Capítulo 22 - Ilhabela
Azizah olhou em volta sentindo-se apavorada. Pensou em todos os palavrões que tinha aprendido em sua vida inteira naquele momento, mas seu pavor era tanto que mal conseguiu expressá-los.
- E agora? - Mariana perguntou, também olhando em volta, vendo os zumbis se aproximando lentamente do veículo. Azizah virou para trás e segurou em uma das mãos de Carol, cujo rosto suava.
- Eu vou afastá-los daqui.
- Não...
- Eu preciso... Senão vamos ficar presas... - Pegou a chave de rodas, poderia atirar, mas não fazia ideia de quantos havia pelas redondezas. Teria que derrubar todos, um por um. Precisava salvar Carol e Mariana, mesmo que sua vida dependesse disso. Depositou um beijo suave nas costas da mão de Carol. - Eu amo você, não esquece isso nunca.
E saiu do carro sem olhar pra trás, já esmagando a primeira cabeça que surgiu em sua frente. Derrubou mais um, com movimentos rápidos e certeiros, mas eles pareciam surgir de todos os lugares. Bosta. Estava cercada. Eu não posso morrer aqui, não agora, não tão perto de conseguirmos.
Chutou um deles, fazendo-o se afastar, enquanto derrubava outro. Todos vinham em sua direção. E então magicamente ouviu um estampido. Outro. E mais um. Os zumbis começaram a atingir o chão, viu furos em suas cabeças, tinham sido acertados por... tiros? Mas que porr* é essa? E no mesmo segundo, sem ainda conseguir raciocinar o que estava acontecendo naquele local, dois jipes verde musgo se aproximaram em alta velocidade, eliminado todas as ameaças, um por um. Havia quatro militares pendurados na carroceria aberta, atirando nas criaturas com precisão.
Ela correu até a caminhonete vermelha. Diante de tudo o que tinha presenciado até então, diante de todas as pessoas terríveis que tinham conhecido até aquele momento, precisava ser cautelosa. Rapidamente pegou o fuzil e mirou em direção aos carros que pararam em volta delas. Um deles desceu do veículo com as mãos levantadas e um sorriso enorme e bonito de comercial de pasta de dente. Ele era negro, alto e uma feição de bondade pairava em seu olhar.
- Você está bem? - Ele perguntou com sua voz grave. - Foi mordida? - Olhou para o braço da tatuada.
- Não se aproxime. - Rugiu.
- Sou o Capitão Silveira. Somos da equipe de resgate do Centro de Refugiados de Ilhabela. Você foi mordida? Podemos te ajudar. Estamos criando uma vacina contra a infecção, está em fase de testes, mas já tivemos resultados positivos.
E então Azizah sentiu suas pernas bambearem. Elas estavam sendo salvas? De verdade? Abaixou o fuzil lentamente e o homem continuava sorrindo. Será que podia confiar nessas pessoas? Talvez pudesse... Ele parecia falar a verdade.
- Não fui mordida, mas... precisamos de ajuda, minha... minha namorada... está grávida... está tendo contrações muito fortes... - Estava desnorteada, apontou com a cabeça para dentro a caminhonete, jogando suas últimas cartas. O sorriso sumiu do rosto do Capitão e ele olhou para os outros militares - eram seis no total - que no mesmo instante desceram dos carros. Um rapaz pouco mais jovem que o Silveira tomou a liderança, ele era loiro, forte, olhos claros. Cabo Mendez estava escrito em sua placa de identificação.
- Há quanto tempo está tendo contrações? - Ele perguntou a Carol e após pedir licença, apalpou sua barriga.
- Eu não sei, uma hora no máximo. - Mariana respondeu.
- Você também está grávida? - Perguntou assustado ao olhar para a adolescente.
- Sim, mas ainda vai demorar pra nascer, concentre-se nela.
- Vamos até o porto, aqui não é seguro para conversas. - Silveira olhou em volta, vendo mais zumbis se aproximando, estes que logo atingiram o chão após o disparo ágil dos homens atentos.
