é sério”. – Estamos juntas e tudo interessa a ela.

 

Minha Amanda falou séria para os pais.

 

“Senhor... Vai todo mundo embora, porque eu quero tirar a roupa dessa mulher imediatamente... Que Amanda é essa? Aaai meu coração...”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fim do capítulo