Carolina e Henrique já haviam saindo do quarto, Paloma e Nicole entraram logo em seguida, eles estavam com os olhos marejados. A minha ansiedade só aumentava a medida que o tempo passava, ela não estava acorda, mas poderia acontecer a qualquer instante.

 

- Falei com os meus pais e eles disseram que os depoimentos foram adiados para amanhã. – Isabela falou.

 

- Ao menos tiveram a sensibilidade. – Emily comentou.

 

Isabela estava visivelmente abatida, mas não era para menos, tudo que ela estava passando não era fácil, seu olhar estava perdido em ponto qualquer. Há uns dias atrás eu estava morrendo de ciúmes da Flávia com ela, mas agora, vendo ela dessa forma, me sentia ligada a ela.

 

- Senta aqui, Isa... – a chamei e ela me olhou surpresa, porém fez o que pedi. Sentia os olhares curiosos sobre a gente. – Tudo vai ficar bem...

 

- Eu quero acreditar que sim, Amanda, mas é muita coisa para a minha cabeça. – ela falava olhando direto em meus olhos.

 

- Eu sei que sim, mas precisa por na sua cabeça que você não tem culpa de absolutamente nada. – busquei sua mão, mas uma vez ela ficou surpresa, mas não desfez o contato, pelo contrário, apertou a minha mão. – Não é fácil ter a vida bagunçada dessa forma, mas eu acredito que irá superar... Está cercada de pessoas boas...

 

- Você tem toda razão... – ela abriu um sorriso tímido. – Vou tentar não pirar...

 

- Você é uma pessoa forte, corajosa e a medida que vou te conhecendo... Mais te admiro....

 

Senti o celular vibrar, quebrei o contato com Isa e pedi licença para atender, me afastei um pouco, era a minha mãe. Senti o coração apertar, respirei fundo e atendi.

 

- Oi, mãe...

 

- Oi, filha... – senti a acidez em sua voz. – Alguma noticia?

 

- Tudo ocorreu bem... – meu coração batia tão forte que cheguei a pensar que teria um treco.

 

- Então, ela está fora de perigo? – a voz da minha mãe era seca.

 

- Sim, graças à Deus...

 

- Então você pode voltar pra casa. – ela estava falando comigo como se eu ainda tivesse 15 anos.

 

- Só vou quando falar com ela, mãe. – fechei meus olhos, respirei fundo novamente.

 

- Não acredito que isso está acontecendo de novo, Amanda... Agora todo mundo que conheço passou a me perguntar sobre esse vídeo, eu não acredito...

 

- Agora não é a hora para tratarmos desse assunto, mãe. – interrompi, eu não tinha cabeça para aquele dialogo. – Mas não vou fugir do assunto... Quando tudo estiver melhor, conversaremos.

 

- Eu não quero.... – encerrei a ligação.

 

Ela ficaria ainda mais furiosa, mas aquele assunto poderia esperar, pois se batesse de frente com a minha mãe agora, minha cabeça entraria em curto. Voltei para o corredor, Paloma e Nicole estavam lá.

 

- Ela está acordada. – Nicole falou com um sorriso enorme. – O médico está lá com ela, mas acho que você pode entrar. – minha respiração ficou irregular, não pude deixar de sorrir.

 

- Vai logo, loira... Ela quer te ver... – Paloma me olhou divertida.

 

- Eu...

 

Nem terminei de falar, sai andando quase correndo, minhas mão estavam suadas, meu coração fora de controle, parei diante da porta. Respirei fundo pela milésima vez naquele dia, não sabia se batia ou apenas entrava.

 

Abri a porta e o médico estava a examinado, tapando a minha visão dela, entrei, mas permaneci próxima a porta. Não fiz nem um barulho, eu mal respirava.

 

- Muito bem, senhorita Cardoso, pelo que parece a senhorita está muito bem, mas faremos outros exames para obter a certeza. – ele ainda permanecia entre a gente. – A senhorita tem muitas visitas.

 

- Não pode entrar todo mudo de uma vez? Quero ver todos...

 

Meu coração falhou ao ouvir sua voz, nesse momento o médico se dar conta da minha presença, a Flávia esticou o pescoço, e lentamente um sorriso foi surgindo em seu rosto, tenho certeza que o mundo parou nesse momento, meus olhos foram inundados, a gente conversava naquela troca de olhares, só de pensar que eu quase perdi para sempre aqueles olhos castanhos, o peito doía.