Subiram nos jipes e rapidamente eles chegaram ao porto de São Sebastião - aonde Azizah planejava chegar desde o princípio - e uma equipe os esperava por lá. Havia um gradil isolando a área dos zumbis, com portões enormes que foram abertos ao avistá-los. Eram os militares da Marinha desta vez, com seus uniformes brancos.
Pararam os jipes e Azizah desceu primeiramente, estendeu a mão para Carol que ao pisar no chão, percebeu sua calça molhada. Sua bolsa tinha estourado. Olhou com uma feição de pânico para a namorada.
- Não se preocupe, isso é normal. - Tentou passar tranquilidade no tom de voz, mas por dentro estava mais desesperada que Carol.
- Uma hora aproximadamente tendo contrações, Dra. Alma. - Mendez mencionou à senhora que se aproximou, ela começou a aferir a pressão arterial de Carol. Era ruiva, tinha sardas pelo rosto e devia ter mais de cinquenta anos. Usava um coque perfeito e trazia um estetoscópio em seu pescoço.
- Marinheiros - Ela ordenou, ainda examinando Carol. - Preparem a lancha para levarem as civis para o Hospital Municipal. Código amarelo.
Sua pressão estava ligeiramente alta, mas a Doutora disse que não havia com o que se preocupar no momento. Os militares recolheram todas as suas armas, dizendo que era proibido utilizar qualquer tipo na cidade. Azizah ficou receosa, mas resolveu confiar, precisava confiar.
Entraram na lancha e Carol sorriu para a tatuada. Buscou seus lábios rapidamente, entre o intervalo das contrações, que agora já estava conseguindo contar os segundos de duração.
- Nós conseguimos. - Sussurrou.
- Eu sei. - Retribuiu o beijo. - Tudo vai ficar bem agora.
Quando pisaram na cidade, uma pequena porção de pessoas rodeou o porto, curiosas com a movimentação dos novos resgatados. O marinheiro que as levava informou que aquilo era normal, que eles sempre ficavam ansiosos, com esperança que algum amigo ou familiar aparecesse. Uma ambulância já os esperava e a doutora Alma passou as coordenadas aos enfermeiros presentes, transferindo o caso.
Antes de entrarem, porém, ouviram uma voz no meio das pessoas presentes, um homem de cavanhaque abria espaço na multidão. Azizah o conhecia. Lembrou-se do primeiro beijo entre ela e Carol. A foto no porta-retratos. Desejou ardentemente que não fosse real. Sentiu um frio na espinha. Ele devia estar morto. Ele era branco, tinha o cabelo castanho na altura das orelhas, olhos escuros. Usava uma camisa social azul, calça jeans.
- Caroline!
Não. Não. Por favor, não. Tudo menos isso.
- Marco?
- Eu não acredito que você ta aqui! - Ele tinha um sorriso terrivelmente lindo e adorável - O que houve com seu cabelo? - Foi sua primeira pergunta.
- Eu pensei que... você... tivesse... morrido.
A feição do ex-marido-até-então-falecido mostrava puro contentamento, já a de Carol era de espanto, medo e uma pitada de raiva.
- Vamos, Carol, precisamos ir para o hospital. - Mariana interveio percebendo o incômodo de Azizah, que permanecia paralisada olhando a cena, lembrando-se de suas últimas palavras à namorada, de que tudo ficaria bem.
Às vezes era como se nunca as coisas fossem ficar bem.
- Eu tenho muito o que te falar, meu amor, eu tentei ir atrás de você... - Ele segurou em suas mãos, fazendo o sangue de Azizah ferver.
- Ela está tendo um bebê, caso não tenha percebido. - A tatuada entrou no meio dos dois, furiosa.
- Deixe-me ir com vocês. - Ele pediu educadamente. - Por favor.
Azizah ignorou o pedido e viu as portas da ambulância sendo fechadas. Ouviu-o pedir carona para todos os presentes, gritando que "sua mulher teria um bebê", que ele "seria pai". Seu olhar se encontrou com o de Mariana, mas não teve coragem de encarar Carol, tinha medo de ver o que se passava por eles. Tinha medo do que poderia ver dentro deles, mas a mais velha, ainda assim, segurou em sua mão até o hospital.
