2 meses antes

Estava caminhando o longo corredor da Universidade de Londres, quando o despertador do meu celular tocou, era hora de buscar a Júlia na escola. Cheguei e a diretora me pediu para conversar comigo na sala dela. Fomos andando pelos corredores do colégio eu e diretora, uma senhora com cara de poucos amigos.

– Júlia, querida. Você fez algo que eu deva saber? – Perguntei enquanto me abaixava para ficar na altura dos seus olhos!

– Não fiz nada mãe, eu juro. – Respondeu quase chorando.

– Ok, vou lá ver então. Fica me esperando aqui, tudo bem?

Segui a diretora até a sala dela. Me sentei ainda sem jeito, nunca tinha sido chamado na escola.

– Senhorita Agnês, precisamos conversar sobre alguns comportamentos inadequados de sua filha.

– Então me conte diretora, o que ela fez? – Ela franziu a testa, como se estivesse criando coragem para me contar algo terrível.

– Sua filha começou a fazer algumas perguntas constrangedoras para a professora na frente de outros alunos.

– Que tipo de perguntas? Perguntei com medo da resposta.

– Ela perguntou como os bebês são colocados dentro da barriga das mamães e senhorita Agnês, recomendamos que os Pais expliquem esses tipos de coisas para os seus filhos.

– Peço desculpas, não sei de onde ela tirou essas coisas. – Meu rosto ficou vermelho de vergonha.

Peguei Júlia pelo braço e fui levando – a até o carro. Acomodei ela na cadeirinha e fui para o banco de motorista.

– Então querida, soube que andou fazendo algumas perguntas estranhas para a professora.

– Eu só fiquei curiosa com algumas coisas, e você mesmo me disse que curiosidade na minha idade faz bem – Ela respondeu enquanto ch*pava um pirulito.

– Querida, tem perguntas que você deve fazer para mim, que sou sua mãe.

– Mas como vou saber o que devo perguntar para você ou para professora?

– Na dúvida, pergunte para mim, ok?

– Tá bom mamãe, desculpe por te chatear.

– Não me chateou filha, de forma alguma!

– Mas eu ainda continuo querendo saber, como os bebes vão parar dentro das barrigas das mamães.

Comecei a suar frio, não sabia o que e nem como responder aquelas perguntas para uma criança de 5 anos.

– Filha, quando um homem e uma mulher se gostam muito, eles se abraçam bem forte. E ele coloca uma sementinha na barriga da mulher, e dai 9 meses depois nasce uma criança.

– E você nunca achou um homem que gostasse bastante, para ele colocar a semente em você, mamãe?

– Para falar a verdade, eu nunca tinha pensado em ter um filho. Não até você aparecer, mas eu quero saber o motivo de tanta curiosidade! – Respondi meio desconcertada.

– É que eu vi na TV, um neném nascendo e eu fiquei curiosa para saber como eles vão parar na barriga.

– Entendi, agora você já sabe como os bebes vão parar lá.

– Eu queria muito ter um irmãozinho, ia ser muito legal.

Eu freei o carro bruscamente, a ideia de ter um filho da minha barriga nunca tinha passado pela minha cabeça e até me parecia meio absurda. Chegamos em casa, anoitecia em Londres, estava um clima agradável. Depois do jantar, fui para varanda; acendi um cigarro e não parei de ficar pensando na ideia que Júlia teve : De ter um irmãozinho, não consegui dormir naquela noite. Revirava a cama pensando em tudo que Júlia havia me falado sobre ter um irmãozinho. Então

a primeira coisa que eu fiz quando acordei, foi tentar arrumar um encaixe com o meu ginecologista. E na consulta, contei sobre a minha súbita vontade de ser mãe. Ele por sua vez, me passou vários exames, e os fiz durante a semana. Quando todos os resultados saíram, voltei ao médico.

Fiquei olhando o celular, enquanto checava meus e-mails pelo celular em uma longa sala de espera, a secretária me chamou e disse que eu podia entrar, estava muito nervosa em saber se eu podia ter um filho. Com quase 40 anos, e muito tempo tomando anticoncepcionais, me bateu uma insegurança, mas fiquei sabendo que sou uma mulher completamente saudável : Trompas, útero, ovários; está tudo na mais perfeita ordem para eu ter um filho, agora eu só precisava de um pai.

Cheguei no apartamento 345 do Four Seasons em Londres, era quase dez da noite. O saguão de entrada não tinha muita gente, então dava para se ouvir o barulho dos meus saltos na mármore.

– Boa noite senhorita Agnês – Me cumprimentou a recepcionista.

– Boa noite querida, reservei o quarto de sempre.

– E como sempre espera por visitas?

– Sim, pode deixar subir.

Peguei o cartão chave e fui em direção ao elevador.

– Sétimo andar – Disse ao ASSESSORISTA .