 

- Vou deixar vocês a sós. – nesse momento sai do transe, mas não quebrou o nosso contato visual, o médico passou por mim, fechou a porta.

 

Meus pés estavam grudados no chão, de repente as palavras fugiram, tantas coisas passando por minha cabeça ao mesmo tempo.

 

- Vai me fazer levantar? – ela sorriu e como reflexo do seu, o meu apareceu. Caminhei em câmera lenta, olhei cada centímetro do meu rosto. Sua cabeça enfaixada, o braço imobilizado. A vontade de chorar que eu sentia desde que ouvi a sua voz veio com tudo. – Ei? Calma!

 

Sua mão buscou a minha, estava gelada, a levei até os meus lábios, fechei meus olhos, eu não tinha controle sobre minhas emoções. Apertei a sua mão contra o meu rosto que estava banhado em lagrimas, enquanto a outra mão quis tocar o rosto pálido de Flávia, quando meus dedos tocaram a sua face, seus olhos fecharam e um sorriso deixou aquele rosto mais perfeito ainda.

 

- Eu tive tanto medo... – minha voz estava embargada. Beijei novamente sua mão e ela permanecia com os olhos fechados.

 

- Já passou... – a vontade que eu tinha era de me jogar em seus braços, mas não podia por seus ferimentos. – É tão bom estar perto de você... – seus olhos encontraram os meus.

 

- Me perdoe por tudo... – ela apertou minha mão.

 

- Não... Sem desculpas... Não chora... – ela tentou levantar.

 

- Paradinha ai... – a impedi do ato.

 

- Então deita do meu lado... – ela abriu um espaço ao seu lado. – Vem... Ou eu levanto...

 

- Tudo bem... – subi no colchão, ela tinha um sorriso maroto. Deitei ao seu lado, com cuidado para não fazer movimentos bruscos. – Chantagista... – ela soltou uma leve gargalhada que fez o meu coração aquecer.

 

- É um dos meus dons... – ficamos nos encarando por alguns segundos. Seus olhos vasculharam cara milímetro do meu rosto. – Você está bem?

 

- Agora eu estou... – não conseguia manter a minha mão longe da pele dela. – Eu quase te perdi...

 

- Achou que eu iria partir dessa sem conseguir me casar com você? – não consegui controlar e gargalhei.

 

- Boba... – ela tinha um sorriso de lábios.

 

- Tenho tanta coisa para perguntar, mas esse não é o momento... – seus dedos deslizavam por meus cabelos. – Só quero aproveitar cada segundo... Antes que você saia correndo...

 

- Isso não vai mais acontecer... – sua face ganhou uma grande interrogação.

 

- Não? – fiz um gesto negativo com a cabeça e ela abriu um daqueles sorrisos que me tiram o folego. – Acho que eu deveria quase morrer mais vezes... Aiii. – belisquei o braço bom.

 

- Não repete uma besteira dessa...

 

- Desculpe... – ela prendia o riso.

 

- O meu tempo acabou... – olhei para o relógio que estava pendurado na parede.

 

- Não... Fica... Por favor... – seu rosto entristeceu.

 

- Ainda tem gente querendo te ver... – falei acariciando seu rosto.

 

- Tudo bem... Quando você volta?

 

- Amanhã... Vou a faculdade e em seguida pra cá. Tudo bem?

 

- Promete?

 

Sorri, sentei no colchão, apoiei um braço ao lado de seu corpo, e uma viagem dentro dos seus olhos começou, minha boca estava sedenta pela dela, aproximei nossos rostos e fechei os olhos quando nossos narizes se tocaram, ela roçava de leve o seu no meu, depositei um longo selinho em seus lábios, um pequeno gemido saiu deles e um frio tão gostoso brincou em meu estomago. Ao poucos nossas bocas foram buscado por mais contato, soltei um gemido quando sua boca sugou o meu lábio inferior...

 

- Com certeza respondeu a minha pergunta. – ela falou ainda de olhos fechados.

 

- Eu não quero ficar longe de você, Flávia... Nunca mais... – olhei fundo em seus olhos, queria que ela enxergasse a sinceridade de minhas palavras nele.

 

- Então a gente...

 

- Vou te reconquistar...

 

- Amanda... – seus olhos marejaram.