Aziah permaneceu calada e imersa em sua angustia durante o caminho, tal como Carol. O que seria delas? O que seria desse relacionamento agora que Marco ainda estava vivo? Quem Caroline escolheria? O que aconteceria com o bebê? Ele nasceria bem? Saudável?
Foram recepcionadas no hospital e Carol foi levada de maca pelas enfermeiras para limpar-se e colocar uma roupa cirúrgica. Uma médica asiática, que lhe lembrou muito a Dra. Yang do seriado Grey's Anatomy, as recebeu às pressas, apresentou-se como Dra. Luciana. Tentou acalmar Mariana e Azizah, explicando que um trabalho de parto poderia demorar algumas horas até que o bebê nascesse e que uma pessoa poderia entrar com ela durante o momento, se ela assim o quisesse.
Marco chegou poucos minutos depois e foi de encontro as três, ele ainda tinha aquele brilho de contentamento no olhar que causava um ódio muito grande na tatuada.
- Como ela está, doutora? - Perguntou inseguro, preocupado.
Dra. Luciana lhe explicou novamente tudo o que já tinha explicado as duas.
- Eu vou entrar com ela. - Ele tomou a frente. - Eu preciso estar ao lado dela nesse momento. Depois de tudo o que aconteceu, eu preciso estar com ela.
- Eu que vou entrar com ela. - Azizah interveio achando um absurdo toda aquela situação.
Quem ele pensa que é?
- Eu sou o marido dela, doutora. - Disse numa súplica sincera olhando para a médica que assistia a cena com o semblante neutro, como se analisasse cada lado da situação.
O marido dela, Azizah. A porr* do marido dela. Que devia estar morto e enterrado, mas está vivo, saudável, bonito e bem apresentável na sua frente.
- Eu sou a namorada dela. - Ela rebateu.
Ele riu.
- Namorada? Você está louca? Minha mulher não é lésbica. Tanto que está esperando um filho meu.
Mariana entrou na frente dos dois. Azizah procurou a arma em seu coldre e lembrou-se que tinham lhe tirado. Não teria coragem... Ou será que teria? Puta que o pariu!
- Sua mulher?! - Rugiu - Você estava aqui o tempo inteiro enquanto ela chorava sua ausência lá fora, correndo o risco de ter a cabeça arrancada por algum morto-vivo a qualquer momento.
- E você se aproveitou disso, não é? Aproveitou que ela estava carente e indefesa...
- Indefesa?! Você realmente não a conhece.
Todos do hospital nesse momento tinham parado o que faziam e olhavam atentos a cena.
- Se acalma, por favor. - Mariana lhe segurava os ombros, tentando manter um contato visual. Os olhos de Azizah ferviam. Ela continuou a esbravejar:
- Eu estive ao lado dela enquanto você estava aqui em segurança, fazendo-a acreditar que você estava morto! Você sabia aonde ela estava e nem assim foi atrás dela! Ela ficou na casa de vocês, esperando você voltar.
- E você acha que a salvou por acaso? Quer uma medalha por isso?
- Ela quem me salvou, se for pra ser bem sincera. Ela sabe tomar conta dela mesma, não precisa de ninguém.
- Menina, você não sabe de nada pra ficar se intrometendo na nossa vida. Acho que você devia abaixar o tom de voz e ir tomar no...
E a voz rude e áspera de Carol soou pelos corredores do hospital.
- Calem a boca! - Ela voltava em cima de uma maca com rodas, rodeada pelas enfermeiras.
- Ela é realmente sua namorada? - Marco perguntou irritado. - Você me substituiu por uma mulher?
- Esse imbecil acha que pode exigir alguma coisa de você agora, depois de ter te abandonado!
- Caroline, nós precisamos entrar, você pode escolher alguém para ir com você. - Dra. Luciane disse.