Estava com a cabeça abaixada, quando a porta do elevador se abriu, tive a impressão de ver Crhistien. Esfreguei os olhos, era só uma ilusão, tive várias só nesta semana. Abri a porta do quarto, e tinha cheiro de incenso que eu adorava, sempre peço para faxineira acender um. Em uma viagem que fiz para china, voltei com uma mala cheia deles. O quarto estava preparado exatamente do jeito que eu sempre peço, o mesmo quarto, o mesmo cheiro, os mesmos rituais mas com caras diferentes. Mas hoje o motivo era ''nobre'' por assim dizer.

Deixei a bolsa e chave do carro em cima da mesa, fui tirando a roupa para tomar um banho. Me lavei, coloquei o roupão e algum tempo depois a campainha do quarto tocou. Meu convidado havia chegado.

Ele entrou, moreno alto, tatuado, usava calça jeans, camisa cavada xadrez, tênis all star surrado. Corpo bem definido, era realmnte um homem muito bonito.

– Olá, Agnês?! – Foi logo perguntando assim que me viu.

– Sim, trouxe o que te pedi?

– Trouxe sim, aqui estão todos os meu exames de DST'S.

– ótimo!

– Só não entendi o motivo.

– Não sou adepta ao uso de camisinha, por isso te pedi os exames.

– Ah, sim ..Tudo bem.Mas você usa algum tipo de contraceptivo? Sou muito jovem para ser pai.

– Fica tranquilo, também não tenho a menor intensão de ser mãe eu uso DIU – Tentei disfarçar o olhar da mentira que eu havia acabado de contar.

Ele se sentou em minha frente na mesa de quarto, me passou os papéis dos exaes . Coloquei os óculos e analisei um por um. Todos negativos, ele tinha feito os exames havia uma semana, assim como eu havia pedido.

– Você manteve relações sem preservativos nos ultimos 30 dias? Perguntei em tom sério.

– Não, de forma alguma. Me cuido bastante, só estou fazendo com você, afinal você está me pagando o triplo do que eu cobro e também me disse que iria me mostrar os seus exames também.

– Já ia me esquecendo – Me levantei e fui até minha bolsa, peguei todos os meus exames; também feitos a uma semana antes. Ele olhou todos os papéis atentamente.

– Você é uma rapaz culto, educado. Não entendi o motivo de estar nessa vida.

– Vendendo o meu corpo?

– Sim!

– É uma longa história.

– Eu posso abrir uma garrafa de vinho para ouvir, sou ótima ouvinte com umas taças de vinho na cabeça.

– Acho uma ótima ideia. – Ele respondeu com um sorriso tímido.

Fui até a adega, peguei uma garrafa de vinho e uma garrafa de suco de uva; saquei do bolso do roupão a injeção de remédio que estimula a ovulação – injetei – . Servi uma taça com o vinho e a outra taça com o suco. Levei as taças para a mesa, coloquei na frente dele a taça que estava com o vinho verdadeiro.

– Então, acho que agora pode me contar sua história.

Ficamos conversando por algumas horas, ele me contou a razão de fazer o que faz. Me disse que precisava pagar a faculdade, trabalhava em um restaurante durando o dia e durante a noite saía com mulheres para ajudar mandar dinheiro para a família no México.

Sinceramente, não acreditei muito. Sua vida não me interessava , mas ao menos na conversa, consegui descobri que não tem histórico de doenças degenerativa na família e que o pai dele tem um irmão gêmeo.

Ele estava mais sorridente, mais solto que no inicio da conversa. E me ocorreu a ideia que se eu não fosse tão apaixonada pela Crhis, eu até poderia ter um relacionamento mais duradouro com ele.

– Estamos aqui a quase duas horas conversando, e até agora você não me disse teu nome.

– Nick.

– Seu verdadeiro nome!

– Carlos Augusto.

– Posso te chamar de Augusto? – Perguntei meio sem jeito.

– Claro que pode. – Outro sorriso sem jeito.

Conversamos sobre absolutamente tudo naquela noite, música, cinema, carros ( ele também gostava de drift). O sex* aconteceu quase que naturalmente. Ele foi carinhoso, não me tratou

como uma pagante. Transamos três vezes, e acabei dormindo no ombro dele, quando acordei lá pelas tantas da madrugada, peguei meu celular que estava na cabeceira da cama. Abri a internet no perfil da Crhis, mais fotos dela e da esposa.

Me levantei de vagar, para ele não acordar. Vesti meu roupão e fui para o banho, quando eu terminei o banho e voltei para o quarto ele ainda dormia. E parecia bem mais bonito do que quando chegou, sem o boné aba reta.

Vesti a roupa, peguei minha carteira e deixei o dinheiro do lado dele da cama. Quando eu me preparava para sair ele acordou.

– Ia saindo sem se despedir? Teu marido te espera?

– Sim, ele pensa que eu estou viajando então tenho que ir para o Aeroporto para ele me ''buscar''- Fiz aspas com as mãos – E para falar bem a verdade não sou muito boa com despedidas.

– Entendi, então.. foi um prazer.

– Até um dia.

– Posso te ver um dia de novo?

– Melhor não, mas pode ter certeza que eu nunca vou te esquecer.. Foi muito bom conversar com você. Fazia um tempo que eu não me sentia bem assim.