 

- Eu te amo... Vou resolver todos os problemas que empurrei para baixo do tapete. Já fugi tempo demais de quem eu sou e não farei mais isso. Vou lutar por você... Você deixa? – como era bom dizer aquelas palavras. Nunca me senti tão viva em toda minha vida.

 

- É claro... Claro... – ela me puxou e distribui beijos em todo o meu rosto. – Eu te amo tanto... Eu to sonhando...

 

- Vou te beliscar...

 

- NÃO! – eu não pude deixar de rir. – Seus dedos são doloridos.

 

- Eu volto logo...

 

- Vou contar cada segundo...

 

Segurei sua face entre as minhas mãos, beijei aqueles lábios que eram um verdadeiro vicio, eu queria passar a vida neles. Eu não queria, mas precisava ir, mas iria renovada, a partir daquele momento sabia que nunca mais seria a mesma. Ouvi batidas na porta e nos afastamos, logo Cássia e Isabela entraram, vi os olhos verdes marejarem.

 

- Nada de fazer traquinagem, Flávia... – depositei um beijo sobre a sua testa. – E vocês não vão deixa-la levantar daqui.

 

- Ela que nem tente. – a voz de Isabela saiu arrastada.

 

- Pode contar com a gente... – Cássia não estava diferente.

 

Sorri para as duas e olhei mais uma vez para a minha menina, compartilhamos um sorriso, e mesmo não querendo, sai do quarto. Cheguei ao corredor onde Henrique, Carolina, Emily, Rebecca, Paloma e Nicole, estavam.

 

- Como foi? O médico falou que ela está surpreendentemente bem... – Carolina falou de forma emocionada. Guardei suas mãos entre as minhas e mirei os seus olhos, algumas lagrimas escaparam.

 

- Eu não poderia estar mais feliz... Ela está bem, não parece que passou o que passou... – Carolina me acolheu em forte abraço ao qual retribui do mesmo jeito.

 

- Minha menina... – depois de algum tempo o abraço foi rompido.

 

- Eu vou, mas volto amanha, assim que sair da faculdade. – sequei minhas lagrimas.

 

- Pode ir minha filha... – seu Henrique se pronunciou. – Obrigada por estar com ela naquele momento... Serei eternamente grato...

 

- Eu não fiz nada, Henrique...

 

- Fez sim... Fez muito... – Nicole me lançou um sorriso. – Bem-vinda à família, cunhadinha.

 

Sorri feito boba, recebi um abraço de cada um, me despedi e logo já estava deixando o hospital com a alma leve como pena. Teria que pegar um ônibus, pois havia deixando o meu carro na faculdade. Peguei um em frente ao hospital, sentei no fundo e deixei o meu corpo relaxar no banco. Minha mente não se desligava nem um segundo, os momentos vividos nessas últimas horas brincavam dentro da minha cabeça.

 

Como pude ser tão idiota? Como pude ser tão covarde? Eu quase perdi ela... Mas tudo seria diferente agora em diante, eu me devia isso e eu iria cobrar de eu mesma. Tanto tempo vivendo de aparências, agora eu iria viver de verdade, venceria o medo do desprezo, ele não seria mais o meu carrasco, não mesmo. Com esses pensamentos, depois de quase uma hora, desci em um ponto de ônibus próximo ao prédio onde eu morava. Andei um pouco e senti o vento gostoso, sentia vontade de gritar!

 

Entrei em casa e meu corpo clamava por um longo banho, entrei no banheiro nua e quase desabei quando senti água quente correr por todo lugar. Fechei meus olhos e fiquei algum tempo ali, lavei os cabelos, senti o frescor do sabonete.

 

Preparei um sanduiche, fiz um suco e comi com vontade, fiz minha higiene e deitei em minha cama. Peguei o meu celular, coloquei os fones e dei play naquele áudio que me fazia lembrar dela, lembrar da mulher que me fez voltar a vida!

 

Eu só queria ter o seu abraço
Pra ver se eu disfarço essa falta de você
Poder tocar, sentir o gosto do seu lábio
Entrar no compasso e o seu coração bater
Olhar nos seus olhos e dizer

Sem você
Não importa se é doce ou salgado
Se tá quente ou gelado
Se faz sol ou vai chover
Eu achei que tava certo, fui errado
Era leve, tá pesado ficar longe de você
Pro escuro ficar claro
O sozinho acompanhado
É só a gente ficar junto e não separado

Eu só existo se for do seu lado
Se for do seu lado

 

Fim do capítulo