Tanto Azizah quanto Marco deram um passo a frente, fuzilando-se mutualmente com o olhar, querendo ser escolhidos.
- Mariana, vem comigo. - Carol pediu, ignorando o semblante de surpresa dos dois.
A adolescente abraçou Azizah, tentando lhe acalmar, sussurrou em seu ouvido:
- Não faça nada que se arrependa. - Beijou seu rosto. - Eu vou tomar conta dela, fica tranquila. - E a menina se afastou, entrando com Carol e a equipe médica por uma porta branca de abas duplas.
E Azizah sentiu seu mundo desabar naquele momento. Não teve a menor oportunidade de trocar qualquer palavra com a namorada. Perdeu a conta de quantas vezes tinha sonhado estar ao lado de Carol naquele momento tão importante e especial. E ela tinha sido simplesmente... descartada, como uma embalagem usada que não serve nem para decoração.
Talvez agora as coisas fossem diferentes, talvez nunca mais fossem como antes e aquilo era como uma lança sendo cravada em seu coração. Ouviu Marco xingar e afastar-se sendo carregado por um segurança, mas ela permaneceu no meio do corredor paralisada, olhando para a porta por onde Carol tinha entrado, não conseguia se mexer.
A dor era insuportável.
Sentia-se traída.
Seu peito sangrava.
- Querida, venha comigo - Um enfermeiro gordinho de óculos lhe tocou no ombro. Ele usava um topete todo espetado, jaleco branco. - Vamos dar uma olhada nesse seu braço? - Ele tinha um jeito adorável e feminino de falar e de se portar. Azizah foi levada pelo rapaz que lhe segurava o antebraço a guiando pelos corredores, seu coração batia loucamente em um misto de medo e ódio. - Me chamo Diego e você?
- Azizah. - Respondeu rabugenta, sentando-se em uma mesa alta na enfermaria, daquelas em que se precisa de uma escadinha para subir. Ele cortou o torniquete improvisado por ela e começou a limpar a área.
- Fez muito bem em estancar o sangue. Quem te ensinou isso?
- A vida. - Disse seca. Respirou fundo, o rapaz não tinha culpa de nada. - Mas Carol também me ensinou algumas coisas, ela costumava ser enfermeira.
- Sua namorada não é? Eu ouvi a discussão...
- É. - Olhou para baixo com o semblante triste. Sua cabeça girava, tinha medo de como seria o desenrolar daquela história. Tinha muito medo.
- Ela pode trabalhar com a gente no futuro. - Ele dizia calmo - E você também, se quiser é claro, estamos precisando de voluntários.
- Eu preferiria ir com a Equipe de Resgate. Mal cheguei e já estou louca pra atirar em alguém.
Ele estremeceu com aquelas últimas palavras. Ela pensou em Marco e ódio novamente subiu por seu corpo, fechou os punhos.
- Somente militares podem ir pra equipe de resgate.
- Não posso me alistar?
- Você vai ter uma mulher pós-parto e um bebê pra cuidar, não vai querer arriscar sua vida por aí. - Ele fez uma pausa - Felizmente muitas pessoas novas estão chegando por semana. Temos contato com outras ilhas aqui no Brasil e nos outros continentes também. Há um grupo de cientistas reunidos em Fernando de Noronha nesse momento, estão testando vacinas contra a infecção.
- O Sargento Silveira mencionou.
- Ele é uma graça, não é? - Diego sorriu. Terminou o curativo e passou a cuidar do rosto da mulher que ainda estava ligeiramente inchado. - Menina, o que fizeram com você?
- É uma longa história.
Quando ele terminou seu trabalho, foi até a bancada, voltou com um copinho plástico com dois comprimidos dentro. Um verde e um vermelho.
- O que tem aqui?
- Um anti-inflamatório e um calmante.
- Eu não preciso de nenhum calmante. - Resmungou.
Ele olhou em seus olhos, sério.