– Que bom que eu conseguir te deixar feliz pelos menos por algum tempo.

– Acho que não vai ser só por um tempo!

– O que disse? – Perguntou sem entender nada.

– Nada demais, agora que eu tenho que ir.

Ele foi se levantou para se vestir, estava só de cueca.

– Não precisa sair, o hotel está pago até meia dia.

Me virei e fui embora, com a certeza que nunca mais eu o veria.

***

Dias atuais

Andrea chegou toda carinhosa; trouxe flores, chocolate e uma garrafa de vinho. Deixou as malas na sala e subiu para tomar um banho, enquanto ela se banhava eu peguei uma cerveja e sentei com os pés no sofá. Criando coragem de contar toda a verdade para ela. É uma das coisas mais difíceis que eu já fiz em toda a minha vida. Fui até a geladeira e peguei uma cerveja para esperar ela enquanto se banhava, a noite seria longa e não daria para encarar de cara limpa.

Ela desceu se aproximou e tentou me dar um beijo – virei o rosto – fiquei encarando por algum tempo.

– Aconteceu algo?

– Sim, aconteceu – Tomei um gole da cerveja e puxei ela até o sofá.

– Então me diz, o que aconteceu!

– Eu nunca tinha sido muito clara com você em relação aos meus sentimentos sobre Agnês, eu achei que um dia passaria. Um outro amor, uma outra vida, eu juro Andrea eu tentei... Mas é que eu sou fraca, muito fraca quando eu vejo ela. Ela me desarma me atordoa..e eu não resisti.

– Você foi pra cama com ela? Ela perguntou ainda sem acreditar no que eu acabei de falar.

– Sim, a culpa foi minha... Eu vi ela e acabei não resistindo, eu devia ter resistido. Eu não devia ter feito isso com você.

Ela chorava soluçando, esfregava os olhos e eu comecei a chorar junto. Fiquei muito triste ao ve-- la daquele jeito.

– Eu tentei Crhis, eu quis te dar um lar. Eu ignorei todos os seus olhares parados no tempo quando eu tinha certeza que era nela que estava pensando, suportei também quando eu te pedi para apagar a foto dela do teu celular e no outro dia quando eu fui olhar a foto ainda estava lá mais em outra pasta. Eu sabia que isso mais cedo ou mais tarde iria acontecer, mas também pensei que ia ter pelo menos terminar comigo antes de ir pra cama com ela.

– Me perdoa Andrea – Tentei abraçar ela.

– Me solta, me deixa aqui! – Ela tirou minha mão do braço dela.

– Eu não acredito que você foi desleal comigo, o que eu fiz pra você? Eu fui tão ruim assim? Em que eu falhei com você..Pelo amor de Deus me fala. Eu achei que fosse te fazer me amar.

– Eu gosto muito de você, mas não consegui retribuir seu amor do jeito que merecia, me desculpa.

– Então é assim que acaba? Ela vem aqui ..te leva para cama, te faz meia dúzias de promessa e você acredita, volta para ela como se ela nunca tivesse feito nada para te magoar? Fica comigo, eu perdoo você ter me traído.

– Não dá, não rola. Eu não vou ficar mais com você amando outra Andrea, me desculpa.

– Você não está pensando direito Crhis, nós tínhamos planos.

– Eu sei.

Ela sentou no sofá com a mão no rosto, eu me sentei ao lado dela.

– Não queria ver você desse jeito.

– Não me abandona Crhis, você é a melhor coisa que aconteceu em anos em toda a minha vida. Por favor fica comigo!

Fiquei em silêncio e ela entendeu, eu estava arrasada por fazer isso com ela. Ferir o coração de uma pessoa dessa maneira nunca foi o meu tipo.

– Hoje você dorme no sofá hoje por motivos óbvios, amanhã eu arrumo minhas para ir embora. Eu estou muito cansada, preciso mesmo ir dormir.

Ela foi até a geladeira e pegou uma outra garrafa cerveja e subiu as escadas, tirei o tênis e me deitei no sofá. Meio atordoada pela conversa tensa que tive com ela , mas ao mesmo tempo sentindo um alívio. Deixei ela livre para arrumar uma pessoa que realmente goste dela do jeito que ela merece, mas ao mesmo tempo feliz..Acho que agora finalmente eu vou poder viver feliz com a Agnês.

Peguei o celular e liguei para Ricci, ele demorou atender, quando estava quase desistindo ouvi sua voz.

– Oi, alguma novidade? – Ele foi logo perguntando.

– Sim...acabou. Terminei com a Andrea!

– E agora? Ela deve estar sofrendo muito, ela realmente gosta de você.

– É, eu sei disso, eu também gosto muito dela. Mas a mulher que eu amo é a Agnês, e por mais que eu odeio admitir isso às vezes, eu acho que nunca vou amar alguém como eu amo ela.

– Já contou a novidade para ela?

– Não, vou contar logo pela manhã. A noite foi meio tensa, estou sem condições... vou me acalmar e amanhã eu converso direitinho com ela.

Fim do capítulo