- Aqui não é igual lá fora. - Disse num tom baixo. - Se agredir alguém ou se matar alguém, você vai presa. Eu já vi isso acontecer. Vai abandonar sua namorada agora? Depois de tudo o que passaram pra chegar até aqui?
- O marido dela ressurgiu das cinzas, com certeza vou ser jogada de lado. - Ela deu de ombros.
- Ou não. Você não sabe o que vai acontecer. Você a ama?
- É claro. - Respondeu sem pensar duas vezes.
Ele lhe estendeu o copinho novamente.
- Então tome conta de você. Você precisa estar bem pra cuidar dela e não querendo decapitar o marido. Imagina a confusão que deve estar na cabeça dela nesse momento.
Ele estava certo. Aziah hesitou, mas aceitou, os tomou com um copo de água.
- Eu não quero perdê-la, Diego. Eu não quero que ela me deixe por aquele imbecil. - Segurou as lágrimas. - Ela vai ficar bem? - Perguntou insegura.
- A Dra. Luciana é uma das melhores, fique tranquila. Vou te manter informada sobre tudo, ok?
Ela desceu da mesa ambulatorial.
- Preciso ir ao berçário agora, quer vir comigo? - Diego ofereceu. - Manter sua cabeça ocupada vai te fazer bem.
Ela concordou e o acompanhou pelos corredores do hospital, ele lhe contou que veio da capital assim que ouviu o anúncio no rádio, foi um dos primeiros a chegar ali.
- Em breve vão te oferecer alguma casa para se alojar, alguém da prefeitura virá te procurar.
Pararam em frente ao berçário. Havia três bebês em berços diferentes, um ao lado do outro, ela não pôde deixar de sorrir, junto com eles havia uma enfermeira loira, que estava de costas para a parede de vidro. Havia algo de familiar nela que a tatuada não reconheceu no primeiro momento. Só conseguia pensar que em breve teria um daqueles em seus braços.
- Preciso entrar, vou mudar de turno agora, fique à vontade para admirar a vista.
Seu coração parou de bater por alguns segundos quando a enfermeira virou-se sorrindo para Diego. Puta que o pariu. A mulher olhou para Azizah que no mesmo segundo sentiu as pernas bambearem. Era outra alucinação? As lágrimas começaram a escorrer livremente pelo seu rosto e a porta do berçário se abriu no mesmo segundo, ela veio em sua direção rapidamente, em direção aos seus braços, a apertou forte contra seu corpo.
Não podia ser real.
Era a Melissa. A Mel.
Ela está viva!
Não conseguiram dizer uma só palavra, ambas dominadas pela emoção do reencontro. Um filme começou a passar por sua cabeça, desde o primeiro dia que a tinha visto, até o momento que encontrou Rafa morto. Mel se afastou, limpando o rosto da amiga com um sorriso de orelha a orelha. Olhou para a camisa xadrez que costumava ser do namorado, fechando o semblante, tocando o tecido próximo ao seu ombro de maneira carinhosa, como se acariciasse o rapaz morto. Abraçou-a novamente, de olhos fechados, cheirando a camisa, como se houvesse sobrado alguma coisa dele.
- Você esteve lá? - Ela perguntou com a voz falhando.
- Sim, as coisas ficaram muito ruins... Nós fomos procurar vocês...
- Vocês o viram? - Ela mantinha o queixo em seu ombro, os braços ao redor de sua cintura.
- Nós o enterramos antes de partir.
- E a Carol? E o bebê?
- Ela está em trabalho de parto nesse momento. - Azizah deu um sorriso triste.
- E porque você está aqui me abraçando e não a ela? - Ela limpou o rosto com o antebraço, se afastando, tentando parar as lágrimas que ainda escorriam.
- O marido morto na verdade está vivo.
- O que? Ela o chamou pra ficar com ela? - Estava horrorizada.
- Não, chamou a Mariana, uma adolescente que resgatamos no meio do caminho.
- Por que?! - Mel estava indignada. - Era pra você estar lá ao lado dela agora.
- Talvez ela não quisesse escolher entre eu e ele. Preferiu se abster. Eu comecei a discutir com ele, ele dizia que era o pai, que era a porr* do marido, eu juro por Deus, Mel, se não tivessem me tirado minhas armas teria arrancado a cabeça dele naquele momento.
- Hei... se acalma. - Mel afastou o cabelo cacheado do rosto da outra. - Não fale isso em voz alta... - Ela olhou em volta, receosa. - Vem, vamos tomar um café, lá a gente conversa melhor.
E as duas foram para o térreo na lanchonete. Não havia mais dinheiro para comprar as coisas, tudo era compartilhado pelos serviços prestados, todos tinham direito a tudo em igual proporção. Havia algumas mesas de madeira em frente ao balcão, mas escolheram um sofá azul desbotado em um local mais reservado. Um rapaz alto e charmoso veio servi-las, tinha um sotaque espanhol, olhos escuros, cabelo cacheado. Azizah percebeu que ele fitou Melissa com interesse. Tinha se esquecido do quanto a loira era atraente. Melissa sorriu de maneira doce para o rapaz que se retirou e Azizah desviou o olhar, afastando aqueles pensamentos.
- O que houve com seu rosto, linda? - Ela perguntou. - Espero que a outra pessoa esteja pior.
- Não sei ao certo o que aconteceu com ela, talvez tenha morrido.
- Desejo carinhosamente que tenha.
- Por que está aqui de enfermeira?
- Sou voluntária na verdade. Estão me ensinando algumas coisas práticas e ajudo no que posso. Pedi pra ficar no berçário. Quem sabe assim eu não transfiro meu desejo materno pra alguma coisa real, não? Sabe o que me deixou surpresa? Ninguém nunca me perguntou nada, sobre mim, sobre meu passado, nem me tratou de maneira rude, coisa que pensei que aconteceria assim que pisasse aqui.
- E por que fariam isso com você? - Azizah tomou um longo gole do café que estava delicioso. Melissa achou graça.
- Você é muito ingênua, pequena. - Aproximou-se dela e disse em seu ouvido: - Eu sou trans, lembra? Sempre fico com medo de alguém perceber ou descobrir.
- Desculpa, Mel. - Ela riu - Tinha me esquecido. - Ela realmente não se lembrou desse fato. Os olhos da loira brilharam divertidos com a confissão.
- Espero realmente que o mundo me veja como você me vê.
- Mas por que veio pra cá se tinha esse medo?
Melissa respirou profundamente, enfiou a mão em seu jeans rasgado e entregou um papel amassado a outra. Ela sabia o que era aquilo sem que ninguém precisasse lhe dizer. Sentiu um aperto no peito, pegou o papel e o abriu, percebeu que suas mãos tremiam ao segurar a folha.
- Eu já até decorei essas palavras...
Mel,
Eu sinto muito pela forma como isso teve que acabar. Eu tomei a decisão de tirar a minha vida, pois não queria que você o fizesse por mim. Eu sei que não conseguiria atirar e nós dois acabaríamos morrendo quando eu me transformasse em um deles. Você sabe que eu morreria de qualquer maneira por causa dessa maldita mordida em meu braço, então não julgue minha decisão.
Não vá ao porão, eu não quero que me veja morto. Quero que tenha apenas recordações boas de mim e de todos os anos maravilhosos que passamos juntos. Você deve procurar ajuda, deve se abrigar em Ilhabela, talvez lá seja um bom lugar apesar de nosso receio. Só não fique nessa casa, ela não é mais segura como antes.
Eu não poderia ter sido mais feliz ao seu lado. Você é perfeita. Você sempre foi minha força, minha guia, minha luz no meio da escuridão. Eu amo você e sempre vou te amar, aonde quer que eu esteja estarei olhando por você e guiando seu caminho. Quando outra pessoa aparecer em sua vida e mexer com seu coração, lembre-se que tem minha benção, você deve ser feliz acima de tudo. Não fique presa a mim ou ao passado, o que mais quero é que você fique em paz, pois meu amor por você está acima de qualquer coisa nesse mundo.
Você deve se manter forte. Não se mate tentando me encontrar, pois senão esse meu esforço de te proteger terá sido em vão.
Eu sinto muito.
Com amor,
Seu e sempre seu,
Rafael.
Azizah limpou as lágrimas que escorriam de seu rosto, devolveu a carta para Melissa que também estava emocionada.
- Eu surtei quando li, quebrei toda a casa. Também quis me matar, foi a primeira coisa que passou pela minha cabeça, mas não tive coragem. Eu fugi, não consegui continuar ali. Eu o via por toda a parte... Era como se estivesse preso naquele lugar, sofrendo. Eu sentia medo, muito medo, tinha pesadelos constantes com ele. Acabei fazendo o que ele queria que eu fizesse. Peguei o carro e vim pra cá. E graças a Deus você também... é muito bom te ver de novo... te encontrar aqui.
Melissa segurou sua mão, apertando-a de maneira forte e carinhosa ao mesmo tempo.
Perceberam uma aproximação nesse momento. Era Diego.
- Azizah. - Ele disse sério.
- O que houve, Di? - Melissa perguntou preocupada.
- Algo deu errado, a pressão da Carol tava muito alta, vai ser preciso fazer uma cesárea de urgência.
Fim do capítulo
Queridas leitoras, peço desculpas pela demora mais uma vez. Muitas coisas estão acontecendo por aqui, não tive condições de postar esse capítulo antes. Agradeço imensamente todo o carinho de vocês <3<3<3 Beeijo
Comentar este capítulo:
Lea
Em: 12/04/2023
Então às minhas suspeitas estavam certas,o "marido" estava vivo e nem ao menos voltou para salvar a Carol!
Fiquei com raiva da Caroline, não permiti a entrada da Azizah foi de deixar o coração em pedaços.
Caroline não morre,agora não,depois de tudo isso!
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lucy
Em: 29/10/2016
gostei de saber que a Mel esava bem viva e ali...assim um rosto amigo pra dar força pra Azizah nesse momento, bonita amizade que elas fizeram.....e esta da pressão da Carol ? tomara que tudo siga certinho ela se recupere, o baby escape bem desta, e ela abra o olho com esse marido furão, arregão....pra mim largou ela sim....sabendo deste lugar seguro a obrigação dele era ir buscar ela....mas foi bom assim ela e Azizah se conheceram...agora ele que fique só.....com as fuças dele rs ....nota mil perfect capítulo bjs
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Helena Noronha
Em: 14/07/2016
Thays_, não sei se vc tem noção do quanto escreve bem, e quando eu digo bem é muito bem mesmo. Sério, se ninguém te disse isso ainda eu vou dizer: Você é uma escritora foda!
Eu sou um pouco chata com contos, às vezes eu me irrito quando vejo erros gramaticais, às vezes me irrito com os clichês e sinceramente estou sem ler muita coisa há muito tempo. Eu nem sei pq eu sou tão exigente, até escrevi um conto aqui no lettera, mas escrever não é fácil, tem que ter manha, sangue nos olhos, talento e muito trabalho.
Mas aí eu vi sua história, li a sinopse e pensei: "Zumbis". Eu adoro zumbis demais, mas comecei a ler esperando os clichês, os erros, os defeitos. Depois de uns cinco minutos eu não tava me importando com mais nada além da história, provavelmente uma das mais bem escritas por aqui. Eu não aguentei e li tudo de uma vez, não sei o que vai acontecer daqui pra frente na história, não tenho nem ideia e eu acho isso maravilhoso pq vc tem total controle do que tá fazendo e eu simplesmente virei tua fã, girl. Continue assim e please, não demore a postar.
Bjos ;)
Resposta do autor:
Helena, se me permite, eu vou imprimir esse seu comentário e colar na parede do meu quarto pra cada vez que eu estiver na bad ir lá e ler hahah Eu também sou como você, sou bem chata e exigente com as coisas que leio, se vejo erros gramaticais já não consigo mais acompanhar. Não sou perfeita, até porque se eu fizer uma boa revisão no meu texto certamente vai ter alguma coisa errada, mas eu tento ao máximo produzir algo com qualidade, sabe? Essa história é a primeira que tive coragem de publicar, porque sempre fui muito perfeccionista comigo, sempre achei tudo o que escrevia era ruim, mas ai relaxei um pouco com essas coisas e conheci o Lettera e achei que talvez fosse a hora de arriscar. Ler comentários como o seu me dão muito ânimo pra continuar escrevendo, ter esse retorno é muito importante pra mim. Agradeço muito, muito mesmo pelo carinho e pelas palavras, fiquei emocionada <3 até breve! beeijo
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Nikita
Em: 14/07/2016
Caraca!!! Tinha uma leve desconfiança que esse merdinha poderia estar em Ilhabela... rsrsrs
Como sempre A-D-O-R-E-I o capítulo!!! E concordo com a Pryscylla, vc poderia postar um capítulo por dia... kkkkkkkkk...
Bjs gata e não some por muito tempo pois sentimos saudades
;-)
Resposta do autor:
Oi Nikita! Como já disse pra própria Prycylla, também queria conseguir escrever um capítulo por dia pra ler o comentário de vocês e animar meu dia hahah <3 beeijoo
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KellyK
Em: 14/07/2016
Oie, Mais que situação!!! Essa frase resume um pouco: A volta dos que não foram. Mas tenho a certeza de que esse mer@#& ficou com medo e abandonou a Carol e o bebê pra trás.
Com toda essa tensão antes do parto a Carol está correndo risco, vamos esperar que dê tudo certo, e torço pra que seja uma menina. Por fim, estou achando essa acampamento perfeito demais. Ai têm!
Bjs
Resposta do autor:
Oi Kelly! A volta dos que não foram foi ótima hahah até pensei em nomear esse capítulo com o subtítulo da história, pois foi mais um dos "mortos" que voltaram à vida, mas não achei que o Marco merecesse tanto hahah beeijo, querida <3 ps: um spoiler pra você, é uma menina ;)
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Pryscylla
Em: 13/07/2016
Pasmeeeeeei!!!
O marido da Carol eu já tinha certeza que estava vivo,esse safado mais a Mel também estar lá caramba. Eu fico besta como você escreve bem,podia postar um capítulo todo dia kkkkkkkkkkk
Bjus =]
Resposta do autor:
Oi Pry! Bem que queria conseguir postar um por dia! Só pra poder ler esses comentários maravilhosos <3 beeijo
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line7
Em: 13/07/2016
Oi linda😊! Demorou, mas voltou com tudo, o capítulo de hj foi de uma intensidade maravilhosamente ótima😏, já começou com a azizah desesperada com os zumbis, e ela matando um por um, e quando tudo parecer está perdido, surgir os militares( reação 💃. Ufaaa!) Já na ilha encontra o ex morto, que na verdade está vivo ( O desgraçado não morreu. Kkk) E Se a "A " estivesse uma arma, o Diego ia ser comprovado a ser morto..kk🙄) a Carol com certeza ficou surpresa, medo,confusa total com o seu ex, . Foi só emoção a carta de Rafa E o encontro de Mel, lindo e triste momento, e agora essa serugia de emergência? E os bebês ?.
Oi Thais? Fico feliz que vc gostou do comentário, sério!😚 tirei um sorrisos, troca justa, lhe desejo chuva de benção e abraço 😚
Resposta do autor:
Oi line! O cara realmente não morreu. E agora? Com que a Carol vai ficar? Também me emocionei com a carta do Rafa, o reencontro com a Mel então, não via a hora de mostrar pra vocês! Beeijo, querida <3 até breve
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thays_ Em: 13/04/2023 Autora da história
Estava relendo esse capítulo pq como te disse tinha mta coisa que eu nem lembrava kkk eu tbm me surpreendi com a atitude da Carol, se eu fosse reescrever concerteza teria chamado a Azizah! Mas acho que eu curtia demais um drama nessa época kkk